As Sombras de Noah escrita por Kuro Neko


Capítulo 2
A mansão Richfields - Parte 2




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O detetive deu duas batidas numa porta de um quarto situado no segundo andar da mansão. Logo depois que a porta foi aberta, estava no quarto um senhor idoso com um pijama e com seus cabelos brancos despenteados.

— Quem é o senhor? — Perguntou ele, coçando os olhos — Não vê que estava na minha hora de descanso?

— Me desculpe pelo incômodo, senhor, mas assuntos de suma importância me trouxeram aqui. Sou John Callow, detetive — O próprio falou. John questionou-se da atitude do homem: Descansando logo após um crime. Ignorou o pensamento naquele momento. O velho, no entanto, ergueu as sobrancelhas e respondeu.

— John Callow, o senhor disse? — O detetive acenou com a cabeça — Deuses, o melhor detetive de Noah aqui! É uma honra, senhor. Sou Wallace Nor — Ele proferiu Wallace com certa arrogância e de uma maneira muito estranha — Por favor, entre!

O senhor Nor abriu espaço e Callow entrou no quarto. Era um cômodo simples com uma cama desarrumada, uma estante de livros, um armário e uma pequena mesa circular de madeira envernizada. Haviam quatro cadeiras e duas delas foram ocupadas por Nor, que ofereceu o assento, e John, que o aceitou.

— O senhor está ciente do crime ocorrido? — Perguntou o detetive.

— Crime? Mas que crime? — Nor respondeu. Pela expressão do homem, ele não tinha consciência do crime. Callow concluiu isso com 90% de certeza. Ele explicou o caso e Nor escutou a cada palavra com uma expressão atônita — Pelos céus, que horror.

— Por isso estou aqui, senhor. Então, responda-me, por gentileza — John Callow trouxe um charuto a boca, levantou seu chapéu e olhou o homem profundamente nos olhos com os seus castanhos escuros — Fale-me sobre Kyle Richfields.

— Kyle é um bom menino, como o pai — Nor respondeu bem devagar, mas o desvio do olhar dele indicou uma possível mentira — É claro, nem eu e nem minha filha, Rosaria, nunca nos demos bem com ele e o pai. Mas Mona era diferente, ela via algo de muito bom neles.

— O senhor pode me dizer sobre o comportamento de Edmund, o mordomo?

A pergunta fez Wallace estreitar o olhar.

— Edmund? Há, nunca precisei dele, se quer saber. Ele nunca precisou de mim, também. Vivemos em mundos tão diferentes que ele pode fazer o que quiser, eu não ligo — Ele disse de uma maneira histérica. Callow já havia, em casos anteriores, notado comportamento similar. Assim como nos anteriores, apenas não falou nada e ficou a observar o homem. Alguns momentos depois, Nor suspirou e continuou — sinto muito. Carrego sim uma inimizade com Edmund, mas não creio que ele possa ter feito algo contra o senhor Richfields.

— Então — Callow abriu um sorriso no canto do rosto — Kyle é um candidato a assassino?

A reação de Nor era previsível e confusa, até para Callow. Talvez era um espanto pela indagação do detetive ou a afirmação do que ele perguntava. Nor respondeu:

— Eu nunca disse isso, e nem diria! Kyle não, certamente, não matou o pai! Sei que é o seu trabalho perguntar e anotar informações, mas não seria possível.

— Peço desculpas pela pergunta — Callow disse em tom calmo. Não soube da verdade da frase, mas ainda desconfiava muito de Kyle — Diga-me, Nor, Mona tinha alguma infelicidade com o marido?

— Mona era feliz com o marido, disso todos nessa casa sabem. Não sei se tinha qualquer inimizade com ele, já que costumo viver entre essas quatro paredes — Nor falou e, depois, deu uma risada rouca. Logo depois, abaixou o olhar e ocupou-se acariciando os próprios dedos — Você deve ir falar com ela, você sabe, pra mais informações.

Aquilo poderia significar alguma coisa, mas Callow não sabia ao certo. De qualquer maneira, levantou-se da cadeira, agradeceu pela conversa e, pouco tempo depois, saiu do quarto. Agora, encontrava-se no corredor do segundo andar e, finalmente, achou uma boa ideia fazer uma visita a Rosaria. Logo no caminho, encontrou Edmund, que logo iniciou uma conversa:

— Olá, senhor Callow. Posso ajudar em algo?

— Não, senhor, pode ficar tranquilo. A propósito, o senhor Wallace o mandou saudações — Disse Callow, controlando suas expressões faciais e pronunciando o nome com a exata arrogância que o citado usou. Edmund engoliu em seco, e por um segundo um lampejo de inimizade passou pelo rosto adorável do mordomo, mas logo voltou ao normal.

 

— Fico agradecido, senhor. Mande minhas saudações caso o veja, também — Edmund respondeu com um sorriso.

Callow continuou seu caminho por entre vários quartos e cômodos. Parou exatamente em uma porta com um adesivo de Boas Festas e, como de costume, deu três batidas na porta. Pouco tempo depois, uma menina jovem de cabelos negros arrumados até a metade o recepcionou, abrindo um pouco a porta:

— Quem é você, moço?

— Sou John Callow, senhorita — Ele disse, ajoelhando-se e tirando o seu chapéu em cortesia. Crianças eram o ponto fraco do grande detetive John Callow, e ele mesmo sabia disso. Logo em seguida, uma senhora apareceu. John levantou-se e, pondo o seu chapéu, continuou — Presumo que a senhora seja Rosaria, correto?

A senhora falou algo bem baixo para a garota e ela voltou para dentro do quarto. A senhora, no entanto, saiu do quarto e trancou a porta.

— Você é detetive, certo? — Callow acenou com a cabeça — Por favor, me acompanhe.

Não entendeu a atitude da mulher, mas John a seguiu ainda assim. Eles foram passando pelo corredor e, posteriormente, entraram numa sala: A sala de jogos. Havia várias mesas de sinuca, um pequeno barzinho, uma mesa de pingue-pongue e algumas máquinas de cassino, junto a algumas decorações exóticas como luzes multicoloridas, um tapete vermelho, algumas cabeças de animais empalhadas e outras coisas. Sentaram-se num banco no pequeno bar.

— Desculpe-me, senhor Callow, minha filha é muito pequena para saber de tudo o que aconteceu hoje. Sou Rosaria Nor.

John Callow ainda desconfiava muito daquela situação:

— Por quê me trouxe até aqui, senhora?

— Não gosto de muitos ouvidos ao redor. Todas as paredes têm poros muito pequenos que transmitem o som para outras salas. Mas aqui não, aqui é como Las Vegas. Você sabe, “O que acontece em Vegas, fica em Vegas” — Rosaria parou um pouco para pensar no sentido da frase, e pareceu realmente constrangida — Oh, desculpe-me. Não queria que tomasse um sentido estranho.

— Entendo — Disse Callow. Continuava muito desconfiado, e, mesmo escondendo ao máximo que pôde, Rosaria percebeu o fato. John descobriu a astúcia da mulher e sabia que deveria tomar o máximo de precaução possível — Diga-me, senhora Rosaria, o que a senhora…

— O garoto — Ela o interrompeu — Fico de olho nele desde sempre. Ainda não consigo acreditar que ele possa ter feito aquilo com o pai, mas é uma possibilidade provável. O mordomo então, esse não é de confiança mesmo. Até Mona, minha querida irmã, não escapa. Nem mesmo o próprio Henry — Ela terminou dando uma risada estranha. Callow, mais uma vez, desconfiou da interrupção da senhora, uma vez que ela percebeu que a pergunta seria para ela.

— Senhora, peço que responda as minhas perguntas. Não lance teorias ao ar pois você mesma é uma suspeita — Ela mordeu o lábio e olhou para baixo. Pediu desculpas bem baixo — O que a senhora acha do senhor Richfields?

— Ele era um homem, na verdade um esteriótipo. Vivia trabalhando em sua empresa, saia para jogar golfe às terças, quintas e domingos e era tranquilo, até. Exceto aos sábados, que vinha aqui para beber.

Callow estava realmente confuso. Como Rosaria sabia, a princípio, que ele era detetive? O que explica o emparelhamento de pensamentos entre ele e ela? Por quê ela afirmou uma informação tão ávidamente levando-o para o pequeno bar na mansão? Rosaria sabia de muita coisa, de fato, e John procurava uma explicação. Havia 49% de chances de ela ter estes pensamentos, 50% de chances de ela ter relação direta ao crime e 1% de uma cooperação entre todos os membros da casa. Poderia Mona ter ído a Rosaria e passar as informações, mas não sem uma razão. Mona teria a relação direta então. Ou, poderia ter tido instruções de ir falar com Rosaria, o que deixaria o foco em Kyle e Edmund, sem falar da garota Daisy Sowd. Kyle poderia ter persuadido a mãe e Edmund poderia ter a convencido. Mas Daisy, como poderia?

— A sua filha, qual o nome dela? Ela tem irmãs? — Callow lançou a sua estratégia. Rosaria levantou os ombros.

— O que quer saber dela? Ela é apenas uma garota — Rosaria parou um pouco de falar. Um momento depois, relembrou o fato de o ouvinte ser um detetive — O nome dela é Lyra. Lyra Nor, caso queira o nome completo. E não, ela não tem irmãs.

— Pode me dizer se existe algum Sowd vivendo aqui? — John Callow perguntou. Rosaria apenas deu um pequeno riso e continuou logo em seguida.

— E você pode?

Aquilo era o suficiente. John levantou-se calmamente, agradeceu pela conversa e saiu da sala. Callow andou em passos largos em direção ao quarto do rapaz Kyle. Assim que chegou lá, a porta estava aberta e o garoto estava separando algumas coisas em uma mochila no canto do quarto. John perguntou de prontidão:

— Onde está Daisy?

— Não faço ideia. Saiu do quarto sem dizer nada. Edmund disse que ela sairia, mas não tenho certeza — Kyle respondeu com desinteresse.

— E quanto tempo faz isso?

John Callow escutou passos rápidos na escadaria. Logo ele saiu do quarto e, ao chegar no topo da escada para a sala principal, pôde ver a garota saindo pela porta da frente. Ele precisava saber quem era aquela garota, então desceu as escadas rapidamente e saiu pela mesma porta.

A rua estava movimentada. Carros passavam de ambos lados e lugares, e, entre eles, ia passando a menina com grande destreza. Callow a seguiu por entre os carros e, com certa dificuldade, chegou ao outro lado da rua. A menina agora olhava para ele, de uma certa distância. Ambos dispararam na mesma direção e uma perseguição começou. Passaram por vários quarteirões, lojas e todo o tipo de local. A menina tinha um ótimo fôlego e tinha a vantagem de conhecer o local. Mas, na corrida, Callow percebeu que o caminho já foi trassado há algum tempo, pois haviam passagens certas e nenhuma dúvida da menina. Ainda assim, John continuou atrás dela.

A perseguição só parou em uma cafeteria chamada Light Latte. Havia dois homens parados na entrada e, passando por eles, ela entrou numa porta de ferro. John tentou entrar no estabelecimento para correr atrás da garota, mas foi surpreendido por um gancho horizontal do braço direito do homem que estava a direita, na sua perspectiva. O ataque o acertou no na barriga e o fez ajoelhar-se no chão: O homem era monstruoso, careca e usava uma regata verde. O outro era mais esguio, mas tinha um chapéu que o fazia parecer perverso. Momentos depois, John levantou-se.

Não lutava com alguém há algum tempo, mas preparou o melhor que pôde. Deu alguns passos e parou a frente do oponente. Para a sua satisfação, havia previsto corretamente: O homem possuía reflexos lentos. Não perdeu tempo e, levantando o braço direito, acertou o nariz do grandão. O golpe funcionou e fez o homem levar a mão aos olhos que começaram a lacrimejar. Porém, para a sua infelicidade, o homem o impulsionou com todo o corpo. O golpe do oponente saiu errado e tudo o que conseguiu foi fazer John perder o equilíbrio. O outro, o esguio, não perdeu a oportunidade e, rapidamente, saiu da sua posição original e desferiu um soco fulminante com o braço esquerdo, que teve o impulso a seu favor. O ataque atingiu o detetive na cabeça e o chapéu dele caiu no chão, na calçada. Aquilo o deixou bastante furioso e o fez ter a ideia de acabar com a luta.

Logo que se recompôs, foi em direção ao homem esguio e o deu uma rasteira. Aquilo era uma parte do seu plano. Logo depois, e como previsto, o grandão foi em direção de Callow. Simplesmente, ele pulou o homem esguio no chão. E, finalmente, o grandalhão tropeçou no esguio e foi para o chão, atingindo as pernas do homem ao chão com todo o seu peso. Aquele era o fim da luta. John pegou seu chapéu do chão, ascendeu um charuto, apalpou alguns hematomas e entrou na porta de ferro da cafeteria. Lá estava a garota sentada numa cadeira de madeira e com vários tipos de carnes penduradas acima dela. Aliás, estava frio e percebeu que estava num frigorífico.

— Como foi que chegou aqui? — A suposta Daisy Sowd perguntou totalmente surpresa e ofegante.

— Como você deve adivinhar, não foi fácil — Respondeu John Callow, mais ofegante e menos surpreso. Ele teria sido trazido ali caso a luta fosse perdida — Acho que não nos apresentamos direito. Sou John Callow, detetive. E você é?

— Sou Daisy Sowd, eu já te disse antes.

— Não, eu sei que você não é, e a sua face apenas confirma isso.

— Desculpe-me — Ela disse num tom mais frágil. Abaixou a cabeça e apertou os lábios — Eu não concordei com isso desde o começo. Tudo o que fiz foi seguir ordens.

— Ordens? De quem?

— Primeiro — A menina fungava — Você deve prometer que não me fará nada de mau pra mim, e nem contar pra ninguém isso — John logo fez sua promessa — Certo. Meu nome é Kiara Richfields, mas foi a minha mãe que me pediu para que eu escondesse meu nome.

John não pensou numa razão lógica a princípio para Mona ter feito isso.

— Depois — Kiara continuou — Foi E-edmund que me mandou até aqui — Disse em tom apavorado — Ele disse que era para eu vir até o Light Latte, mas não me avisou nada sobre os homens que estavam aqui. Me desculpe! Edmund disse que muitas coisas más aconteceriam se eu não o trouxesse até aqui. Por favor, acredite em mim!

— Prazer em conhecê-la, senhorita Kiara — Disse John Callow numa voz calma. Como citado anteriormente, crianças eram o seu ponto fraco — Acredito no que diz, certamente, e você foi de grande contribuição. Portanto, obrigado. Aliás, me concederia a honra de ir comigo até… — John tentava recordar-se do cartão de choperia do senhor Henry Richfields — … uma choperia chamada Al Ragazzo?

As suspeitas do detetive John Callow se mostraram corretas. Havia mais de uma pessoa envolvida no crime, mas não tinha certeza de quais. Kiara, desde o princípio, foi usada para desviar suspeitas. Mona tinha alguma participação, Kyle também, e, abaixo dos outros mas ainda suspeita, Rosaria. Apenas não conseguiu concluir se “muitas coisas más aconteceriam” era uma ameaça de Edmund ou de outra pessoa.


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Notas finais do capítulo

E, esse é mais um capítulo!
Como antes, deixe um comentário, se quiser! Eu apreciaria muito!
Você sabe, sugestões, palpites, críticas, elogios, todos são muito bem-vindos!



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