Ren

A noite passada foi cheia de surpresas. As entrevistas tinham corrido bem, eu sabia que Lilian sentia algo por mim e minha mãe me encurralou no corredor quando eu voltava pro quarto.

– Tão tarde fora do quarto? Lembre que amanhã tem reunião. Você já devia estar dormindo. - falou num tom sério, raro a ela - Espero que goste dela e ela valha a pena. - completou com um sorriso nos lábios.

– Ela vale.

– Então, vai me contar quem é a garota que faz você voltar pro quarto sorrindo e plagiar meu sinal? - acrescentou quando voltamos a andar.

– A Lyn abriu a boca não foi?

– Na verdade eu notei.

Não me surpreendia. Ela podia ser a bondosa e inteligente rainha América, mas nesse momento era só minha sagaz perceptiva mãe.

– Vai brigar comigo?

– Ela merece o uso de algo assim tão íntimo?

– Merece. Ela merece isso e mais.

Os olhos dela brilharam.

– Então não se preocupe com a minha opinião, ou do seu pai, ou da Lyn. Ela também tem uma tarefa difícil pela frente.

Chegamos a porta do quarto dela, eu pedi sua benção e fui dormir. Durante a noite, pensei que a minha Lilian merecia mais. E sonhei com vários sinais nossos. Só nossos.

Essa manhã eu devia pensar se mandaria alguém embora. Ontem Eadlyn mandou mais 2 embora. Eu via a indecisão seus olhos e depois se formar a certeza. Se ela não sentia nada por eles, não era justo com eles, com ela, nem com os selecionados manter ele aqui.

Tomando seu exemplo, chamei Sara pra conversar. Eu não podia acabar a seleção tão rápido, tinha que seguir o ritmo da Lyn e ir uma de cada vez. Mas se podia mandar alguém embora, TINHA que ser a Sara. Metida, prepotente, superficial, conviver com ela devia ser um tédio. E outras selecionadas eram mais interessantes.

Treinei as dicas que Aspen me deu no primeiro dia e fui. Ela chorou. Me senti mal por faze-la chorar.

– Mas o que posso fazer para voltar? Não acredito que perdi essa oportunidade...

Em algum lugar no meio ao seu discurso, vi que era tudo encenação. A parte de me querer. Ela queria algo, e era a coroa, mesmo não sendo a rainha. Porque as pessoas tentavam me manipular desse jeito? Esse não era um jogo. Era minha vida. Conversei mais um pouco com ela, tentando tirar a má impressão que tinha. Mas não me senti mal ao vê-la ir embora.

Enquanto a selecionadas tinham mais aulas, fui ajudar Carter nas aulas dos rapazes.

– Alteza. - disseram em coro, enquanto faziam uma reverência.

– Por favor, fiquem a vontade. Afinal um de vocês será meu cunhado e rei de Illéa. Falei isso e olhei para todos. Essa, meu pai disse, era uma boa forma de saber quem queria se casar com Lyn e quem queria se casar com a coroa.

Alguns tinham olhos brilhantes quando eu falava o nome da Eadlyn. Outros quando eu falava as palavras "princesa" e "rei". Eu já tinha uma primeira impressão deles no primeiro dia e tinha lido suas fichas. Eu podia não ter obrigação disso, mas queria ajudar a Eadlyn a ser feliz. E isso me motivava a ler e estudar 28 marmanjos.

– Hoje teremos aula de esgrima. Não esperamos que sejam lutadores. Afinal os guardas se alistaram pra isso, não rapazes? - disse olhando para os que estavam hoje, que riram - Esses homens são os mais talentosos na esgrima e os mais pacientes no ensino. Eu e Carter os ajudaremos. Vamos dividi-los em dois grupos de 14, se vistam, ponham o equipamento de segurança e venham pra cá.

Os doze guardas e nós nos aprontamos e esperamos o primeiro grupo. Eu adorava duelar. E também gostava de ensinar os outros. Eu a Lyn sempre duelávamos quando éramos pequenos. As obrigações eram bem menores naquele tempo.

– Muito bom, senhor. - elogiei um dos selecionados - Parece que ao menos um de vocês leva jeito.

– Obrigado alteza. Espero não ter machucado. - respondeu Peter.

– Não se preocupe, ainda tem que treinar muito para me machucar, ou me pegar desprevenido.

Depois da aula já tinha uma lista dos selecionados que eu via futuro e dos que eram apenas interesseiros. Enquanto conversava com Carter, um guarda veio nos chamar. Pediam nossa presença na reunião do conselho. Deixamos os guardas continuando a lição e fomos.

– ... é absurdo tudo isso recomeçar. - dizia minha mãe.

– Eu sei senhora, mas não podemos simplesmente ceder. - dizia um conselheiro.

– Ahren, Carter, sejam bem vindos ao inferno - disse Eadlyn.

– O que está havendo?

– Rebeldes, maninho. Sulistas se reagrupando. Tentando chegar a Angeles.

Parecia que fazia séculos desde dormi pensando em criar um sinal para Lilian.

– Mas eles tinham sido desmembrados. - argumentei.

– Por isso a agitação, Ahren. - disse Carter, entendendo a situação - Há anos o povo se sente livre e seguro. A ideia de trazer os fantasmas dos rebeldes é assustadora para o povo. Começando pelos conselheiros. Vou falar com o pai de vocês. Mantenham os ouvidos atentos. Tentem chegar a August e falar com ele diretamente.

Notei que August estava lá quando entrei, e com segui o conselho de Carter indo até ele. Eadlyn tinha chegado pouco antes de mim, me seguiu querendo ouvir em primeira mão. August estava cercado por conselheiros e respondendo várias perguntas.

– ... não é assim tão simples. Você acha que eles vão nos ouvir? - falava exasperado.

Os conselheiros abriram espaço quando nos viram e voltaram a falar uns com os outros. August parecia cansado e abatido.

– Oi meninos.

– O que houve? - perguntou minha irmã.

– Rebeldes apareceram recrutando em algumas províncias do sul. Os números são pequenos, mas é motivo de alerta. Eles ainda não estão violentos. Mas conseguiram gente por puro carisma. Isso é um perigo. Quantos eles podem atrair...

– Isso é uma loucura. Depois que tudo que nossos pais fizeram.

– Eu sei, Ren. Estamos tentando chegar ao centro do problema.

– Que seria...?

– O líder deles Lyn. Em torno de quem se agruparam. E o que vão fazer depois.