A Gruta dos Sonhos escrita por Juliana Leite


Capítulo 1
A Gruta dos Sonhos.


Notas iniciais do capítulo

Giovanne, espero que goste. Fiz de coração :)



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Eduardo seguia determinado pela selva abrindo caminho com seu facão. Há dias tinha o mesmo sonho: A voz uma de mulher lhe ordenando a ir a uma gruta que havia no meio da floresta que ainda restava na vasta propriedade do seu pai. Um rico colono que recebeu terras do rei de Portugal, naquele fim de mundo. Como toda família repetia desde que chegaram ao Brasil.

Estava anoitecendo, porém não podia desistir. Mais uma noite com aquele sonho e enlouqueceria. Seu coração parou por alguns segundos e voltou a bater quando uma coruja passou voando por cima da cabeça dele.

_ Isto está ficando muito perigoso. Se um escravo pegar-me aqui sozinho...- Pensou ele em voz alta.- Mas não retornarei até encontrar a maldita gruta!

Ele continuou tropeçando por entre galhos e arbustos. Quando finalmente anoiteceu e os mosquitos começaram a picá-lo começou a se arrepender amargamente. Pegou a tocha que estava amarrada a sua cintura e a acendeu. Andou alguns metros e finalmente se viu no meio de uma clareira. Do outro lado dela, estava uma gruta. Finalmente a gruta.

Eduardo correu até a sua entrada. Havia uma luz azulada iluminando o local, descendo mais adentro havia um lago, que a emanava. Não creditava como ainda não tinha entrado naquele lugar.

Quando chegou a beirada da água viu uma mulher sentada numa rocha banhando seus pés distraidamente. Era uma índia. Ou pelo menos parecia ser. Pele morena e cabelos longos e negros. Mas nenhuma índia que ele havia visto anteriormente era tão bela. Eduardo estava hipnotizado com a visão. Alguns minutos se passaram e finalmente os olhos negros dela pousaram nele.

_ Boa noite, estrangeiro.- Disse ela com a voz melodiosa.

_ Quem sois vós? - Perguntou ele segurando o facão a sua frente. Fazendo-a querer rir do pobre e assustado rapaz, de olhos e cabelos castanhos e pele clara.

_ Não te assustes. Quero apenas conversar. - Disse a índia se levantando e andando por sobre ás águas. Ela vestia uma simples canga de tecido branco e apenas seus cabelos negros cobriam seus seios.

Pânico e fascínio definiam Eduardo naquele momento. Porém, o fascínio venceu. Parado ele permaneceu por todo caminho que a índia fez até parar a sua frente.

_ Quem sois e o que queres de mim? Vós que provocas os sonhos que tenho diariamente? - Perguntou ele.

_ Sim. Queria que viesse aqui. Sou conhecida nessas terras por Jaci, mas já recebi outros nomes. Talvez me conheça por Ísis, Freya, Telita, Hécate ou tantos outros.

_ Vós sois uma Deusa? E o que uma Deusa iria querer falar comigo?

_ Sei do seu apreço por uma jovem mestiça da aldeia.

_ Como sabes? Ninguém sabe disso. Nunca admiti nem a mim mesmo. - Disse Eduardo baixando a cabeça. Desejou a jovem Isabela no momento que a viu. A filha de um amor proibido. Uma moça que anos atrás largou a família para fugir com um escravo de sua fazenda.

Isabela não era aceita nem entre os poucos negros alforriados da aldeia, nem entre os brancos que lá viviam. O ano de 1635 estava sendo uma tortura para Eduardo, até ver a jovem. Ansiava ir à aldeia todos os dias na esperança de vê-la.

_ Meu jovem, como se eu não visse o que se passa nos corações humanos.-Disse Jaci o contornando e o observando atentamente. Tão próximo que deixou o rapaz mais constrangido do que já estava anteriormente.

_ Sim, mas o que esse meu apreço tem a ver com vós? - Perguntou ele, mas logo se arrependeu pelo seu tom de voz atrevido.

_ A jovem Isabela é estimada por mim. Quero garantir sua felicidade.

_ Então vós quereis que realmente eu me envolva com a Isabela?

_ Vós a ama e será correspondido.

_ Isso é uma boa notícia.

_ Seria se vós não estivestes com medo do que sua família diria.- Disse Jaci ficando de costas e voltando a molhar os pés na água. Ela o olhou novamente.- Sabes tanto disso que não tem o que me dizer.

_ Meu pai já me arrumou uma noiva. Filha de um amigo fazendeiro.- Disse Eduardo desanimado.

_ Prevendo esse terrível destino que quis falar com vós. Tentar lhe colocar um pouco de coragem e cumprir seu destino.

_ Só mais uma pergunta. Como sabes que ela me corresponderá?

_ Não me questiones mais.

_ Não sei o que dizer. Nem como lhe agradecer.

_ Agradeça-me fazendo o que seu coração deseja. - Disse Jaci beijando a testa do rapaz.

Voltou a andar lentamente por sobre as águas, até desaparecer a sua frente. Eduardo olhou para os lados um pouco zonzo. Tentando absorver o que havia visto e ouvido. Sabia que teria que voltar para a casa grande imediatamente. E saiu da gruta.

A índia mudou a forma do corpo. Ficando com cabelos e olhos verdes e uma calda de peixe no lugar das pernas. Iara sorriu brincando com a água por entre seus dedos.

_ Iara, por que torturas os homens dessa forma? -Perguntou Jaci entrando na gruta. -Já lhe disse para não tomar a minha forma outra vez.

_O belo Eduardo ficará com coração partido e será fácil que ele corra para meus braços.

_ Nunca irei entende-la. Você sabe que a filha do fazendeiro que é o grande amor daquele pobre jovem.

_ Mas a filha do fazendeiro nunca veio pedir minha ajuda.

_ Então estás a fazer um favor a jovem Isabela? Consegues se enganar dessa forma? - Perguntou Jaci sem acreditar no que a irmã era capaz de fazer para uma noite de diversão.

_ Eles formam um lindo casal e serão felizes. Pelo menos por um tempo.


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