Pov. Peter

 A semana se passou bem arrastada e estava tudo estranhamente normal. Se é que existe normalidade nesse lugar aonde eu vivo. 

Meu pai ligou algumas vezes nos dias de ligação mas eu evitei falar com ele. Já que ele me prendeu aqui, porque não me esconder dos problemas também? Não estava a fim de começar a me preocupar com coisas desnecessárias antes do tempo.

—Gente! Gente! Gente! - As meninas apareceram na hora do intervalo e Leah estava fazendo um escândalo - Já souberam da nova? 

—Já - respondi cortando o barato dela - Agora pare de gritar! 

—Sem graça, não estou falando de sermos liberados mais cedo na sexta feira - ela revirou os olhos - Isso eu já sei! 

 Sim. Por problemas no encanamento da escola estamos sem agua a um dia e meio, então vão nos liberados na sexta feira de manha. No caso, amanha bem cedo. 

—Então, o que é? - Perguntei.

—É aniversario do Jonah no sábado. Vou dar uma festa! - Ela saltitou empolgada. Jonah sentado do meu lado deu de ombros como se nem soubesse dos planos da irma. - Convidei todo mundo, to planejando uma coisa extraordinária, vai ser uma festa incrível... 

 Olhei confuso pra Izzy que estava atras dela me encarando enquanto segurava seu caderno de desenhos. Fi a maior car de confuso que consegui e ela respondeu minha pergunta silenciosa dando de ombros como quem diz, também não entendi nada. Leah não parava de falar por um segundo, gesticulando pro ar e as vezes dizendo coisas que não tinham nada haver com o assunto inicial.

—Gente, vocês vão né? - ela perguntou ansiosa depois de recuperar o folego.

—Esta perguntando pra mim se eu vou a uma festa? - brinquei - Isso é alguma piada?? 

 Ela revirou os olhos e se jogou na cadeira a minha frente. Izzy ignorou os falatórios dela e se sentou do meu lado encostando a cabeça no meu ombro e suspirou. Leah parecia ter engolido um radio velho, ela simplesmente não parava de falar e parecia que não era só pra mim que ela estava dando dor de cabeça. 

 Izzy gemeu baixinho apertando os olhos com força. Peguei sorrateiramente na sua mão por baixo da mesa, enquanto fingia prestar atenção em Leah. Ela apertou meus dedos satisfeita, eu pude sentir ela sorrindo contra o meu ombro.

  Eu preferia não chamar atenção quando ela estava por perto. Se a senhora Addans sonhase com o que estava acontecendo entre mim e ela, nunca mais teríamos paz. O instituto não permite namoros. E era capaz dela colocar um guarda pra me vigiar 24 horas por dia pra ter certeza que não estávamos fazendo nada de errado no quarto dela depois das dez da noite.

—E ainda bem que as meninas vão me ajudar, não é Izzy! - Leah continuava falando animada. Sorriu amarelo pra Izzy enquanto piscava os olhos freneticamente numa tentativa falha de ser fofa.

—Eu vou é? - Izzy perguntou - Não tava sabendo disso! 

—Mas ficou sabendo agr! - Leah se levantou e agarrou a mão da Izzy a puxando de mim. Isabelle não soltou minha mão nem quando Leah a puxou de novo. - Vem tem que me ajudar, precisamos da Marina. Temos que resolver algumas coisas, falta dois dias! 

—Ah cara, eu nem comi ainda... Não deixe ela me levar pelo amor de Deus! - Isabelle implorou pra mim fazendo biquinho.

—Isso é muito tentador! - Eu sorri pra ela

—Tentador vai ser a minha mao na sua cara garoto. Solta ela agora - Leah disse se colocando no meio de nos dois e soltou Izzy de mim com um puxão - Vocês vão ter muito tempo pra se agarrar mais tarde...

 Mesmo depois que elas saíram do refeitório eu ainda ouvia a voz da Leah discutindo com Isabelle.

 Eu sorri meio perdido com essa coisa de festa. Jonah não parecia muito animado e nem preparado. Leah parecia um furacão, ela veio devastou tudo e foi embora levando Isabelle com ela.

—Então, 17 ou 18 anos? - Cutuquei Jonah - Porque eu jurava que você ia fazer 10 ou coisa do tipo! 

 ...

 Na manha seguinte eu acordei feito um furacão. Sexta feria, traduzindo: Liberdade! E hoje era um dia mais que especial por que íamos poder sair a qualquer hora do dia. 

 Eu tomei um banho bem rápido depois fiz as minhas malas colocando só o necessário. Nem fiz questão de tomar café, só queria sair dali, sair dos olhares dos inspetores que tanto me odiavam e que estavam me irritando com essa palhaçada de "100% de olho em você". 

 Depois que recuperei meu celular e o segurança veio me avisar que meu carro já tinha chegado eu acabei encontrei Leah no caminho, totalmente focada num bloco de notas.

—Hey Leah! 

—Oi Peter - ela fechou o bloquinho e sorriu pra mim. -Já esta indo?

—Já. Cade a Izzy? 

—Ela não saiu do quarto ainda, tava arrumando umas coisas.

—Hum - gemi em frustração. Não ia dar tempo de falar com ela. - Ta, eu não posso espera meu motorista já esta ai, então, diz pra ela que eu a procuro depois! 

—Beleza. A gente se vê amanha na festa né?

—Com certeza - eu ajeitei a bolsa - Tchau.

 Caminhei direto pro portão desesperado pra sair dali. Pela primeira vez depois da viagem pisar em um solo que não seja do instituto mudou meu dia. 

 Assim que passei pelo portão meu motorista me viu e abriu a porta do carro pra mim. 

—Bom dia Sr. Wayland! - disse ele. Eu o cumprimentei com um aceno de cabeça. 

 Entrei e ele fechou a porta. Só pelo cheiro que estava dominando ali dentro do carro, cheiro de perfume muito caro. Eu sabia, na verdade tinha certeza de que não estava sozinho! 

 Virei minha cabeça mecanicamente pro lado respirando fundo, sabendo exatamente o que veria. Ela sorriu pra mim como um maniaco, estendendo os braços na minha direção, o rosto perfeito se curvando pra mim.

 Eu teria pulado pra fora do carro nesse exato momento se ele não tivesse em movimento.

—Oi filho, que saudades! 

[...] 

Pov. Izzy

Leah tinha acabado de ir embora e me avisado que Peter já tinha ido. Fiquei com raiva e até decepcionada. Deveria ter descido mais cedo e arrumado minhas coisas ontem a noite pra conseguir ter me despedido dele.

 Mas eu e Leah ficamos fazendo contagem das pessoas que ela convidou e pensando em decorações pra festa e tudo mais. Ela nem se quer me deixou sair do quarto ontem a noite, falou que Peter ia me distrair e ela precisava de mim concentrada.

 Eu já estava lá fora esperando minha tia, ansiosamente. Ela ainda estava me cobrando detalhes da viagem que eu não quis falar por telefone porque a direção monitorava as ligações. Queria poder ver o Arthur e mexer nas minhas coisas de novo. Tinha combinado com Leah que iriamos sair hoje a noite, uma coisa só de garotas e resolver os últimos detalhes da festa.

—Seu carro chegou Senhorita Monroe. - O segurança do portão me avisou já que eu estava distraída.

 Mas não era o carro vermelho da minha tia. Era um carro que eu muito conhecia, um carro longo e prateado. Uma limusine. E infelizmente ela abriu a porta de trás para mim.

—Isabelle. Esperando a vovó? Sentiu saudades?- Ela sorriu sem sair do carro.

 Eu. Não. Acredito. 

 Sim, era ela. Minha avó, insuportável e que me odiava.

—O que você ta fazendo aqui? Cade a minha tia?

—Eu sou responsável por você, não a Josie. Entre no carro, vamos para casa! - elas escorregou pro lado e bateu a mao no lugar ao seu lado.

 Eu bufei indignada. Deus não poderia ser tao ruim assim comigo ao ponto de me fazer passar o fim de semana com essa bruxa. Eu já passo a semana no inferno. Porque o fim de semana também?? 

—Eu não vou embora com você. Nem fudendo, ta maluca? Vou ligar pra minha tia! - Falei resgatando o celular no bolso de trás da calça.

 Ela suspirou dentro do carro.

—Mais cuidado com o linguajar querida, vão achar que foi criada com mendigos - Eu a encarei - Entre no carro agora. Você não vai ligar pra Josie, não vai passar o fim de semana la. Vai ficar comigo. Com a sua avó! - disse do jeito mais doce que ela conseguia.

—Eu não sou obrigada a ter que olhar pra sua cara! - eu gritei no meio - Eu não vou com você!

 Dei meia volta e comecei a caminhar de volta pro instituto, ela gritou meu nome varias vezes e quando ouvi a porta do carro abrir eu me virei e observei o motorista sair de dentro do carro.

—Isabelle Monroe! Se você não der meia volta e entra neste carro agora, ele vai coloca-la a força!