Destinados escrita por Tsuki Dias


Capítulo 17
16 - Gata de Rua


Notas iniciais do capítulo

E mais agradecimentos à Linda Cora por betar e me aguentar falando coisas nada a ver nos chats da vida srsrsrrs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/582684/chapter/17

— Tudo pronto para irmos? — Leo perguntou depois de fechar sua bolsa de viagem e prender suas adagas às costas. — Lys?

— Pronta. — Ela bocejou antes de terminar o conteúdo de sua xícara. — Kira ainda está dormindo?

— Deve ter ido treinar. Ouvi-a levantar bem cedo. — Mikhil comentou descendo as escadas.

— Kira não dorme, ela tira a noite para meditar. — Leo revelou. — As únicas vezes que a vi dormindo foram quando estava ferida…

— Isso é algo que já deveria saber. — O médico murmurou preocupado. — Vou procurá-la e…

— Sua pedra está brilhando. — Lissa comentou. — E a do D também.

Antes que os garotos pudessem constatar o fato apontado, o brilho das pedras se atenuou e formou uma imagem em movimento que parecia caminhar em direção a eles, sem nunca chegar onde deveria. Era uma figura enevoada, quase disforme, mas puderam distinguir um capuz preto sobre a roupa usual da companheira.

Bom dia. Já estão de pé? — A imagem de Kira perguntou, tendo sua voz um pouco distorcida.

— Kira? Pensei que não devíamos usar essas pedras à toa. — Mikhil brincou, distinguindo os fascinantes olhos dourados da garota. — Onde você está? Já estamos prontos para ir.

Na verdade já estou na estrada há… Vejamos… Umas cinco horas.

— O que? — eles exclamaram atônitos.

Calma! Precisei fazer uma coisa, então resolvi poupar vocês da minha pessoa por uns… Quatro dias. Estou esperando entre Quart e Narfiy, a nordeste.

— Por favor, não diga que seguiu o que eu falei! — Mikhil gemeu desgostoso.

Segui o conselho da Taiga, se isso te deixa melhor. — ela pareceu bufar. — Não se preocupe, vou ficar bem. Nós precisamos desse tempo. E não dei os cordões para ficarem de enfeite. Ah, Rany, tome cuidado, parece que Erischen quer você. Vi um cartaz com sua aparência antiga, dizia que a encontrariam com o sequestrador: o Dgrov. Tomem cuidado.

— Sem essa de “tomem cuidado”! Diga onde está que vou aí te pegar! — Mikhil exigiu, desejando poder tocar na imagem.

Por mais fofa que eu ache sua preocupação, peço que pare agora. Não de se preocupar, mas de pensar em vir me resgatar. Eu preciso disso e você sabe. Então feche os olhos, respire fundo e arranque a casca da ferida de uma vez. Vamos sobreviver a isso. — Os dois suspiraram ao mesmo tempo, exalando o nível de sincronia em que estavam. — Estou chegando perto da cidade. Assim que me alojar mando notícias. Pode ser?

— Pelos Deuses! — ele bufou, segurando a ponte do nariz. — Tome cuidado.

Vejo vocês depois. — ela riu antes de encerrar a projeção.

O silêncio pairou sobre eles por alguns minutos. A irritação de Mikhil era quase palpável e aquela sombra escondida dentro dele parecia se projetar pela sala. De todas as coisas que esperavam de Kira, deixá-los, mesmo que por pouco tempo, era a mais impensável.

— Rany… — O médico grunhiu, tentando controlar a voz. — Pode achá-la?

— Posso, mas não vou. — Lissa cruzou os braços e levantou o rosto quando os companheiros a olharam com incredulidade. — Vocês a ouviram: ela não nos quer perto. Provavelmente ela vai quebrar o bico na pedra para deixar crescer outro antes de arrancar as garras e as penas. Seja lá o que ela tem que fazer, espero que a faça voltar a ser útil, pois desde que você chegou, ela parece a Princesa Peach.

— Quem?

— A questão é: ela está fraca e a culpa é, provavelmente, sua. Então deixe-a fazer o que tem que fazer. Aquela ali não vai morrer tão cedo.

— Como pode ser tão fria?

— Para ser sincera… Estou cansada disso tudo, principalmente dessa coisa toda com a Kira. Agora, se quer estar lá com ela, é melhor andar.

–-**--

Sabe… Aquela com certeza foi uma das piores ideias que ela teve em toda a sua vida. Kira observou as sujas e úmidas paredes do quarto decrépito em que estava, sapateou um pouco sobre o chão sujo que rangia, analisou as vigas puídas e os pregos enferrujados que só de olhar já estava ameaçada de contrair tétano, e suspirou arrependida, sentindo os olhos marejarem pelo cheiro acre de mofo e qualquer coisa que urinou ali e morreu.

Aquele lugar era a representação exata do que acontecia numa placa de petiz.

O motivo de estar naquele poço de dejetos era por causa de um mal entendido. Algumas horas antes, estava indo para a “menos ruim” das estalagens daquela decadente cidade marginal quando avistou um Aspirante colando cartazes seus e dos primos. Para fugir dele, entrou em qualquer porta aberta que encontrou e ficou a espreita. O problema era que aquela porta capenga era a entrada de um hotel de fossa e o dono praticamente a ameaçou com o olhar, obrigando-a com que alugasse um quarto se não quisesse ser exposta.

Nunca agradeceu tanto por sua insônia.

— Se for usar o banheiro, ignore o corpo na banheira. — o velho falou com seus dentes podres. — E o encanamento quebrado.

— Imagino que não tenha outro quarto menos… Biológico. — indagou, puxando o lenço mais para cima do nariz, desejando poder arrancar os olhos.

— Não.

— Ok. — Ela suspirou e lançou algumas moedas para ele. — Por seu silêncio.

— Fique o tempo que desejar. — E ele saiu para o corredor, deixando seu riso encher as fissuras.

Fechou a porta rachada e se escorou cuidadosamente nela, somente para ter um ponto de apoio no que iria fazer: limpar. Pelo menos o suficiente para não ser digerida pelo mofo. A lembrança de Mikhil a fez parar um momento, quase a induzindo a usar a chave que ele lhe dera para entrar na casa dele. Era tentador poder dormir em sua cama e poder usar seu banheiro sem ter alguém morto lhe fazendo companhia, mas ceder significaria por a perder todo seu treinamento logo no início.

Fechou os olhos, carregou uma onda de energia e lançou-a no local, focando-se em toda sujeira impregnada no ar e na matéria. Expurgou tudo que havia de errado, desde o cheiro, o corpo no banheiro até mesmo seu próprio corpo. Limpou tudo e limpou mais um pouco, tornando aquele lugar digno de sua presença e de seu descanso. Quando terminou sentia-se cansada, mas agora podia descansar adequadamente, mesmo que tivesse que deitar sobre o colchão puído.

Sentou-se sobre a cama velha, encostou as costas na parede, cruzou as pernas e fechou os olhos, iniciando a meditação primária. Relaxou pouco a pouco e apurou sua consciência. Os sons vinham a ela com naturalidade, contando-lhe histórias e ensinando coisas.

Como, por exemplo, não se esquecer de proteger o quarto quando se abrigava num lugar perigoso.

–-**--

Apesar da alta criminalidade, das gangues e da máfia vigente, Al Siwey Khal era até um lugar interessante. Com uma aparência ao estilo Mil e Uma Noites, com as burcas, os lenços amarrados e a feira de especiarias, sentia-se como prestes a conhecer a tão famosa Sherazade sentada em algum canto contando histórias para seu público.

Andou em meio às barracas da feira, observando as pessoas e as mercadorias. O cheiro de especiarias adentrava seu nariz, mesmo que o tivesse coberto com um lenço, e a vontade de cozinhar a dominou por um instante. Todo aquele cheiro gostoso lhe deu ideias para fazer quando voltasse para junto de seus companheiros: carneiro com molho de pimenta e alecrim, bolo de nozes com calda de açúcar mascavo e tâmaras, porco com curry… Aquele cheiro, definitivamente, a deixava faminta.

— São eles! — Ouviu mais a frente na rua e a multidão que lotara a feira minutos atrás se dispersou tão rápido quanto um bando de gazelas.

Parou um momento no lugar, até avistar o que vinha e se escondeu às sombras de uma das barracas observando, cautelosa, o movimento da milícia que comandava aquela parte da cidade. Eram três, vestiam túnicas escuras e turbantes que lhes cobria o rosto. Montavam bestas acinzentadas de seis patas que tinham o tamanho de ursos. Suas cimitarras eram visíveis à distância, mesmo que estivessem ocultas sob a capa que usavam. Não pareciam se importar com qualquer coisa ao redor, simplesmente passaram pelo local, somente observando. Em pouco tempo eles sumiram e a rua voltou à normalidade.

— Nunca vi essas feras em tons de cinza antes. — comentou com o vendedor. — Cativeiro?

— Ninguém nunca soube de onde eles tiraram essas coisas. Alguns dizem que são seus filhos bastardos. — ele murmurou temeroso, pedindo perdão para o vento seco pelo comentário maldoso. — Deseja experimentar essas frutas especiais? Só têm nessa região.

— Sim, obrigada. — Sorriu para ele e esperou-o preparar a amostra.

–-**--

Os caras da ronda já estavam longe quando a menina se arriscou a pôr a cabeça para fora das sombras. Phay observou em volta, antes de sair de seu esconderijo e dar aos amigos o sinal que esperavam. Ainda vigilante, assistiu os companheiros saltarem de seus lugares, vindo para a rua de buracos, fendas e janelas quebradas. Alguns se esconderam em caixas e atrás de pilhas, sobre telhados ou mesmo sob uma barraca ou outra. As crianças se agruparam em volta da menina e esperaram-na contar todos, verificando a presença de cada um.

Eram quinze ao todo e estavam todos ali daquela vez, o que foi um alívio, pois significava que sua liderança era correta.

— O que faremos hoje, Phay? — Um dos garotos perguntou animado, já antevendo os planos mirabolantes que a líder contaria.

— Terminaremos a missão de ontem. — Phay deu um sorriso felino e apontou para a rua, onde começavam as barracas da feira. — Nos vemos no ponto de encontro.

As crianças sorriram e, antes de saírem correndo, bateram as mãos em saudação e dividiram-se em grupos de cinco. Phay assistiu-as partir e suspirou cansada, pegando o relicário que guardava no pescoço e abrindo-o para olhar a foto dentro dele. Tomando forças e coragem daquela imagem, ela o guardou dentro da roupa e correu para a feira, iniciando seu trabalho do dia.

As ruas estavam lotadas e foi gratificante e perturbador ver seus amigos tendo sucesso nos pequenos furtos daquele dia. Se pudessem, não estariam fazendo aquilo. Eram crianças tão legais… Infelizmente, a vida não era legal com eles, nenhum deles. Mas sabia que as coisas seriam piores se não fizessem o que fazem e ela arcasse o que arca, todo dia… Às vezes achava que aquilo tudo era sua punição por ter tido família num grupo de órfãos, mas em outras pensava que o Destino era um ser muito mau que gostava de ver o sofrimento alheio. Mas em nenhum momento deixou de acreditar que tudo aquilo precisava ser vivido. Era inevitável.

— Phay! Phay! — Uma das meninas, aquela que insistia sempre em fazer grupo com ela, a encontrou às margens de um beco escuro. — Vi o Seu Alsad atender uma forasteira. Ela comprou bastante coisa dele.

— Nossa! E ele é um dos mais caros! Viu onde ela guarda a bolsa?

— Acho que num bolso dimensional, não a vimos com mais nada, nem mesmo por baixo da capa. Mas não queremos abordá-la. Ela dá medo… — Ela estremeceu um momento antes de recompor-se. — O que quer fazer?

— Quero ver quem é.

A menina assentiu e pegou a mão dela, guiando-a pelos becos e telhados, até avistarem os outros vigias da turma. Eles apontaram para a rua e Phay avistou uma figura elegante caminhando calmamente entre as pessoas. Olhava para frente, aparentemente sem atenção, virando a cabeça frequentemente para ouvir algum vendedor, mas não se demorava demais onde não lhe interessava. Era forte, Phay podia sentir a força dela e se quisesse roubá-la, teria que ser mais do que normalmente era.

— Vamos precisar de todo mundo. — Ordenou por fim.

–-**--

Todos estavam a postos. O grupo que abordaria a forasteira era liderado por Phay e mais três crianças, que esperavam perto da praça. O resto da turma se dividiu entre vigias e apoio. Tentariam usar a estratégia básica: empurrar e correr. Se as coisas ficassem complicadas… Bem, era para isso que serviam seus poderes, não?

Quando a mulher passou pelo ponto inicial, o grupo saiu de sua posição e começaram a operação. Correram na direção dela, fingindo que brincavam de pique e vez ou outra esbarravam em alguém para não serem tão perceptíveis. Quando Phay se aproximou o bastante, ainda simulando que ia pegar a garota que corria mais a frente, fingiu tropeçar e se jogou sobre a mulher, pegando-a de surpresa e aproveitando para revistá-la.

Mas ao contrário do repúdio que esperava, dois braços calorosos a envolveram num colo gostoso, enquanto o corpo da mulher se abaixava para acolher melhor a menina magricela que se chocara com ela. Por um instante, Phay esqueceu-se da sua missão e, em sua surpresa, deixou-se afagar por aquelas mãos delicadas. Era tão diferente de tudo que já sentiu…

— Está bem, menina? — Aquela voz perguntou e um arrepio correu pela espinha da garota. — Se machucou?

— Não… — ela balbuciou, arriscando um olhar para aquela estranha.

Os olhos dela… Os olhos dela pareciam o sol brilhante no meio do verão. Dourados, grandes e calorosos, mas com um fundo de tristeza que cortava o coração. Mas o que a paralisou no momento foi a semelhança com os olhos de sua mãe. Sim, sua mãe também tinha olhos de raios de sol.Tinha cabelos da noite, iluminado por fios de estrelas, tinha a pele cor de areia pálida e bochechas coradas. Ela era linda, tão linda que os chefes da cidade a queriam, mandavam presentes e chamavam-na para sair. E ela sempre os rejeitava com delicadeza, pois ela acreditava que assim ficariam seguras.

Pena que esse pensamento não foi verdadeiro na última noite de sua vida.

— Tem certeza de que não se machucou? — Ela voltou a perguntar.

— Me desculpe! — pediu, rapidamente surrupiando a bolsa de dentro do bolso dimensional e se pondo a correr na direção contrária, levando todas as outras crianças consigo.

Quem diria que alguém que exalava tanto poder podia ser tão…

— Corre, Phay! Ela está vindo! — Um dos garotos do alto gritou para ela.

Phay olhou para trás por um momento e sentiu um frio correr pelo corpo. A mulher estava no encalço deles, olhando-os como uma predadora feroz que pegaria aquela caça a qualquer custo. Ela corria poderosa e perigosa, desviando habilmente de qualquer coisa que transpusesse seu caminho.

Correu o mais rápido que pôde e instruiu seus amigos a fazerem o mesmo. E quando estava numa velocidade considerável que suas duas pernas não podiam sustentar muito tempo, saltou para um beco e subiu nos telhados, invocando o animal dentro de si e deixando-o tomar-lhe conta do pequeno corpo. A Loba da cidade estava de volta.

A perseguição estava implacável. Tentar despistá-la na feira não daria certo, então precisaria levá-la para o gueto, onde era sua área, onde conhecia cada canto que poderia fazê-la se perder…

Ela não viu quando a mulher aumentou o passo, muito menos quando se interpôs em seu caminho e tentou apanhá-la. Phay saltou para o lado e mudou de direção, vendo-se fugir para a parte mais perigosa dos telhados, onde os vãos eram grandes ou frágeis demais.

Parou de repente, antes de atingir o fim de seu caminho. O fosso que se abrira entre as duas casas era imenso e nem mesmo ela, com a força das quatro patas, poderia transpor aquilo nem com muito custo. Estava acuada e isso não era bom. O que poderia fazer era deixar a bolsa e pular, mas precisavam do dinheiro mais do que deixava transparecer. Precisava achar um jeito… Tinha que ter outro jeito…

— Solta a bolsa, Phay! — As crianças gritaram do outro prédio. — Solta a bolsa!

Quando ouviu a mulher aterrissar no prédio de trás, jogou a maldita bolsa para ela e tomou impulso para saltar. Correu o máximo que suas patas podiam e se lançou no vazio, tendo como alvo de sua mão a beira de pedra, onde seus amigos a aguardavam com as mãos estendidas. Mas o impulso não foi forte o suficiente e ela caiu.

Quando o olhos aflitos deram lugar às paredes de barro que pareciam crescer sobre ela e, em algum momento de que não tinha consciência, o céu azul brilhante foi-lhe apresentado pela última vez. Fechou os olhos com força, se preparando para o impacto e para a dor. Por um momento, sentiu um par de braços acolherem-na protetores enquanto o ambiente em volta se modificava ligeiramente. Seria sua mãe acolhendo-a no outro mundo? Devia ser, já que o abraço era o mesmo…

Quando um pequeno solavanco a jogou para a realidade, Phay abriu os olhos, assustada, deparando-se com o par de raios-de-sol da forasteira. O lenço havia caído de seus cabelos, revelando o prateado predominante dos fios curtos. Pelos deuses! Como era linda!

— Você está bem? — ela perguntou, pousando-a sobre seus próprios pés. — Está machucada? É uma queda muito feia.

— V-você me ajudou? — indagou surpresa, recebendo os cuidados da mulher. — Por quê?

— Você precisava. — Ela sorriu, pousando a mão no rosto da menina e retirando a máscara que cobria seu nariz e boca. — Tem certeza de que não se machucou? Posso ter sido um pouco bruta…

— Eu… Eu estou bem… — falou de pronto, maravilhada com a aparência daquela estranha.

— Que bom. — Ela sorriu e tirou a bolsa de moedas de dentro da roupa, mostrando-a a todos com seriedade. — Vocês queriam o dinheiro, não é? Então eu vou lhe dar isso, mas têm que esperar que eu tire algumas coisas importantes de dentro, tudo bem?

— Mas…

— Era importante, não? Só espere um momento.

Phay assistiu à mulher sentar-se sem pudor sobre o chão barroso do beco isolado e esvaziar a bolsa de moedas sobre o lenço que uma vez cobriu-lhe a cabeça. Os olhos da menina nunca tinham visto tantas coisas brilharem juntas antes, eram moedas de ouro e prata misturadas com pedras coloridas de aparência cara.

Ela viu as crianças se aproximarem e se amontoarem em volta das duas, maravilhadas com a visão brilhante. A mulher remexia o montante precioso com cuidado, retirando da pilha pequenas pedrinhas coloridas, algum pedaço de alguma coisa e um saquinho de veludo, onde ela colocava as coisas que separara junto das que já estavam lá. E depois de retirar um par de pequenos brincos e uma chave esquisita da pilha, ela voltou todo o dinheiro para a bolsa e ofereceu-a a Phay, que ainda a olhava com surpresa e admiração.

— Pronto. Obrigada por esperar. Sem essa chave não poderia mais entrar na minha casa.

— Vai mesmo nos dar todo esse dinheiro? — Uma das meninas perguntou.

— Claro, peguem. Terá mais serventia para vocês do que para mim.

— Você é uma princesa? — Phay perguntou de repente, sem desviar os olhos dos raios-de-sol dela.

— Sou uma viajante. — Ela respondeu simplesmente, levantando-se para ir embora. — Tchau.

A visão da forasteira se afastando causou um sentimento estranho na garota. Era como se a pessoa que mais amava estivesse partindo para nunca mais voltar. Phay queria ficar mais com ela, queria passar cada minuto do dia com ela. Não sabia porquê precisava tanto daquela mulher, mas não ia deixá-la ir embora e sumir, como sua mãe.

— Espera! — chamou, indo de encontro a ela. — Venha com a gente!

— O quê? — A estranha riu, passando a mão pela cabeça da menina. — Não posso, tenho que ir.

— Você está dormindo no Garret, não é? Não vai para lá não! O Seu Hadi é mau, ele machuca as pessoas. Ele vai te machucar também.

A mulher não disse nada. Passou a pensar por um tempo e suspirou, voltando seu olhar para o céu por um momento. Phay quase podia ver os pensamentos passando pela cabeça dela, tão densos… O tipo de pensamento que só adultos muito preocupados tinham.

— Tenho que ir embora amanhã, então. — ela respondeu por fim.

O sorriso de Phay surgiu largo e radiante. Sem se dar conta, lançou-se para ela e a abraçou, enterrando o rosto no colo da mulher e gravando na memória seu cheiro gostoso. Estava tão feliz!

— Sou Phay. — falou contra a pele dela, alto o bastante para ela escutar.

— Sou Kira.

–-**--

Kira olhou para cima instintivamente quando algo molhado caiu em sua cabeça. Havia um caminho d’água bem em cima, mas estava rachado e o resultado disso estava sobre seus cabelos. O esconderijo das crianças era uma construção abandonada, afastada do resto da cidade, cheia de perigos e pontos abertos, ou escavados ou desmoronados. Kira não imaginava como aquelas crianças podiam viver num lugar quase tão inóspito e insosso quanto aquele. Mas dando-se como comparação seu quarto no estaleiro, aquele refúgio era um cinco estrelas.

— O que fazem quando chove? — perguntou distraída, recebendo risadinhas por resposta.

— Aqui não chove. A água vem do chão. Quando queremos água usamos o poço daqui mesmo. Toda casa tem um. — Uma das crianças explicou divertida.

— Não sabia disso… Aliás, esse reino foi sempre uma incógnita para mim.

— Devem ter vários lugares mais interessantes para ver, não é? — Phay perguntou empolgada, cercando-a de perguntas como vinha fazendo desde que aceitara ir com eles. — Que lugares você já viu? Já viu o mar?

— Só quando era criança, mais nova que vocês, na verdade. Acho que estou vendo um pouco de tudo nessa terra. Por onde passei até agora eram parecidas com o lugar de onde vim, então não vi diferença. Aqui foi o mais longe que cheguei de casa.

— Uau! Já viu um dragão? Aqui dizem que eles não existem.

— Conheci um sim, e ele era muito legal… — Comentou distraída, percebendo depois os olhares curiosos. — Querem que eu conte?

— SIM! — Eles concordaram em coro, sentando-se ao redor dela.

— Tudo bem, mas só se me ajudarem a preparar o jantar. — Kira sorriu, abrindo um bolso dimensional, de onde tirou uma grande panela.

–-**--

A lua se demorou um pouco no céu sobre a parte que faltava do telhado, como se fosse uma babá para aqueles garotos, e já se retirava lentamente em seu caminho. Kira olhou para as crianças que dormiam em seu colo e sorriu penalizada, velando por aquelas carinhas adormecidas. Pensando em tudo o que elas deviam passar todos os dias, até se sentia culpada por querer ser mais que A Princesa. Céus! Comparada com a delas, sua vida sempre foi um mar de rosas.

Sempre.

— Não consegue dormir? — A voz de Phay soou baixa pelo lugar.

— Eu não durmo. — Revelou com um sorriso, enxergando-a pela penumbra. — E você?

— Vem comigo. — Ela pediu, estendendo a mão.

Kira não pensou duas vezes antes de aceitar o convite da menina. Ajeitou carinhosamente as crianças sobre as cobertas e a seguiu. Phay a guiou pela construção e para fora do lugar. Passaram por um terreno com ruínas e um pequeno arvoredo espinhoso, antes de chegarem à outra casa. Era diferente d as outras, era pequena, tinha só dois andares e as portas e janelas estavam quebradas. Trepadeiras do deserto surgiam do solo e se esparramavam pelas paredes, assim como o mato baixo que fazia vez de tapete. Aquele lugar tinha uma vibração diferente das outras. Era quase como se ainda houvesse amor entre aquelas paredes.

Amor e desespero.

— Você morava aqui. — constatou preocupada. — Sua mãe ainda está viva?

— Não sei. O Cjal diz que vai me devolver o corpo dela, mas nunca cumpre a palavra. Eu acho que ele a mantém só para me fazer trabalhar para ele. — Ela rosnou raivosa. — Queria poder matá-lo.

— É um pensamento pesado para uma garotinha.

— Não sou mais uma garotinha. — ela murmurou adentrando a casa.

O lugar não estava tão acabado quanto pensara, mas ainda assim era um risco para alguém tão jovem quanto ela. O primeiro cômodo estava tomado pelas vinhas, mas ainda parecia bem cuidado e habitável. Contudo havia um cheiro estranho no ar, o tipo de odor que não deveria estar vinculado a uma garotinha. Era triste, desesperador e revoltante… Não queria imaginar que tipo de coisa se passava ali.

— Voltei, Mhaa. Trouxe visitas. — Ouviu da menina e viu-a ajoelhada em frente a um vaso de flores rachado, onde pequenas flores-de-areia murchas repousavam quase mortas e um recorte de jornal se apoiava nele. — Desculpe, não achei mais flores.

— É sua mãe? — Kira Perguntou pesarosa, abaixando-se ao lado dela.

— Sim, ela parece com você. Olha. — Phay falou ao puxar o relicário do pescoço e abri-lo, revelando a foto contida a ela. — Essa é ela, Lahma.

Kira observou a foto por alguns segundos antes de afastá-la delicadamente com um aperto no coração. Pelos deuses! Quando essa história de Sombras iria parar de machucar as pessoas? Quando poderia chegar numa cidade e aproveitar o lugar sem ter alguém observando-a como se tivesse voltado dos mortos? Quando poderia parar de evitar pais chamando-a por nomes que não tinha, filhos querendo abraçá-la e maridos querendo vingança. Isso era tão errado…

— Kira? — A voz de Phay a tirou do limbo de seus pensamentos. Olhou para ela com pesar e sorriu um momento, puxando-a para um abraço apertado. Não para consolar a menina, mas era seu próprio coração que precisava de tranquilidade.

— Sinto muito, Phay… Sinto muito…

— Mamãe sempre disse que um dia viria alguém parecida com ela para levar os olhos de sol embora, ela dizia que assim eu veria o rosto dela de verdade. É você, não é?

— Sinto muito…

— ‘Tá tudo bem, Kira. Tudo bem. Tudo bem… — Phay não conseguiu manter a voz normal. Quando percebeu, estava chorando nos braços de Kira.

Os minutos passaram como horas enquanto elas estavam ali abraçadas, derramando lágrimas diversas. Kira chorava de culpa, de pesar por todo sofrimento que suas Sombras poderiam ter causado, enquanto Phay chorava porque sua nova amiga também o fazia. As lágrimas da moça refletiam na menina e ambas tinham seus motivos para estarem tristes. Uma se culpava pelo sofrimento da outra.

Quando o pranto secou naturalmente e cada uma pôde olhar nos olhos da outra com um sorriso sincero no rosto, tensão tomou conta do rosto da menina. Kira viu as orelhas sob o véu se moverem atentas e o pequeno corpo se retesar. Alguém estava vindo e pela reação da garota, era esperado e perigoso. Alguém que não seria apresentado num jantar de domingo.

— Se esconde. — Phay pediu, levando-a para os fundos, onde escombros formavam uma parede. — E aconteça o que acontecer… Não olhe. Por favor.

— Phay…

— Por favor.

Kira observou o olhar da menina mudar num átimo. Em um segundo, os olhos brilhantes de uma criança inocente se endureceram e ganharam a frieza de alguém que sabia como era a vida, em todos os sentidos. Foi quando Kira entendeu o que se passaria ali. E compreendeu que ela mesma não sabia nada. Que continuava sendo a maldita Princesa Ignorante.

Como sempre.

— Phay! — A voz estrondosa de um homem rude ecoou pelas paredes do lugar. — Apareça, sua pirralha!

— Aqui. — A menina respondeu apática e sem vida, aparecendo para ele como ordenado. — Estou aqui, senhor. Como queria.

— Sua pontualidade sempre me surpreende. — Ele se sentou no estofado velho com um estrondo, deixando suas armas ecoarem ao serem postas de lado. — O que tem para mim?

— Bastante. — Ela jogou a bolsa de moedas para ele. — O bastante para pagar nossa dívida.

— Sim, é o bastante. Mas não o suficiente. — Ele guardou a bolsa de lado e se esparramou como um macaco velho.

— Mas nunca nessa vida acumularíamos tanto!

— Vocês dariam um jeito alguma hora. Mas já te disse, menina: uma vida seria necessária para pagar a dívida de vocês. — A risada maldosa que saiu da garganta dele era nojenta. — Agora pare de asneiras e ande logo. Não tenho a noite toda.

O som de farfalhar de panos apertou o coração de Kira, impelindo-a a olhar, mesmo que Phay tivesse pedido o contrário. Viu a menina retirar o véu da cabeça, revelando uma pelugem bagunçada cor de âmbar que contrastava com sua pele morena, orelhas pontudas e chifres curvados em direção ao rosto. Viu-a despir-se da túnica marrom que vestia, revelando seu corpo magro, coberto em algumas partes por pelos e nas costas por penas. Seus pés lembravam patas de lobos enquanto o rabo estático era de felino. Phay era uma animafaire… Uma criatura mágica que se transformava em qualquer animal. Como que o universo permitia que uma criaturinha tão rara sofresse tanto desse jeito?

Oh, Phay… — Kira pensou com lágrimas nos olhos.

— Venha logo!

— Desculpe senhor, mas não é um bom dia…

— Obedeça! — ele gritou, pegando-a pelo braço fino e jogando-a de cara no estofado. — Vai aprender a me obedecer sem reclamar!

Antes que ele agredisse a garota de qualquer maneira, Kira se lançou a ele e agarrou o braço erguido, impedindo-o de completar o ato. Viu-o se surpreender e fazer força contra a dela, contraindo os músculos e tentando se soltar. O olhar assustado de Phay revelava uma Kira que fazia muito que não aparecia, era aquela perigosa, a fatal, a Kira que não precisava de Taiga para se defender ou proteger os outros.

E apesar de odiar o jeito como essa persona conduzia as coisas… Iria adorar o resultado.

— Phay, vista-se. — mandou séria, analisando o homem com repugnância. — Vista-se, Phay, e afaste-se. Não vai querer ver isso.

— Mas…

— Agora. — ordenou com firmeza, vendo a menina recolher a roupa e sair correndo pela porta. — Agora, senhor, sua conversa é comigo.

— Quem é você, vadia? — Ele grunhiu.

— Alguém que vai adorar vê-lo castrado. — Sua voz saiu grave e gélida. Jogou-o no chão e subjugou-o com os pés, pisoteando-o com asco estampado no rosto. — E depois, irei resgatar a mãe dessa menina.

–-**--

Estava quase amanhecendo quando os gritos e gemidos cessaram completamente e Kira saiu da casa batendo os cristais das mãos e da roupa. Seus olhos viam com nojo a sujeira que caía e uma aura pesada a encobria quase por inteiro. A cada passo, Phay observou-a se aproximar com toda a periculosidade de alguém realmente poderoso tinha. Alguém que sabia exatamente onde a vida começava e terminava e tinha total consciência e controle disso.

— Você está bem, Phay? — ela perguntou, um pouco distante para o gosto da menina.

Apesar de aquela aparência sinistra preencher o ambiente, do olhar gélido demorar a abandonar o rosto que abrigava o sol no olhar… Por algum motivo não sentiu medo da visão, elo contrário, sentiu a imensa vontade de abraçá-la e nunca mais soltá-la. Nunca mais.

— Phay?

A menina não respondeu, levantou-se de sua pedra e correu em sua direção, jogando-se nos braços dela e a abraçando tão fortemente que poderia ter esmagado suas costelas. Era um verdadeiro abraço de urso, como sua mãe chamaria. E queria que fosse mesmo, que aquela estranha sentisse o tamanho do carinho que sentia por ela, que ela não esquecesse…

— Desculpe se te assustei. — Kira sussurrou abraçando-a. — Desculpe…

— Não, não… Obrigada, obrigada…

— Ainda tem estômago para terminar com isso? — Kira perguntou calmamente, encarando os olhos amadeirados da menina. — Vamos resgatar sua mãe?

— Você acha que ela está…?

— Se não estiver, recuperaremos o corpo dela, e você poderá enterrá-la. Tudo bem com isso?

— É melhor que essa incerteza, não?

— Sim, bem melhor.

— Então vamos, e depois… Vamos libertar meus amigos.

–-**--

A menina assistiu Kira arremessar o guarda pela porta de madeira com maestria e seus olhos brilharam pela força que ela demonstrava. O sol já apontava no horizonte quando invadiram o quartel general da milícia da cidade, onde o falecido trabalhava e provavelmente mantinha o corpo da mãe de Phay. O plano inicial era somente conversar, mas quando a moça foi insultada pelo guarda, uma abordagem mais drástica foi necessária.

Quando adentraram o local com rapidez, evitando confrontos indesejados e ferimentos, Phay observou as feições de Kira com atenção. Apesar de estar com o rosto coberto, como no dia anterior, a menina conseguia distinguir os sulcos de preocupação e a tensão por trás dos véus. Alguma coisa a incomodava e não tinha nada a ver com a pequena missão em que embarcaram.

— Quem vocês procuram está no andar de cima. — Ouviram de alguém quando passaram por uma sala aberta e arejada.

— Não vai nos impedir? — Kira perguntou séria, encarando o homem que fumava, recostado num amontoado de travesseiros.

— O que há lá é uma heresia da natureza. Ficaria grato se a tirassem de minha casa. Além do mais, pertence às duas. E eu não hesito em devolver o que não é meu.

— Fareje, Phay. — Kira pediu.

O nariz de Phay não a enganou, levou-as diretamente ao andar superior, por um corredor que não passava privacidade nenhuma. A porta que procuravam não estava longe de onde subiram, podendo dizer que era uma das primeiras. Quando a menina se adiantou para irromper o quarto, ansiosa para encontrar o que restava de sua mãe, os braços de Kira a impediram de avançar.

— Por quê? — perguntou chorosa.

— Eu vou primeiro, querida. Você não precisa ver o que tem lá.

— Preciso sim! É minha mãe! E ela pode estar viva!

— Não, não precisa e não deve ver. Acredite em mim: não vai ser uma visão bonita. Fique aqui um pouco, ok? Só um pouco.

A animafaire não respondeu. Assistiu a moça entrar no cômodo e fechar a porta. Os segundos correram como horas enquanto estava parada ali, esperando para poder entrar e ver o corpo de sua progenitora. E quando um estranho engasgo antecedeu o som de cristais se partindo, a menina se jogou para a porta, encontrando com o corpo de sua benfeitora.

— O que fez com a minha mãe, Kira? — perguntou temerosa, tentando avistar o quarto.

— A tirei do sofrimento… — Sua voz estava embargada e Phay percebeu os poços-de-raios-de-sóis marejados. — Sinto muito, Phay.

— Ela… Sofreu?

— Agora, não mais. — Kira passou um cordão pelo pescoço da menina e beijou-lhe a testa, afastando-se ligeiramente para observar suas reações.

Phay analisou o cordão com lágrimas escorrendo dos olhos. Seu pingente era formado por uma pedra marmórea rústica, grosseira e sem acabamento que, sem ao menos entender como, sabia que era a pura essência de sua mãe. A única e verdadeira.

— Ela está bem agora?

— Sim, está. — Kira sorriu, passando as mãos pelo rosto e cabelos da menina. — Vou cuidar de você, Phay. Prometo.

— Que bom… Obrigada…

Um estrondo ao longe pegou as duas de surpresa. Kira e Phay correram para a sacada e pularam para o telhado, observando assim toda a vista urbana. Do horizonte, acompanhando a alvorada desértica, uma parede nebulosa avançava contra a cidade, acompanhando de perto um exército hostil e assustador. Eles avançavam rápida e implacavelmente, e quando os primeiros alcançaram as portas da cidade, a guerra começara.

— Corre… Corre, Phay, corre! — Kira gritou quando a cúpula continuou avançando sem piedade contra a cidade, consumindo-a com rapidez.

O lugar todo se tornara um caos, com as pessoas correndo de um lado a outro em busca de abrigo. Kira pegara na mão da menina e não largara, conduzindo-a rápida e firmemente para fora da cidade, mesmo que suas pernas maiores oferecessem certa dificuldade para a outra. A cúpula parecia mais perto a cada passada e mesmo quando a moça pegou a animafaire nos braços e carregou-a nas costas, não pareciam ter chances de escapar.

— Vamos conseguir, Phay! Vamos conseguir! — Kira gritou quando avistaram o oásis que demarcava o fim de Al Siwey Khal.

Quando a esperança tomou conta das garotas, uma força estranha as parou na divisa. Phay sentiu-se puxada ao passo que Kira foi repelida. A separação foi iminente e dolorosa. Phay, do chão, viu Kira ser arremessada contra uma árvore, cuspir sangue e se levantar cambaleante, voltando para ela com a mão no flanco.

— Venha, Phay… — Kira pediu com a mão estendida. — Corre…

A menina tentou transpassar a barreira, enquanto Kira tentava tirá-la à força. A cúpula de ódio se aproximava e nenhuma das duas tinha ideia de como atravessariam juntas o limite da cidade. Nenhuma…

— Não desiste, Phay! Não desiste!

— Kira! — A menina gritou chorosa, quando a moça foi repelida duramente de novo.

Quando Kira se levantou e rumou novamente de encontro com a garota, um vulto preto apareceu das sombras e enlaçou-a pela cintura, puxando-a para longe da menina e do caos que se aproximava. Phay viu-a se contorcer e gritar, tentando se soltar do aperto daqueles braços enquanto chamava seu nome e esticava o braço, pretendendo alcançá-la de alguma maneira mágica e impossível.

Foi quando Phay viu Kira sumir entre as plantas que a cúpula a engoliu num clarão de luz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! Estão gostando? Se sim deem sinal de vida, fumaça, sos, código morse, o que for para eu mandar meu abraço de urso para vocês! O Mikki agradece.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.