De Repente Um Conto De Fadas escrita por Rosyta Alonso


Capítulo 16
Capitulo 40


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Angie

Escrevo esta carta na esperança de que algum dia ela possa chegar as suas mãos.

Uma década se passou desde que você apareceu em minha vida. Acreditará se eu lhe assegurar que para mim nada mudou durante este tempo todo? Que não perdi a esperança de que um dia volte? Que ainda sinto seu perfume em minhas lembranças? Que nossa ultima conversa gira em minha cabeça como se tivesse acontecido ainda ontem?

Perdoe-me meu amor por não ter sido capaz de prendê-la aqui. Perdoe-me por não ter sido rápido o bastante. Tudo seria diferente se eu tivesse sido capaz de impedir que fosse levada para tão longe. Contudo eu não lamento nada. Os poucos dias em que passei ao seu lado foram os mais preciosos da minha existência. Então, agradeço todas as noites por tê-la em minha vida, mesmo que por tão pouco tempo. São as lembranças desses poucos dias que me mantém respirando.

Desejo fervorosamente que esteja feliz, onde quer que você esteja agora. Não posso suportar, sequer pensar que você não tenha tido uma vida feliz como merece.

Estou tentando encontrá-la, tenho falado com alguns estudiosos sobre o assunto, mas ainda não obtive nada satisfatório. Talvez acabe encontrando uma solução em breve, algumas coisas evoluíram por aqui. Talvez eu possa ir buscá-la.

Nunca desisti de encontrá-la. Por isso, não sou capaz de lhe dizer adeus. Pois sei que ainda nos veremos outra vez. E se, por sorte, algum dia puder ler estas linhas, não te esqueças que a amei desde o primeiro instante e a amarei até o ultimo. Talvez até depois.

Vemo-nos em breve.

Eternamente seu G.C

Meu cérebro parecia mingau. Ele tentaria me buscar? Abandonaria tudo por mim?

É claro que abandonaria! Da mesma forma que eu abandonaria. Mas é claro que ele não encontraria nada. Se nem os banheiros existiam no século dele, quanto mais máquina do tempo!

Dobrei a carta e a guardei. Não sabia o que pensar. Nem mesmo o que fazer. Eu só queria estar com ele outra vez, abraçá-lo e confortá-lo. Fazê-lo sorrir novamente.

— Sempre me perguntei quem era você. — ele começou, depois de um tempo. — Sempre me perguntei quem era a garota retratada há duzentos anos atrás usando All Star vermelho. — ele olhava para o quadro. — Como é possível?

Sacudi a cabeça, sem forças para mentir, não havia necessidade. Ele sabia a verdade.

— Não sei. Apenas sei que até duas semanas atrás eu estava lá, Violetta tinha ido até a casa da Camila e o German e eu estávamos no nosso lugar especial. De repente... eu estava aqui outra vez.

Seus olhos azuis, tão dolorosamente familiares, me analisavam atentamente.

— Você realmente esteve lá?

— Estive — sussurrei. — E preciso voltar. Voltar para o German e... — o soluço me impediu de continuar.

O rapaz delicadamente colocou sua mão em meu ombro,

— Vai ficar tudo bem.

— Não vejo como, — chorei desamparada.

— Nós vamos dar um jeito nisso! — Fran disse determinada. — Meu Deus, esse homem é louco por você! Você não pode deixá-lo escapar. Vamos encontrar um jeito!

Queria muito ter a mesma convicção que a Fran. Queria desesperadamente.

German estava infeliz por minha culpa. Infeliz por toda uma vida. E a culpa era minha. Toda minha. Foi um erro ter me envolvido com ele. Jamais poderia ter permitido que as coisas tivessem ido tão longe quando eu sabia que voltaria. Eu acabaria voltando, de uma forma ou de outra, sempre soube disso e, mesmo assim, correspondi apaixonadamente a seus sentimentos, arruinando sua vida. E agora não podia fazer nada para reparar isso.

— Como é seu nome? — perguntei ao rapaz, quando consegui me recompor um pouco.

— Lucas. — ele sorriu. — Ainda não acredito que isso está acontecendo. Meu pai vai pirar quando souber que esteve aqui. É surreal!

— Nem me fale, — eu disse infeliz.

Levantei-me da cama, tinha que sair dali. A urgência de encontrar a vendedora me dominou por completo. Eu encontraria um meio de reparar as coisas. Mesmo que eu não pudesse voltar. Aquela bruxa teria que consertar a vida do German. Ela devia ter poderes para fazer isso.

— Eu preciso ir agora. Obrigada por nos receber e contar o que sabe.

Ele se levantou também.

— Eu é que agradeço. Não imagina quanto tempo fiquei pensando nessa história. — ele sorriu e covinhas apareceram em suas bochechas.

Toquei seu rosto, incapaz de me conter. Toquei o presente que Violetta tinha me deixado.

— Você tem o sorriso dela. Da Violetta.

Ele sorriu ainda mais ao invés de se afastar.

— Sério? Olha, volte outras vezes, podemos conversar mais. Meu pai sabe um pouco mais da história da família. Talvez ele saiba alguma coisa que acabe fazendo sentido ou até te ajudando.

—Talvez, — suspirei.

Lutei contra as lágrimas até entrar no carro. Fran voltou dirigindo, eu não tinha condições para isso. Ela não disse nada o caminho todo, apenas me deixou chorar.

O que foi que eu fiz?

Mutilei o destino e fiz da pessoa que mais amava no mundo miserável. Atordoada como eu estava, acabei me esquecendo de perguntar por minhas coisas. Mas não deveriam estar lá, de toda forma, German devia ter escondido para o caso de alguém perguntar o que eram aquelas coisas estranhas.

— O que vai fazer agora? — Fran questionou, quando chegamos ao meu apartamento.

—Vou encontrá-la! — eu disse obstinadamente. — É tudo que me restou! Encontrá-la.

Fran não voltou para casa, ficou comigo sem me encher de perguntas, apenas estava ali, me emprestando seu ombro cada pouco, até minhas lágrimas secarem. Levou muito tempo para que secassem totalmente. Não dormi quase nada outra vez.

"Para construir uma máquina do tempo, primeiro precisamos de um buraco negro, que será o coração do equipamento. Para consegui-lo, pegue uma estrela dessas bem velhinhas, a maior que você encontrar.."

É claro que isso estava fora de cogitação.

"Um professor de Física norte-americano garante estar construindo uma máquina do tempo..."

Humm... Talvez, se eu ainda não tiver conseguido voltar para o German nos próximos meses... Talvez eu devesse mandar um e-mail...

Este parecia promissor: Como construir uma Máquina do Tempo. Não é fácil, mas também não é impossível.

"Encontre ou monte um buraco de minhoca. Pode ser que buracos de minhoca de grande porte existam no espaço profundo, herança do Big Bang. Se não encontrar nenhum, vamos ter que nos contentar com buracos de minhoca subatômicos. Esses buracos de minhoca pequeninos teriam de ser aumentados por um acelerador de partículas até atingir proporções úteis.

Estabilize o buraco de minhoca. Uma infusão de energia negativa, produzida por meios quânticos permitiria a passagem segura através do buraco de minhoca. A energia negativa impede a tendência do buraco de minhoca de se transformar em buraco negro.

Transporte o buraco de minhoca. Uma espaçonave, com tecnologia muito avançada, separaria as aberturas do buraco de minhoca. Uma abertura seria colocada junto à superfície de uma estrela de nêutrons uma estrela de altíssima densidade, com campo gravitacional muito forte. A gravidade intensa faz com que o tempo corra mais devagar. Como o tempo corre mais depressa na outra abertura, os dois extremos d0 buraco de minhoca ficam separados não só no espaço, mas também no tempo."

Beleza! Então eu só precisava encontrar um buraco de minhocas um acelerador de partículas um estabilizador de energia quântica, uma espaçonave com tecnologia avançada e uma estrela de nêutrons

Ah! É claro, descobrir como me transformar em uma minhoca!

Suspirei, frustrada.

Não estava dando certo! A internet não me ajudava em muita coisa. Muita baboseira e nada realmente concreto. Pesquisei sobre pessoas que diziam ter viajado no tempo, mas, quando investigava mais a fundo, eram apenas bêbados, drogados, malucos ou idiotas com muita imaginação. Meu desespero aumentava a cada movimento que o ponteiro do relógio fazia, e o tempo estava sendo cruel comigo. Passava depressa demais.

A carta do German me motivou ainda mais, porque se ele, que estava num lugar totalmente sem recursos, não desistiu, por que eu desistiria?

Ele queria que eu fosse feliz, mesmo que isso fosse impossível sem tê-lo por perto. Acho que talvez apenas não quisesse que eu fosse miserável. Então, tentei voltar para a minha vida. Tentei mesmo! Só que não parecia mais uma vida. Era como se eu estivesse ligada no piloto automático e apenas seguisse o fluxo.

Não desisti de encontrar a mulher, não desistiria enquanto ainda respirasse. Mas eu não tinha mais ideia de onde procurar.

Liguei para o escritório e expliquei que estava tendo problemas pessoais. Não me importei com as ameaças e os berros de demissão de Carlos. Eu disse que tiraria uma licença e voltaria assim que estivesse bem. Angelica me visitou e me trouxe chocolates. Fiquei feliz em revê-la. Ela disse que estava preocupada comigo. Inventei uma história qualquer por ter sumido e ela acreditou. Contou-me que o escritório estava insuportável agora, que Carlos berrava mais que o normal e me amaldiçoava todos os dias, logo seguido por "aquela filha da puta competente". Gustavo tinha assumido minha tarefas e não estava se saindo muito bem. Carlos estava fazendo da vida dos meus colegas um inferno.

Os dias continuaram passando muito depressa. Mal vi o mês acabar e recomeçar outra vez. Fui fazer a última prova de meu vestido de madrinha seria a madrinha da Fran junto com Zezão. O casamento aconteceria em uma semana. Foi doloroso e, ao mesmo tempo, prazeroso vestir um vestido longo outra vez.

— Talvez não estejamos olhando a coisa da perspectiva correta. — Fran disse, enquanto analisava meu vestido (justo até o joelho, depois se abria graciosamente como um rabo de peixe, de cetim lilás, tomara-que-caia, apenas uma alça finíssima toda bordada transpassando da frente do ombro esquerdo para a parte de trás do direito). German teria achado escandalosa a forma como o vestido se agarrava ao meu corpo, mas teria gostado. Quase podia ver o sorriso malicioso que apareceria em seus lábios quando me analisasse.

Suspirei.

— Que outra perspectiva, Fran? Só tem uma. Ela sumiu. O celular nunca mais fez nada em quase dois meses.

— Não pode ser. — ela sacudia a cabeça. — Se ela é realmente um... — ela diminuiu a voz para um sussurro. — ... ser com poderes para interferir assim no destino das pessoas, não pode permitir que vocês dois sofram dessa maneira.

— Eu não sei o que ela é. — não me importava também, contanto que eu conseguisse encontrá-la e a convencesse a consertar a vida do German. — Só queria que ela pudesse arrumar as coisas.

— Vamos, Angie, ela tem que ter te dado alguma coisa! Pense!

Eu pensei. Outra vez. Pela milionésima vez. Já tinha dissecado nossa conversa milhares de vezes e não tinha nada. Nenhuma resposta oculta, nenhuma pista, nada de nada.

— Não tem nada, Fran. — eu disse, exasperada. — Além disso, o que eu vivi com ele foi maravilhoso! Isso basta pra mim. Pelo menos, eu tenho as lembranças, não me importo de passar o resto da vida sozinha. — na verdade, trocaria de bom grado o resto da minha vida para poder passar só mais uma tarde junto dele. — Mas preciso fazê-la mudar o destino dele. Ele tem que ser feliz!

— Isso não é justo! Eu quero ver você feliz! — ela ficou desolada, assim como eu sempre estava nas últimas semanas.

— Eu sei. — suspirei. — Obrigada, Fran.

Ela sorriu, tristonha. Pegou uma caixinha na bolsa e me entregou.

—Toma.

— O que é? — perguntei examinando a caixinha. Retirei a pequena fita e abri. Um lindo colar prateado, com um pingente delicado da letra G brilhava no veludo negro. Olhei para ela sem entender.

— Comprei um pra mim também. — ela abaixou a gola da blusa, me mostrando o mesmo colar mas o dela tinha um D. — É tipo um colar de irmandade. Caso você precise sair correndo para algum lugar e nunca mais volte. — sorriu triste.

— Ah! Fran! Você é incrível! — eu abracei forte. Você é a amiga mais especial de todo o universo. Não preciso de lembretes para não te esquecer. Mesmo que eu pudesse sumir outra vez, jamais te esqueceria!

— Eu sei. E o pior é que eu queria muito que você sumisse de novo. Sou uma péssima amiga! — ela riu desanimada.

— Não é não! — contestei. — É a mais sincera de todas!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.

Comentem.

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