Transgressões escrita por Lucas C


Capítulo 15
Pequenos Segredos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Mais um capítulo saindo ^.^



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PEQUENOS SEGREDOS

— Pessoal, acho que vocês precisam dar uma olhada nisso.

Kennedy e Pedro entram no quarto. Eles nem repararam muito no cômodo, apenas para a decoração da parede. Inúmeras fotos antigas coladas e todas elas apresentavam um mesmo rosto. Uma mulher bonita de pele clara, cabelos castanhos e olhos claros.

— Quem é? – Pedro perguntou com tranquilidade. Não entendia qual era a surpresa do garoto.

­— É o que eu estou me perguntando. Eu não faço ideia quem seja e eu tenho uma boa memória. Conheço bem a minha família e não sei quem possa ser.

Kennedy se aproximou e examinou as fotos com cuidado. Pegou uma delas e tirou da parede. Olhou atrás e havia algo escrito.

— “Dafne, 15 anos” – ele leu em voz alta — Isso refresca a sua mente?

— Não – Mike disse e se aproximou do castanho e tomou a foto de suas mãos. — Mas é a letra da minha avó. Que estranho...

— Estranho? – Pedro perguntou enquanto caminhava pelo quarto.

— Tem que ser alguém muito importante ou minha avó não teria todas essas fotos. Não me lembro de ela ter nenhuma afilhada. E mesmo se tivesse... Por que só tem fotos antigas?

— Acho que vai ter que perguntar a sua avó quando ela voltar... – Pedro falou encolhendo os ombros.

O trio ouviu um ruído vindo da sala e Mike tomou um pequeno susto. Ele caminhou para a sala e os outros dois o seguiram depois de pregarem a foto de volta à parede.

— Michel, o que você está fazendo no meu quarto? Ainda mais com esses dois...

— Eles são meus amigos – ele se justificou.

— Não tenho certeza se está andando com boa companhia... – ela comentou ácida. — O que não muda o fato de que desrespeitou uma ordem minha.

— Quem é Dafne, vó?

— Michel, esse não é assunto para se conversar na frente desses dois. É melhor que eles saiam. É algo privado.

— Eu não tenho nada a esconder. Não posso dizer o mesmo sobre você.

Michel sentiu uma bofetada atingir sua maçã do rosto deixando o local vermelho e dolorido. Ele estava boquiaberto diante do acontecido. Não esperava que aquilo pudesse acontecer com ele. Após alguns segundos em choque, ele despertou e caminhou rapidamente para o quarto. Os dois rapazes ouviram o barulho de coisas serem reviradas, mas após trocarem um breve olhar, decidiram que o melhor a se fazer era ficar ali mesmo. Não sabiam como Elena reagiria às ações deles. Alguns momentos depois, Michel retornou com uma bolsa com parte do zíper aberto.

— Não ouse sair dessa casa, garoto. – ela disse furiosa.

— Eu vou ficar na sua casa, Pedro. Tudo bem?

— Foi para isso que nós viemos, não é? – Pedro falou com um meio sorriso.

Michel saiu da casa sem olhar para trás. Kennedy imaginou que a senhora ia reagir de alguma maneira, mas ela só ficou olhando para o garoto furiosa. Pedro acompanhou o menor e Kennedy seguiu os dois depois de ter certeza que a mulher não pegaria o vaso próximo e jogaria na cabeça de um deles.

O clima entre os três ficou tenso, mas entraram no carro sem falar nada. Pedro colocou uma música para toca para que o silêncio não piorasse a situação ainda mais e os três seguiram rumo a casa do moreno.

***

Os três já estavam devidamente posicionados no quarto de Pedro. Eles estavam sentados num sofá para dois lugares, o que deixava todo mundo meio apertado. Michel parecia que ia ser imprensado entre os dois garotos bem maiores que ele. Os melhores amigos estavam jogando videogame concentrados enquanto Michel esperava que um deles morresse no jogo para que ele tomasse o lugar. Quanto tempo levaria para um deles perder no duelo de Mortal Kombat?

— Brutality! – a televisão anunciou enquanto Kitana assassinava brutalmente o Subzero. Era vez Michel lutar contra Kennedy.

Eles começaram o duelo e os três ficaram concentrados nos movimentos dos personagens do jogo. Até que Kennedy decidiu romper o silêncio.

— Porque você ficou daquele jeito mais cedo?

— Não sei, talvez pelo fato da minha avó ter dado um tapa na minha cara – ele comentou sarcástico. — Pelo menos na minha família, esse não é o método que nós mostramos carinho um pelo outro.

“Ele está de volta”, Kennedy pensou revirando os olhos.

— Ok, eu sei. Mas talvez ele tenha realmente ficado com raiva da gente.

— Isso não justifica nada. Ela não tem direito de me bater daquele jeito na frente de vocês porque eu peço simples respostas. – ele comentou com uma leve irritação. Seus dedos passaram a pressionar o joystick com mais força e o Scorpion passou a fazer golpes cada vez mais efetivos.

— Eu te entendo, Michel. É um saco quando esse tipo de coisa acontece. Tanto para quem está levando a bronca quando pra quem assiste. – Pedro falou se levantando do sofá e pegando um saco de jujubas — Eu nunca sabia como reagir quando a mãe do Kennedy brigava com ele na minha frente

Kennedy concordou com o amigo balançando a cabeça. Ainda assim, ele não parecia satisfeito com aquilo. Pedro olhou para o amigo e percebeu o que ele estava pensando só pela sua feição. Eles se conheciam há tanto tempo que era quase como se eles possuíssem telepatia. Pedro estreitou os olhos para o amigo numa maneira de fazê-lo parar, mas Kennedy continuaria com aquela história.

— Mas você não acha que tem algo a mais nessa história?

— O que você quer dizer com isso? – Michel e Pedro falaram ao mesmo tempo, mas com entonações diferenciadas. Michel estava curioso com a frase, já Pedro falara de forma ríspida para tentar conter os efeitos que as palavras do amigo poderiam causar.

— Ela me pareceu furiosa demais só porque você entrou no quarto dela. As ações dela não condizem com o motivo... – Kennedy falou sugestivo.

Michel se desconcentrou um pouco do jogo e nem percebeu quando o seu personagem foi derrotado. Ele passou a ponderar vários acontecimentos que estavam acontecendo nos últimos momentos. O olhar dele era um pouco vago como se estivesse mergulhado em suas memórias.

— Ela está estranha há um bom tempo. Acho que desde a morte de Carlota que ela não é a mesma.

— A morte de um amigo pode mudar a vida de uma pessoa – Pedro disse.

— Ainda assim. Ela mudou da água para o vinho. Anda desconfiada de tudo e todos e com medo. Está sempre ranzinza e irritada. Não parece a pessoa que eu costumava conhecer.

— Isso me parece bem estranho.

— Uma vez fomos numa restaurante e tinha música ao vivo... O garoto que estava cantando tinha um nome estranho, mas cantava muito bem. Ela começou a chorar do nada com uma música que ela nem gosta. Ela detesta sertanejo universitário e estava chorando... E não acredito que seja por desgosto.

Os outros dois não conseguiram evitar uma risada.

— Eu sinto que pegaram uma sósia dela e levaram a real embora

Ele falou num tom humorado, mas os dois podiam sentir que havia muito mais naquelas palavras. Dava quase para sentir que ele sentia falta da antiga Elena. Pedro se sentou no braço do sofá e abraçou o menor. Ele relutou um pouco no começo, mas aceitou por um tempo. Kennedy colocou a mão no ombro dele e deu um suave aperto para dizer que estava ali por ali.

— Talvez esta só seja uma face que você não tinha conhecido dela ainda. Você precisa descobri-la e se acostumar com isso.

— A ignorância é uma benção... Li essa frase em algum lugar. Tenho medo de que tenham razão. – Michel disse.

— Por mais que doa, às vezes a verdade é a melhor opção.

Os três ficaram parados por um tempo na mesma posição até que um barulho estranho os deixou alertas.

— Acho que a gente deveria investigar isso

Eles trocaram um aceno de cabeça e se levantaram ao mesmo tempo e se dirigiram até a porta.

— Calma – Michel sussurrou.

Pedro e Kennedy pararam e Michel pegou a coisa mais próxima para se defender. O violão velho de Pedro que ele nem tocava mais.

— É o meu violão, cara. – Pedro reclamou.

— Se for um ladrão ou um assassino, esse violão pode salvar a nossa vida.

Kennedy não viu muita lógica naquilo, mas preferiu ficar quieto. O trio andou pelo corredor superior pisando nas pontas dos pés para não atrair atenção. Eles escutaram mais barulhos, porém eram indecifráveis.

Quando finalmente geralmente na parte que a parede se abria para dar lugar as escadas, eles puderam visualizar a sala de estar da casa onde duas pessoas entravam. Estava um pouco escuro, mas a luz da noite que entrava pelas grandes janelas ajudou.

Henrique, o irmão de Pedro, estava entrando com a camisa social com todos os botões abertos, o botão da calça aberto e os sapatos jogados pela sala. Ao seu lado, um homem que eles não conseguiram identificar o rosto direito, mas que estava em situação semelhante. Pelo jeito que as pernas deles cambaleavam, o trio supôs que estavam bêbados. Eles esbarram na mesa de centro e quase derrubaram todos os porta-retratos em cima dela.

— Shhh... – Henrique disse com a fala embolada pelo excesso de álcool com o indicador pressionado contra os lábios — Shhh... Você vai acordar a casa toda.

— Achei que não tinha ninguém aqui – o outro respondeu enquanto passava as mãos pelo peitoral do moreno e tirava a camisa de Henrique. — Você está me enganando, danadinho?

— Talvez – ele dá uma risada sonora e depois pede silêncio — O que você vai fazer para me punir, hein? – Henrique dá um sorriso safado e o rapaz ao seu lado começa a beijar seu pescoço.

— AI ME... – Michel quase gritou, mas Kennedy tampou a boca dele antes que ele pudesse denunciar a localização deles.

Pedro não conseguia nem reagir de tanto choque. Só ficou lá com os olhos arregalados e a boca aberta em um perfeito O.

— Seu irmão não tinha uma noiva? – o roqueiro disse depois de acalmar os ânimos.

— Ele tem – Kennedy corrigiu.

Os três saíram do começo da escada e voltaram para o quarto. Pedro se jogou na cama.

— Maldita hora em que você disse para investigarmos isso. Não tem como eu “desver” isso.

— Isso acontece nas melhores famílias. – Michel disse cauteloso.

— Esse não é o problema. Por pouco eu não peguei os dois fazendo sexo. Ver seu irmão fazendo sexo é nojento.

Os outros dois não protestaram.

***

— Quem foi o maldito? – ele perguntou olhando no fundo dos olhos azuis dela.

— Quem fez o quê? – ela perguntou se afastando um pouco dele.

Ela estava perdida em devaneios e a pergunta de tom forte a assustou. Jessika estava sentada numa das mesas do Caveirão. O bar estava vazio, com exceção dos dois jovens, um casal em outra mesa e os funcionários. Jessika mexia seu suco usando o canudo para a tarefa e Prince estava sentado à sua frente dela.

— Quem foi o maldito que está roubando os seus pensamentos? Me dê apenas um nome e estará resolvido.

— Hum... Tentador. Mas eu passo. Não tem ninguém roubando meus pensamentos.

— Tem certeza disso? Eu prefiro quando eles estão direcionados a mim – ele falou se aproximando mais dela.

— Você é muito convencido, sabia? – ela disse estreitando os olhos e jogando o canudo em cima do rapaz. — Não acredito que eu aceitei sair com você. Nem sei se eu deveria estar fazendo isso.

— Ei, isso não é justo! Mal começamos a noite. Tenho certeza que posso te mostrar muita coisa ainda

Ele disse e passou a fazer cócegas na garota que implorou para que o rapaz dos medianos cabelos castanhos parasse. Depois que alguns bons minutos de risadas e irritação, ele parou e a garota passou a respirar com força para recuperar o fôlego.

Enquanto Prince olhava para o rosto belo de Jessika, notou uma das garçonetes passar com o celular colado ao rosto enquanto anotava algo em um bloquinho de notas. O modo como ela andava de um lado para o outro o incomodava, mas ele continuava com a atenção fixa neles.

— O Elvis teve uma mulher? É sério? – a moça disse incrédula no celular.

Ela se sentou e passou a enrolar as mechas coloridas do cabelo ao invés de rabiscar no caderno.

— Precisamos encontrar os parentes deles... – ela disse como se estivesse confirmando a informação ao repetir. — Ok! Nem sabia que ele tinha parentes. Só acho estranho que ninguém tenha aparecido para cuidar dos preparativos do enterro.

Mais conversas do outro lado da linha...

— Sim. Vou organizar isso. Eu devo uma ao Elvis. Agora vou ajudá-lo com isso. Espero que ele reconheça o meu esforço onde quer que ele esteja – ela terminou de falar e desligou o celular. Ela se levantou e foi em direção à cozinha.

Prince sentiu seu maxilar ser tocado e virado em outra direção. O que encontrou foram os olhos azuis-cinzentos da moça e uma sobrancelha arqueada.

— Parece que alguém está com os pensamentos distantes agora não é mesmo?

— Apenas dando o troco – ele falou rindo.

— Eu não gosto desse tipo de ideia. Posso acabar gostando de provocar.

— Acho que também não gosto dessa ideia. Eu sou bom com vinganças.

Os dois ficaram se encarando por um tempo sem tirar o aspecto misterioso dos rostos até que os dois explodiram em risadas. Jessika que no começo estava apreensiva de sair com o rapaz, principalmente depois de ter fugido dele na festa; estava feliz de ter aceitado o convite dele para sair. Ficou surpresa dele ainda querer algo com ela. Ainda assim, decidiu que talvez fosse hora de dar chance ao seu coração.

Só tinha um pouco de medo onde aquele romance poderia lhe levar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Se não for pedir demais, deixem um comentário! Incentiva bastante a continuar a história!