2ª Temp. O Diário das Creepypastas - Interativa escrita por Slendon6336


Capítulo 21
# 21 Armagedom


Notas iniciais do capítulo

~Boa Leitura o/



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Edgar caminhava de um lado ao outro entediado. Repassava em sua mente a imagem do irmão, da personalidade dele, do jeito dele. Durante o tempo que esteve no casarão teve o cuidado de organizar as peças para que o jogo ficasse ao seu favor. Pôde ter na palma da mão todos os conflitos de Dick, e todas as fraquezas da maioria que sob o teto de Slender repousava. Edgar não sabia como usar tantas cartas assim. Todavia resolveu esperar. Era questão de tempo até que todos os assassinos daquele lugar se voltassem uns contra os outros sozinhos.

— Meu irmãozinho é exatamente aquilo que eu imaginava — Exclamou sorridente o primogênito de Daemon. Lord, que estava encostado ali perto no salão principal do palácio, ergueu a cabeça para ouvi-lo. — Ele tem tanta capacidade. Não vejo a hora de vê-lo contra Jeff the Killer. Seria um espetáculo maravilhoso, não acha?

Lord se inquietou, grunhindo algo em protesto por trás da máscara. Edgar parou um pouco, sentando-se no trono que outrora pertencera ao seu pai. E como ele o odiava. Toda a expectativa que havia colocado sobre o irmão mais novo o enojava. O de cabelos compridos se pronunciou a respeito da reprovação do proxy.

— Ora essa. Eu sei do nosso acordo, Lord. Mas pense só nos dois se matando, logo a nossa frente. O belíssimo armagedon da dimensão Creepypasta. Ver Slenderman cair por terra de desespero, sobre o sangue de tudo aquilo que deu a vida para construir: um lugar seguro para seus demoniozinhos bagunceiros. Vou me alimentar de todo esse sofrimento, e assim me tornar um deus.

As risadas dele ecoaram por todo metro quadrado da região. Lord ainda não parecia satisfeito, contudo nada poderia fazer, sendo praticamente um escravo do outro. Segurando um acesso de raiva contra seu mestre, transformou-se em uma serpente de tamanho sem igual, de escamas negras foscas na base e reluzentes a cima do roliço corpo que escorregou com a rapidez de uma onça pelo chão de granito escuro até a saída, batendo contra as portas duplas pesadas de modo que um estrondoso barulho vibrasse as colunas do palácio. Tinha de descontar sua fúria em algo antes que sua mente instável o fizesse voltar para dentro e esmagar o corpo aparentemente fraco de Edgar. Se Lord não soubesse o tamanho do poder dele, com certeza já o teria devorado.

.

.

Liu havia encontrado Jeff no jardim dos fundos do casarão, sentado na fonte com uma garrafa de alguma bebida forte parada ao seu lado no chão. O moreno de sorriso esculpido brincava de esfaquear a água que jorrava da fonte, cortando o líquido vezes com desinteresse, vezes com ódio.

O de cachecol se aproximou, sentando-se ao lado do último. Esperou um pouco para ver se o irmão o encararia de volta, o que mesmo depois de um quarto de hora não ocorreu. Pigarreou então antes de abrir a boca:

— Jeff, você não tem culpa. Desculpa ter ficado aborrecido com você antes. Mas você sabe a situação que estamos agora.

Jeff não respondeu, cortando a água com mais força ainda. Alguns respingos caíram nos cabelos castanhos de Liu.

— Por favor mano. Pelo menos conte comigo.

— É como se todo mundo estivesse me culpando agora por não ter avisado antes, Liu. — Jeff desistiu de resistir. Precisava desabafar de qualquer forma — Eu até tentei mostrar para todos ao meu redor quem Edgar realmente era, mas ninguém acreditou. Ele sempre dava um jeito de parecer ser a vítima. Eu tava certo como sempre, né. Eu sempre tô certo.

Como o mais velho não conseguiu pensar em mais nada de bom para falar, deixou aquela conversa como um ponto de vitória para Jeff. Desta vez ele estava correto ( o que na verdade era um tanto quanto raro).

Ele ia perguntar para o de moletom branco alguma coisa quando parou de repente por causa de um grito vindo de um dos quartos:

Não tenho nada a falar com você!

Ambos olharam para cima em direção a uma das janelas. As luzes estavam apagadas, porém tinham certeza de que se tratava de Dick. A voz era inconfundível.

— Eu tô tão preocupado com ele quanto com você — Admitiu Liu ao perceber que até o irmão mudara a expressão. — Quando o levei para o quarto dele, falamos algo a respeito da Jane. Não é de hoje que ele anda estranho.

— É, notei as pupilas dele um dia na sala. — Contribuiu Jeff — Era como se ele estivesse drogado ou algo assim. — Deu de ombros — Não é muito da nossa conta.

Mais um fragmento da conversa caiu nos ouvidos dos Woods. Desta vez era a voz de Jane:

Eu amo você Dicky!

— Ah não! — Jeff se levantou de prontidão — Não vou deixar meu amigo cair nessa furada! Ele já quebrou a cara antes, vou impedir que essa mulier tente o iludir de novo.

E antes que Liu raciocinasse, o outro havia corrido para o lado de dentro em socorro, talvez um pouco influenciado pelo álcool.

— Zalgo me ajuda… — Implorou antes de segui-lo.

Alcançou-o já no segundo andar, onde agarrou o mais novo pela touca do moletom:

— O que pensa que vai fazer? — Indagou com uma expressão severa no rosto.

— Arrancar um dos meus melhores amigos de uma F U R A D A! — Respondeu como se fosse óbvio.

— Não é legal ficar atrapalhando conversas de ex casais.

— Eu sei o que eu tô fazendo, senhor sabe-tudo. — Revirou os olhos — Amor é uma armadilha. Não presta. Já basta eu de fodido aqui, e se e-...

Um grito apavorado cessou a fala do garoto. Os Woods, assustados, abriram a porta do quarto do filho de Slender com rapidez, no intuito de acudir uma Jane que se encontrava caída no chão, a frente de Dick aparentemente indiferente.

— O que tá acontecendo?! — Jeff berrou tentando processar e interligar alguma coisa que fizesse sentido. Liu correu até a garota que chorava igual a uma criança com medo. Ela engasgava e desengasgava tentando pronunciar uma palavra sequer.

— Por favor, tirem-na daqui. Não tenho nada pra falar com ela. — Dick se afastou, dando brecha para que os irmãos arrastassem Jane dali.

Ela se contorceu um pouco quando as mãos de Jeff e Liu a tocaram, porém do nada parou de se debater; a pele pálida como as pérolas pendentes entorno de seu pescoço.

Um dos irmãos fechou a porta e então a levaram para a piscina coberta, que naquele momento era um dos únicos lugares que o clima caótico do casarão não influenciava.

Jane sentou-se a borda da piscina, ouvindo o balançar da água ecoando pela vasta extensão daquele cômodo, como se estivessem em uma caverna iluminada apenas pela luz do luar que espionava das janelas no teto angular. Liu a entornou com uma toalha macia que assumiu o papel de cobertor e lhe entregou um copo de água.

A jovem não havia dito nada desde que a tiraram do quarto de Dick, e Liu não queria forçar o assunto. A empatia dele não o permitia ser tão intrusivo.

Jeff estava do lado oposto da área, de costas para eles e de frente para a parede, entretido em ver o brilho da noite refletindo na lâmina de sua faca. Sua mente era um turbilhão de pensamentos desconectados que flutuavam em uma sincronia inexistente. Era quase como se ouvisse vozes sussurrando para lá e para cá, coisas que até ele considerava hediondas. Jeff tentava ignorar, todavia era difícil.

Liu não sabia com quem se preocupar mais. Com certeza era o segundo pai da dimensão creepypasta, perdendo o título apenas para Slenderman. Esperou alguns longos minutos agoniantes até tomar a atitude de se sentar ao lado de Jane, afagando suas costas. A princípio ela se assustou levemente.

— Você está bem? — Ele indagou para a mulher, o cenho franzido.

— Você sentiu também, não sentiu? — Indagou, deixando o colega confuso. — A gosma. Você sentiu a coisa pegajosa quando me tocou, né?

Jane questionava quase que num desespero preocupante. Ela, ao perceber que Liu mantinha e expressão esquisita no rosto, desistiu, voltando a olhar para a água cintilante.

— Esquece isso. Devo estar enlouquecendo.

Do lado contrário, Jeff grunhiu e chutou algum objeto aleatório que bateu contra a parede fazendo um barulho que chamou-os a atenção. A morena desconversou:

— E os surtos de madrugada?

O mais velho suspirou.

— Está difícil para todos nós, Janny. Quero dizer… Eu posso te chamar assim, né? — Ela concordou com um meio sorriso. Era “fofo” ele se importar com uma coisa daquelas nas devidas circunstâncias. — Do dia para a noite a balança tombou para o lado negro da força. E, nunca pensei que diria isso, mas… Desta vez não gosto do lado negro. Somos pessoas como todos os humanos do Outro Mundo, nossos únicos demônios são o passado. Esse é nosso diferencial deles. Mas o que vem nos atormentar agora, nunca foi humano.

Jeff começou a chorar do outro lado, assim, do nada. Caiu-se no chão, encolhendo-se como a uma bola, soluçando baixinho. O coração de Liu se apertou, todavia sabia que nada poderia fazer.

— Eu não aguento mais vê-lo sofrer desse jeito quase todo dia. Não aguento ver nenhum de vocês assim. Por isso prometo que estou disposto a dar minha vida pela a de vocês.

Jane o encarou neste instante. Os olhos completamente negros dela brilhavam, e o garoto pôde enxergar neles as estrelas, por mais que no céu noturno elas se escondessem por trás das nuvens. Aquele brilho refletia gratidão.

E naquele semi-silêncio de ondas sutis cheias de cloro se agitando, e um soluçar baixo ecoando no vazio, Jane enterrou seu rosto em um abraço pesado e gradativamente aliviante no ombro de Liu, iluminado por um feixe de luz fraco como a esperança do casarão. Acentuado pelo murmurar choroso da jovem de cabelos negros:

— Estou com tanto medo...


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