Foco Narrativo escrita por Unique


Capítulo 1
Capítulo 1




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O corredor branco, as cadeiras brancas, o balcão branco, a secretária negra vestida de branco.

—Salocin Issas, o coordenador já está a sua espera.

Sua voz era suave e parecia distraída.

—Obrigado, aliás, bonita roupa, principalmente a cor.

—Nossa, você reparou! Vesti algo especial hoje.

— Sabe, a ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos.

— Certo... Por que você me contou isso?

Ela parecia realmente confusa. Melhor deixa pra lá.

— Qual é a sala do coordenador?

— Primeira à esquerda.

— Obrigado.

Sai andando e meus passos eram sonoros no corredor praticamente vazio. A demanda era enorme para nossos homens e mulheres enquanto a oferta ficava cada vez menor. Por isso um cara como eu está aqui. Acima da grande porta cinza claro se lia: Primeira à esquerda.

Se esse fosse um filme, talvez e provavelmente algumas coisas aconteceriam, como por exemplo:

“A porta se abriu sozinha com um ranger e lá nada se viu, pois a escuridão tomava posse de cada pequeno espaço...”.

Ou talvez

“De trás da porta uma voz chegou aos meus ouvidos. Voz essa, grossa e imponente me mandando entrar...”.

Quem sabe até

“De repente uma explosão dentro da sala. Abri a porta com força e lá Bruce Willis, Sylverster Stallone e Megan Fox travavam uma briga sanguinária pelo diamante que brilhava magnânimo no centro do recinto...”.

Mas nada disso aconteceu, afinal isso não é um filme e sim uma simples história, narrada por um simples narrador, simplesmente a procura de emprego.

A porta se abriu pelas mãos de um senhor.

—Olá meu jovem, entre e sente-se. Temos muito que conversar e pouco tempo.

Outra sala branca. O senhor se sentou atrás de sua mesa e sem olhar para mim começou a falar.

—Vou direto ao ponto. Como você sabe, no mundo dos humanos as pessoas estão vivendo cada vez mais, dessa forma nossas narradores são obrigados a fazer carreias muito extensas e quando terminam só querem se aposentar. Dessa forma, preciso de gente.

— Vou poder ir a campo, senhor?

— Meu jovem, vi suas notas na academia. Você é péssimo.

Algumas pessoas não sabem como amenizar um fato difícil de ouvir, outras como é o caso do coordenador só não se importam.

— Mas não tenho escolha, preciso de um narrador urgentemente para uma criança que vai nascer em...

Ele olhou para o relógio no pulso.

— Trinta minutos.

— Mas por que o senhor me chamou até aqui se era só isso?

— Suas notas foram baixas porque você não narra! Fale-me sobre a cadeira que está sentado agora.

— Ela é branca.

— Sim, e o que mais?

— Mais nada senhor, ela é branca.

— E sobre o conforto, formato, material. Todo o resto?

— É irrelevante.

Uma nova cor se fazia presente na sala, o vermelho no rosto do coordenador.

— Se essa criança for alguém na vida e você narrar desse jeito esdrúxulo, eu juro, pela honra dos meus antigos narrados, que eu vou narrar o seu funeral! Agora saia daqui e pegue seu equipamento antes que eu mesmo te empurre no mundo dos humanos!

Levantei e me dirigi a porta da mesma forma que este homem sem lhe dirigir o olhar. Mas antes de sair fitei a famosa cadeira.

—Essa cadeira, não é dragão.

O homem pareceu desnorteado com a afirmação.

— E daí, qual a relevância disso, meu jovem?

— Exatamente!

Fechei a porta atrás de mim sem dizer nada. Minha carreira de narrador começara bem.


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