A pequena garotinha tinha seus sete anos, e já carregava muitas mágoas e angústias dos pais. Sofria em silêncio, mas todos sabiam o motivo de seus chorinhos constantes.
Estava sentada num pequeno casabre rústico da fazenda do seu avô, Theodore, que era muito gentil, e muito engraçado. Este, já estava a beira de seus 80 anos, mesmo assim, ainda conservava seu jeito de ser e os segredos da família.
A loirinha tinha levado consigo muitas lembranças de uma certa pessoa, que a amava muito. Mas o tempo a levou e elas não se viram mais. Isso tanto doeu em Mel, que toda vez que falavam naquele nome, seus olhinhos ficavam marejados e ela se escondia pela casa, até se reestabelecer e voltar ao normal.

Agora voltamos aos motivos de Melanie sentir raiva de seus pais :

A mãe, não gostava muito nela, e protegia sua irmã gêmea, Samantha, ou simplismente, Sam. Ao certo, não sabia o por que de Pam queria excluí-la de sua vida.
Mel tentou de todas as formas possíveis para ter a atenção de Pam, mas foi em vão. Samantha era simplesmente o centro da atenção e nada mudaria isso.
Desistiu. E pensou que se ficasse na sua, Pam iria consolá-la e talvez ganhar um pouco de atenção. Mas não. Pamela pediu para seu pai - E obviamente o avô de Mel, Sam & Carly- levar a primeira para sua fazenda, na costa oeste de São Francisco. Ele aceitou, alegando que precisava de companhia, principalmente depois que sua esposa, Amy, havia morrido.
Pam lançou um olhar simpático para Mel, e a colocou no carro apenas dando um tchauzinho com as mãos. Aquilo foi a gota d' água para Melanie.

O pai, Steven Shay, nunca esteve muito presente na vida dela, entretanto, este não era o único motivo. Nutriu o sentimento de raiva quando ele a afastou de sua melhor amiga-irmã, Carly. Ela era simplismente uma fonte de vida para Melanie. Sentia-se protegida quando a abraçava, como se seus abraços quisessem dizer : Vai ficar tudo bem. Acalme-se. E eu sempre irei estar aqui para te abraçar. Sempre.
Esse " Sempre" , acabou quando Steven decidiu deixar Seattle e ir com Carly para outro país. Ele não manteve mais contato, não queria Mel e Carly perto uma da outra, mas foi inevitável. Apesar delas acabarem sendo separadas, a amizade supera as distâncias, e mesmo que a pessoa esteja longe, ela sempre lembrará de você.

Melanie respirou profundamente e enxugou as lágrimas, pegando o ursinho de presente da Carly, o Teddy. Foi até a casa do avô, e bateu levemente na porta de seu quarto. Theodore, estava consertando um velho relógio de sua falecida esposa. Era uma das únicas coisas que o fizeram sorrir depois de Amy morrer. Foi por causa daquele relógio, que eles se conheceram, e se apaixonaram.
– Vovô, posso entrar ? - Ele assentiu levemente, e ela sorriu torto e arrastou Teddy por quase toda a extremidade do quarto, até chegar a seu avô.
– O quê quer, minha princesa? Veio ver o vovô é? - Ele fez graça com a voz já rouca, e parou de consertar o relógio, olhando profundamente para aqueles olhos claros de Melanie.
– Não, na verdade, vim te perguntar uma coisa. - Ela chegou mais perto dele, até que ele fez um gesto para que ela sentasse em seu colo. A garotinha abriu um sorriso perverso.
– Agora que conseguiu o que queria, fale-me do que queres perguntar. - Theo passou a acariciar levemente os cabelos sedosos e macios de Mel.
– Se eu fazer uma pergunta, promete a responder com sinceridade? - A garota fitou seu avô serenamente, e o velho se assustou com o tom de voz que a loira falava.
– Ok... Diga logo, você está me assustando. - Ela assentiu levemente e respirou fundo.
– Porque a gente têm que se separar da pessoa que mais ama? Eu não consigo entender. - Os olhinhos dela começaram a ficar cada vez mais e mais vermelhos, até lágrimas começarem a cair. Visto isso, seu avô a abraçou e ela tranquilizou-se.
– Olhe bem princesa... Deus quis que você e a Carly se separassem. Não foi muito diferente comigo e com a Amy... Ela foi embora e me deixou. Mas, têm uma pequena diferença... Ela foi embora para sempre... Ele quis levar. Eu sei que é difícil, sei que você vai demorar para superar. Mas... A Carly te ama. Tenho certeza que ela está pensando em você agora. - Theodore fragilizou-se com o quê Melanie havia perguntado. Eles estavam sofrendo por uma mesma causa, mas coisas diferentes. Carly estava distante, mas não havia morrido.
Ele fitou aquele relógio novamente, e o pegou pelo dorso da mão até passar pelos olhos da pequena. - Veja este relógio. É uma das únicas coisas que me lembram a sua avó. Foi por causa deste relógio que a conheci. Certamente, você deve ter um presente especial da Carly que você não esquece. Não é?
– Têm sim. - Ela sorriu. - O Teddy foi o mais importante. Mas Sam tinha inveja dele e aí ela o rasgou. - Ela mostrou o ursinho ao avô, e o fitou rapidamente. - Eu consegui o costurar, mas como ele é branco, a linha roxa ficou estranha. - Theo riu.
– Então, agora, vamos fechar os nossos olhos e posicionar nossas coisas que lembram a Carly e a Amy. - Melanie se ajoelhou defronte ao sol, e fechou os olhinhos já abatidos de tanto chorar. Pegou Teddy e o abraçou com força até começar a sorrir. Theo pegou o relógio e sorriu também. Sentiu a essência de Amy pairar sobre a de Mel. Era uma sombra abraçando a loira, e sorrindo para o velho.
Melanie viu um flash back passar em sua mente. Não conseguia parar de sorrir. Carly era o motivo de seu sorriso e ninguém podia parar isso.