De Repente Um Conto De Fadas escrita por Rosyta Alonso


Capítulo 10
Capitulo 34


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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A grama amorteceu um pouco o tombo, ralei apenas um joelho e um pouco do cotovelo. Estava frio ali fora, o vento gelado trazia a umidade da tempestade que se aproximava. Não me importei com isso, eu tinha que sair dali. Precisava sair dali. Não podia suportar olhar para o German outra vez. Não podia suportar que ele me olhasse com piedade, depois de tudo o que vivemos.
Corri o mais rápido que pude, totalmente às cegas. Eu não tinha para onde ir, nem a quem recorrer, mesmo que tivesse que dormir ao relento pelo resto da vida, ainda seria melhor do que ser trancada em um manicômio.
As nuvens encobriam a lua e a noite escura não permitia ver para qual direção eu seguia, mas continuei em frente. Corri sem destino, na ânsia de me afastar do German o máximo possível. Eu queria fugir até mesmo das lembranças, que agora me dilaceravam.
A chuva fina começou a cair e deixou a grama escorregadia. Caí muitas vezes, mas não parei. Os raios e trovões iluminavam o céu vez ou outra. Agradeci por eles. Clareavam a noite sombria.
O vestido encharcado ficou pesado demais e correr se tornou impossível quando a chuva torrencial desabou de uma vez. Andei sem rumo por muito tempo. Acabei tropeçando e caindo novamente no mesmo instante em que um raio cruzou o céu. Reconheci onde estava. Reconheci em que tinha tropeçado. Não era a primeira vez que eu tropeçava naquela pedra. Peguei o celular na bolsa e apertei a tela freneticamente.
— Por favor. — chorei, mas nada aconteceu.
Encolhi-me, tentando suportar a dor. Abracei os joelhos e deixei minha cabeça tombar sobre eles. Rezei muito para que a vendedora pudesse me ver naquele instante e acabasse com a brincadeira,
— Me leva pra casa, por favor, — rezei baixinho. — Eu não quero mais ficar aqui! Me leva pra casa!
Eu não poderia ficar naquele lugar. Nunca seria a minha casa. Nunca seria o meu lar. Não sem o German.
Eu não podia suportar que ele me internasse num hospício. Não podia suportar que me visse como uma louca. Não poderia viver ali! Jamais!
E não queria acreditar que ele me usou.
Uma noite apenas!
Eu tinha que voltar para casa pra ficar sozinha, como sempre foi. Voltar para a vida vazia de sempre. Sem amor, mas sem dor.
Rezei para que, quando eu voltasse acontecesse um milagre e, como nos filmes, eu simplesmente esqueceria tudo que vivi ali. Porque eu queria esquecer o que vivi com German, esquecer suas falsas juras de amor, esquecer seus sorrisos, seu cheiro, nossas conversas, o que vivemos... esquecer tudo!
Fiquei ali sentada, encolhida como uma criança assustada, por muito tempo. Eu tremia muito, convulsivamente, cada parte de meu corpo se transformou numa pedra de gelo, mas eu não sabia se era de frio ou de medo. Eu não tinha para onde ir. Não sabia o que fazer. Jamais me senti tão sozinha!
— Por favor, me leva pra casa!
Estava tão gelada que não sentia nem mesmo o calor das lágrimas que rolavam incessantemente por meu rosto. Abracei-me mais, tentando me aquecer de alguma forma, mas a chuva gélida e pesada caía impetuosamente. A consciência começou a me escapar.
Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas me pareceu uma eternidade.
Como imagens fotográficas, um quadro por vez, vi algo se movimentar na escuridão. Não pude me mover, meus músculos pareciam estar congelados.
A coisa se aproximava a cada vez que eu abria meus olhos. Meu corpo estava fraco e dolorido, como se milhões de agulhas estivessem enterradas nos músculos. Pisquei algumas vezes e a coisa estava bem perto agora. A coisa bufou e uma nuvem de vapor se fez visível na penumbra.
— Angie! — alívio e desespero se misturavam na voz dele.
German.
Vi quando ele desceu da coisa preta.
— Storm? — tentei dizer, mas a voz não saiu.
— Angie, você está bem? — seus lábios tocaram minha testa com urgência. — Meu Deus! Está congelando! — tirou o casaco molhado e rapidamente me embrulhou com ele.
— T-t-tire as mãos d-d-de mim. — murmurei. Tentei empurrá-lo, mas estava fraca demais, tudo doía, o sono me vencendo.
— Vou levá-la para casa. — seus braços me envolveram para me levantar do
chão.
—E-eu tô t-tentando voltar para ca-casa. Me s-s-s-s-solte! — não conseguia conter o tremor, a dor nos músculos se tornava insuportável. Tentei empurrá-lo com mais força.
Não obtive sucesso. Ele nem notou que eu o empurrava. Levantou-me do chão com facilidade.
— M-me po-ponha no chão! — ordenei.
— Vou levá-la para casa, Angie. Agora! Você precisa se aquecer! — sua voz firme, segura, não deixou espaço para réplica.
Repliquei mesmo assim.
— Me-me-me s-s-s-s--solte. — sacudi os braços e as pernas, tentando descer.
Não foi boa ideia. Parecia que meus músculos se rasgava, quando eu os movia.
— Angie, você vai comigo, de uma forma ou de outra ! — ameaçou. — Ninguém lhe fará mal, eu prometo! Não tenha medo!
Desisti da luta. Não que tivesse acreditado nele, mas começava sentir a dormência dominar meu corpo inteiro. Sabia que não seria capaz de fugir, sentia a rigidez dos músculos minha força sendo sugada pela chuva.
German me colocou no lombo de Storm com dificuldade, depois subiu e me segurou firme com as duas mãos. Eu estava muito sonolenta, nem mesmo a chuva gelada espantava o sono. Deixei minha cabeça cair em seu peito.
— Logo estaremos em casa, você vai ficar bem! — German disse, me apertando mais forte. Fiquei furiosa comigo mesma por não ter ido mais adiante. Por deixar que ele me encontrasse tão facilmente e me levasse de volta sem meu consentimento. Ao que parecia, ninguém mais respeitava o que eu queria!
Escondi meu rosto em seu pescoço, exausta, tentando fazer com que a chuva parasse de alfinetar minha pele.
— Eu t-te ode-deio!— murmurei, fraca demais.
— Não me importo com isso. Não muda nada para mim. — o cavalo começou a se mover e eu comecei a escorregar para a inconsciência. — Vou amá-la por toda vida. — foi a última coisa que ouvi antes de cair no abismo escuro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.

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