My Calling escrita por Crystal


Capítulo 5
I am Gus.


Notas iniciais do capítulo

Oie...



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– Já chegou, filha?

– Vou pro meu quarto, não quero falar sobre isso. - falei subindo as escadas.

– Ok, mas amanhã você não escapa.

To com uma dor de cabeça filha da puta e tudo o que eu quero é minha cama. É óbvio que o Wesley não é diferente de tudo o que eu imagino, é só ver como ele tratou a Melanie. Tudo bem que ela é uma piranha, mas ainda sim é uma garota e se ele trata as piranhas gostosas assim, imagina como vai tratar uma pálida raquítica, no caso eu. Minha vida já é fodida o suficiente - por mais que não pareça, em breve você vai ver que nada é o que parece. - e não preciso do Stromberg pra ajudar a fodê-la mais ainda. Incrível como eu falo palavrão seja qual for a situação. Acabei pegando no sono e quando acordei continuei na cama fingindo que tava dormindo quando na verdade estava assistindo a uma maratona de Cake Boss, muito útil minha vida.

– Já são quatro da tarde, não vai sair desse quarto? - minha mãe bateu na porta.

– To dormindo. - resmunguei.

– Eu sei que você ta acorda e que assistiu pelo menos uns cinco episódios de Cake Boss. - falou pela porta.

– Eu te odeio, sabia?

– Sim, eu sei. Se eu fosse você tomava um banho rápido e colocava uma roupa porque tem alguém querendo te ver aqui.

– Quem é? - perguntei.

– Desce e vê, eu não vou te contar. - resmunguei, mas levantei e tomei uma ducha e vesti um shorts jeans e um moletom.

– Tô aqui, mãe, já pode me falar quem é. - disse quando entrei na cozinha. - Wesley?

– Bom dia.- ele disse sorrindo.

– Eu não estava dormindo. - sentei numa das cadeiras da mesa e peguei uma das torradas que minha mãe sempre fazia de café da tarde. - O que veio fazer aqui?

– Conversar com você.

– Eu não tenho nada pra falar com você. - disse mordendo minha torrada.

– Eu vou deixar vocês mais a vontade. Cuidado com a minha filha, ela foi criada por homens da caverna e ainda não aprendeu a conviver em sociedade. - minha mãe falou e sumiu pela porta da cozinha.

– Irônico que quem me criou foi ela. - comentei.

– Cora, eu sei que você acha que eu só quero brincar com você, que eu não presto, mas eu não sou assim.

– Sei... E?

– E que eu gosto de você, Cora, gosto de verdade.

– Tá, eu não acredito em você.

– Caralho, você tem algum tipo de problema, garota? Porque você não deixa as pessoas se aproximarem de você? Porque você trata mal todo mundo menos a Chloe? Você é lesbica?

– Sou. - falei e ele me olhou espantado. - Sou lésbica, mas na horas vagas eu beijo meninos com aparência de menina, como fiz ontem com você.

– Bem engraçada, já pensou em ser palhaça de circo?

– Não, vou deixar a vaga pra você.

– Porque você não quer nem tentar? Eu sei que você sente algo quando eu te toco, quando eu te beijo... - falou pegando na minha mão, mas eu puxei-a.

– Nojo, repulsa, enjoo, é só isso que eu sinto.

– Ah, qualé, Cora.

– Wesley, por favor, vai pra casa.

– Ok, me acompanha até a porta pelo menos? - ele falou cabisbaixo.

– Tá... - fomos até a porta e eu a abri, ele passou por ela e se virou pra mim.

– Cora... - ficou me encarando e eu fiz o mesmo, ele segurou meu rosto e me beijou, não recuei, não tentei impedi-lo, não fiz nada além de corresponder. - Uma hora você vai cansar de mentir para si mesma. - falou quando nos separamos e foi embora.

Minha dor de cabeça ainda não tinha passado, na verdade ela só aumentou depois disso tudo. Tava tudo uma confusão e eu não sei o que fazer. O fato é que eu também gosto do Wesley, mas eu não posso, eu não posso me apaixonar e a coisa não tem nem mais a ver por ser ele e sim porque o "prazer" de amar e ser amada foi tirado de mim, eu simplesmente não posso. Além de dor, também estou um pouco enjoada, não aguento nem o cheiro do meu próprio perfume e quando me dei conta estava com a cara enfiava na privada, que deselegante, Coraline.

– Filha! - minha mãe falou quando entrou no banheiro e deu de cara comigo jogada no chão e a cara enfiada no vaso.

– Mãe, eu to com muita dor de cabeça... - falei fraca. Já não havia mais nada no meu estômago para vomitar, mas continuava com náuseas.

Minha mãe me colocou deitada no banco traseiro do carro e foi correndo para o hospital que eu já estava acostumada, mais do que eu gostaria até. Eu sabia, eu sentia que tudo aquilo estava voltando, eu tinha certeza que eu não estava livre dessa praga e teria que enfrentar tudo novamente, eu sempre soube até mesmo quando os médicos disseram que eu tava livre. Fui colocada num quarto e então não lembro de mais nada, apenas de cair no sono e depois ser acordada pela minha mãe.

– Filha, eles precisam fazer um hemograma - que é nada mais, nada menos que um exame de sangue.

– Mãe, você acha que...

– Xiu, só estica o braço e vamos esperar o resultado dos exames. - falou me interrompendo.

Senti a picada ardida da agulha e fiquei esperando pela volta da enfermeira com o resultado do hemograma, esperando que ela entrasse com um sorriso no rosto dizendo que estava tudo bem. Mas não foi isso que aconteceu, porque a enfermeira voltou e pediu para conversar com a minha mãe, pude ver através do vidro fosco da porta minha mãe começar a chorar e a enfermeira a abraçou.

– E então? - perguntei quando minha mãe retornou ao quarto.

– Bom, eles não tem certeza de nada, ainda precisam realizar uma tomografia, mas suspeitam que as células leucêmicas tenham ido para o seu sistema nervoso central.

– Eu sabia, mãe, eu sabia que eu não estava curada desse inferno... Dois anos de radioterapia jogados no lixo, voltou tudo de novo e dessa vez pior. - comecei a chorar.

– Filha, fica calma, vai ser pior pra você...

– Mãe, porque vocês insistem em me curar? Deixem-me morrer de uma vez, eu não quero fazer quimioterapia e ficar careca, eu não quero virar um queijo suíço de tanta picada de agulha, eu só quero ficar em paz.

– Filha, eu nunca vou desistir de curar você, nem por um segundo, para de falar besteira. Nós vamos passar por isso juntas, de novo. - disse chorando e me abraçando.

– Não chora, por favor, não sofra por minha causa.

– Você não tem culpa nenhuma, deita e relaxa, ok? Vou comer alguma coisa na lanchonete e ligar para a Chloe. - assenti. - Você tá com fome? - neguei.

Bom, dois anos e meio atrás eu fui diagnosticada com leucemia linfoide aguda, muito comum em crianças - eu já tinha quatorze anos. - e não foi nada fácil pra minha mãe e para a Chloe, fiquei afastada de tudo e pedi para que minha mãe falasse a todos que eu estava com o meu pai - mesmo não tendo ideia de onde esse filho da puta está. - e as únicas que realmente sabem do que ocorreu é a minha mãe, a Chloe e a diretora da minha escola. A seis meses eu tive alta do hospital e os médicos disseram que eu não tinha mais células cancerígenas e só tinha que tomar um remédio todos os dias. Voltei a viver minha vida normalmente, fingia que nada tinha acontecido e fui levando a vida numa boa, mas eu sabia que não estava cem por cento, eu sempre soube. Por conta disso, evitava relacionamentos com meninos que durassem mais que duas semanas, tranquei meu coração com sete chaves e me tornei esse poço de simpatia e felicidade. Por isso também eu não posso ficar com o Wes, eu não posso deixar que ele goste de mim porque ele vai sofrer e eu não quero ninguém sofrendo por minha culpa.

– Me diz que é mentira. - Wesley entrou no quarto como um furacão e se aproximou de mim. - Me diz que o que o meu irmão me contou a dez minutos atrás é mentira.

– O que ele te contou?

– Você não tem leucemia!

– Infelizmente, é verdade... - falei e ele me abraçou.

– Eu to aqui pra tudo, eu vou te apoiar cada minuto da minha vida, eu não vou sair do seu lado nunca mais...

– Wes, você não entende. Você não pode, você tem que viver sua vida, você é saudável, você não tem uma doença que vai te matar logo, logo.

– Cala boca, Coraline, você nem ninguém vai me impedir de ficar com você. Nem essa leucemia.

– Você fala como se...

– Como se gostasse de você há anos e não tinha coragem de admitir. Sim, exatamente isso. - uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

– Sabe o livro "A culpa é das estrelas"? - perguntei e ele fez que sim. - Eu sou o Gus e você é a Hazel, eu não quero que você sofra quando chegar a minha hora, eu não quero que você perca seu tempo criando esperanças por mim sendo que minhas chances são mínimas.

– Mesmo que suas chances fossem nulas, eu não ia te esquecer.

– Não faz isso com você mesmo, você tem muito que viver ainda...

– Você também tem e se for pra eu aproveitar minha vida, vai ser com você a não ser que você não sinta nada por mim. - arqueou uma das sobrancelhas.

– É óbvio que eu gosto de você, Stromberg.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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