My Calling escrita por Crystal


Capítulo 6
I am falling through the indigo kaleidoscope.




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O que os médicos suspeitavam era verdade, as células leucêmicas foram parar no meu sistema nervoso. Já faz uma semana que estou internada e as crises já estão parando, acho que logo vou poder voltar pra casa e só vir pra cá quando as sessões de radioterapia iniciarem. Bom, a radioterapia não foi totalmente eficaz na primeira vez, mas os médicos querem tentar de novo antes de começar a quimioterapia que é bem pior. Eu só quero que tudo acabe logo.

Desde que Wesley disse que gostava de mim e soube da minha doença, ele não saiu do meu lado. De vez em quando ele ia pra escola por conta da Laraine tê-lo feito lembrar que existe vida além da Coraline, foi muito sútil da parte dela dizer aquilo, ainda mais na minha frente. O Drew vem me ver todos os dias e quando soube que eu já tinha tido leucemia e não tinha contado pra ele ficou mais do que furioso, porém superou logo em seguida. De quem eu mais sinto falta é da Chloe, ela não veio me ver uma única vez, apenas me ligou poucas vezes. Sinto falta da minha amiga e não entendo o porque dela não ter vindo, sendo que até o Keaton veio umas quinze vezes.

O tempo parece não passar aqui dentro desse hospital, o Wes foi pra escola hoje e pelo visto todos sabem que estamos juntos - é o que eu acho pelo menos - e que eu to doente. Ontem a Melanie me mandou uma mensagem dizendo "Wesley está com você por pena, quando você passar dessa pra melhor, é nos meus braços que ele vai se consolar." e eu apenas respondi "Ok, consele-o por mim.". Não vou me rebaixar ao nível dessa prostituta de feira - se é que isso existe - e eu sei que vou morrer uma hora, é um fato cujo eu nunca dei importância.

– Laragnoit, você é milagrosa! - Wes entrou no quarto segurando uma folha e deu um beijo na minha testa.

– O que foi que eu fiz? - perguntei curiosa.

– Isso! - esticou a mão segurando a folha que na verdade era uma prova dele em que ele tinha tirado dez. - Meu primeiro dez! - o sorriso dele era enorme como se tirar dez fosse a coisa mais extraordinária do mundo, não desvalorizei a nota dele e o abracei.

– Parabéns. - nos afastamos e ficamos nos encarando num silêncio bom, ele começou a se aproximar para me beijar. - Wes, eu acho melhor não, eu to um pouco enjoada e com um gosto horrível na boca.

– Tudo bem. - ele me deu um selinho. - Você tem que melhorar logo porque eu não sei quanto tempo eu aguento sem te beijar.

– A gente se beijou ontem. - falei pegando a mão dele e entrelaçando nossos dedos.

– Exato, pra mim já faz muito tempo. - ri e ele sorriu pra mim.

– Sabe, se a dois meses atrás alguém me dissesse que eu gostava de você, eu teria enforcado a pessoa e jogado-a do pier da praia, mas agora eu ia apenas negar e dizer que... - ele me olhou esperançoso. - Que eu te amo. - disse fechando os olhos.

Senti sua mão segurar meu rosto e sua respiração ficar mais perto de mim. Pouco tempo depois nossas bocas estavam coladas e sua língua invadia a minha boca fazendo o gosto ruim e o enjoo irem para o espaço. Você pode até estar pensando "Que porra é essa de 'eu te amo'?" Mas o fato é que toda aquela minha raiva na verdade era rancor de uma paixão de infância não correspondida e que, por fim, eu descobri que era correspondida sim. Amor e ódio andam lado a lado.

– É Coraline, eu te amo e me arrependo de te guardado esse sentimento por tanto tempo. - ele respondeu sorrindo.

– A gente perdeu tanto tempo odiando um ao outro... - falei me ajeitando na cama para que ele sentasse ao meu lado.

– Como assim?

– Você sabe, Stromberg, logo eu vou morrer e sabe-se lá quanto tempo eu tenho com você. Talvez anos, mas talvez apenas algumas horas.

– Cora, se você ficar sempre pensando que vai morrer, você nunca vai ficar boa, é preciso ter fé em si mesma.

Quando eu descobri que tinha leucemia, a dois anos atrás, eu reagi de forma indiferente. As únicas pessoas que importavam eram a minha mãe e a Chloe, pessoas cujas estiveram presentes em toda a minha vida, mas agora, eu não quero morrer, eu quero viver clichês românticos e ter minha primeira vez com meu namorado num quarto cheio de pétalas e velas. Eu quero fazer um piquenique na praia, eu quero que ele me leve pra surfar, eu quero dormir com a camiseta dele, eu quero viver e quero que ele esteja comigo.

– Eu to com medo, Wesley, eu nunca me senti assim em relação a essa doença, mas agora... - disse e deitei na cama, acho que o remédio estava fazendo efeito, estava morrendo de sono.

– O que mudou?

– Você... - falei bocejando e caindo no sono.

Acordei com umas vozes no meu quarto, tinha certeza de que era a minha mãe e uma viz que eu conhecia, mas não a associava a ninguém.

– Wes? - falei abrindo o olho.

– To aqui, amor. - falou pegando na minha mão, ele estava na poltrona ao lado da minha cama.

– Achei que minha mãe estivesse aqui, juro que ouvi a voz dela.

– Ela tá lá fora falando com um homem que chegou aqui querendo te ver.

– Homem?

– É, acho melhor sua mãe falar disso com você, não gosto de me meter em assuntos familiares.

Eu não estava entendendo nada do que ele dizia. Quem é esse homem querendo me ver e que assuntos familiares? Tudo se esclareceu quando o tal homem entrou no quarto, ele estava exatamente igual a dez anos atrás, óbvio que com mais cabelos brancos e também mais gordo, mas eu me lembrava bem do seu rosto.

– O que você tá fazendo aqui? - falei sentando. - Mãe! - disse encarando-a.

– Filha, eu senti tanto a sua falta! - o homem se aproximou e me abraçou. Se ele tava achando que ia chegar, me abraçar e eu ia chamá-lo de papai querido, estava muito enganado.

– Filha? Primeiramente, me solta. Agora, me fala o que você tá fazendo aqui e porque?

– Eu vim ver você, sua tia me ligou e disse que tinha certeza que a menina com leucemia do hospital em que trabalhava era a Cora, minha Cora.

– Sua Cora o caralho. - todos me olharam espantados, inclusive Wes. - O quê? Você acha que abandona a mim e a minha mãe por um rabo de saia, não dá noticias, não ajuda financeiramente, não liga nem de vez em quando e agora vai vir com esse papinho de "Minha Cora"? Sabe quantos dias dos pais eu passei sozinha? Quantos aniversários eu esperei que você voltasse ou que pelo menos me telefonasse? Uma coisa é ter um pai morto, outra é ter um vivo que sabe que você existe e não a mínima. Você não significa nada pra mim.

– Cora, não foi bem assim... - ele falou sentando na cama a minha frente.

– Você acha que eu sou otária né? - falei rindo forçado.

– Paul, chega, ela não pode se irritar. - minha mãe falou.

– Eu só queria dizer que se precisar de alguma coisa, eu to disposto a ajudar. - ele falou levantando.

– Não quero nada vindo de você. - falei cruzando os braços e sem encará-lo. - Vai embora logo que você já poluiu demais o ar do quarto.


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