Contos Do Alvorecer: Asas Da Solidão escrita por Franco Nogueira


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esta história é dedicada a minha mestra Amélia Lannister, como presente atrasado (desculpa de novo) pela nossa brincadeira de amigo oculto. Aos demais espero que curtam ;D



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Os sinos reverberavam pela noite quente e úmida, porta de entrada para a primavera, na qual os ventos se tornam mais amenos, as ruas mais movimentadas, os sorrisos mais radiantes e a vegetação mais bela. O mundo humano e seus padrões irritantemente previsíveis, suas alegrias tão facilmente extirpáveis e efêmeras. Um mundo marcado por sentimentos. Algo extremamente estúpido, ilegível e proibido aos enoquianos, criados com o único propósito de manter a ordem e o equilíbrio entre os mundos e as raízes do universo. Os ditos incorruptíveis e invencíveis guardas celestiais alados, invisíveis aos olhos mortais comuns e permeando historias, mitos ao longo dos milênios, fomentando as mais deturpadas religiões e seitas.

Pois aquela noite algo acontecia, quebrando uma cadeia de estabilidade tão antiga quanto as fundações da terra. E tudo devido ao infeliz sentimento. Amor.

Um amor fútil, fugaz e tão decrepito em seu surgimento que a mera ideia soava ridícula. Porem sua mente não poderia pensar desta forma, já que ao encara-lo por todos esses milênios apenas fomentara sua admiração, seu carinho, e principalmente, seu ódio.

Se não a fraqueza dos mortais os tornava belos, a capacidade de mesmo sendo completamente incapazes, mudarem o curso de seus destinos contra todas as adversidades possíveis. Mesmo tendo uma fragilidade nata, espiritual e física, não temer a morte e se manterem firmes as suas convicções frente ao incompreensível. Eis que surgiu a admiração, como uma folha de erva daninha em um jardim feito apenas para abrigar terra bruta e mármore.

Os sinos tocam. Suas enormes asas ardem em suas costas. Em pé sobre a torre da capela ela contempla o céu estrelado sentindo todos os seus poderes a traírem, todas as suas certezas se tornarem duvidas, toda a sua força convertida em fraqueza. E suas penas começam lentamente a cair à medida que sua pele nua é coberta por um véu negro de vergonha e pudor. Suor cobre a outrora indestrutível pele de mármore e lágrimas caem dos seus olhos. Estava indo aonde os olhos eternos não poderiam mais vê-la, sua essência se tornando pútrida enquanto novos sentimentos surgiam em seu interior. Os ventos lhe provocavam arrepios, uma sensação desconhecida e assustadora. Podia sentir o chão gelado sob seus pés e a altura lhe causava vertigem. Os tais sentimentos a enfraqueciam a tal ponto a diminuí-la a isto? Maldito câncer que eram.

Tristeza. Lágrimas caiam dos olhos a medida em que a dor era sentida em seu espírito. Ela leva as mãos aos olhos contemplando aturdida a substancia liquida que lhe saltava dos olhos.

Medo. As leis naturais não permitiriam uma interferência por parte de caídos no meio humano e ela sabia o que estava por vir. Algo pior do que a morte e a não-existência. Uma existência condenada. Sua pele se torna acinzentada e uma fome sem precedentes inicia-se em seu interior. Seus olhos avermelham-se e uma aura fétida emana através dela.

Ódio. Custava-lhe retribuir o sentimento? Arriscara tanto para salvá-lo após reconhecer o seu valor. Descera dos planos inalcançáveis à lama por ele. Sacrifícios foram feitos. Sacrificara a si própria e a tudo o que representava por ele, e agora tornava-se um demônio por seu amor não retribuído. Inútil. Condenada a alimentar-se de sentimentos humanos e a fomentá-los. Presa ao destino dos malditos sacos de carne e ossos até que esse mundo encontrasse o seu fim. E era exatamente o que ela iria prover. O fim. Ele havia se tornado forte, oferecera seu sangue à ele. Apenas ela possuía a perícia necessária para feri-lo, o que não faria pela limitação de sua existência. Mas espalharia como derrotá-lo a todos os seus inimigos. Eliminaria todos os seus aliados. O faria sofrer com os membros amputados e a esperança completamente drenada de seu ser. E então o fim chegaria através da praga oriunda das profundezas do universo unindo-os eternamente pelo duradouro laço da morte.

E novamente amor. Por quê? Por quê era tão difícil de esquecer?

Tremia convulsivamente pela abstinência de sentimentos alheios. Era condenada a andar próxima aos mortais se alimentando de suas débeis sensações. Reunindo forças interiores que provocaram um violento tremor na torre secular arrebentando-lhe as antigas vidraças, o ser berra em tormento.

– O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?

As penas outrora branco-pérola se encontram ao seu redor, negras e ardendo em chamas, enquanto uma aura de enxofre se projeta ao seu redor. Nascia um demônio.


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