Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 8
Parte II - O Filho Pródigo - VIII




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–Muito obrigada pela indicação, Stella! -agradeceu Madeline abraçando sorridente a bela mulher loira, que os aguardava dentro do escritório depois que todos os convidados já tinham ido embora, tudo começava a ser desmontado. Stella sorriu e retribuiu o abraço apertado na amiga.

–Estava olhando as coisas de Maycol na casa paroquial hoje. -ela disse quando se soltaram do abraço e Madeline pareceu congelar.

–É mesmo? Por que você?

–Eu era a mais chegada amiga dele quando era vivo, era madrinha do pequeno Hugo, pobrezinho, morreu na prisão. -Madeline assentiu séria.- Só vim te entregar isso.

Stella então tirou uma caixinha de veludo onde havia um pingente dourado em forma de letra M. Madeline pareceu surpresa por um momento, como Maycol ainda podia ter guardado aquilo? Mesmo depois de tantos anos? Mas o que ela faria? Não sabia como Stella sabia da história dos dois no passado, se é que sabia de algo.

–O que é isso?

Stella sorriu.- Ele apenas pedia no bilhete que fosse entregue a você e que sempre se lembrasse dele, mas acho que você já faz isso com a fundação. Meus parabéns, foi mais do que merecido. -e a abraçou. Madeline sorriu desconfortável e se sentou estafada cm a amiga deixou a sala.

–Maycol, você não existe. -Madeline sussurrou sorrindo e apertando forte o pingente nas mãos. Era como tê-lo vivo ali.



–Eu não acredito que vocês faltaram ao chá! -berrou Rita, mais tarde, com os gêmeos. Ken estava na sala.- Vocês sabem a vergonha que eu passei?

–Ninguém mais sabia, só Ken. -disse Enzo.

–É dele mesmo que estou falando, vocês combinaram com ele, não comigo. Se fosse comigo, eu não teria me importado nem um pouco, eu sei como vocês são.

–Foi mancada mesmo, mas...

–Não interessa, Enrico. Peçam desculpas ao Ken, agora.

–Desculpe, Ken. -pediram os dois ao mesmo tempo de cabeça baixa.

–Tudo bem, rapazes, desde que da próxima vez nos avisem antes. -sorriu Ken.- Mas já que vocês não foram ao chá, serei obrigado a propôr um duelo de natação, quem ganhar, deixa o outro em paz. -e riu.- Esse vocês são capazes de cumprir?

–É claro! -se empolgaram



–Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe!

–Graças a Deus!

O canto final da missa em seguida começou a tocar enquanto o padre se retirava junto com a equipe de celebração para a sacristia. Padre Valério era jovem e muito inteligente, todos tinham criado um grande laço afetivo com ele desde que assumira aquela paróquia, depois da morte de Padre Maycol., muitos acreditavam que ele tinha vindo para superar aquela dor de sua perda.

–Padre, que missa maravilhosa! -disse Madeline se aproximando dele sorrindo.- Realmente, tocante.

–Obrigado, Sra. De Lune. -ele sorriu agradecido enquanto todos se despediam e se retiravam do cômodo. Madeline estava elegante como sempre e acompanhada do genro, Harold Klein, que desde a morte do padre, havia se tornado um juiz respeitadíssimo e dois meses depois, se casara com a bela senhorita Claire, Padre Valério mesmo celebrara o casamento deles, fora uma cerimônia linda.- A que devo a honra?

–Nós gostaríamos de conversar sobre a obra da igreja, achamos que temos alguém que possa ajudar. -ele sorriu interessado e fez sinal para que fossem para seu escritório, no caminho, pelo pátio da igreja, as senhoras lhe entregavam fatias ou até bolos e tortas inteiras, alguns presentes e muitas lembrancinhas.

–Você é muito querido aqui. -comentou Harold quando fecharam a porta do escritório.- Está fazendo seu trabalho muito bem. -e sorriu.

O padre então tirou a tala branca de sua camisa clerical e girou os olhos.- Como alguém consegue andar com isso o dia todo? -ele perguntou.- Não vejo a hora disso acabar, o que me consola é o meu futuro.

Madeline sorriu.- Não se preocupe, Valério. Depois que a suposta reforma na igreja começar, como fachada para descobrirmos alguma passagem ou rastro para os diamantes, enquanto você distrai os fiéis com seu jeito carismático e fraterno de ser...

–...Depois que isso tudo acabar, o padre Valério vai então deixar a batina porque descobriu sua real vocação e vai sumir do mapa e nunca mais vão o ver. -completou o próprio falso sacerdote rindo.- Mal posso esperar.

–Só mais uma coisa. -disse Madeline séria.- Nunca mais, quando precisar jogar alguma coisa de Maycol fora, chame Stella ou qualquer outra pessoa que seja, ele era muito esperto, pode ter deixado qualquer rastro e eu descobri que ela era uma amiga muito próxima e pode ser um risco que eu não quero correr.

–Não pensei que fosse algo importante, não vai acontecer de novo.

–É bom que não. -e sorriu.- Tenha um bom dia, padre.



O que você está fazendo? -perguntou Madeline entrando em casa, o marido olhava atento o computador a sua frente, parecia intrigado com alguma coisa.

–Estou pesquisando sobre esse tal Ken Isao.

–Ele não é nossa maior preocupação agora. O que mais você quer saber sobre ele? Um socialite jovem, charmoso, muito inteligente, obtém sucesso em tudo o que faz, rico e muito bonito.

Roger riu.- Isso é o que todos sabem apenas de olhar para ele, mas o que me intriga é que nada consta na internet, muito pouco. Apenas fala se suas aparições e do seu jeito carismático e discreto, de como ele podre de rico, tem uma fortuna equivalente a dois pequenos países desenvolvidos e só, não fala nada sobre em que é formado, ações que possuí, empresas que seja dono ou qualquer coisa da sua vida, nada.

–Nós também temos, isso não é nenhum encanto.

Roger sorriu.- Nós temos, mas está grande parte em nome do banco, as de Ken, estão no nome dele apenas, não tem filhos e nenhum rastro de família, pelo menos nada publico.

Madeline deu de ombros.- Talvez ele seja tão discreto quanto pensamos ser, mas sabe chamar atenção quando quer, uma pena não morar em Trevo, seria de ótima aliança.

–E seria um ótimo cliente para o banco também, com a fortuna que ele tem e toda a fama, seria o cliente ideal.

–É alguém que vale a pena investir, mas vamos ver ao longo desses dias quem realmente é Ken Isao.



O Salão Gold, no edifício matriz da editora, em Trevo, estava ornamentado naquele sábado a noite para o elegante centenário da editora , enormes arranjos florais e fitas douradas que combinavam com as toalhas bordadas. Elegantes cadeiras e talheres de prata, pratos de porcelana e um elegantíssimo tapete vermelho na entrada, aonde todos os convidados eram convidados a serem fotografados com o plano de fundo com a logo da editora, fotos que eram postadas quase de imediato na internet para a cobertura ao vivo do evento.

Todos estavam muito elegantes, sorrindo animados com as belas taças de vinho nas mãos. As mulheres exibiam suas enormes e caras joias e longos vestidos, os homens esbanjavam seus ternos e negócios que tinham feito até aquela época do ano Todos muito animados e conversados aguardando o discurso de cem anos, aonde todos esperavam que teria fim o mistério se Ken Isao seria, ou não, o novo editor-chefe da editora.

–Parece que Rita não economiza quando se trata de Ken Isao. -comentou Madeline ao entrarem no salão.

–Não é só por isso, querida. -lembrou Roger..

–É claro que não. -ela sorriu e acenou para um conhecido enquanto se sentavam na mesa marcada para a família. - Stella também veio. -comentou quando a bela mulher loira surgiu no salão elegante como sempre.- Ela pode ser uma ameaça, Harold, não se esqueça de investigar que coisas velhas o Valério entregou a ela.

–Pelo visto, uma você já sabe o que é. -resmungou Roger.- Pensa que eu não sei?

As luzes do salão então diminuíram e o palco era o único em foco, a orquestra contratada foi diminuindo o ritmo da música até que parassem completamente e Rita surgisse no palco elegante com um vestido longo vermelho e uma abertura lateral.- Boa noite a todos! -cumprimentou animada.

Os repórteres fotografaram rapidamente e ela sorriu para todos.- Sejam muito bem-vindos ao centenário da GoldPress. Hoje, completamos cem anos de existência e publicações, levando notícias e cultura a todos, no mundo todo. Posso dizer, por mim, que no início foi um ano de muitas surpresas e tribulações, mas acho que tanto meu pai quanto meu avô passaram por coisa parecida, mas foram tribulações que desapareceram com a chegada de um anjo que me ajudou muito todos esses anos, que vem ocupando esse cargo clandestinamente, uma pessoa que é como um filho, que tenho o prazer de dizer que sim, ele ocupará não só o cargo de editor-chefe mas o de diretor da GoldPress, Ken Isao!

O belo e charmoso jovem logo adentrou ao palco sorrindo e acenando para todos, vestia um elegante terno preto . Os jornalistas fotografaram o momento e sem demora postaram as fotos na internet com diversas legendas, o evento estava bombando. Os convidados aplaudiram animados e também fotografavam o momento.

–Muito obrigado, mamãe. -brincou o escritor e todos riram.- Fico muito feliz de ser tão bem tratado na editora, como se eu já trabalhasse nela há anos. Agradeço pela confiança de todos, de Rita e de seus filhos, muito obrigado. Muito obrigado a vocês também que vieram prestigiar esse momento tão sublime em nossas vidas, sem vocês, nós não existiríamos, mas não abusem disso. -e riram.- Esses cem anos, eu tenho certeza que foram de muitas inovações, e assim pretendemos continuar. Gostaria de anunciar assim, uma boa nova de primeira mão para todos vocês.

Todos fizeram silencio, apenas o som das câmeras fotografando.

–A partir de semana que vem, a GoldPress terá o prazer de inaugurar uma nova repartição de publicações. Uma repartição de esportes, tal qual, os gêmeos Enzo e Enrico administrarão. -todos aplaudiram surpresos, era digno de louvor os jovens assumirem tal cargo numa editora.- Que a festa de hoje, seja inspiração para eles e para nós.

Mais flashes e câmeras registraram o momento e cada vez mais as pessoas que acompanhavam o evento pela internet se empolgavam e buscavam mais informações sobre Ken Isao e suas surpresas. Todos os convidados aplaudiram e ficaram de pé para fazerem juntos um brinde a prosperidade e para que viessem cada vez mais bons fluídos para todos.

–Parabéns, Sr. Isao. -cumprimentou Madeline durante o jantar.- Mas eu já imaginava que com tamanha competência, sem dúvida você vai fazer um ótimo trabalho.

–Obrigado, Sra. De Lune, também por terem vindo nos prestigiar. -e sorriu e olhou a mesa, haviam pessoas ali que ele não conhecia.- Esses eu não conheço. -e sorriu

–Essa é minha filha, Claire, esposa do juiz Klein.

Os dois então se entreolharam por um momento e ficaram estáticos, Claire pareceu surpresa, muito surpresa e muito desconcertada. Tinha a impressão de conhecer aquela voz doce e macia, conhecia aquele sorriso e aqueles olhos claros, estavam muito mudados, é claro, mas conhecia de certa forma, e ele pareceu sentir a mesma coisa, mas disfarçou muito bem para que a mãe continuasse.

–Esse é George Curious, o nosso assessor de imprensa e Trina sua esposa, que é a diretora da Fundação Padre Maycol, ela está por trás de tudo o que acontece lá. -Madeline sorriu.- E ainda tem Joe, o filho de George e Trina e o pequeno Maycol, filho de Claire.

Ken pareceu surpreso.- Um filho?



Dom Leoni deixou o palácio da mitra, na capital, apressado, tinha sido uma reunião difícil para a escolha do novo arcebispo da arquidiocese. Ele fora eleito e agora devia dar uma coletiva do lado de fora da sede, já havia preparado seu discurso a dias, sabia desde a morte do ex arcebispo que ele seria o sucessor. Estava mais do que preparado.

Enquanto aguardava o sinal do segurança para se aproximar e dar seu primeiro discurso como arcebispo fez um pequeno exame de consciência, consciência que pesou é óbvio. Dom Leoni tinha um passado muitíssimo obscuro como padre, passado que ele odiava lembrar, passado que se descobrissem faria com que perdesse o voto de confiança do povo nele, seus “fãs”, a confiança dos demais bispos e obviamente seria excomungado e com mais certeza ainda, seria expulso do colégio dos bispos, da vida consagrada e até mesmo da igreja.

Ele então se tocou do que estava fazendo ali. Já havia se confessado diversas vezes e aquilo era passado. Ninguém sabia e dos que sabiam só restava um vivo mas este estava longe dele. Mas não importava, sua vida a partir daquele dia seria como novo arcebispo daquela arquidiocese e ponto.

O Segurança deu o sinal e ele se aproximou do parapeito da varanda, fez seu discurso maravilhosamente bem e respondeu a todas as perguntas encarecidamente, falando sobre humildade e compromisso com os fiéis e a igreja, um compromisso que ele assumia com muito orgulho e que honraria até o fim da vida.

Dom Leoni deixou o palácio por volta das seis horas em direção a sua nova casa episcopal, o casarão na cidade de Trevo. Um dos bens mais caros e antigos da arquidiocese, a residência era uma prelazia da arquidiocese, estava sob total controle do arcebispo e ele podia fazer o que bem entendesse com ela, é claro que jamais a venderia, era um casarão maravilhoso no alto da encosta na cidade, com vista para o mar.

Por volta das nove da noite desembarcou em sua nova residência, o motorista foi guardar o carro e ele adentrou pelo hall principal que contava com uma escadaria lateral. Diversas esculturas e quadros valiosos, moveis antigos e muito bem trabalhados em madeira, cortinas de seda, janelas e teto alto que deixavam a luz da lua cheia entrar cintilante iluminando os cômodos.

O bispo subiu para seu quarto no segundo andar, era o principal da mansão. Com portas de vidro no fundo e uma varanda magnífica com vista para o mar e para a cidade. Dom Leoni abriu as portas de vidro e se debruçou sobre o parapeito de pedra admirando a vista quando ouviu a porta bater atrás de si.

–Dom Leoni. -disse uma voz firme e ele se virou assustado.

Havia um homem de preto parado atrás de si, como um segurança de shopping, era impossível ver seu rosto no ponto onde estava, como ele havia entrado ali Dom Leoni não fazia a mínima ideia, talvez já estivesse o esperando ou sabe Deus como. Mas não era isso o que interessava, mas o que ele queria? O bispo de afastou um pouco por precaução.

–Quem é você? -perguntou o bispo.

–Se eu disser, vai ser a última pessoa que você ouvirá e verá na sua curtíssima vida como arcebispo. -respondeu o homem.- Não vim pedir muito, apenas um pequeno favor.

–Como chegou aqui? Vou chamar a segurança se não se retirar imediatamente!

O homem grunhiu impaciente.

–Se o senhor realmente quiser a resposta para todas essas perguntas eu posso te dar. -o homem sacou então uma pistola com silenciador e a apontou para o bispo.- Mas vão ser as últimas palavras que vai ouvir.

Dom Leoni recuou mais, o que aquele homem queria?

–Ou você pode me ouvir e atender de boa vontade meu pedido.

–O que você quer?

–Quero a casa. -respondeu o homem sem hesitar.

O bispo riu. — Você é louco?

–Não. Só quero que quando uma certa pessoa te fizer uma oferta no casarão, venda sem hesitar.

–E o que me faria fazer isso?

–A pergunta certa na verdade seria: o que levaria o senhor a se suicidar se jogando da varanda do casarão? Opa! Eu sei a resposta. -o homem fez uma pausa.- Talvez o peso na consciência por ser arcebispo de uma arquidiocese a qual você prometeu humildade, zelar pelos bons costumes mas tem um filho com uma mulher desde a época de que ainda era padre na cidade, ainda é padrinho do menino que o admira muito mas não sabe da verdade. Enganando o menino a quase vinte anos, não é essa a idade dele Dom Leoni?

O mais velho ficou sem ação, como descobrira?

–Não sei do que está falando.

–É claro que sabe. -respondeu o homem tirando o celular do bolso e apertando o player de vídeo e mostrando a gravação da mãe de seu filho revelando tudo.

O homem riu-se deliciando-se com a feição do bispo.- Seria horrível se os fiéis descobrissem isso e o seu jovem afilhado dessa maneira, já pensou como seria arruinada a vida dele? Pobrezinho.

–Você não teria coragem. -disse o bispo.

–Eu tenho coragem, mas podemos evitar isso se você aceitar a minha proposta. Venda o casarão e não nos veremos por um bom tempo.

O arcebispo bufou.

–A casa é sua.


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