"Legal. Ficaria bonito."

"Ficaria bonito."

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Correndo pela pista, o garoto exibia a força de suas pernas movimentando-se numa grande velocidade, ultrapassando rapidamente aqueles que tentavam permanecer á sua frente. Os longos cabelos azuis presos em um rabo-de-cavalo dançavam em harmonia com o vento, contrastando-se com os passos ágeis que aquele corpo esguio realizava com tanta habilidade.

Repousando num banco próximo á pista, um garoto de cabelos dourados o observava, a admiração estampada em seu rosto delicado. Mesmo distante, podia ver a expressão determinada no rosto do azulado, naquele mesmo sorriso competitivo e desafiador que esboçava ao avançar cada vez mais em sua marcação. Aproximando-se do banco ao finalizar a ultima volta na pista comprida, aceitou a toalha e a garrafa de água que outro corredor lhe oferecera, sendo parabenizado em seguida por seu empenho.

Conversando com seus companheiros de clube, o azulado não notou o pequeno garoto que o fitava. Calado, o menor olhou para o chão, refletindo brevemente. Em seguida, levantou-se do banco em que se encontrava.

Um nome soou suavemente, fazendo com que o maior se virasse de encontro ao loiro. Segurando os cabelos acima da cabeça com uma das mãos enquanto apontava os mesmos com a outra, o garoto esboçou um sorriso tímido, acompanhado de um pequeno rubor que coloria suas bochechas morenas. Sua voz se fez soar novamente.

— Estava pensando em cortar o cabelo. Como acha que eu ficaria se usasse o cabelo curto?

O azulado piscou, estranhando sua pergunta. Confuso, observou a expressão significativa do menor. Sorriu.

— Legal. Acho que ficaria bonito.

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"Acho que ficaria bonito."

O ruído metálico da tesoura era o único som perceptível no quarto escuro. Fios seguidos de fios eram cortados em chumaços, caindo suavemente no carpete felpudo. Uma brisa morna entrava timidamente pela janela, tornando o ar agradável; porém, está sequer fora notada pelo que habitava o local.

"Ficaria bonito..."

Manuseando o instrumento de forma amadora, o garoto desfazia seu penteado, encurtando desproporcionalmente os belos cabelos que deixara crescer até os ombros. Não possuía consciência do que fazia, como se sonhasse acordado, enquanto realizava os pequenos movimentos com a tesoura. Seguia em um sussurro constante, que o estimulava a continuar.

— Ele disse que ficaria bonito...

Já havia tempo. Já havia muito tempo que fazia de tudo para impressioná-lo, para ganhar um sorriso de seus lábios, para receber seu olhar, sua voz, sua atenção. Já havia muito tempo que o admirava, que o esperava. Mas aquilo nunca fora o suficiente para que conseguisse o que realmente desejava.

Os fios caíam em quantidades menores, o trabalho estava quase por se finalizar. Cortando as ultimas mechas que resistiam ao novo visual, o garoto baixou a tesoura. Finalmente pronto, olhou-se no espelho.

Observou seu reflexo na superfície plana, fitando aquele que acabara por se tornar. Seus cabelos, agora curtos, possuíam um caráter estranho, contrariando sua personalidade ao arrepiarem desproporcionalmente nas pontas. Avaliando a si mesmo, o garoto acordou de seu sonho inconsciente. Aquele não era ele.

O que estava fazendo? Por que havia feito aquilo á si mesmo? Por que realizara um ato tão irracional? Já sabia a resposta de cor: Porque estava tremendamente apaixonado por aquele que tanto desejava impressionar.

Aquilo era tão injusto. Por que Kazemaru não podia enxergá-lo como ele o enxergava? Por que nunca via o quanto se esforçava para receber sua atenção? Será que realmente nunca notara seus sentimentos? Por que não podia simplesmente... Amá-lo?

Deslizando lentamente para o chão, o garoto se encolheu, abraçando os joelhos contra o peito. Passando os dedos delicados pelo carpete, apanhou um punhado das madeixas douradas que perdera, sentindo seu interior sangrar de tristeza e desilusão. Soluçando, deixou que seus olhos verdes libertassem as grossas lágrimas apaixonadas que tanto feriam seu coração.

Porque no fundo ele sabia. Miyasaka sabia que Kazemaru jamais corresponderia seu amor.