Brenda sabia que aquele dia seria difícil. Era o Solstício de inverno, o que significava que há exatamente um ano, ela e todos os outros clareanos sobreviventes, tinham passado pelo transportal e chegado ali, o lugar que o Cruel chamava de Recomeço. Brenda deixou Newt dormindo na cabana e saiu para admirar o nascer do sol, era algo que a fascinava, ver como o céu negro pouco a pouco recebia pinceladas amarelas e alaranjadas, cores tão leves e alegres que substituíam o peso do negro céu, toda vez que assistia ao nascer do sol pensava em Newt e em como o fulgor, tão negro em sua mente, necessitava de pinceladas leves e coloridas, que o ajudavam dia a dia.

-Pensei que seria o primeiro a acordar hoje – disse Newt saindo da cabana e sentando-se ao lado dela, fitando-a. – É impressionante como seus olhos, mesmo na luz da manhã ainda são tão negros.

Newt sorria, sorriso aquele que Thomas chamaria de “o sorriso do velho Newt”, aquele quem Brenda não chegou a conhecer. Sorrindo, ainda encarando o nascer do sol Brenda respondeu:

- Até que para um crank, você acordou bem humorado hoje. –Newt revirou os olhos, mas antes que ele interrompesse continuou - E não, meus olhos não são tão negros, não como a noite, mas bem que gostaria, existe algo que me fascina nisso, algo que é cheio de mistérios.

Ele riu, não de um jeito debochado e nem mesmo de um jeito insano, apenas uma risada pura e completamente inesperada, algo que fez o coração de Brenda se alegrar.

- Me sinto obrigado a concordar, realmente Brenda, acredito que você possa ser tudo, menos misteriosa – Ele riu mais um pouco e completou – Mas agradeço por isso, se fosse misteriosa não conseguiria conviver com você. Isto aqui – disse levando um dedo à cabeça – piora a cada dia.

Brenda ignorou os olhos de Newt, toda vez que ele se referia à doença lembrava-se dele naquela primeira noite no Recomeço, quando o encontrou chorando descontroladamente sentado na areia, com as ondas acariciando seus pés enquanto ele murmurava que Thomas, deveria ter sido forte e corajoso o suficiente para mata-lo. Brenda espantou a lembrança e virou-se pra ele:

-Acho que Thomas não acordou ainda, podemos começar a preparar o café da manhã e se tivermos muita sorte, roubar um daqueles biscoitos que o Caçarola fez ontem.

Newt a olhou e concordou, Brenda levantou e esticou as mãos para ajuda-lo a levantar. E no exato instante que suas mão se tocaram, ela pensou que talvez aquele dia não seria tão difícil como tinha imaginado.