Já amanhecendo e Armin continuava acordado. Seus pesadelos haviam tomado conta de seu sono e então, o garoto atordoado com sua volta à escola... resolveu descontar suas preocupações e magoas em algum game que estivesse relacionado com tiros e muitas explosões.

Foi então que sua mãe apareceu, olhou atentamente para o filho que não ouvia nada à sua volta por conta do volume alto dos fones-de-ouvido. Notou as mãos trêmulas do garoto e a perna que não parava de balançar. Algo estava errado... Retirou os fones e pausou o jogo.

— O-O que foi?

Gaguejou o menino.

— Você raramente acorda de manhã para jogar... aconteceu alguma coisa? É difícil de acreditar depois da sua saída da escola que algo aconteceu.

Disse sua mãe, sentando a sua frente.

— Mãe... eu estava tendo aqueles pesadelos de novo.

A mãe enrijeceu-se, ficando um pouco assustada com o comentário. Pousou a mãe sobre o ombro do filho e deu um sorriso para o mesmo, tentando confortá-lo.

— Quer falar mais sobre isso? Sabe... quanto mais guardar seus problemas para si, pior ficará conforme passa o tempo.

— É que... estou pensando em voltar à estudar...

Murmurou, se arrependendo da escolha.

Sua mãe o fitou por alguns minutos. Não sabia se ficava feliz ou preocupada.

— E-Eu sei que... muitas coisas aconteceram, mas agora, eu quero terminar o que eu comecei. Eu também não poderei ficar dependendo de você e do papai pelo resto da vida, tenho dezesseis anos e quero terminar o ensino médio.

Ela o abraçou fortemente, evitando derramar lágrimas.

— Eu só não quero vê-lo passar por aquilo novamente...

— Mãe! Eu vou estar lá para cuidar do Armin!

Alexy, como sempre... aparece para estragar o clima. Um pouco indelicado da parte dele, entretanto, o mesmo estava ouvindo a conversa e não queria fazer sua mãe, nem seu irmão, relembrar o passado traumático de Armin.

— Obviamente que ele não irá começar hoje, então... eu darei um tempo para ele se preparar até que volte, eu também tenho que me preparar para proteger esse gamer.

Alexy bufou, fingindo ser algo trabalhoso. Em parte, isso é verdade.

— Após o meu trabalho, irei fazer sua matrícula na escola do seu irmão, está bem, Armin?

— OK!

❖

Sam estava saindo de casa acompanhada de seu irmão, sues amigos que a esperavam já na frente de casa, cochichavam o tempo todo como se algum segredo havia surgido entre eles. Sam e Leo se entreolharam, mas pouco se importaram.

— Então... Alexy, você não me disse que tinha um irmão.

— Ora, Sam. Você também nunca me perguntou.

A garota ficou boquiaberta, acertou um chute no joelho do amigo e começou a andar mais depressa. Ela ficou brava.

— Alexy, você tem que ser mais delicado!

Repreendeu Íris.

— Tá, eu admito que fui um idiota.

Então ele correu em direção de Sam, cutucou sem ombro algumas vezes, mas a mesma deu de ombros e continuou a andar.

— Não quero falar com você.

Resmungou ela.

— Me desculpa Sam! Vai, me desculpaaaa!!

Ele a parou e começou a balança-la. Pedindo incessantemente por desculpas.

— Desculpa!! — E ficou repetindo, até ele parar — Não te contei sobre meu irmão, porquê ele mal sai de casa, também não gosta que saibam de sua existência, Armin é um tanto medroso. Estou desculpado?

— Está.

— Isso!! Obrigado Sam!

E ele a abraça e fica do mesmo jeito até chegar no portão da escola. Íris e Leo se despedem e a ruiva, continua com a mesma expressão de ele é um cara muito legal, vocês não acham?

Alexy e Sam deram risadas. A garota ficou sem entender e pediu explicações, porém os dois fingiram saber de nada e simplesmente continuaram o caminho até a sala de aula.

Enquanto entravam na sala, Sam é surpreendida por uma mensagem no seu celular. Raramente alguém ligava ou mandava alguma SMS para ela... Sam também nunca fora uma viciada em seu celular, já que nunca fez um bom uso do mesmo.

— Olha, uma mensagem do meu irmão...

Íris e Alexy olharam rapidamente, curiosos com a mensagem que fazia tempo que não recebia.

— Olha só, enfim o Ken mandou uma mensagem!

Comemorou Alexy.

— Hum... parece que ele vai voltar.

— Jura?! — Alexy berrou tão alto, que todos na sala, inclusive aqueles que passavam por nossa sala, olharam-no assustado — O que estão olhando? Vão procurar o que fazer! — Todos ficaram assustados e recuaram — Enfim, voltando a meu amado Ken... mal posso esperar para encontrar aquele par de olhos verdes, aquele abdômen de tirar o fôlego!! Aah... uma delícia de homem...

— Alexy, não viaja tanto... e a propósito, você nunca viu o abdômen dele.

Disse Íris observando o amigo se contorcer de felicidade.

— Íris, você tem um homem gostoso na sua frente e nem percebe.

— O-O que?!

— Céus, há menina mais lerda que você?

— Ora seu...

— Os dois, dá pra calarem a boca? O professor já entrou na sala à tempos!

Exclama Sam.

Os dois ficaram constrangidos e pôde-se ouvir vários burburinhos na sala por causa da pequena discussão.

❖

Já no intervalo, Sam que estava prestes a sair com seus amigos... cerca de cinco garotos da sua turma apareceram, bloqueando a passagem.

— Então moleque, não bastou aquela surra para você parar de vir? Ou por acaso, você é tão burro que não entendeu o nosso recado?

Disse o líder deles.

— Então vocês os bastardos...

Alexy serrou os punhos, estava louco para pular no pescoço de cada um e dar uma boa surra, porém, Sam segurou a manga da sua blusa e se escondeu atrás do mesmo.

— Alexy, fique aqui... eu vou conversar com esses garotos. — Diz Íris, com um plano em mente, deu um sorriso e olhou para os garotos a sua frente.

— Huh? Está maluca? O que te faz pensar que pode conversar com a gente?

Resmunga outro.

— Bom, eu sei que vocês não me bateriam, certo? Até porque... sou uma garota, não é mesmo?

Eles concordaram hesitantes, então foram levados por Íris para fora. Eles chegaram no telhado da escola e como não havia ninguém, ela se sentiu mais tranquila em falar.

— Pois bem, eu chamei vocês aqui, porque tenho algo para falar à respeito sobre a minha amiga... Sam. — Ela notou os olhares confusos e suspirou em forma de descontentamento — Vejam bem, Sam é uma menina, não um menino.

E ao falar aquilo, todos eles soltaram gargalhadas.

— Essa guria é burra! Fala sério? Sam Hall ser uma garota? Tá pirando?

— É a verdade, eu tenho provas... ah sim, quando eu mostrar isso à vocês, eu quero que jamais passem por seu caminho a não ser dentro da nossa turma, quero que parem de falar com ela, pois vocês não sabem o quanto fizeram mal. E vocês não foram os primeiros...

❖

Íris voltou para a sala triunfante, com um enorme sorriso no rosto.

— Aqueles garotos não irão incomodar você novamente.

— O-O que você fez?

Sam ficou surpresa ao vê-la tão contente.

— Ora, não fiz nada, só usei meus truques...

Alexy se aproximou de Íris e ficaram de costas para Sam.

— Você mostrou... aquilo?

Cochichou o garoto.

— Certamente... foi o único jeito, pois eles não acreditariam em mim se eu só falasse a verdade, tinha de mostrar.

— E qual você mostrou?

— A da piscina.

— Essa foi boa.

Sam intrigada com tantos cochichos, resolveu perguntar:

— O que os dois cochicham tanto aí? Eu posso saber o assunto?

Os dois voltaram em sua direção e com sorrisos tranquilos, não disseram, arranjaram qualquer desculpa e foram lanchar, mas ainda... Sam estava curiosa.

— Ei, Sam, porque você não deixou meu irmão ir com você até a sua casa? Você estava toda machucada, cheia de hematomas... — Perguntou Alexy.

— Seria desnecessário, ainda tenho minhas pernas para andar.

— E seus pais?

— Meu pai estava trabalhando e minha mãe nem sequer me olhou quando entrei em casa, por isso disse para não se preocuparem... meus irmãos ao me verem ficaram eufóricos, mas eu disse a eles que não era nada demais e que não doía tanto. Fiz eles prometerem que não diriam nada.

— Entendo... ah é, tenho uma novidade, meu irmão Armin, irá voltar para escola! —Exclama Alexy todo entusiasmado.

❖

Após as aulas, Sam foi para casa acompanhada de Íris e Alexy, desta vez, todos os dias os dois irão acompanha-la. Não importa o quanto ela se frustre por isso, Sam terá de concordar querendo ou não.

— Nos vemos amanhã cedo.

Se despediu e entrou em casa.

Para sua infelicidade, ao entrar em casa, sua mãe e seu pai estavam lá. Kentin, seu irmão gêmeo também estava e por isso, a família toda estava ali. Tias, tios, primas, primos... distantes ou não, simplesmente... todos estavam presentes.

Sam enrijeceu, estava assustada demais para ter uma boa conversa, ainda mais que todos sentiam a tamanha vergonha que seus pais tinham dela, assim como outros parentes.

Kentin ao vê-la, abriu um largo sorriso e foi em sua direção. Deu um abraço carinhoso, igual a de todo irmão.

— Como está? Vá para seu quarto, trouxe alguns presentes para você. — Cochichou em seu ouvido sem que ninguém percebesse. Kentin devolveu um sorriso e disse: — Sam está se sentindo mal, então... infelizmente ela ficará no quarto dela descansando.

E foi o que fez, mesmo ouvindo alguns comentários maldosos, Sam foi para seu quarto e avistou alguns presentes sobre sua cama. Ficou entusiasmada, cheia de doce e outras coisas como: uma mesa digitalizadora que poderia usar para fazer seus desenhos tão sonhados, alguns livros com introduções para desenho de vários estilos, desde o realista até o cartoon e mangá. Foi então que uma pequena lhe chamou atenção... ao pega-la, abriu com cuidado e viu um belo colar carregando seu nome. A correia era simples, assim como o seu nome.

É lindo... — Pensou ao vê-lo.

Aquilo se tornara de imediato, algo muito importante para ela. Colocou no pescoço e arrumou seus presentes. Guardou tudo e comeu alguns doces, tomou um banho e fez sua higiene pessoal. Olhou pela janela e alguns de seus parentes estavam indo embora... pegou seu celular e escreveu uma mensagem, com dificuldade, já que não é acostumada.

Para: Ken

Obrigada pelos maravilhosos presentes... o meu favorito, foi o colar! Obrigada mesmo. Uma boa noite e aproveite a festa.

Assim, desligou o celular e foi dormir.

❖

Ao acordar, olho para meu despertador, marcando 6:54... senti alguém deitado ao meu lado, também fui percebendo que havia uma mão envolta na minha cintura e senti um ar quente na minha nuca. Olhei para trás e vi Kentin...

— Ei, ei, por mais que sejamos irmãos, você tem o seu quarto.

Digo empurrando-o da cama.

— Poxa, eu estava com saudades da minha irmã. E eu posso dormir com você, assim como nos velhos tempos.

— Você também dormia com o Leo e o Ed.

Resmungo, indo direto para o banheiro.

— Uuh... sorte sua que sou seu irmão, senão ia aí te lascar um beijo.

Abro a porta abruptamente e o encaro confusa.

— Hahaha, relaxa, é mentira. Não precisa ficar com essa cara, até porque... é minha irmã. — Ele se joga na minha cama e começa a ler uma revista que estava no meu criado mudo — Quer que eu te conte sobre minha viajem?

— Achei que teria de perguntar para fazê-lo falar.

Sentei no pé da cama, observando-o.

— Ah, Paris é realmente um lugar maravilhoso! Não sabe a quantidade de fãs que vieram me encontrar... algumas até perguntaram sobre você, mas não disse nada, até porquê sei que gosta de ser mantida em segredo pela sociedade. — Ele suspira de forma como se minha escolha fosse um erro — Meu empresário, os produtores que trabalham comigo, perguntaram se você gostaria de se tornar uma modelo também. Disseram que faríamos mais sucesso se os gêmeos estivessem juntos.

Levanto rapidamente e vou para o banheiro lavar o rosto.

— Sam, não faça isso... vamos ser igual nos velhos tempos! Eu e você, uma dupla sem igual, éramos tão felizes naquela épo-

— Você era feliz... não me inclua.

Interrompo com a voz embargada. Há tamanha vergonha de me lembrar do passado e do meu eu atual? Sim, muito.

— Se você continua assim por causa da mamãe e do papai...

Abro a porta novamente e digo:

— Eu continuo por esse motivo, sabe Ken... você é um verdadeiro garoto, alguns segundos mais velho que eu. Já eu, sou uma garota, a mais nova e a que deveria ser o exemplo da família junto com o meu irmão gêmeo. Porém, não foi assim... você sabe o que é ser uma vergonha para os próprios pais e boa parte da sua família? — Estou irritada, tocar nesse assunto me irrita. Aponto para meus ferimentos — Está vendo isso? Isso é por ter nascido algo que eu não deveria ser, odeio ser garota tanto quanto odeio ser um garoto. Eu sou odiada por tantas pessoas, que você não faz ideia... me tornar modelo? Quer que eu seja massacrada por mais pessoas? Quer que nossos pais me odeiem ainda mais?

Não querendo continuar mais aquilo, expulso Ken do meu quarto. Do outro lado porta, digo:

— Mesmo amando-o, mesmo sendo meu irmão... mesmo tendo a mesma aparência, eu não quero sofrer mais.

— Sam, eu...

— Agora eu vou me arrumar, tenho de ir para escola. — Digo rapidamente.

Dou um longo suspiro. Sinto um nó na garganta e meus olhos começam a arder... não vou chorar. Não mesmo.

No fim, ele nem contou sobre a viagem...

❖

Enquanto saia de casa ao lado de Leo, avistei mais uma pessoa entre Alexy e Íris.

— Bom-dia Sam! — Exclamou Armin, deu um largo sorriso e acenou — Irei estudar com vocês a partir de hoje!