Friendzone escrita por Blue, Mary


Capítulo 19
"Sinto Muito"




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Preciso contar como tudo isso começou de verdade. Desde o começo.

 

Lily fugiu de mim mais uma vez, quando discutimos no meu apartamento, e aquilo era ridículo pois ela nunca fugiu de uma discussão assim, e essa foi a segunda vez que fez isso. 

Na semana seguinte resolvi voltar ao trabalho, simples assim, como se estivesse retornando das minhas férias em Ibiza. Lucy arregalou os olhos quando me viu e logo deixou o alívio tomar conta de seu rosto. Todo mundo estava extremamente surpreso com meu retorno, menos eu. Eu estava puto.

Conversei com ela por cerca de quarenta minutos e me atualizei do que havia acontecido nas últimas semanas: a fusão havia sido cancelada e pagaríamos um milhão e meio de dólares aos britânicos por quebra de contrato. Se eu estava feliz com aquilo? Óbvio que não, eu era químico, mas me importava o suficiente com os negócios para não querer perder dinheiro assim. Mas também não senti um pingo de remorso por Lily desistir daquela ideia idiota de fusão sem o meu consentimento. 

Lucy também me contou que minha sócia estava trabalhando normalmente e que estava bastante ocupada com os preparativos do casamento, que aconteceria dali a pouco mais de um mês. Meu coração apertou quando ela chegou nessa parte, mas eu já não sabia mais o que sentir nem o que pensar. Minha vida era uma bagunça completa, como quando produtores de tevê resolvem fazer mais uma temporada de uma série saturada pelo público e ninguém mais sabe o que está acontecendo. Ninguém tem o controle de nada. 

Eu não tinha o controle de mais nada na minha vida. Era assim que me sentia.

Fora o grande baque de anunciar a fusão e semanas depois voltar atrás, nada demais havia acontecido na empresa. Boatos de que minha relação com Lily estava estremecida já era do conhecimento de todos e ninguém parecia fazer questão de esconder mais nada. Ela havia mudado e eu também. Eu havia me apaixonado por ela e me tornado um cara mais responsável com o trabalho - até certo ponto, é necessário afirmar. E ela havia ficado noiva e estava diferente a ponto de não me fazer reconhecê-la.

E então começamos a trabalhar em horários diferentes, eu ficava no laboratório trabalhando apenas nas minhas fórmulas de sempre enquanto ela ficava em seu escritório e tinha reuniões em videoconferências. Não nos víamos nem nos falávamos, éramos como dois estranhos. E mesmo sem conversar, já sabíamos que eu não a levaria até o altar no dia de seu casamento. A verdade é que eu sequer sabia se iria ao casamento. 

Era bem provável que não. E para quê? Para me afundar ainda mais na merda? Não, obrigado.

Lucy tentava ser a ponte que iria nos unir, mas nada disso adiantou. A ponte que nos uniu, na verdade, foi uma pessoa que eu jamais imaginei ver e jurei que nunca mais veria por vontade própria: Diana Clark.

 

Numa quarta-feira de merda, nublada e fria, Lucy surgiu em meu escritório com uma encomenda enorme nas mãos. Pedi que jogasse fora ou levasse para doação, o Exército da Salvação estava cheio de presentes meus que eu não dava a mínima. Entretanto, ela resolveu ler o remetente, e lá estava eu mais uma vez, pálido como se tivesse visto um fantasma. 

Lucy repetiu o nome quatro vezes até que eu me desse conta de que era realmente Diana. Abri a encomenda depois que minha secretária saiu e lá estava um quadro com uma fotografia em preto e branco da Brooklyn Bridge num amanhecer perfeito, com o céu num misto de rosa e laranja. Não havia ninguém na fotografia, era impossível imaginar o esforço para conseguir aquela foto. No canto inferior direito da foto havia o nome: Diana Clark.

Um cartão veio junto do quadro, tinha seu nome e contato, e na parte de trás uma pequena mensagem:

 

Um presente para o cara que ama essa cidade como ninguém. 

              Espero que goste. 

                                                                      D.”

Porra, que merda era aquela? 

Claro que pensei nisso por cinco minutos e disquei o número dela. Eu era o cara mais idiota do universo, por que ia querer me enganar achando que não ligaria?

Ela atendeu no terceiro toque e eu travei ao ouvir o som de sua voz depois de quase uma década. Era como seu sorriso, eu jamais seria capaz de esquecer. 

— Mais cinco segundos e desligo. É sua chance. — ela ainda tinha essa regra idiota. 

Diana sempre atendia todos os números, desconhecidos e até os números privados, e quando a pessoa do outro lado não falava nada, ela vinha com essa regra estúpida. Na época eu achava fofo ela dar uma chance à pessoa de poder falar. 

Eu queria que ela tivesse abolido essa regra. Assim eu não teria tido chance de falar:

— Obrigado pelo presente. 

E então foi sua vez de ficar calada por alguns segundos. Meu coração bateu engraçado. Ouvi sua respiração e logo sua risada. 

— Tyler Reed. Fico feliz de ter acertado. Pensei em você no momento que tirei aquela foto. 

— Eu não estava esperando ouvir falar de você. Pra falar a verdade, achei que nunca mais ouviria sua voz. 

Mais um pouco de silêncio estranho.

— Por outro lado, sempre escuto alguém falando de você. Um dos empreendedores milionários mais cobiçados de Nova York. — Diana riu de novo e, confesso, até eu ri com essa. — É bom ver o que se tornou, Ty.

Por que ela estava me chamando de Ty? Droga, aquela era Diana Clark, a mulher que arrancou meu coração do peito, esmagou, jogou no chão, pisou em cima, botou fogo e assoprou as cinzas para que eu não tivesse mais chances de gostar de alguém. 

E quando eu finalmente gostasse, essa pessoa seria ninguém menos que Lily. Porra.

— Obrigado. — suspirei me lembrando aos poucos de como foi nosso último encontro. Ela nem merecia aquela conversa. — Bom, te liguei para agradecer pelo presente e desejar sucesso na carreira. 

— Obrigada. O que acha de um tomarmos um café? — eu queria ter tido tempo de desligar, mas ela foi mais rápida.                                                                   

Demorei mais do que imaginei para responder, então ela prosseguiu:

— Estou numa nova fase da minha vida, Ty. Sei o quanto te machuquei no passado, só quero uma chance de ser adulta e conversar com você. 

— O que houve? Carma? — sufoquei uma risada. 

— Talvez, se acreditar nisso. Só quero poder conversar contigo. E você sempre gostou de café, não pode recusar meu convite. 

Como ela era capaz de surgir assim do nada depois de anos e me fazer concordar com um café em menos de cinco minutos? 

Comecei a me odiar por aquilo, e então a me odiar mais ainda depois de desligar o celular após ter confirmado o café. Nos veríamos no dia seguinte, a tarde. E assim aconteceu. 

É necessário dizer que foi muito estranho vê-la de novo. Diana com certeza parecia ter trinta anos, mesmo tendo vinte e oito, como eu. E tudo bem, eram só dois anos a mais. Ela ainda era descolada, mas parecia cansada. Seus cabelos agora eram curtos, na altura dos ombros, e tinha mechas loiras. Passamos duas horas conversando sobre a vida e nos atualizando sobre tudo como se fôssemos bons amigos e de alguma maneira diabólica eu consegui aproveitar aquelas duas horas. 

Aquela foi a mulher que me traumatizou emocional e romanticamente, se é que posso dizer isso, e lá estava eu, tomando um cafézinho com ela. 

Eu realmente havia perdido o controle de tudo. E foi isso que Lily esfregou na minha cara quando falou comigo de novo depois de quase um mês de silêncio e desprezo.

Isso aconteceu numa sexta-feira gelada, mas com sol. O dia estava bonito e as pessoas estavam animadas como quase sempre é às sextas. Eu estava em minha sala, com meus óculos de proteção jogados na mesa enquanto trabalhava na planilha de cálculos para meu novo projeto, que só agora havia retomado. Olhei no canto da tela do computador e já era quase seis da tarde, mas o céu ainda estava claro. Em poucos minutos a noite chegaria e eu ainda estava ali, e aquilo agora era tão normal que eu até gostava. 

Era estranho.

Não ouvi a batida na porta e só percebi a presença de Lily quando ela chegou perto da minha mesa e se acomodou na cadeira à frente dela. Olhei para ela por cima da tela, mas permaneci calado. Eu estava morrendo de saudades, mas meu orgulho ardia no meu sangue e foi só por isso que me impedi de me levantar e abraçá-la apertado e dizer que odiava essa briga toda. 

— Faz tempo que percebi algo diferente em você. No começo eu não quis acreditar, mas era verdade. Bem, é. — era bom ouvir sua voz de novo, mas não era bom ouvir aquelas palavras. 

— Por que não vai direto ao ponto? — falei sem tirar o olhar da tela, mas a planilha já havia ido pelos ares. 

— Diana.

Travei na hora. Foi o suficiente para me fazer tirar o olho daquela merda de computador e olhar para Lily. Ela estava ardendo em raiva, e eu sabia disso porque sua sobrancelha direita estava arqueada igual a das vilãs da Disney. Sempre foi assim. Ela controlava a respiração para tentar diminuir a raiva, mas não controlava seu rosto e nem suas sobrancelhas. 

Em algum momento falar disso com ela foi engraçado.

— O que tem a Diana?

— Olha só, agora você fala o nome dela tranquilamente. Há alguns meses eu não podia sequer mencionar o nome da imbecil, e agora tudo bem. Vocês já são um casal de novo? Também vão anunciar a volta numa festa, como na época do colégio?

— Do que está falando?

Lily respirou muito fundo e soltou o ar devagar, e então olhou para sua direita e eu já sabia para o quê ela olhava: o quadro.

— Lucy me contou que ela veio aqui algumas vezes. Você se cansou de transar com as assistentes na sua mesa de trabalho? Agora só aceita ex-namoradas?

— Mas que droga de conversa é essa? Fica um mês sem falar comigo depois da maior besteira que você fez e quando vem conversar é nesse tom e sobre isso? 

Eu ia explodir em alguns instantes. 

— Você ficou mais de um mês trancado em casa, à beira de entrar em depressão ou algo do tipo quando ela terminou com você e seu pai faleceu, e eu fiquei do seu lado o tempo todo. O tempo todo! — ela se inclinou para frente, com mais raiva. Mas seus olhos brilhavam de um jeito diferente agora. — E agora você volta com ela? É sério, Tyler? Que porra de comportamento auto-destrutivo é esse? 

— Você está passando dos limites.

— Limites?! — ela então levantou e começou a andar pela sala como numa outra briga que tivemos. Espera, outras brigas. — Tyler, eu...— e então eu vi as lágrimas em seu rosto quando se virou. — Eu não consigo acreditar que você voltou com ela depois de tudo. Você chegou muito perto de se destruir e agora quer voltar a isso? 

— Por está falando como se fosse dona da minha vida?

— Porque me importo com você. — ela secou o rosto e parou no meio da sala, me olhando fixo, parecendo magoada com o que eu havia dito. — Porque eu te amo. 

O resto de coração que eu tinha congelou. 

Lily prosseguiu:

— Porque te amo desde um tempo que nem sei qual é. Porque você é parte da minha vida, Tyler, e porque eu não quero te ver afundar de novo como da primeira vez. Mas acho que isso já não faz diferença pra você e eu só posso lamentar. 

Eu queria falar, mas minha voz saiu como um sussurro ridículo, pior que o Pato Donald:

— Lil…

Ela suspirou pesado.

— Eu sinto muito. 

E então acabou com qualquer chance que eu tinha de formar uma frase que tivesse sentido quando veio em minha direção e me abraçou forte. Seus braços agarraram meus ombros e pescoço e senti sua respiração em minha pele. Não pude responder de outra forma que não fosse abraçá-la de volta, com a mesma força. 

— Sinto muito. — ela repetiu. — Por tudo. 

— Por tudo o quê? — recebi seu silêncio como resposta, mas em poucos segundos ouvi o que parecia ser o início de um choro e isso foi o suficiente. Entrei em desespero. — Lily?

Ela não me respondia nem largava de mim, assim eu não conseguia ver seu rosto. 

— Por que está chorando? O que houve? — tentei raciocinar enquanto sentia seu coração bater junto do meu, porém mais rápido. — Eu não estou com raiva de você porque fez a fusão sem meu consentimento, se é por isso que está chorando. Não consigo ficar com raiva de você assim, te amo demais pra isso. Lily?

— Shh, não é por isso. Eu só sinto muito, Ty. Sinto muito. 

Lily me abraçou mais forte ainda, como nunca, e então se soltou de mim aos poucos e ficou me olhando com os olhos vermelhos e um pouco inchados. Ela ficou com o rosto perto do meu, respirando sobre a minha pele, olhando fixo nos meus olhos de um jeito que parecia me ver por dentro. Meu corpo se arrepiou inteiro e eu juro que não conseguia mais me mover. Eu queria segurar seu rosto, dizer qualquer bobagem, mas nada acontecia com meu corpo além do meu coração bater rápido demais para seus padrões. 

Seus dedos deslizaram por meu rosto, cuidadosos. E então, em movimentos lentos, ela segurou meu rosto e se aproximou para me beijar na testa. Seus lábios encostaram na minha pele e ali ficaram por um bom tempo, o suficiente até ela começar a chorar de novo. Eu estava cansado daquilo tudo, era confuso demais. Por que havia entrado na minha sala e começado aquele assunto sobre Diana? E por que disse que sentia muito e agora não parava de me maltratar, pois não parava de chorar?

 Parte de mim queria ter o poder de simplesmente desaparecer, mas a outra parte, muito maior, queria poder ler a mente de Lilian e entender aquilo tudo porque a verdade era que ela jamais me contaria. Eu sabia daquilo como sabia que o céu era azul e não havia como contestar. 

E assim que se afastou de novo, ela me olhou mais uma vez e me deu um sorriso amarelo e então saiu, simples assim, me deixando mais perdido do que nunca. 

E então duas semanas se passaram e, pelo que Lucy me contou, Lily estava trabalhando de casa. Ela estava ocupada com os preparativos do casamento, que agora havia sido adiado. 

O casamento havia sido adiado. 

O. Casamento. Havia. Sido. Adiado. 

Fiquei pensando nisso por mais de meia hora no meu escritório quando ela me contou. 

Não havia sido cancelado, mas pelo menos foi adiado. O porquê ninguém soube me dizer, mas algo me dizia que eu não deveria ficar feliz com aquela notícia. Lily não estava bem e eu não conseguia encontrar uma maneira de me aproximar dela para saber o que estava acontecendo. Liguei algumas vezes depois daquela cena estranha no meu escritório, mas ela nunca me atendeu. Desisti depois de alguns dias.

E então Diana estava em minha vida de novo. Estar afastado de Lily era estranho e ela, de alguma forma estúpida que eu não sabia explicar nem para mim mesmo, preenchia esse espaço vazio. Mas sempre que eu me deitava para dormir e descansar, minha mente se voltava para Lily e meu coração apertava. Mesmo quando Diana estava deitada ao meu lado.

Quando eu era adolescente achava que aquela era a fase certa para fazer todo tipo de besteira e idiotice, mas depois descobri que não existe fase para isso. Agora, por exemplo, eu tinha quase trinta anos e continuava fazendo besteiras e idiotices. Uma pior que a outra, como transar com Diana de novo. E não havia nada de melhor no sexo dessa vez, era estranho, como uma experiência fora do corpo, mas no pior sentido. Eu tinha a visão dela por cima de mim, por exemplo, e era como se eu não estivesse ali ou assistisse tudo de fora. 

Minha vida era como um filme agora, eu era um mero espectador. 

 

E então cheguei até a noite que estava bebendo em casa com Diana, deitado em seu colo, quando Henry me ligou dizendo que Lily não havia aparecido durante o dia todo. Não posso mentir e dizer que não me senti lisonjeado quando ele disse que eu a conhecia bem o suficiente para saber onde poderia estar, porque sim, eu era bom nisso. E eu de fato sabia onde Lily estava, ela tinha um lugar preferido para ficar sozinha quando alguma merda acontecia e foi para lá que parti depois que desliguei o telefone, deixando Diana para trás. 

Ela provavelmente foi embora, pois não conseguia ficar sozinha no apartamento com Slash. Dizia que ele não ia muito com a cara dela e ficava agitado. Uma parte de mim se perguntava por que um cachorro não gostava de alguém, e a resposta nunca era boa.

Assim que saí do elevador do prédio, já a caminho da saída, eu já havia me esquecido de Diana. Era tão fácil agora. Saí chamando por um táxi, mas não foi tão fácil conseguir um como das outras vezes, porém quando um deles finalmente parou, já entrei dizendo o endereço do colégio onde eu e Lily passamos uma boa parte de nossas vidas e aventuras.

O segredo era a sala do zelador, lá havia uma portinha que dava para uma saída de emergência e, se subisse até o final das escadas, chegaria no telhado do colégio de onde era possível ver quase todo o bairro do Brooklyn. Na primeira vez que subi no telhado do colégio foi pelo lado de fora, durante as férias, no final de uma tarde de verão. Naquela tarde Lily estava muito feliz por um motivo que não me lembro, e me mata por dentro não me lembrar. Ela me mostrou aquele lugar e desde então eu sabia que aquele era seu lugar de segurança. E eu era o único que sabia disso.

Demorei quase duas horas até chegar no colégio e quase trinta minutos para conseguir subir pela escada de emergência do lado de fora. Era um caminho mais longo, mas entrar e passar pela salinha do zelador a essa altura estava fora de cogitação. Cheguei ao telhado com meus pulmões trabalhando na última potência, me lembrando que eu precisava voltar à academia urgente, e adivinhe só: Lily não estava lá. 

Meu coração desacelerou e meu corpo foi relaxando enquanto eu estava lá em cima, com o vento batendo forte no rosto, me lembrando que em breve o inverno daria as caras. Lily não estava lá. Mas que merda, aquele era o único lugar que ela poderia estar! 

Peguei meu celular e hesitei por uns cinco minutos, mas finalmente liguei para Henry. 

— Henry, é o Tyler. Alguma notícia dela?

— Não, até pensei que estivesse me ligando porque tinha notícias. — ele parecia nervoso na ligação, e eu não estava longe de começar a ficar igual. Mas que merda.

— Tudo bem, cara, aposto que ela deve ter ficado sem o celular e está voltando para casa. Só pode ser isso. 

Eu dizia aquilo mais para mim mesmo do que para ele.

— Não sei, ela não atendeu as ligações de ninguém o dia todo. Estou preocupado há horas, e agora a mãe dela também está. 

Ah, merda. 

— Onde você está? 

— No apartamento, esperando por ela. 

Eu não podia acreditar que estava sentindo empatia por Henry. 

Bem, na verdade, eu podia sim. Como não sentir? Ele estava preocupado com Lily, se importava com ela. Cuidava dela, e estava prestes a começar uma família com ela. Algo que eu jamais poderia conseguir. 

Foi como sentir uma agulha ser enfiada bem no meio do meu peito, perfurando meu coração. Ele a faria feliz e uma parte de mim estava feliz com aquilo. Lily merecia ser feliz e ter tudo de melhor que a vida pode oferecer a alguém. Contudo, ao mesmo tempo, eu estava mal por ela não ser feliz daquele jeito ao meu lado. Isso era o que eu mais queria.

— Em algum momento você pensou que Lily estava agindo de forma estranha? — perguntei a Henry sem sequer pensar no porquê de estar perguntando aquilo.

Ouvi-o suspirar.

— Várias vezes. 

Merda. 

— Henry, eu…

— Espere um min…

Houve uma sequência de sons que eu não consegui decifrar direito e logo ouvi vozes distantes. Fiquei perdido por um bom tempo, sem saber se deveria me preocupar ou não, mas ele logo pegou o telefone de novo e falou comigo, esbaforido:

— Ela está aqui. Está bem, está… aqui. 

Senti meus ombros relaxarem no mesmo instante. Pude respirar aliviado e só então percebi o quão nervoso essa situação toda havia me deixado. 

— Obrigado, Henry. — desliguei sem saber se ele tinha algo mais a dizer.

E então pela primeira vez em muitos anos senti um aperto no peito que me fez chorar. 

 


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