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Mas o coração gélido e solitário daquele menino sem escrúpulos por mais que fizesse força e quisesse não conseguia se livrar daquele sentimento doce e quente que o invadia a cada vez que a avistava, fosse apenas caminhando pelas ruas vazias ou dormindo, estático.

Toda a noite sentia, ainda que involuntariamente, um desejo doentio de vê-la salva, intocada e bela, só para poder avistá-la novamente a cruzar a rua.

Não conseguia sentir ganância ou dor, apenas um alívio, um AMOR.

Sim, era amor aquilo, aquele sentimento lhe entrara sem ele notar e o corrompera suavemente. Indolor.

Realmente sentia, e sentia por ela, era como aquela rosa que ele vira quando criança, aquela rosa negra, que ele podia ver, admirar, mas nunca tocar.

A rosa que ele queria para si, mas não podia ter

Talvez fosse até mais do que ele pudesse ter.

Deveria falar? Deveria contar a ela? Ou guardar aquele segredo consigo?

Agora a cada vez que a via seu coração apertava, a via das sombras sem opinar se o vestido dela estava velho ou sujo nas pontas, sem notar se os cabelos pareciam desgrenhados ou se não sorria, mas se sorria o dia dele ganhava mais cores, deixava de ser apenas cinza e tomava todas as escalas da aquarela.

Depois de refletir muito, a conclusão lhe veio tardia, porem absoluta, estava mesmo amando, parecia viver mais para ela do que para si próprio.

O que faria? Não devia mar, não podia amar, mas afinal como tudo havia começado?

Naquela noite deitado ele começou a lembrar...