Fireside escrita por Moonlight


Capítulo 1
"Do you want me crawling back to you?"


Notas iniciais do capítulo

Olááá! Essa é a ultima one, to muito feliz de estar postando-a. Diferente das outras 4, essa tem narração em 3° pessoa, pra vcs entenderem o ponto de vista de ambos. Além de ser inspirada em muitas canções do AM!!



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— Eu não posso explicar, mas eu quero tentar. — Disse Katniss, em angustia.

Ela bateu na porta de um homem devastado por volta das 4 da manhã. O homem, por sua vez, não estava em melhor estado – a bebida havia deixado Peeta tão acabado quanto o dia em que Katniss lhe deixou o bilhete. E agora, contra todas as expectativas, lá estava ela. Na porta do apartamento 505. Cara a cara com Peeta.

— Guarde suas palavras de merda, Everdeen. — Peeta Mellark fez então, a única coisa que ele queria fazer desde que ela partira, há pouco mais de um mês. A única coisa que ele sabia que, naquela mesma situação, não o faria sóbrio. A única coisa que podia lhe livrar de um enorme peso no coração – não nas costas. No coração mesmo, no caso de Peeta. A única coisa que pessoa nenhuma que fosse traído da maneira que ele foi faria num reencontro desse: Peeta a beijou.

Peeta tomou Katniss nos braços e a beijou, como fizera em poucos momentos em que tal paixão exigia. Tomou-a, como se ambos estivessem em chamas, e recordou-se de todos os momentos em que tiveram tal sensação antes. Katniss, dona de uma tatuagem de Mockingjay na nuca, era a queridinha de Peeta, e sem dúvidas, sua Garota em Chamas. Por ora, se Katniss fosse mesmo um pássaro, ela seria uma fênix. Porém pássaros são livres. Eles têm asas, que lhes permitem voar quando bem entender, e a fênix – esses pássaros em especial – morrem, Peeta. Eles viram cinzas e ressurgem.

Foi exatamente o que a Katniss fez.

Katniss Everdeen sabia que não deveria se render aos encantos do noivo, ou seja lá o que Peeta representa agora. Mas era quase impossível. Se algum dia de sua vida, Katniss foi uma Garota em Chamas, foi por causa de Peeta. Ela sabia que o fogo que sentia dentro de si não existiria se não fosse por outra pessoa. E essa pessoa estava em sua frente, naquele exato momento, tomando-a como bebida (algo que particularmente, Peeta havia ingerido em excesso na mesma noite). As mãos de Peeta estavam em sua cintura, hora em suas costas, traseiro, seios e em todos os lugares. Bom, isso é uma idéia, pensou. Ele não faria se não fosse uma.

Seria uma excelente idéia, Katniss. Se Peeta não estivesse bêbado. Se não fosse 4 horas da madrugada. Se você não tivesse o vendo pela primeira vez em quase um mês depois de ter passado 7 horas em um avião e 45 minutos em um carro para ir para um cidade remota e pequena, fugindo do “sim” que você mesma disse ao seu namorado quando ele lhe pediu em casamento, 3 dias antes.

Seria uma boa ideia se você não estivesse perdendo, e seu fusível – alguma consciência-mor que impede o seu cérebro de dar algum curto-circuito – não estivesse em chamas.

— Peeta, pare de me beijar. — Sussurrou Katniss, quando conseguiu alguns segundos de auto controle, suficientes para se soltar dos braços de Peeta. Ele, por sua vez, continuava alterado. No entanto, mágoas antigas o atingiram com o gesto, algo que não acontecia se estivesse sóbrio o suficiente para encarar a situação com o mínimo de maturidade.

— Você está fugindo outra vez. — Não foi uma pergunta. Peeta sussurrou, mais para si do que para a moça em sua frente. A frase atingiu Katniss em cheio, como uma adaga no peito. Ele está bêbado, pensou para si. Não entre nesse jogo. Controle-se.

— Vá tomar um banho, Peeta. Você está fedendo. — Disse assim. Sem cerimonia, sem carinho, sem mais nem menos. Peeta não sabia o que esperar do seu primeiro encontro com Katniss depois disso tudo – gritos, brigas, discussões, conforto quem sabe – mas não isso. Mas seu cérebro bêbado, seu coração magoado, e seu lado negro vingativo não poderiam desperdiçar essa chance.

— Você está escondendo outra vez. Você está mantendo todos os seus sentimentos em segredo outra vez. Você continua fugindo, se afastando, indo embora, você... ainda é uma mentirosinha. — Peeta disse. Não exatamente dessa forma. A clareza das palavras quando se está bêbado, e a ponto de uma nova crise não são das melhores. Mas estava tudo bem – Peeta se esqueceria desse detalhe na manhã seguinte, se acaso se lembrasse desse encontro.

Um spoiler: Peeta jamais esqueceu nenhum detalhe daquela noite enquanto permaneceu vivo.

Katniss, por sua vez, mantenha a cabeça no seu lugar, o que de fato era surpreendente, uma vez que daquele casal excêntrico e pé no meio da sala de jantar, Katniss foi aquela que se descontrolou primeiro. Claro que, o caso de Peeta foi tão estranho quanto o dela (ver sósias em todos os lugares possíveis que lhe lembrasse amada não era uma coisa normal), mas Peeta simplesmente não distinguia o real do não real por que estava enlouquecendo em busca de respostas. Katniss não. Katniss fugiu em busca de respostas para dar a Peeta quanto este lhe fizesse a pergunta que ela tanto esperou ouvir, mesmo sem saber qual é. Katniss sabia que era um erro que ela deveria cometer. Em resumo: Katniss fugiu porque sentia que deveria fugir, porém voltar. Num resumo ainda maior: Katniss partiu porque foi atrás de perguntas que só Peeta saberia responder.

“Como é que eu vou passar o resto dos dias com Peeta?!” Perguntou Katniss à sua amiga Dorothy, certa vez. Bem, Peeta sempre soube a resposta, mas Katniss – a mesma autossuficiente Katniss, que nunca pedia ajuda de Peeta para nada – nunca lhe perguntou.

— Eu vou embora, antes que o dia amanheça. — Disse Katniss, escondendo seus sentimentos. Sabia que não resolveria nada com um Peeta bêbado. Virou-se de costas para o homem da sua vida, e caminhou em direção a porta, em passos acelerados e tropeços.

— Porque você não quer ver o que você fez!! — Foi o ultimo grito de Peeta antes de se sentar no seu sofá, apoiar o rosto nas mãos e o cotovelo nas pernas e chorar. Tempos depois, Peeta apagou completamente.

***

— Péssima ideia. — Bufava Katniss. — Ideia terrível. — Agora, ela ofegava. — Não é como era antes nas maratonas da escola. Isso sem contar que ontem um garoto de 22 anos pediu bateu na porta da minha casa e nem se importou comigo, pedindo o número da minha irmã a todo custo. — Katniss parou de correr. Peeta estava ao seu lado, ainda em ótimo condicionamento físico, enquanto a namorada apoiava as mãos nos joelhos procurando ar. — Eu te amo, você sabe, não quero ninguém mais além de você, mas o garoto não falou nem um “wow!” pra mim. Eu mereço um “wow!!” — Katniss riu, piscando para Peeta. — A questão é que eu mal aguento uma corridinha, garotões babacas com barbas falhas não me olham mais, e eu estou usando creme para linhas de expressões no rosto. Eu aceitei o fato, Peeta.

— Que fato, meu amor?! — Perguntou Peeta. Ele seguia a namorada, que havia se sentado embaixo de uma das árvores do parque em que eles decidiram que seria saudável manter exercícios físicos. Péssima ideia, segundo Katniss.

— Eu estou ficando velha. — Ela respondeu com um ar sério quando namorado se sentava ao seu lado. Depois de perceber que Peeta a olhava sério – sem a mínima ideia do que porquê katniss levava aquilo tão a sério – ela sorriu e piscou, entregando a piada. Peeta sorriu.

Não se preocupe, eu tenho certeza que você ainda está quebrando corações com a eficiência que apenas juventude pode dar. — Ele a beijou.

Peeta acordou no meio do próprio vômito, de um sofá sujo e roupa grudada de suor. Nojento, pensou para si mesmo. Levantou-se imediatamente, onde foi tomar um banho e trocar as roupas. É claro que Peeta não tirou a imagem de Katniss da cabeça. Nem do seu sonho, nem a Katniss de antigamente, nem a Katniss que rondava seu apartamento na noite passada. É claro que a memória demoraria a passar, porque o maldito subconsciente de Peeta (aquela parte da gente que não podemos controlar) queria manter viva a imagem dela. Porque Katniss foi embora novamente, e não disse se voltava. Era tão óbvio que ela faria isso novamente, Peeta. Porque você se deixa machucar?!

Agora, depois de beber feito um Haymitch por causa daquela garota, você tem um dor de cabeça muito literal para tratar e uma ressaca em pleno domingo de manhã. Peeta encorajou-se a ir para cozinha e preparar algum café para si. Depois de pronto, encheu uma xícara, e procurou na sua gaveta de remédios alguma aspirina. Nada.

Talvez fosse tempo de voltar a viver. Fazer compras, cuidar de si, retomar a rotina.

Tudo isso seria possível se quando Peeta pegasse as chaves de casa e a carteira, com destino a farmácia mais próxima, uma Katniss Everdeen não estivesse dormindo encostada na porta do apartamento 505. Seria ainda mais possível se ela fosse menos... linda.

— Achei que fosse ir embora antes do sol nascer. — Diz Peeta, sério. Amargurado. Com a mesma expressão no rosto que Katniss usava para esconder sentimentos. Talvez porque Peeta escondia alguns também: Surpresa, confusão e uma genuína felicidade que não permitia espaço algum.

— Eu fui. — Respondeu Katniss, se ajeitando de pé, frente a Peeta. — Mas achei certo voltar, e não tenho sua chave. Quer dizer, eu tinha, mas eu perdi junto com um monte de coisa.

É claro que Katniss lançou um olhar sugestivo a Peeta. Claro que ela faria isso. E obviamente, ele iria se desviar do olhar.

— Tenho que ir na farmácia, com licença. — Disse ele, abrindo caminho pela lateral de Katniss, que o puxou pelo braço e tirou um tablete de pílulas do bolso.

— Aspirina? — Perguntou a Everdeen. Peeta pensou em perguntar, mas ao mirar nos olhos dela evitou todo um diálogo: Ele nunca tinha aspirinas, nem qualquer remédio que precisasse. Katniss, por outro lado, tinha mais remédios do que uma drogaria. Era um caso típico de que um precisa do outro, e ambos sabem, mas escondem. Além do mais, a origem daquele remédio pouco importava, se isso lhe poupasse algum trabalho. Peeta seguiu apartamento adentro, deixando a porta aberta.

Katniss encarou aquilo como um sinal de entrada. Via o noivo pegar uma das pílulas nas mãos e agradeceu a deus por Peeta ser o mesmo. Depois de deixar o apartamento e seguir caminho rumo a sua casa, lembrou-se de que não tinha chave, e lhe pareceu errado acordar sua irmã duas vezes na mesma noite. Perdida, Katniss caminhou pelas ruas em sinal de alguma coisa. Via os faróis mudarem. Carros seguirem caminho. Ambulâncias em alta velocidade, e um carro de policia que a assustou até a morte. Cansada, parou em frente a uma drogaria e, ao ver a fachada, se lembrou de quantas vezes por mês frequentava uma dessas comprando engov ou aspirina para Peeta. E foi dessa forma que ela voltou para 505, com um tablete das pílulas no bolso, sem um tostão no bolso e com o tapete de boas vindas do lado de fora do apartamento de Peeta sendo usado como travesseiro.

Ela entrou no apartamento de Peeta. Fechou a porta, e prendeu a respiração. Pensou em se sentar, mas viu que o cheiro ruim vinha do sofá vomitado, então desistiu. Não tinha direito de perguntar o que acontecera: Apostava consigo mesma que a bagunça da vida de Peeta – e de sua sala de estar – tinham a ver com ela. Permaneceu então, em pé. Com sua cabeça doendo. Seus pés machucados, e suas costas reclamando. Mas Katniss permaneceu muda sobre isso (assuntos maiores a fariam se distrair o suficiente para esquecer as dores no corpo).

Peeta caminhava em passos lentos até a sua xicara de café.

— Posso esperar você melhorar, se quiser. — Diz Katniss, olhando a dificuldade de Peeta em enfrentar a ressaca naquela manhã. Nada pior do que enfrentar uma Everdeen, no entanto.

— Eu esperei um mês pro isso, você não vai fugir outra vez. — diz Peeta. Sem cerimonias. Curto e grosso, exatamente como Katniss na noite anterior, no momento em que mandou Peeta tomar banho. Por sua vez, naquela manhã, Peeta caminhou com calma até sua xicara. Sem ansiar por momento algum.

Katniss por sua vez não sabia o que esperar. A agonia do momento, a calma de Peeta e a atmosfera do lugar a deixavam cada vez mais nervosa. Talvez nenhum dos dois tivessem condições de uma discussão no momento – lembrem-se de que Katniss viajou por quase oito horas, perdeu as malas, correu pelas ruas e dormiu na porta do apartamento de Peeta – portanto sua exaustão corporal e seus stress e ansiedade não eram favoráveis para decidir quaisquer coisas sobre o futuro naquele momento. E o que mais a incomodava, era saber que Peeta tinha o momento nas mãos. Não havia nada que ela pudesse fazer.

E isso a irritava profundamente.

— Vou embora. — Disse Katniss, batendo os pés no chão.

— Novidade. — Sussurrou Peeta, auto o suficiente para ela ouvir. Peeta sabia muito bem o estava fazendo: Brincando com a paciência e com a mente de Katniss. Ela merecia. Mas no fundo, mesmo, isso o magoava. Katniss, cujo toda paciência se convertia de uma vez, perdeu-a rapidamente. Virou-se para Peeta, andando em direção a ele, carregando as palavras, mirando-as, esperando acertar o tiro.

— Você vai continuar com esse joguinho ridículo ou nós vamos conversar como adultos? — Katniss elevou o tom de voz, num tom perfeito que a raiva exigia.

— Joguinhos?! Não era eu quem achava que amor era um jogo, Katniss! — Respondeu Peeta, no mesmo tom de voz, largando a xicara em cima da pia.

E foi assim. Ambas dores desapareceram. Os músculos da Katniss se recuperaram, a cabeça de Peeta não mais doía. Eles deixaram algo muito acima disso feri-los.

— E você ainda acha que o amor é um jogo, ou você leva isso mais a sério? — Perguntou Peeta, mais calmo. Mais humano. Sua voz estava num tom mais baixo, e seus olhos miravam Katniss intensamente. — Eu tentei te perguntar isso, em alguns devaneios que eu tive, mas você sempre esteve ocupada, em um faz de conta. Katniss, me diga: Quando você se olha num espelho, para se lembrar de si mesma: É você quem está lá?

Katniss Everdeen perdia as estruturas facilmente quando estava com Peeta Mellark. Volta e meia, por seus gestos que a deixavam sem palavras. Katniss nunca sabia como reagir com as investidas românticas de Peeta, e nunca soube como corresponder os gestos amorosos do namorado. Mas dessa vez, não eram os gestos de Peeta que a chocavam, nem as palavras que ela administra como ninguém: Mas a sua fraqueza. Peeta demonstrou o quanto a amava e o quanto pensava nela ultimamente, usando palavras cujo objetivo inicial era intimidá-la. Seu objetivo foi atingido, claro: Katniss refletiu muito bem sobre quem ela vê no espelho.

— Todos aqueles lugares que costumávamos ir... — Continuou Peeta. — E eu suspeito que você já sabe. Todos aqueles lugares continuam o mesmo, mas algo neles mudou. Agora não consigo pensar sobre aqueles lugares, sem pensar em você – e eu duvido que isso seja uma surpresa. Eu não consigo pensar em nada para sonhar, não consigo achar nenhum lugar para me esconder...

Ele fez novamente. Peeta continuou a falar, sem parar, sem pausas, sem descanço. E Katniss, outra vez, perdia as contas de quantas vezes conseguia ficar muda frente a ele. Talvez seja a hora de responde-lo. Talvez seja hora de mudar, de estar a altura dele, de ser boa o suficiente. Fala alguma coisa, pensou. Anda! Mas Katniss falhou novamente.

Deixando cada vez mais espaço para Peeta falar e despedaçar duas pessoas de uma só vez.

— E quando eu estava esperando, via as olheiras em volta dos meus olhos, eu me convencia de que eu precisava de outra. Por um minuto fica mais fácil fingir que você foi apenas mais uma amante.

Então Peeta fez a única coisa que poderia chamar a atenção de Katniss o suficiente para faze-la falar. A única que pudesse fazer com que ele se calasse e ela então, tivesse alguma chance contra aquilo. Peeta chorou.

— Ah não, não faça isso... — Sussurrou Katniss, mais para si mesma do que para Peeta. No entanto, ele ouviu perfeitamente cada palavra dita por ela. — Eu não posso lhe dar com você assim. Você sabe que eu desmorono... completamente, quando você chora. — Katniss olhou para seus pés. Respirou fundo algumas vezes. Controlou as lágrimas que ameaçavam.

E tudo o que Peeta Mellark fez foi esperar a reação de sua noiva. Ele lembrava-se das maiorias de suas discussões: Quando Katniss se irritava com algo, não lhe dava espaço nenhum, nem chances de argumentar. Quando acontecia o contrário – Peeta se irritava com algo – Katniss interrompia, quebrava seus argumentos, e se desculpava pelo o que quer que fosse. Só havia uma situação em que ela se calava: Quando sabia que estava errada, ou que não tinha chance.

— Eu preciso que você se cale, e me deixe falar, antes que eu me perca e não consiga mais esse feito. — Katniss esfregava os olhos com as mãos, limpando lágrimas. Peeta sacudiu levemente a cabeça, concordando, mas Katniss não viu: simplesmente seguiu falando. — Eu não tenho desculpas. Eu não tenho como estar certa. E eu não posso explicar, mas eu quero tentar.

Katniss respirou fundo. Encontre as palavras. Encontre elas, forçou-se.

— Você já teve aquele medo de não poder mudar, daquele tipo de medo que não sai, como algo nos seus dentes? Eu senti esse tipo de medo. E eu sempre soube que não era relacionado a você, ou a nós. Eu só senti isso depois do que você me pediu, depois de eu dizer sim. E eu precisava entender do que eu estava com medo. E eu não te avisei porque você não ia entender que eu precisava ficar longe de você. Você ia entender isso, Peeta? Que eu precisava de um tempo longe de você?

Peeta Mellark manteve-se em silêncio, que respondia a pergunta de Katniss. Buscava entender o que ela queria dizer com aquilo, e buscava saber se no final de tudo, ele a perdoaria.

— Eu fui. Eu perdi você. Eu magoei minha irmã. Eu magoei meus amigos, seus amigos, nossos amigos. E meu medo ainda estava lá, comigo. Eu o carreguei comigo para onde quer que eu fosse. E eu sei do que ele se trata: Eu tenho medo de não ser quem eu queria ser. Medo de não ser a Katniss de 5 anos atrás, de perder meus sonhos, de não ter mais os pés no chão. Medo da duvida. Eu tinha medo de ter um futuro novo, e estraga-lo, como eu... eu acabei de fazer. — Katniss chora. Peeta Mellark continua perdido, procurando sentido em suas palavras. Confuso. Ainda preso em sua própria cabeça, tentando descobrir que algo que lhe incomodava. “Eu teria entendido?” — Eu só tinha tanta certeza de não merecer você, de não ser boa o suficiente pra você, e acabei não sendo. Porque o meu medo vai estar sempre comigo, e você não. Não depois de tudo o que eu fiz... Foi um erro gigante, eu sei, mas eu sinto que eu precisava cometer. E eu ainda não tenho certeza se eu deveria te mostrar o que eu encontrei nesse meio tempo.

Katniss fez a única coisa que pensou em fazer depois. Ir embora. Caminhar até a saída da 505 e chorar o quanto fosse longe dalí. Peeta não disse mais nada. Não havia o que dizer.

— E eu achei que eu era... sua. Pra sempre. Talvez eu estivesse errada. — Interrompeu-se Katniss, virando abruptamente na direção de Peeta, encarando-o, antes de dar um adeus definitivo. — Mas ultimamente eu não consigo passar um dia inteiro sem pensar em você.

E ela seguiu em frente. Indo embora outra vez. Katniss guiou seus pés e seu destino a partir daquele apartamento, mas um único pensamento passava pela sua mente: “Você não deveria ir embora sem Peeta”. Mas katniss sabia que havia ficado mais do que claro que ele não ansiava pela presença dela naquele lugar.

Você não deveria deixar esse apartamento sem mim. — Disse Peeta, fazendo-a parar, ecoando seus pensamentos. Na verdade, por mais furioso que Peeta estava com Katniss, não poderia negar seu esforço. Não poderia negar que ela estava confusa, perdida como sempre foi, e que tinha um ponto. Não poderia negar que a amava, e droga, como ele amava. Secretamente, Peeta não queria que ela fosse, mas não poderia demonstrar isso.

— Você me quer rastejando de volta pra você? — Perguntou Katniss, de forma ríspida.

— Eu quero saber se essa coisa que eu sinto por você é reciproco. — Disse Peeta. Ele caminhou para perto da porta do apartamento 505, onde katniss estava a ponto de partir, e chegou perto de seu rosto. — Foi triste te ver indo embora, porque eu meio que esperava que você ficasse. E nós dois sabemos que as noites foram feitas principalmente para se dizer coisas que você não conseguirá dizer amanhã. — Peeta chegou mais perto. Não queria chegar mais perto, mas queria tanto beijá-la. — E você correspondeu meu beijo. Você veio se explicar. Você correspondeu a algo. Aquilo foi real?

— Se você quer saber mesmo, Peeta. — Katniss deu uma pausa. Olhou para seus pés, e pensou nas palavras que escolheria. Era sua chance de ter seu noivo de volta. Seu antigo Peeta. — Eu acho que estou muito ocupada sendo sua pra me apaixonar por alguém novo. — Mas Katniss não sabia que o queria. Se o merecia. E se o magoasse novamente.

— O que você encontrou? — Peeta e Katniss estavam naquele fim de discussão, em que se encara o outro individuo olhando diretamente nos olhos, onde a voz se abaixava e virava sussurro, onde a briga se encerrava num beijo, ou se encerrava num fim. — Você disse que não tinha certeza se eu deveria te mostrar o que encontrou. — Reforçou Peeta. A sua voz rouca e sua garganta ainda estragada pela ressaca soavam próximo ao ouvido de Katniss, fazendo-a perder o controle. Do que ia adiantar jogar-se nos braços de Peeta, no entanto? Ela não queria somente seu consolo. Ela queria algo real.

— Minha vulnerabilidade.— Diz Katniss. Peeta Mellark continua com as mãos no jogo, sabendo cada passo a qual jogar. Aquela mulher o fizera sofrer como o diabo. Fora embora, sem explicação. Ela estava ali, ela voltou. Mas Peeta não sabia se agora a queria como antes.

— E você não me respondeu: Você ainda acha que o amor é um jogo? — Perguntou Peeta.

— Amor é um jogo, Peeta.— Confidenciou Katniss, com plena certeza sobre o que dizia. — Eu sei que posso fazer nós dois ganharmos esse jogo. — Foi o ultimo tiro de Katniss. Ultima tentativa. Ela o deixaria em paz se ele quisesse assim. Claro, Katniss iria sofrer como nunca sofrera antes na vida - talvez sofreria como a morte de sei pai - mas se Katniss tinha uma qualidade em destaque, esta era a compreensão: Katniss simplesmente aceita que o amor da sua vida ficaria melhor sem ela. Katniss pode facilmente abrir mão de um amor se isso fizer bem para ele. Por esse motivo, ela pensou que talvez, Peeta entenderia sua ida: Katniss pode parecer muito, mas nunca fora uma esnobe egoísta.

— Mas você nunca o fez antes, Katniss. Nunca. — Peeta se afastou de Katniss. De vez. Algo próximo a um vento frio passou perto dos dois. A conexão foi desfeita. — Adeus, Katniss.

Aquele fim de discussão que se encerra com um beijo ou um adeus. No caso de Peeta Mellark e Katniss Everdeen, foi um adeus, em um dia ruim, em pessoas carregadas de mágoa. Para Peeta, as palavras ditas por ele o sufocaram de maneira profunda. O machucou também. Peeta nunca pode negar o amor que sente por Katniss, e dizer para ela ir embora porque ela foi embora foi a ultimo golpe que o fez perder a consciência.

Quanto a Katniss – o seu coração parou pela quarta vez.

— Eu quase acreditei que o beijo foi real. — E Katniss abandonou 505, seguindo em frente a uma direção da qual não tinha ideia. Seus medos, claro, a atingiu novamente. Peeta não estava lá para protegê-la, dessa vez. Mas Katniss viu ali a oportunidade de superá-lo sozinha. Como sempre fizera.

***

— E eu não acredito que você vai se casar! — Annie Odair sorria atoa. Passaram se quase 3 meses depois da ultima noite de sábado em que seu marido tentou, em vão, trazer Peeta Mellark de volta a ativa. Sua barriga, agora de quatro meses, começava a fazer volume sobre a barriga. Seu marido, Finnick odair, sorria enquanto levantava o copo de chopp para propor um brinde.

— A Tresh e Rue! — E todos ao redor da mesa brindaram. Finnick e seu Chopp, Annie e um suco de abacaxi (o único que a gravidez tolerava), Tresh e Rue com taças de Champagne. Peeta Mellark com um copo de Whiskey.

E os cinco permaneceram na mesa do Ravey Ravey Club altas horas da noite. Primeiro, porque a ocasião em si exigia: Ninguém jamais imaginaria que Rue e Tresh voltariam, muito menos ficariam noivos. Na noite em que Peeta Mellark discutia com sua namorada Katniss Everdeen, seu amigo Tresh reencontrou sua ex namorada Rue, e teve com ela a mesma discussão no exato momento em que Katniss e Peeta tiveram a sua.

A diferença, no entanto, é que a discussão de Tresh e Rue terminou no beijo.

Peeta Mellark nunca viu Tresh em melhor forma, em nenhum momento de sua amizade juntos. Ele sorria frequentemente, se desempenhava melhor no trabalho, e se antes, Tresh era o cara com humor mais afiado que ele conhecia, depois do noivado, Tresh distribuía sorrisos. Era difícil ver quanto uma noite pode mudar uma vida. Quando Peeta perguntou à Tresh porque ele a perdoou, Tresh apenas disse: “Ela é minha. Eu a amo”.

E Peeta lembrou-se de Katniss novamente, como vem feito com frequência há três meses.

Na noite do Ravey Ravey Club, Peeta Mellark havia feito um acordo consigo mesmo: Não deixaria se afetar pelo noivado de seu amigo. Afinal, é a felicidade dele que estava representada ali. Além do mais, Peeta Mellark sabe que precisa esquecer a moça que fugiu e voltou. Peeta precisava se ver longe da Fênix.

— Você precisa de alguém novo, já sabe. — Começou Tresh, com o assunto que não deixaria de lado tão cedo. — 4 meses, Peeta, vamos lá! Eu ainda acho que você precisa e uma loira dessa vez. — Tresh sorriu e piscou malandramente.

— Que tal aquela ali, na esquerda? — Sugeriu Rue. — Ela parece uma boa.

Peeta virou-se para ver a mulher “que parecia uma boa” que Rue apontava. A moça sentava-se sozinha numa mesa, não muito preocupada com as pessoas ao redor. Tinha os cabelos curtos, nos ombros, envolvidos em ondas. Tinha a raiz dos cabelos castanha, deixando à mostra a verdadeira cor do cabelo. Peeta reparou quando a moça tirou os óculos escuros e atendeu o celular, resmungando palavras que ele fez questão de tentar escutar ao máximo.

— Tudo bem, Prim... bom trabalho.

É claro que ela “parecia uma boa”: Rue não a conhecia. Logo depois de apontar a loira para Peeta, Rue simplesmente entrou em uma discussão boba com Tresh e Finnick Odair entrou no assunto “loiras” recontando pela milésima vez a história da Glimmer, atraindo toda a atenção da mesa. Entretanto, Peeta entrara em transe, encantado: Conhecia aquela moça. Ele já havia visto-a, em muitos lugares: Battleship. Rusty Hook. Parrot’s Beak. Cornerstone. E agora, Ravey Ravey Club. Quando o garçom chegou entregando-a uma solitária taça de vinho, confirmou apenas o que ele já sabia.

Não era uma Doppelgänger.

— Eu acho que dessa vez, eu finalmente vou escolher uma loira. — Disse Peeta, para ninguém em especial.


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Notas finais do capítulo

é isso aí, sinceramente não foi minha melhor, Cornerstone é minha favorita, mas aqui está. Obrigada pra quem acompanhou até aqui, e desculpe se o final os desapontou hahahaha mas é a vida.



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