Choose Your Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 10
Golden Eyes pt. 2


Notas iniciais do capítulo

SIM TEM PARTE 2 AQUI MINHA GENTE!



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Rafa controla a respiração e encara a luz vermelha em sua frente. É uma luz bonita, mas machuca seu estomago com uma dor incessante. A dor parece que nunca vai acabar e só o que ele pode fazer é focar em sua respiração. Inspirar e respirar, inspirar e respirar. Seus olhos sem movem tão lentamente que ele parece estar tonto quando os foca na jaula atrás da formação tríade de Marta, Leticia e Carolina.

         Roberto havia acordado novamente e agora fixava seus olhos verdes nele, gritando palavras inteligiveis para ele no momento. Ele gostaria de poder responder, mas inconscientemente apenas sorri. Foi bom ter te conhecido.

         O outro pareceu ter entedido ao recado porque começou a se mover contra as barras frenéticamente.

         - Ele não pode fazer nada agora – Neemias respondeu com sua voz cortante à pergunta que Rafa não tinha escutado. – Estamos tirando todo o poder que ele tem.

         Estamos.

         Rafa gira seus olhos para as aliadas do Espirito e só nota agora que seus lábios se movem rapidamente ao mesmo tempo. Um feitiço? Todas elas sabiam fazer um feitiço?

         Um solavanco o atinge e Rafa de repente se pega sem ar. O zumbido em seus ouvidos aumenta e a luz vermelha vai ficando cada vez mais intensa. Seus olhos imploram por se fechar e seu corpo começa se cansar de tanta resistência contra tanto poder.

         Mas então um estrondo de algo se partindo no oriente muda tudo.

         De repente o ar volta a consumir seu peito e seus sentidos voltam mais fortes. Um pensamento de que Fernando não o perdoaria se ele morresse ali queima seu consciente e não resta mais nada a pensar além disso. Como se o próprio loiro estivesse ali o forçando a não pensar em qualquer outra coisa. O forçando a não desistir.

         E então ele se levanta.

         Neemias percebe isso e seu sorriso débil desaparece.

         - Mas o quê? – ele pisca duas vezes para Rafa como se na esperança de que a cena mudasse. – Isso não é possivel! Você não pdoe aguentar isso!

         Contrariando suas palavras ele se levanta com suas pernas eretas e contraí o peito contra a luz vermelha. O vilão se irrita e seus olhos Dourados ficam arregalados de mais para o rosto pequeno de Neemias.

         - Não!

         Mas Rafa não escuta suas palavras. Ele ergue os braços acorrentados e abre as mãos. O feixe de luz começa a ficar mais fino conforme o gesto.

         - C-como? – Leticia explode logo atrás dele.

         - Continue o feitiço! – Carolina retruca em desespero.

         - Chefe! – Marta comete o erro de pisar um passo à frente.

         Neemias vira sua cabeça com tudo para ela e Rafa tira proveito da situação para empurrar a luz. Sua barreira é capaz de ser sentida dentro de seu cérebro e assim com o simples ato de respirar, ele a manda mais para frente.

         Os olhos Dourados do outro se voltam para ele, mas é tarde demais.

         O corpo de Neemias é lançado para trás e suas costas se arrastam contra o chão até ele bater a cabeça na jaula. Seus olhos não se abrem.

         As três aliadas encaram chocadas de seu Rafa para seu Chefe. De seu Chefe para Rafa.

         Nenhuma delas diz nada e Marta é a primeira a tentar avançar.

         Porém, uma forma escura entra no caminho dela.

         - Isso já foi longe demais – Neemias, com os olhos fechados, se vira contra Rafa. – Hora de morrer.

         Quando ele abre os olhos Rafa sente a pior dor do mundo voltar, com todo um peso e seus joelhos começam a ceder. Aflito, ele se volta para as três vilãs e aponta com um dedo.

         A brisa nem faz suas roupas levitarem.

         Marta ri.

         Neemias dá um passo e Rafa se prepara para o golpe final de olhos fechados.

         Ele espera e... Nada acontece.

         O ar começa a ficar menos pesado e um pouco mais quente e ele fica confuso o suficiente para recorrer a abrir as palpebras novamente.

         E o que ele vê quase tira sua respiração novamente.

         Uma faca está cravada contra a mão de Neemias e esse geme enquanto tenta tira-lá com dificuldade.

         Ao mesmo tempo pares de pernas magras e fortes embaçam a visão de Rafa e alguém o puxa para que ele fique em pé de novo. Seus olhos castanhos confusos encontram azuis aliviados.

         - Achamos você – Fernando suspira e o segura pelo cotovelo. – Não vamos deixar você ir nunca mais. E se tentar de novo – ele o avisa com um tom ácido. – Eu mesmo te mato.

         Rafa o encara perplexo.

         - Como me achou?

         Fernando dá de ombros, o encarando intensamente.

         - Acho que sou sua Âncora afinal de contas.

         Ele olha ao redor para Andressa, Lizz, Eduardo, Carla e Érika que estão em seu caminho. As cabeças viradas para as quatro ameaças logo à frente.

         - Como conseguiram chegar aqui?! – Leticia guincha perplexa. – Eu usei uma barreira!

         Henrique dá uma risada gutural parando ao lado de Rafa.

         - Quem sabe da próxima vez, quando for fazer uma barreira, não a coloque no meio da uma mata cheia de soluções para quebra-la.

         - Mas é só uma dica – Eduardo pisca de lado.

         - Devolvam Roberto para nós – Andressa aponta o que parece ser uma adaga na direção de Neemias. – Ou vão morrer!

         Os olhos Dourados do Espirito pousam em cada um deles sucessivamente. E então ele ri. Uma risada repicada que ecoa por toda a ponte nebulosa e joga o capuz para trás, revelando o cabelo revolto de seu hospedeiro.

         - Isso vai ser divertido – ele se vira para as três aliadas. – Peguem Rafael Capoci para mim, custe o que custar!

         Marta salta, Carolina corre e Leticia anda lentamente com as mãos erguidas para o alto.

         Seu Pack não fica parado olhando e se joga contra a ameça eminente. E por mais que ele gostaria de ficar só olhando suas costas sabia que não conseguiria.

         Ele se jogou atrás deles fixando os olhos nos do rival.

         Marta era rápida. Se quisesse, já poderia ter se materializado atrás do loiro ao lado de Rafa e quebrar seu pescoço. Mas Vampiros corriam conforme sua natureza e personalidade, e a dela era direta e volátil. Ela sibilou na direção de um garoto tolo que cheirava a sangue humano delicioso e o escolheu como vítima.

         Mas então uma forma de cabelo loiro entrou em seu caminho. Não demorou muito para ela enxergar seus olhos Dourados e perceber que se tratava de uma Beta. Uma licantropa.

         Ela riu quando as duas se colidiram e a chutou com força na barriga. Por mais que tenha batido com toda sua força, Érika crispou as unhas e tentou arranha-la. Mas graças a velocidade e percepção de Vampira, Marta conseguiu desviar e pega-lá pelo braço.

         - Olá lobinha – ela a sacudiu e a socou no rosto. – Vai ser um prazer devorar todo esse seu sangue imundo.

         - Devore isso!

         Marta virou a cabeça e desviou do punho de uma garota mais encorpada. Ela largou Érika que caiu como um baque no chão e tentou chutar sua nova inimiga. Mas a morena desviou e pegou seu pé com força para passar suas pernas e derruba-lá com um rasteirão.

         Ela se recompos e ficou a alguns passos de diferença.

         - Belo golpe – riu. – Aprendeu com sua seita que anda pelada às noites de lua cheia?

         - Não importa para você! – Carla rugiu. – Logo tudo o que aprendeu sendo essa criatura repugnante vai sumir com você quando eu arrancar sua cabeça!

         Marta avaliou e notou que seus olhos haviam mudado.

         - Oh – ela riu novamente. – Não deveria ter mais um aqui com olhos Vermelhos?

         - Nós não precisamos de dois Alfas para acabar com você – Érika trovejou. – Eu posso te matar sozinha.

         - Duvido.

         Um silvo a fez perceber a aproximação de Carla e as duas se encararam com os dentes expostos.

         - Cale essa boca e lute – ela a pegou pelo colarinho da roupa. – Ou morra!

         E a socou com força.

Eduardo encarou a jaula onde o namorado de Rafa, Roberto, encarava todos eles com pavor. Talvez a batalha que para o moreno era algo corriqueiro, para ele fosse como um filme novo de ficção sendo trazido a vida real. O loiro o encarou.

— Vai me tirar daqui?

Edu agarrou as barras e assentiu.

— Eu vou tentar. Mas me prometa uma coisa.

Roberto esperou.

— Não tente entrar na luta.

Ele parecia querer dizer algo, mas então arregalou os olhos.

— Se abaixa!

Eduardo o fez e depois rolou para o lado.

O chão onde seus pés estavam agora queimavam com um fogo roxo e estranho. Ele levantou os olhos e Leticia andava até ele com as duas mãos pálidas erguidas.

— Rafa Capoci devia estar morto a essa altura do campeonato – ela não desviou os olhos dele enquanto dizia. – Você e seu bando já estragaram nossos planos demais.

— Viva eu por isso – ele se levantou e contraiu os punhos. – Vai ser um prazer saber que alguém do meu bando vai acabar com o plano doentio de vocês.

Leticia semicerrou os olhos.

— Você não entende!

— E eu nem quero – ele invocou o fogo nos dois braços. – Só vamos acabar logo com isso. Com você.

Mas justo quando Leticia parecia querer dizer algo mais algo fez com que ela caísse com tudo no chão. A forma invisivel prensou sua cabeça contra o chão.

— C-caçadora – disse a Bruxa no meio do engasgo.

Andressa apareceu e aproximou a adaga de seu rosto.

— Nós encontramos de novo. Parceira ela jogou o cabelo atrás dos ombros e olhou para Edu. – Quebre a jaula!

Eduardo a fitou por um segundo antes de fazer o que ela pediu. Era impressão sua ou Andressa parecia mais... Confiante?

O fogo em suas mãos começou a esquentar as barras da prisão de Roberto, derretendo o ferro delas.

Carolina passou por entre as lutas que se seguiam com a arma eguida e apontada na direção de Rafael Capoci. Era com ele que aquilo tudo havia começado e era com ele que tudo aquilo terminaria.

Ela apontou para sua testa pálida e aproximou o dedo do gatilho.

Algo a acertou no crânio e a dor fez com que a região acertada quebrasse sua concentração. Com frustração, ela abaixou a arma e se virou para um garoto comum de cabelo escuro com várias pedras nas mãos.

— Você não está falando sério – ela balançou a cabeça. – Por acaso quer morrer?!

Henrique sorriu em sua direção.

— Eu não me importo – ele começou a mirar outra pedra. – Se for por uma boa causa.

— Então morra por sua causa – Carolina ergueu a arma.

— Pare!

Ela suspirou e rolou seus olhos para a sua esquerda. Uma loira de jaqueta preta a encarava decisivamente. Em uma de suas mãos ela também carregava uma arma.

— Interessante – Carolina riu sentindo a ironia. – Muito interessante. Vamos ver quem tem a melhor mira.

Ela percebeu outra pedra vindo e mirou no garoto. Uma forma de luz a cegou e braços a empurraram contra o chão. Lizz lutou em cima dela tentando fazer com que ela ficasse imobilizada.

Irritada, Carolina a chutou bem no meio das pernas e a pegou pelo cabelo sedoso.

— Se for lutar ao menos prenda essa merda! – ela afundou sua cabeça no asfalto. – Você não é uma caçadora de verdade!

Ela a tirou de cima dela e apontou com a arma na cabeça dela. Lizz tentou fazer seu flash de luz voltar, mas a Atiradora a chutou no rosto. Depois chutou de novo. E de novo. E de novo no queixo.

Quando ela caiu de costas no chão, Carolina ergueu a arma novamente.

— Brilha, brilha, estrelinha.

Ela sentiu algo vindo em sua direção de novo e se preparou para a pedra. Mas o que a atingiu na mão fez com que ela arfasse de dor e largasse a arma no chão. Carolina se afastou da caçadora e olhou o sangue em suas mãos... E o machado de ponta afiada cravado nela.

— Quem é vivo aparece.

Ergueu os olhos e encontrou uma moça familiar de jaleco branco e cabelo ruivo cacheado. Layane Colombo tinha olhos frios e azuis, sedentos de raiva e rancor.

— Layane? – ela respirou desesperada. – Se você está aqui, então...

— É. Eu também estou.

Carolina se virou e seu coração começou a bater erraticamente quando reconheceu o cabelo castanho da outra.

— Anna.

A Chefa dos Atiradores tinha os braços cruzados e os olhos por detrás dos óculos de grau pareciam decididos. Como se estivessem esperando aquele momento por toda uma vida. E estavam mesmo.

— Lutando com crianças que não são da sua idade – Carolina tirou o machado e apertou a ferida. – O que você se tornou, hein?

— Algo bem diferente de você e seu circo de aberrações – Anna balançou a cabeça e guardou os óculos dentro do jeans. – Acabou Carolina. Se renda.

A Atiradora largou a arma no chão e ergueu os punhos.

— O que pensa que está fazendo?

— Como nos velhos tempos, lembra? – ela arfou e socou o ar. – Hora das damas da Amazona lutarem. De novo.

Anna ergueu o queixo com indiferença.

— Sabe que se lutarmos agora só uma vai sobreviver.

Carolina riu e posicionou os pés no chão.

— Estou disposta a correr esse risco.

Com um olhar inseguro para Layane, Anna estalou os dedos e duas espadas apareceram em suas mãos. Ela as balançou habilmente na direção dela.

— Então você as trouxe – A Atiradora sorriu. – Você sabia que estava chegando a hora.

Anna sorriu, mas sem nenhum traço de alegria.

— A sua morte chegou.

— Veremos.

E as duas se atiraram uma contra a outra.

Todos lutavam.

         Rafa observou quando Anna e Carolina se colidiram e foi um pouco para trás, assustado. Aquela cena parecia familiar de alguma forma. Ele então olhou para Carla e Érika lutando contra Marta e admirou a sincronia – apesar das duas estarem brigadas. Henrique escoltava Roberto, enquanto este olhava Rafa do outro lado. Leticia parecia lembrava um gato com seus feitiços enquanto Andressa desviava deles como um rato – Eduardo intervinha com um de seus elementos para distrair a Bruxa e seus feixes de luz.

         E então ele percebeu algo. Faltava um.

         - O que foi? – Fernando perguntou ao seu lado. – O que foi Rafa?

         Ele mal teve tempo de responder quando o loiro foi empurrado com força para o chão e Neemias tentou pegá-lo pelo pescoço.

         Rafa forçou sua barreira e Neemias foi atirado com tudo para trás, mas não caiu. Ele sustentou seu peso e a cauda vermelha subiu atrás de suas costas.

         - Você não pode comigo Capoci – disse o Espirito com sua voz anormal de Neemias. – Eu sou mais forte que você.

         Ele olhou para os outros amigos lutando. Para eles não fazia diferença, eles continuavam a lutar com pessoas mais habilidosas que eles, não ligando se iriam perder ou não.

         Decidiu olhar Neemias de frente e passou pelo corpo de Fernando.

         - Rafa... – ofegou o loiro. – Não!

         - É minha luta Fê – ele estufou o peito. – Eu tenho que deter ele.

         - Mas ele é humano também... Você precisa salvar Neemias.

         Rafa se lembrou da conversa que eles tiveram antes de ele ser sequestrado. Henrique queria salvar ambos os seus irmãos. Se houvesse algo a ser feito teria que ser agora. Ele teria que salvar a alma daquele garoto agora.

         - Você não vai conseguir – brincou o Capuz. – Neemias não existe mais.

         Rafa não o ouviu e impulsionou sua barreira até o nivel de sua forma quase conseguir ser vista. Era transparente e reluzia um pouco, afastando a névoa incomum.

         Neemias riu descontroladamente a ponto de jogar a cabeça para trás. Por mais que fosse medonho e assustador Rafa continuou segurando a barreira.

         - Vamos ver até onde você é capaz de aguentar!

         O vilão veio correndo e Rafa pisou com tudo no asfalto, erguendo o punho e acertando seu rosto. Acertando-o bem no meio dos olhos Dourados.

         Rael entrou no restaurante Denver Perignon com cautela. Suas roupas não eram nada formais comparadas as de cada um dos casais ali e o Meitrê franziu o nariz com nojo para ele. Vagabundo.

         Ele passou pelas mesas perfeitas e andou até uma das que davam diretamente para as janelas de vidro, que davam visão para uma Vallywood mais refinada e capital. Com pessoas indo trabalhar ou voltando do trabalho. Com jovens bem vestidos e garotas mais arrojadas.

         Nada daquilo importava para Rael, ele só estava ali por ele mesmo. Não tinha nenhum anseio ou vontade de ir para aquele lugar quando terminasse a faculdade. Ao pegar o metro mais cedo antes de chegar ali ele não tinha levantado os olhos do celular, calculando o tempo que chegasse naquele restaurante.

         Ele avistou Gabriel sentado na mesa do fundo de costas para onde ele estava parecendo comer algo caro e refinado. Uma taça de vinho estava pousada ao lado do prato.

         Quando parou ao lado dele, Gabriel ergueu os lindos olhos castanhos.

         - Rael – ele disse num tom surpreso a olhar para todos os lados. – Eu não esperava te ver aqui.

         Ele assentiu e puxou a cadeira para se sentar.

         - Como sabia que eu estava aqui? – Gabriel continuou a perguntar confuso.

         - Você postou no Facebook.

         - Ah – Gabriel assentiu. – Postei mesmo – ele tomou um gole da taça de vinho e o olhou depois de engolir. – E então? Por que veio até aqui no centro?

         Rael suspirou. Aquela era a hora.

         - Eu vim porque tenho que te contar uma coisa – Rael baixou os olhos na toalha de papel, estudando cada palavra que tinha ensaiado com Estér.

         - Olha não precisa me explicar – Gabriel balançou a cabeça. - Se for sobre você e aquele garoto Vicente... Eu entendo. Você achou que eu...

         - Eu não achei nada – Rael o cortou pousando os braços na mesa. – Eu tinha certeza de que você estava e está mentindo para mim.

         Gabriel arregalou os olhos para ele sem acreditar.

         - Mas eu... Eu pensei que tivesse me escutado.

         - Eu escutei, mas isso não muda nada. Sem ofensas Gabriel, mas sua história está meio furada demais.

         - Isso é você dizendo ou seus amigos falando por você?

         Ele sentiu o ácido querendo sair da boca, mas então se controlou. Lembre-se bem porque veio até aqui.

         - A razão real pela qual eu vim até aqui, Gabriel, é porque eu tomei uma decisão.

         A expressão dele apagou qualquer hostilidade.

         - Como assim? Decisão sobre o quê?

         Rael colocou as mãos no meio da mesa e olhou ele bem no fundo dos olhos.

         - A decisão de com quem eu quero ficar.

         Érika foi chutada mais uma vez pela Vampira e seu ombro ralou com tudo no asfalto da ponte. Ela sentia a dor em todas as outras partes em que Marta havia batido, mas podia sentir também ela cedendo com o processo de cura. Com rapidez, ela se levantou e fixou os olhos na luta dela e de Carla.

         As duas tinham olhos vermelhos, mas o jeito de lutar era de longe semelhante. Quando Carla tentava soca-lá, Marta apenas a empurrava com a mão esquelética. Quando Marta a enforcava, Carla crispava suas unhas e a arranhava até que ela soltasse. E no meio da dança uma tentava abocanhar a outra com força.

         Agora as duas se limitavam a encarar, se preparando para o que só podia ser o momento decisivo. Se elas atirassem uma contra a outra agora, só uma ficaria em pé.

         Com medo do resultado, Érika se levantou do chão e postrou ao lado de Carla com alguns passos de diferença.

         - Ela é indestrutível – desabafou a Alfa respirando fundo. – Parece que nunca se cansa.

         - Bem, nós também não nos cansamos – Érika apontou. – Nós também não somos humanas, Carla.

         A morena mal a olhou direito.

         - Eu sei que é um momento ruim, mas, me desculpa. Quero te ajudar a vencer ela.

         - Então passe mais tempo ajudando – retrucou.

         Érika assentiu e avaliou Marta. Uma das pernas dela parecia inclinada, como se decidindo a qual abocanhar primeiro. Seus olhos Vermelhos eram congelantes e corriam freneticamente no espaço entre as duas.

         - Ela está cogitando em fugir – disse consciente de que ela poderia ouvir.

         - Não podemos deixar. Ou ela nunca vai deixar Rafa em paz.

         Érika assentiu.

         - Qual o plano?

         Marta sibilou e saltou. No começo parecia ir na direção de Carla, mas então ergueu as garras para Érika. A loira se preparou e fingiu que ia saltar.

         Mas então pisou em falso para o lado.

         A Vampira tentou ser rápida, mas ela a puxou com força pelo pescoço. Marta lutou imediatamente, mas algo fechou seus pulsos. Seus olhos Vermelhos encontraram os de cor branda de Carla.

         - Peguei você.

         O silvo da Vampira se cessou com o corte. A cabeça de Marta caiu com um baque surdo no chão.

          - Expulso!

         Eduardo se jogou com tudo para o lado para desviar do feitiço. Em seguida ergueu as duas mãos em punho e lançou duas bolas de fogo na direção de Leticia.

         A Bruxa apenas murmurou algumas palavras e antes mesmo que as chamas se aproximassem de onde ela estava parada, elas se apagaram. Leticia riu e começou a murmurar mais latim.

         - Glacius!

         Ele sentiu a pressão do tempo começar a esfriar, então se pôs de pé rapidamente e correu para direita fazendo um pedaço de terra sair do chão. A rocha invocada congelou na mesma hora.

         - Não pode deixa-lá ganhar! – Andressa retrucou indo ao seu encontro.

         Edu estava prestes a responder quando Leticia gritou Incendia e grandes labaredas começaram a tomar conta da pedra. Ele pulou com destreza dali e Andressa pairou ao seu lado, o cabelo preto chicoteando no ar.

         Os dois olharam enquanto Leticia se aproximava com passos lerdos e um sorriso misterioso.

         - Vamos lá, ela não deve ser isso tudo – Dessa desabafou.

         - Fala isso pra ela então!

         Ele soprou para que o vento se movesse e um rodamoinho discreto começou a dançar de um lado para o outro. Parecendo cansada e entediada, Leticia abanou a mão e o poder elementar de Eduardo se desfez. Merda.

         - Merda – ele falou em voz alta. – A vadia é super poderosa!

         Andressa estudou o que ele disse por um segundo antes de começar a olhar intensamente para frente. Eduardo conhecia aquele olhar, o olhar de quem estava planejando algo burro e arriscado.

         - Seja lá o que for esqueça – ele avisou. – Essa luta só pode ser vencida a distância. Se você tentar qualquer ataque direto ela vai te destruir.

         - Eu quero arriscar – Andressa começou a pegar impulso. – Me dá cobertura?

         Eduardo suspirou em resposta enquanto ela dava mais dois passos para trás e saltava. Como havia prometido ele invocou todo o fogo que tinha para fora, provocando uma mini Super Nova.

         Leticia atirou feixes de luz de várias cores para deter a bola, mas seus olhos não perderam Andressa de vista. Quando a Caçadora parecia querer pousar perto dela, a Bruxa murmurou algumas palavras para a aterrissagem não dar muito certo.

         - Andressa! – Edu começou a correr em sua direção.

         - Nem mais um passo – Leticia girou a mão e a morena ficou ereta, o rosto parecendo torturado. – Ou eu faço ela ter um derrame cerebral.

         Andressa tinha o corpo inclinado para a frente, quase como uma boneca sendo controlada ou algum rapper fazendo algum passo maluco. Leticia andou até ela sem pressa e tocou seu rosto com a mão livre que não manipulava o feitiço.

         Ela lhe deu um tapa.

         - Você é mesmo a tal herdeira de La Iglesia? — ela riu. – La Princesa. Pra mim você é só mais uma farsa que se esconde atrás de quem realmente tem sucesso no seu bando. Eduardo.

         Andressa girou os olhos para a Bruxa e depois para ele. Ela não podia deixar seus sentimentos interferirem na batalha, mas imóvel daquele jeito estava mais exposta do que já estivera com ele, sem roupas e sem nada.

         - E no final ele acabou te traindo – provocou Leticia com uma risadinha aguda. – Preferiu uma Beta a você porque ela tinha mais talento e muito mais poder que você. O que é você perto de alguém Andressa Bertoni? Quem é você perto de mim agora?

         Dessa girou seus olhos escuros para ela.

         - Eu sou a vadia que vai fazer você tomar no cu.

         Rapidamente, Andressa retirou um objeto de cor madeira de dentro da manga da blusa e enfiou contra a barriga de Leticia. Com a proximidade, ela a agarrou com a outra mão pelo ombro e enfiou a madeira ainda mais.

         - Antes de vir falar sobre a fraqueza de alguém, se certifique que a vadia não saiba seu ponto fraco – ela devolveu o tapa em Leticia. – Agora morra!

         Leticia gorfou sangue e encarou com os olhos arregalador por detrás dos óculos, sem acreditar.

         Com um sinal da Caçadora, Andressa começou a correr até as duas novamente. Enquanto chegava perto algo aconteceu. A cara de Leticia ficou disforme e seu corpo molenga começou a pesar para Andressa. Assustada, a caçadora a jogou com tudo no chão.

         Ele chegou perto de Andressa e os dois encararam a forma cinzenta e familiar.

         - O Vampiro Brad de antes? – ela guinchou sem acreditar. – Como ele chegou até aqui?

         Eduardo olhou o corpo loiro e cinzento do Vampiro e chutou suas partes destroçadas com veias se projetando no braço nu. Era um cadáver e nada mais. E ainda estava ali. Assustado ele entendeu o que Leticia havia feito.

         - Esse tempo todo ficamos lutando com um brinquedo – sussurrou – Ela nunca esteve aqui.

         Na luta entre Anna e Carolina, a Atiradora estava levando a pior. E não era só porque a Chefa do Pack estava com duas katanas em cada mão, mas também porque ela estava lerda. Quando ela havia enfrentado ambos Fernando e Erick, ela tinha conseguido prever seus ataques com facilidade e repelir cada um deles para bem longe com um chute.

         Mas com Anna a coisa toda era diferente. Onde Carolina tentava acertar um ponto vital dela, a Chefa defendia. Não havia premeditação aonde Anna vinha com superação. Ela tentou bater o no punho para a outra soltar uma das espadas, mas acabou por ganhar um nocaute e suas costelas batendo no chão.

         Agora, as duas haviam se afastado um pouco, uma prevendo e planejando o movimento da outra. Os olhos ferozes de duas figuras poderosas e controladoras.

         - Desista Carolina – Anna girou uma das espadas enquanto falava. – Eu sei que você quer mesmo.

         Ela ignorou a provocação e deu um passo para a esquerda. Anna mirou seus olhos na ação feita e ficou imóvel.

         - Você sabe mais que eu que eu não devo desistir – cuspiu Carolina. – Não posso me dar ao luxo de perder agora! Não quando estou tão perto!

         - Perto de quê?! – Anna riu. – De ser um total fracasso? Sua Vampira está morta e sua Bruxa morreu.

         - Ainda o temos - ela apontou com o queixo para o combate que se seguia entre Rafa e Neemias. – Ele é a razão disso tudo.

         - Você quis dizer o Espirito.

         - Tanathos foi meu líder e meu guia quando precisei – insistiu Carolina em uma voz mais alta. – Ele é o nosso pai. Ele é o meu destino.

         - Ele é um louco e o garoto que ele está possuindo irá morrer – Anna fez um “tsc, tsc” com a boca fechada. – E tudo isso é culpa dos seus planos loucos!

         - EU NUNCA FUI CULPADA! EU ERA ADMIRADA!

         - VOCÊ ERA UMA FARSA! – trovejou Anna. – SEUS PLANOS ERAM MESQUINHOS E SUA FORÇA DE VONTADE ERA FALSA!

         - A MINHA NÃO...

         - CALADA, CAROLINA – Anna se enfureceu e começou a avançar. – Ao menos morra com sua dignidade intacta.

         Carolina rugiu com indignação e saltou para mais um encontro. A Atiradora saltou para uma voadora perfeita, mas Anna ergueu a espada. Ai.

         Sangue respingou no chão quando Carolina caiu de costas contra o asfalto. Ela olhou para os próprios calcanhares cortados e depois para uma Anna que sorria com deleite.

         - Ah, você esperava clemencia? Ou que eu pegasse leve? – ela riu e começou a balançar as armas de novo. – Você e seus Atiradores mataram muitos inocentes na sua procura pela causa. É hora de você pagar por isso.

         Carolina fungou e saiu correndo, mancando ao sentir a dor em seus pés. Vários pontinhos pretos começaram a aparecer em sua visão enquanto ela andava e ela conseguiu ouvir o som de Anna se aproximando.

         - Não seja tão ridicula. Fugir é inutil e você sabe disso.

         Eu tenho que tentar, Carolina pensou enquanto focava seus olhos em Rafa do outro lado, Tenho que chegar lá antes que tudo acabe.

         Mas antes que pudesse dar mais um passo sentiu uma pontada nas costas e seus joelhos começaram a cerder em direção ao chão. Não. Não.

         — É o fim – Anna se aproximou dela por trás. – Foi um prazer lutar com você, meu amor.

         Ela sentiu sua respiração cortar e seus olhos pousaram em Capoci. Ele parecia que tinha acabado de desviar de algo quando notou seu olhar e o devolveu.

         E parecia confuso com a intensidade.

         A espada de Anna entrou e o corpo de Carolina arquejou para que ela a aceitasse. Ela não deveria aceitar aquele golpe. Era um golpe sujo e seus antigos mestres a reprovariam por morrer daquele jeito.

         Mas os mestres que a ensinaram sobre a verdadeira causa estavam todos mortos. Bem quase todos. E ela havia sido uma tola por achar que daria certo.

         Uma outra época em um campo cheio de neve tomou toda a sua visão enquanto ela fechava seus olhos e se entregava para a escuridão.

         Neemias o lançou contra o chão e Rafa arfou de dor. Ele tinha conseguido apenas acertar um soco no rosto do outro até agora e isso já era um avanço para alguém que podia mover objetos e usar uma barreira. Ele não tinha que aprender a lutar porque desconfiava que nem mesmo com as habilidades de Andressa ganharia aquela.

         Ele se levantou do chão e Neemias continuou vindo em sua direção. Rafa desviou de mais um soco, já acostumado com a velocidade do outro, e impulsionou a barreira para empurrá-lo para longe. O que teria funcionado melhor se Neemias não fosse tão forte quanto ele.

         - Se ficar nisso não vai ganhar nada.

         E o chutou com tudo. Rafa caiu no chão de novo e Neemias tentou segurá-lo no chão. Mas cansado daquelas mãos sufocantes ele fez algo que não esperava. Impulsionou a perna e chutou para cima, empurrando Neemias pelo peito.

         O vilão sentiu a dor, mas não parou seu avanço. Rafa desviou de um soco e se afastou. Aproveitando para medir o inimigo ele sentiu alguém o observando e olhou para o lado. A luta de Anna e Carolina finalmente tinha gerado algum resultado final. A Atiradora estava ajoelhada no chão, com sangue respingando ao lado das pernas. 

Logo atrás dela Anna se aproximava com as duas espadas de antes de um jeito frio. A cena toda parecia tão horripilante que Rafa se perguntou débilmente qual das duas estava do lado inimigo.

Neemias pareceu perceber o que estava acontecendo porque seu avanço parou. Rafa observou enquanto Anna, com uma olhadela rápida para os dois, abanou a espada e a enfiou contra o peito de Carolina. A Atiradora arquejou e gritou antes de seu corpo cair pesadamente no chão.

Rafa por algum motivo achou a cena horrível ao nível de embrulhar o estomago, mas quando olhou seu rival ainda vivo seus olhos pareciam arder na cor Dourada.

— Está vendo? – ele disse diretamente a ele. – Nós matamos duas das suas aliadas e uma abandonou você.

Neemias o encarou fixamente.

— Eu vou matar você.

Vermelho sangue bruxuleou ao redor do vilão e ele ergueu o queixo. Um trovão rugiu e Rafa olhou confuso para o alto. Estava nublado, mas nenhuma nuvem parecia escura. Confuso ele encarou Neemias e entendeu o porquê do som.

O vermelho estranho rodeava os braços dele. Ele ergueu o dedo indicador e apontou para ele. A forma que antes era uma cauda agora subiu como algo enérgico e agitado diretamente em sua direção. Rafa se preparou para o impacto e subiu a barreira que absorveu o impacto, mas não deteu o raio vermelho. A cena que presenciou a seguir era assustadora.

Pequenos formatos de raios começaram a engolir a barreira, quebrando a redoma aos poucos. Desesperado, Rafa forçou a barreira e os raios recuaram. Do outro lado da batalha, Neemias riu e abriu a mão pálida e esquelética. Os raios continuaram a subir mais e mais ao seu redor.

— Você vai ser o primeiro! – Neemias ria histéricamente. – O primeiro de muitos!

Ele começou a andar e a pressão foi ficando mais intensa. Rafa tentou conter o impacto, mas podia sentir seu corpo cedendo ao peso pouco a pouco. Com o canto do olhou viu uma forma loira tentando se aproximar dele.

— Não Fê – ele arfou. – É minha luta!

— Você vai morrer! – o tom do outro beirava para o desespero. Rafa olhou atrás dele e viu seus outros aliados se aproximando pouco a pouco.

Isso o determinou e Rafa jogou todo o peso para frente. Neemias se balançou e foi com tudo para trás, seu raio sumindo e sendo lançado diretamente ao céu. Os olhos Dourados do vilão eram frenéticos ao encarar a todos ali.

Rafa estava prestes a pedir que ele desistisse quando uma brisa passou por ele vibrando. Chocado ele olhou atrás de si para a multidão de amigos.

Neemias fugiu?

Mas ele não deixou se enganar por muito tempo quando contou o número de quem estava ali. Estava faltando um.

— Eu te dei isso, sabia? – Neemias estava de volta ao lugar de antes e mantinha alguém preso ao redor de seus braços. Roberto gritava e lutava. – Todo esse poder que você não entende... Foi minha culpa, sabia?

Rafa olhou entorpecido entre o desespero e a confusão. As mãos pequenas de Neemias estavam muito perto do pescoço do namorado. Ele morreria em um piscar de olhos.

— Do que está falando? – ele questionou em um tom baixo.

—AH, VOCÊ NÃO SABE? – Neemias riu e apertou seu irmão de jeito mais firme. – A CAIXA. EU TE DEI TUDO O QUE VOCÊ TEM PORQUE VOCÊ ABRIU A CAIXA!

Rafa balançou a cabeça sem acreditar, as lembranças daquele dia vago em que tudo mudou voltando como um soco. A caixa deixada ali no meio do estacionamento, bem no centro da visão de Rafa para que não tivesse como ele não notar.

— O QUE ELES TE DERAM? – os olhos de Neemias brilharam em onix. – O QUE ANNA TE DEU?

Rafa olhou por sobre o ombro e a Chefa de La Iglesia apenas assentiu para ele. Andressa pediu para ele fugir e Eduardo ao seu lado piscava sem acreditar. Carla e Érika estavam congeladas e próximas enquanto Lizz parecia pronta para intervir.

E tinha Henrique. Seus olhos disparavam para os irmãos na situação delicada e depois para ele.

— São meus irmãos, Rafa – ele desabafou em uma voz alta. – Eles são meus irmãos.

Ele se virou para Neemias e o outro continuava a sorrir débilmente. Apesar do cabelo bonito e a pele saudável com bronzeado, os olhos naquele rosto transformavam um garoto humano em algo diferente, perigoso e volátil. Um espirito que já deveria estar morto.

— Por favor – ele implorou. – Não machuque meus amigos. Não machuque seu irmão, Neemias.

— Neemias está morto – riu a criatura. – E o irmão dele? Ah, não se preocupe ele vai ficar bem.

Rafa ficou confuso.

— O que? Vocês ainda não sabem? – ele olhou Roberto. – Acham que ele é inocente é? Roberto não te contou, mas ele já tinha uma tara por você! Ele era MALUCO POR VOCÊ RAFAEL CAPOCI! MALUCO!

Roberto franziu os olhos verdes para o irmão confuso e engoliu em seco.

— Você não é desse mundo – Rafa gemeu.

— Mas eu já fui!

— Não é mais – Rafa suspirou. – Deixe meus amigos em paz.

Ele trouxe a barreira de volta e empurrou Neemias com tudo para trás, de alguma forma mantendo Roberto parado. Rapidamente ele correu até ele e colocou-o atrás de si. Neemias levitou para se levantar e correu berrando até os dois.

E então Rafa deu um passo decisivo e o socou.

Não foi um soco normal. Algo dentro dele o moveu para frente e impulsionou seu punho no rosto de Neemias. Os olhos Dourados dele se arregalaram até o último antes de seu corpo pairar no ar e ir ralando até o chão.

Um segundo se passou enquanto Roberto respirava em seu ouvido. Rafa olhou para ele.

— Você está bem?

Ele parecia querer responder antes de seus olhos revirarem e ele cair ao seu lado. Ele o pegou pelos braços e segurou seu peso antes de voltar os olhos para frente de novo.

Neemias estava sentado com um olhar profundo de derrota para todos eles.

— Devolva-o – Rafa implorou. – Devolva o corpo a ele.

Os olhos do mais novo escureceram.

Henrique berrou seu nome e começou a correr.

Neemias piscou os olhos normais para os dois irmãos e para Rafa um segundo antes daquilo acontecer.

Uma explosão de labaredas negras e vermelhas explodiu ao redor de onde ele estava e Rafa e todos os outros irem para trás com o grande impacto.

E ele só conseguiu ouvir a voz de Henrique berrando:

— Neemias!

As garotas que aguardavam no depósito eram em si loiras, morenas e ruivas e de todo tipo. Elas eram lindas esbeltas, mas eram muito diferentes também. Algumas entre elas consideradas punks, góticas, asiáticas, líderes de torcida, jogadoras de hóquei, nadadoras e lésbicas – com toda certeza. Mas apesar de diferentes havia apenas duas coisas que as unia ali naquele lugar. O fato de estudarem na Vallywood High School e terem recebido a mesma mensagem no celular.

Olá vadia, tenha um bom dia! Venha até o depósito na Rua Barry ou sua vida vai continuar não valendo a pena.

Com uma dessas todas apareceram claro (Tá legal, talvez umas quinze tenham lido isso e enviado de volta para a pessoa se foder, mas whatever). Mas quem quer que tenha enviado a mensagem não tinha sido... Nenhuma delas. Então confusas elas continuaram espremidas no depósito estranho com poucas janelas, aguardando.

E foi então que alguém começou a descer as escadas. No começo ficou claro de que se tratava de uma mulher com o salto vermelho descendo cada degrau com destreza. Mas quando os ombros apareceram todas entenderam que se tratava de uma garota, assim como elas. Só que aquela garota tinha um QUÊ de diferença.

Ela era a rainha da escola.

— Saudações, vadias – Taffara parou no meio da escada para encarar as dezesseis adolescentes. – É muito bom saber que receberam minha mensagem.

— Com licença? – uma garota asiática franziu o nariz. – Mas quem é você?

Taffara foi com a cabeça para trás.

— Em que escola você estuda?

— Vallywood.

— Então acho que você deve faltar bastante para não saber quem eu sou – Taffara contestou.

Outra garota de cabelo loiro curto parecia contrariar a teoria ao levantar a mão, mas Taffara a encarou até ela abaixar a mão de novo.

— Não sei se estão sabendo, mas, eu recentemente e injustiçadamente fui acusada de assassinar um aluno a sangue frio.

— E não matou? – perguntou uma voz no fundo da multidão.

— Haha – ela revirou os olhos. – Acontece que a delegacia de Vallywood está com problemas no departamento... Muita gente anti-profissional – ela ajeitou os ombros. – Mas de qualquer forma, vocês foram chamadas aqui por um motivo. E este motivo é curar toda essa desgraça que fizeram queimando meu nome.

Um silêncio se propagou em todo o grupo de garotas que se entreolharam.

— Te ajudar? – uma que só podia ser lésbica vestida de JB questionou. – Por que fariamos isso?

— Porque eu sou Taffara Kauane, primeiramente – ela sorriu complacente, irritada por ser interrompida. – E porque se não me ajudarem eu vou fazer o inferno da vida de vocês. Eu preciso relembrar a alguém o que fiz com Roberto Borges?

— Aquilo foi baixaria! – uma garota segurando um livro contra o peito guinchou. – Você o expôs!

— Ah, não me diga Jeniffer Floro – Taffara bufou. – Será que eu vou precisar expor pra todo mundo como você passou de ano ou vai calar essa sua boca de garota burra?

Jeniffer ficou na dela. Mas outra garota, um pouco alta e de cabelo ruivo cruzou os braços com um sorriso malicioso.

— E o que vamos ganhar?

— Tudo o que sempre quiseram – Taffara piscou de volta. – Não sei se souberam, mas eu tenho uma aliada agora e ela é prova de qualquer perdedor pode se tornar uma Rainha da Escola – ela olhou o alto da escada. – Apresento a vocês, Camila Poli.

A garota ruiva desceu as escadas e acenou para todos como uma primeira dama toda vestida de rosa. Ninguém acenou ou sorriu de volta.

 - Ela é uma prova de uma total lavagem!

Camila franziu o cenho.

— Não fale isso de mim!

— Amiga relaxe – Taffara se voltou para a multidão. – Eu farei o que for preciso para que todas vocês se tornem as garotas mais lindas, mais poderosas e mais odiadas da Vallywood High School.

— Por que eu iria querer ser odiada? – questionou uma delas.

— Você é cega ou algo? Ser odiada é o novo apelido de ser amada – Taffa jogou o cabelo por sobre o ombro. – E como vocês sabem, eu sou muito amada.

— Tudo bem – uma garota loira muito magra assentiu. – Nós entendemos. Você quer nos dar tudo o que queremos, mas quer que limpemos seu nome. Como quer que façamos isso?

— Simples. Eu preciso derrubar a única garota que me colocou nessa situação foda. E a todos aqueles que são do seu tipo.

— Rafa Capoci – responderam três garotas em unissono.

— Isso mesmo! – ela aplaudiu orgulhosa.

— Mas você precisa de outras dezesseis garotas para derrubar uma? Não consegue fazer sozinha?

— É lógico que eu consigo. Mas não sejam tolas. Derrubar Vick Melo só vai fazer com que várias outras pessoas tentem se vingar de mim e eu vou precisar de um exército se forem usar um contra mim. Certo?

— Certo – disseram todas juntas.

— Então o que me dizem? – ela cruzou os braços e tocou seu olhar em cada uma delas. – Preparadas para limpar meu nome? Quem não quiser, por favor, saía por essa porta.

Taffara fingiu não olhar, mas depois de segundos de silêncio, ela notou a porta aberta e o número que estava ali havia dobrado.

— Ótimo – ela sorriu com deleite. – Vamos começar a festa.

— Ponha ela aqui! – indicou Matheus abrindo a porta do quarto com tudo.

Erick fez o que ele pediu e carregou o corpo desmaiado de Rita em cima da cama de casal onde Matheus e Lucas provavelmente dormiam. O quarto cheirava a suco de uva e a decoração do quarto parecia uma combinação do quarto dos sonhos com algo maduro e sério. Ele pegou uma das almofadas de tecido bom e colocou embaixo da cabeça de Rita, os cachos da garota de olhos fechados se espalhando em cima da fronha.

— Ela vai ficar bem – disse Matheus.

— Muito obrigado – Erick suspirou e tocou a mão quente da garota. – Não sei bem o que aconteceu... Uma hora ela estava provando o strogonoff do seu marido e de repente... Ela desmaiou.

— Eu entendo, talvez seja pressão alta – Matheus suspirou e passou a mão na testa. – Bom, quer deixar ela descansar um pouco?

Erick balançou a cabeça e segurou a mão de Rita com mais firmeza.

— Eu vou ficar um pouco mais, se não se importa – ela o olhou por sobre o ombro. – Pode ficar de olho no Marco pra mim?

Matheus sorriu e assentiu saindo pela porta. Erick esperou alguns bons segundos até que o barulho do coração de seu anfitrião engraçado sumisse pelas escadas.

Quando o som cessou, ele deu dois tapinhas em Rita.

— Ele já foi – sussurrou.

A garota abriu os olhos claros e se sentou na cama encarando Erick com um sorriso malicioso.

— Você tem que admitir que é uma boa atriz – ele zombou.

— Calado – ela sussurrou de volta e olhou ao redor do quarto. – Temos que revirar esse quarto e descobrir alguma coisa antes que ele volte.

— Ok.

Rita saiu da cama e Erick começou por uma escrivaninha com tinta e uma impressora em cima dela. Ela começou a puxar as gavetas da comoda deles com o maior silencio possível. Acabou encontrando algumas cuecas com logotipo estranho e uma customizada do Simpsons e a fechou com tudo.

Erick parecia com pressa ao olhar debaixo da cama e escorregou no tapete caindo de bunda no chão. Rita cruzou os braços para ele.

— Desculpa – ele chiou.

Vamos ser discretos — ela recitou a fala dele e se voltou para outra comoda com um espelho retangular. – Quem é que tem espelho no quarto?

— Aparentemente o mesmo tipo de gente que tem espelho no teto – apontou Erick deitado no meio da cama com um sorriso malicioso. – Deve ser uma delicia fazer...

— Erick, foco – ela se virou para o espelho e de repente notou um pedaço de papel ao lado dele. Ela o pegou e suas sobrancelhas se ergueram. – Venha ver isso.

Erick correu para o lado dela e olhou um documento cheio de letras e números sobre anos estudando. O semblante da escola onde Rafa estudava estava bem ali.

— Aqui diz que Lucas estudou lá em 2003 – Rita afirmou. – E Matheus em 2001.

— Como isso é possível? – Erick piscou. – Então quer dizer que eles são mais velhos?

— Não – Rita apontou o dedo para o papel. – Ao que parece eles repetiram vários anos três vezes seguidas. Eles falharam em se formar duas vezes no último ano.

— Isso quer dizer que eles são burros?

— Quer dizer que eles têm um padrão. Parece que eles repetiraram todos os anos muitas vezes. Todos, até o jardim de infância – Rita arfou. – Eles repetiram de propósito.

— Mas por quê?

— Eu não sei – ela continuou estudando o documento e parou. – Espera, tem mais alguma coisa aqui.

— O que?

— Aqui diz que uma tal de... Rebecca Smitty também repetiu, mas foram apenas duas vezes em 2005.

— Então ela também...?

— É possível – Rita semicerrou os olhos. – Foto anexada – ela piscou. – Ele tem uma foto dessa garota em algum lugar.

Erick cheirou a folha e olhou para o banheiro. Ele entrou lá dentro e começou a vasculhar as coisas sem conseguir não fazer barulho. Rita esperou impaciente enquanto o garoto voltava com o que parecia uma foto de estilo cartão em mãos.

— Espera – o Alfa parou na soleira do banheiro. – Essa não é a sua amiga?

— Quem?

Rita andou até seu lado e olhou a foto. Parecia ser uma foto de uma turma de 2005 cheia de adolescentes que estavam ainda conhecendo o jeans e Discman nas mãos. Ela encarou o rosto quase inconfundível e asiático de Brenda Sherman. E ela parecia exatamente a mesma de agora, só com roupas um pouco mais velhas.

E não era só isso. Logo acima dela na foto, dois responsáveis a seguravam pelo ombro com um sorriso elástico.

Miguel Ávila e seu amante, Felipe Felps.

         Rita pegou a foto e escondeu dentro de seu peito. Erick a encarou com um sorriso e ela bateu em seu braço.

         - Vamos levar isso – ela pegou o histórico e deu a Erick. – Quero ver eles dizerem que não sabem de nada agora.

         Mas quando já estavam na escada correndo com pressa notaram que não havia muito som e a sala estava vazia.

         - Marco? – Rita chamou descendo do último degrau. – Matheus?

         - Lucas? – Erick pisou devagar e então fungou e olhou para o começo da cozinha. – Meu Deus!

         - Marco! – Rita correu até o corpo desmaiado do irmão mais novo e começou a dar tapas em seu rosto. – Marco, acorda, por favor!

         O mais novo abriu os olhos e arfou olhando para todos os lados.

          - O que aconteceu?

         - Como assim o que aconteceu? Te encontramos desmaiado aqui!

         - Sim, eu estava comendo e aí – ele balançou a cabeça.  – Eu acho que eles me nocauteram.

         - Eles quem?

         - Matheus e Lucas. Os dois estavam falando sobre correr daqui. Eles foram embora.

         E eles acabaram na casa de Rita. De novo.

         Os carros foram deixados na entrada de modo desleixado e de alguma forma nenhum vizinho reclamou ou questionou. Mas não importava se eles achassem problema ou não. Eles tinham acabado de destruir o inimigo deles a meia hora de viagem de carro atrás.

         Roberto e Henrique andavam lado a lado um pouco atrás dos donos da casa, as expressões chocadas e perdidas. Roberto tinha acordado durante a viagem, um pouco assustado e perguntando o que havia acontecido. Rafa tinha tentado responder suas perguntas uma de cada vez, mas quando ele começou a questionar sobre seu irmão mais novo e ninguém havia dito nada, ele não teve nenhuma escolha se não dizer. Henrique, que havia berrado e gritado contra o fogo no meio da ponte ficou chorando até Eduardo e Fernando o pressionarem a ponto de ele conseguir se acalmar.

         Por mais que o Pack precisasse manter a distinção, Rafa não conseguiu não sentir pena deles. E a dor. Ele também havia perdido um amigo, um irmão no ano passado. Não era algo fácil e como Neemias era mesmo irmão deles ele só conseguia imaginar que a dor devia ser muito maior.

         Apesar de querer admitir que era culpa sua, Rafa não conseguiu. Não foi ele quem queimou o garoto. Na verdade não havia sido ninguém. Quando perguntou a Anna o que havia ocorrido ela lhe explicara que o hospedeiro havia feito aquilo. Ele pensou nos olhos normais e arrogantes de Neemias e quase não conseguiu imaginar que ele tinha feito isso consigo mesmo. Que ele tinha se sacrificado.

         Os membros do Pack seguiam logo atrás de Anna e Layane, que mais uma vez pareciam intrusas no luto conjuntal do grupo. Apesar de Eduardo não emitir nenhum som, Fernando parecia olhar mais brando para os garotos, enquanto Andressa e Rita andavam de braços dados – garotas tentando se reconfortar em momentos dificeis.

         E falando de garotas, Carla e Érika estavam bem distantes uma da outra, mas Rafa não pode deixar de perceber que a loira não tirava seus olhos de cima de sua criadora. Mas quem disse que Carla iria olhar de volta? E quem disse que Lizz não estava olhando para Carla também? Ela estava e tinha um sorriso malicioso no rosto que mal combinava com a cena.

         Ao lado de Rafa mesmo estava Erick, andando com um papel em mãos e parecendo pensativo. Quando ele o questionara sobre isso, o lobo tinha resumido que pertencia a um casal gay cheio de mistérios que eles encontraram na floresta depois do feitiço de Leticia separá-los. Rafa queria ter entendido tudo o que ele havia dito sobre o que parecia ser um mistério para ele, mas estava muito, muito cansado. Tinha gastado seu folego para conter o ataque de um Espirito poderoso e quase morrido no processo. Neemias, apesar de ser só um garoto, havia lutado bravamente contra ele. Era uma pena que nunca mais fosse voltar.

         Depois que eles adentraram a casa, cada qual grupo foi se ajustar em um canto. Rita e as meninas foram para a cozinha, seguidas por um Marco que ainda conseguia ser um pouco brincalhão. Rafa repensou e talvez o mais novo não conseguisse ligar para a morte de alguém que o havia atacado. Talvez ele fosse muito novo para entender qualquer coisa complicada ainda.

         Andressa e Fernando se sentaram com um suspiro no sofá enquanto Eduardo e Anna conversavam com vozes altas no canto leste da sala grande. Pareciam felizes com algo enquanto Layane se recostava na parede. Rafa encontrou o olhar da ruiva que sempre seguia Anna e ela piscou para ele.

         Rita saiu da cozinha para avisar a Roberto e Henrique que eles poderiam ir para um de seus quartos descansarem. Henrique aceitou aquilo tão rapido que parecia que ia desabar a qualquer momento. Roberto, apesar dos olhos vermelhos, recusou e girou seus olhos para Rafa.

         Que não soube muito bem como encará-lo. Aquele mês havia sido muito puxado para um casal como o deles. No começo do ano foi bom, com Rafa sendo apresentado a sua familia e a história dela. Mas o relacionamento foi ficando em crise no momento em que Roberto ficara com ciumes, depois chateado, depois se sentindo enganado e depois sequestrado... Pelo próprio irmão. Fosse qual fosse às outras brigas Rafa nunca conseguiria esquecer que ele havia namorado por meses o irmão mais velho daquele que tentaria tirar sua vida mais tarde.

         E a vida de seus amigos.

         Roberto agora cruzava a sala para falar com ele.

         - E então – o loiro suspirou para ele. – Você... Salvou todo mundo.

         Rafa corou um pouco e se sentiu culpado. Quem era ele para corar por causa de um elogio em um momento como aquele?

         - Eu não fiz nada demais – ele balançou a cabeça. – Todos fizeram sua parte para salvar você.

         - Eu sei – Roberto respondeu em um tom solene. – Mas você parece ser um dos mais fortes. Quer dizer, você matou o Nee... Matou aquele vilão.

         Rafa conseguiu sentir sua própria expressão vacilando.

         - Rob, eu sinto muito. Eu não queria que nada acontecesse com seu irmão... Eu não sabia como pará-lo!

         - Rafa – o loiro ergueu a mão e fechou os olhos. – Está tudo bem – ele os abriu. – Não foi sua culpa. Eu não te considero culpado.

         - Mas seu irmão sim – ele olhou para o segundo andar da casa nervosamente. – Ele nunca vai me perdoar pelo que fizemos.

         - Henrique vai saber superar em alguma hora. Como das outras vezes.

         Rafa engoliu em seco e encontrou os olhos de Roberto.

         - Eu não ligo pra nada do que o Neemias disse – ele falou. – Não ligo se você gostava ou não de mim muito antes. Isso certamente não me assustou nem um pouco.

         Roberto sorriu tristemente.

         - Não era algo que eu gostava de me orgulhar... Desejar você daquele jeito. Parecia errado.

         - E daí se parecia? Nós acabamos juntos no final das contas.

         - É – Roberto pegou sua mão e a entrelaçou com a sua. – Nós ficamos.

         Rafa olhou nervosamente para a mão dos dois ali e pensou a respeito. Pareciam mãos que estariam ali uma para a outra sempre que se precisassem. Mas também pareciam mãos diferentes, mãos separadas pelo detalhe de que Rafa usava suas mãos para fazer coisas que as de Roberto não conseguiam.

         - Rob – ele a soltou gentilmente. – Tem algo que preciso te falar.

         O loiro o olhou confuso, depois olhou as mãos e depois o olhou novamente.

         - O que?

         - Eu sou o motivo por você estar assim – ele suspirou e se afastou um pouco. – Tudo que aconteceu com você foi por minha causa.

         - Não! Mas Neemias já estava...

         - Eu não quero saber quem estava errado ou não – ele o cortou duramente. – Eu aceitei ficar com você e me desculpa, não devia ter feito isso. Deveria ter me afastado porque essas coisas... Que você não compreende... Já estavam acontecendo. Eu te arrastei pra isso e hoje você quase morreu – ele fechou os olhos e pensou em Neemias o segurando com os olhos Dourados. – Quase outra pessoa morreu hoje.

         - Mas Rafa, não é sua culpa.

         - Você não entende – ele balançou a cabeça. – É tudo recente isso que está acontecendo com você. Esse segredo que lutamos pra manter de você, eles não são faceis de digerir. Toda sua vida vai mudar se você não fechar os olhos para isso e você precisa que ela não mude.

         - Não, Rafa, eu não preciso continuar na mesma! Eu posso te ajudar nisso! Posso ficar com você e te ajudar!

         - Não, não pode.

         Roberto congelou os olhos azuis.

         - Como é? – ele piscou. – Eu não entendi. Eu sou seu namorado. Eu tenho que ficar do seu lado.

         - Não tem não Roberto. Porque você e eu não podemos mais ficar juntos – ele tomou folego. – Eu estou terminando com você.

         Roberto o encarou sem acreditar, a boca quase rasgando de tão aberta que estava.

          - Mas eu pensei que você me amasse!

         - E eu amo – ele o segurou nos ombros. – E é por isso que estou fazendo isso.

         Roberto começou a balançar a cabeça e tremer, procurando algum foco para se sustentar.

         - Isso não pode ficar assim, eu preciso de você!

         - Você precisa de paz! – Rafa retrucou e sentiu que todos ali o encararam. A cozinha parecia muito silenciosa de repente. – Eu não posso arruinar sua vida.

         Roberto respirou fundo e limpou as lágrimas que ameaçaram descer.

         - Já arruinou – e então subiu para o segundo andar também.

         Perfeito, agora os dois irmãos o odiavam.

— Tenho que admitir, seu grupo foi muito bem sucedido nessa última missão.

Eduardo aceitou o elogio de Anna como se aceitaria um pedaço de bolo de chocolate. Era delicioso ser admirado por algo, ainda mais por uma Chefa que raramente expressava o que sentia a respeito das coisas. Ele se lembrou do fracasso do ano passado e da expressão cheia de “tsc, tsc” na face dela. Em comparação com o ano passado ele tinha ido muito bem nessa.

— É claro, se formos contar o número de corpos – ela o trouxe de volta à realidade. – Diogo, Carolina e Neemias. Foi maior que o ano passado.

— Mas você matou a Carolina! – retrucou Layane não conseguindo ficar em silêncio.

Anna revirou os olhos.

— Tá, tá, talvez eu tenha pegado um pouco pesado – ela afagou o ombro tenso dele. – Você foi ótimo.

— Não agradeça a mim – ele girou os olhos até o sofá para encontrar Andressa sentada logo ali. – Se não fosse por ela não teriamos vencido Leticia.

— E não venceram – Anna o lembrou com uma voz apática. – Aquela Vadia fugiu de novo.

— Da próxima vez nós a pegaremos – ele prometeu, mas franziu a testa. – Conseguiu descobrir quais eram as intenções dela?

— Não muito – os olhos de Anna se perderam nas janelas que iam do chão ao teto. – Não vejo o que ela teria a ganhar e qual maldição ela gostaria de quebrar se aliando a Thanatos... Mas tenho quase certeza que tem algo a ver com as origens dela.

— Thanatos – Eduardo repetiu pensando nos olhos Dourados que jamais voltaria a ver de novo. – É o espirito que possuiu Neemias – ela assentiu. – E o que queria Rafa... Por que ele queria Rafa?

Anna abriu a boca para falar, mas então rapidamente para uma Layane distraida e depois sorriu.

— Isso eu tenho que resolver com ele, querido, depois nos falamos ok?

Eduardo assentiu e ela começou a procurar Rafa pela casa enorme de Rita. Ele olhou para Layane que parecia querer começar uma conversa quando Andressa apareceu em seu campo de visão, os olhos semicerrados.

— Vai mesmo levar todo o crédito? – brincou ela.

Edu sorriu e balançou a cabeça.

— Eu nem conseguiria se quisesse. Foi você que nos salvou hoje.

— Foi um trabalho em conjunto – Andressa brincou e sorriu. – Ou não. Talvez.

Os dois riram e de repente ele encontrou seus olhos o fitando com intensidade.

— O que foi?

Ela corou e disfarçou.

— Nada.

Ele sentiu seu coração martelar nos ouvidos.

— Dessa, eu gostaria de falar com você.

Ela assentiu e esperou.

— Sei que já ouviu isso muito de mim, mas, eu sinto muito pelo que houve entre nós dois. Entre eu você e Érika.

Andressa desviou o olhar e ergueu o queixo para longe dele.

— Hoje vi como trabalhamos juntos e eu gostei disso. Não quero perder isso, de verdade. Acho que não conseguiria trabalhar com ninguém como trabalhei com você hoje.

Ela parecia querer concordar, mas seus olhos não deixaram de virar pedra.

— E eu estava pensando se com o tempo nós...

— Edu, não.

— O que? – ele deu de ombros. – Você estava corando agora pouco.

Ela o encarou como se fosse louco.

— E daí?  - ela cruzou os braços. – Você acha que eu quero algo com você depois de ter namorado por três meses?

Ele franziu os lábios sem saber como responder.

— O fato de eu rir de algo como engraçado não deve ser considerado que eu ainda gosto de você!

— Mas você gosta?

Andressa continuou calada.

— Por favor, responda a pergunta.

— Eu não vou responder.

Ele sentiu a garganta se fechar um pouco.

— E o que vai ser de nós agora?

Ela fez uma cara de quem parecia que poderia responder dessa vez.

— Dessa?

— Eu quero que saiba de algo – ela levantou os olhos. – Ia contar a Fernando, mas acho mais justo contar a você.

Ele se preparou e ela ergueu os ombros.

— Falei com a minha mãe hoje. Ela quer que eu volte para La Iglesia.

Eduardo demorou um segundo para processar as palavras que ela tinha dito. Mas não demorou um milésimo para entender o sentido delas.

— Não!

Ela balançou a cabeça.

— Não comece.

— Você não pode fazer isso!

— Não é sua decisão a fazer – rebateu ela.

— Mas isso é injusto! – Eduardo guinchou perdendo o controle. Não conseguia acreditar no que ela dizia. – E quanto ao Fê?

— Nós já falamos sobre isso. Ele tem você e tem o Rafa agora, não tem necessidade de eu ficar aqui.

— Mas você não pode se casar!

Ele falou isso tão alto que Erick, que estava na cozinha, apareceu com a cabeça e ficou encarando eles até Rita o puxar pela orelha de volta ao comodo.

— Você não pode! – ele repetiu.

— Eu tenho que fazer isso. Pela minha familia – os olhos dela escureceram. – Eles precisam que eu faça isso por eles.

— Mas eu preciso de você mais!

Andressa balançou a cabeça o olhando nos olhos. Ela parecia estar com pena e parecia entender que ele sofria de verdade. Mas se ela entendia por que continuava com aquela expressão de quem não podia fazer nada a respeito?

Ela suspirou.

— Esse é o meu adeus, Eduardo – ela o olhou duramente. – Reaja a isso como quiser.

Erick assobiou enquanto Rita o colocava de novo na cadeira que era seu lugar. Ele riu alto e encarou Marco que, apesar de pensativo, o olhou com questionamento.

— Por que está rindo?

Erick se remexeu no assento.

— Tá. Rolando. A. Maior. Treta – ele piscou. – A Andressa e o Edu...

— Erick! – Rita o acertou com um tapa na cabeça. – Pode parar? Se fosse algo com você não ia gostar que saissem falando.

— Humpf – o Lobo parecia contrariar. – Dependeria do caso – ele então a avaliou. – Você trouxe isso com você até aqui?

Rita enrubesceu.

— Como sabe quê...?

— Relaxa eu só senti o cheiro.

— Espera – Marco olhou de uma para o outro. – Estão falando daquilo que vocês acharam na casa daquele casal gay maluco?

— Sim – Rita colocou a mão dentro do sutiã e retirou a foto colocando-a no meio da mesa.

— Nenhum jeito de eu tocar nisso – sussurrou Marco, mas então se inclinou. – Que doidera, ela parece mesmo a sua amiga.

— Não só parece – Rita balançou a cabeça. – Ela é identica.

— Talvez não devessemos nos precipitar – Erick comentou em um tom mais sério.  – Já parou para pensar que talvez seja a mãe dela?

— E como você explica o pai dela e o atual amante estarem aqui também? – Rita apontou para um cada um deles na foto. – Existe algo de errado com eles.

— Ok – Marco assentiu. – E o que vai fazer a respeito?

Rita umedeceu os lábios entendendo a pergunta do irmão. Ela era amiga de Brenda e era a mais próxima a ela. Fazia sentido que eles quisessem saber o que ela faria agora que sabia disso.

— Eu acho que vou manter um olhar em cima dela – decidiu enfim. – Quem sabe ela não solta algo sobre seu segredo a qualquer momento?

Erick ergueu uma sobrancelha em aviso.

— E se você descobrir que ela é perigosa e isso for arriscado?

Rita deu de ombros.

— É um risco que estou disposta a correr.

— Uau – Marco piscou e se ajeitou na cadeira. – Parece até que somos algum tipo de CSI Paranormal. Deviam fazer uma série sobre isso.

— Ha – Erick pareceu amar o comentário do outro. – E quem seria você? Um policial?

— Não, mas eu pegaria uma Detetive gostosona – ele fechou os olhos. – E teríamos um caso e tudo mais.

Rita riu e cutucou o irmão com o cotovelo.

— Marco, por favor, nós sabemos que você não seria capaz de dar conta!

O olhar de resposta do mais novo foi duradouro e ela o encarou de volta um pouco nervosa.

— O que foi?

— Nada – ele piscou.

 Erick a cutucou de repente.

— Estragou os sonhos do rapaz!

Os três explodiram em risadas, mas Marco continuou a encarar uma janela distante dali parecendo muito pensativo.

— E quanto a você? – Rita se virou para Erick. – Já decidiu o que vai querer?

O alfa franziu a testa.

— Do que está falando?

— Você sabe – ela sussurrou e olhou para a sala devagar. – O recrutamento.

— Ah – ele assentiu. – Bom, eu não sei se daria um bom pai.

— Eu acho que você seria perfeito!

Erick fez cara de nojo.

— Não sei o que te faz pensar assim.

Rita deu de ombros e sorriu ao pegar sua mão.

— Você protege os outros, você é bom – ela o olhou nos olhos. – Seria um ótimo professor.

Um pouco sem graça Erick ruborizou e então disfarçou com um dar de ombros.

— Quem sabe, né?

Vicente terminou de arrumar suas coisas dentro de sua mochila verde e forçou todo o conteúdo para dentro enquanto a fechava com o zíper. Quando terminou, suspirou e levou um susto ao ver quem o encarava na soleira.

— Porra Karina! – ele tomou folego. – Eu sei que estou indo embora, mas pode bater antes?

A irmã ruiva de Rael mordeu o lábio inferior e entrou um pouco no quarto, os olhos azuis grandes demais para um rosto tão fino.

— Por favor, não vá! – ela juntou as duas mãos em um gesto que mais parecia que iria rezar. – Eu te imploro. Você não tem que ir!

— Sinto muito, mas eu tenho sim – Vicente suspirou. – Eu consegui rachar um apartamento com um amigo e ele vai me receber muito bem na casa que ele divide... Com a outra amiga – ele completou sem saber por que tinha dito aquilo. – De qualquer forma. Foi bom te conhecer.

— Isso é por causa do que o Rael fez? – ela ignorou a despedida. – Se for isso esquece tá? Meu irmão é um idiota e eu sempre vou ter um espaço para você na minha cama!

Por mais que a oferta fosse generosa, ele não conseguiu interpretar aquilo de uma forma que não parecesse estranha.

— Eu tenho que ir – ele tocou suas mãos e a beijou na testa. – Sinto muito, mas tenho.

Ela continuou rasgando palavras e desculpas para que ele ficasse, mas Vicente as conhecia todas muito bem para que conseguisse ignora-las. Não era a primeira vez que fazia isso e talvez não fosse à última. Quem sabe não arrumasse mais alguma treta futuramente? Quem sabe não interferisse outra familia com um garoto gay? Ele tinha labia, afinal de contas.

Ele passou pela sala e encarou a mãe de Rael com dó. Ela chorava em silêncio e segurava uma camisa branca que era dele.

— Você esqueceu na máquina e eu a lavei ontem – ela respirou fundo enquanto dizia. – Eu esqueci de dizer ontem e estava prestes a te contar hoje.

— Oh, Sra. Coelho – ele andou até ela e a abraçou com força. – Eu sinto muito por tudo. Mas eu preciso mesmo ir. Não tem mais nada aqui para mim.

Ela bateu em suas costas. Ai.

— Não seja bobo – ela limpou uma das lágrimas. – Sempre terá um lugar aqui para você.

Por mais que se perguntasse que diabos tinha feito para as duas gostarem dele tanto assim Vicente não conseguiu conter a onda de emoção que o assolou naquele momento. Era como se estivesse abandonando sua familia mais uma vez – mas aquela familia estava sofrendo por ele ter que ir.

— Eu vou me lembrar de vocês – ele começou a ajeitar a mochila nas costas. – Eu juro que vou.

Karina parecia prestes a fazer o pedido de uma Selfie quando de repente a porta do apartamento começou a girar o trinco fortemente. Todos encararam enquanto Rael entrava e fechava a porta para trancá-la de novo. Quando viu todos parados ali ele olhou de um para o outro secamente.

— O que está acontecendo?

— Você é um idiota! – Karina gemeu.

— Respeite seu irmão – a mãe fungou ressentida. – Por mais idiota que ele seja mesmo.

Rael revirou os olhos para ela e encarou Vicente, que não conseguiu saber como reagir a seu olhar frio.

— Eu estou indo – ele avisou e acenou com a mão. – Então pode deixar a porta aberta...

— Podemos conversar? – Rael cruzou os braços e jogou a chave no bolso da camisa. – Juro que vai ser rápido.

Vicente piscou perdido e assentiu. Se ele já iria embora o que tinha mais a perder?

— Tudo bem.

Os dois voltaram todo o caminho até o quarto dele enquanto Karina saltitava atrás deles dizendo o quanto       Vicente era bom, engraçado e tinha os 50 Tons de Diversão que ninguém mostraria a ele de novo.

Rael fechou a porta em sua cara e trancou.

Vicente respirou fundo e esperou.

— E então? – ele atirou os braços.

— Eu tenho que te contar sobre minha decisão...

— Tanto faz – Vicente revirou os olhos. – Eu não quero de verdade saber sobre os detalhes da reconciliação entre você e o Gabriel. Só quero ir embora pra casa do meu amigo e comer pizza gelada. É pedir demais?

— Eu escolhi você.

— E se eu for lá e comer essa pizza talvez eu pegue uma infecção e morra porque alguma bacteria contaminou minha boca e me fez ficar assim – ele suspirou e olhou Rael. De repente, ouviu o que ele disse. – Espera como é?

Rael sorria de orelha a orelha ao engolir em seco e repetir:

— Eu escolhi ficar com você – ele deu dois passos para dentro do quarto. – Com você, Vicente.

— Certo – ele assentiu e franziu o cenho. – Mas esse ficar comigo quer dizer ficar em qual sentido? Por que se for pra ficar no mesmo ônibus ou mesmo carro que você eu quero saber se posso ficar na...

Ele mal conseguiu terminar a frase quando Rael atravessou a distância entre eles dois, arrancou a bolsa do ombro dele o deitou na cama. Supreso, Vince apenas olhou enquanto ele se sentava em cima do colo dele e o beijava com entusiasmo.

Quando terminaram, Vicente arfou.

— O que foi isso?

Rael sorriu e tocou seu rosto com a palma da mão.

— Algo muito bom e que posso fazer novamente – Rael olhou para a mochila verde. – Isso se você decidir ficar.

No fundo ele conseguiu ouvir a mãe de Rael e Karina comemorando toda a conversa que já deveria ter escutado através da porta. Rael esperava sua resposta com um sorriso lindo e curioso.

— Ficar aqui ou ficar com você? – perguntou com cautela. Vai que Rael estivesse trollando ele.

Mas o garoto de cabelo cacheado que ele fingiu apenas querer irritar todo aquele mês sorriu o beijou de novo.

— Os dois.

Carla ficou encarando a TV desligada por um tempo até que conseguisse perder seus pensamentos nela. Como se ela tivesse apertado um botão, as imagens da luta contra Marta foram reproduzidas do começo ao fim. Até a hora em que ela cortou sua cabeça. Não tinha sido a primeira vez que havia matado uma Vampira, mas tinha sido a primeira vez que ela queria fazer de verdade.

Os olhos de seu passado sabiam que Carla só era dura e seca por fora, mas seu coração por dentro já havia sido frágil por dentro, tanto que ela costumava se apaixonar tão rapido quando conseguia trocar de roupa. Se isso era um defeito ou não era algo que o público deveria decidir, não ela.

Uma forma loura apareceu atrás dela no reflexo da TV e ela se virou para Érika.

— Ei – a loba sorriu contidamente.  – Podemos conversar?

— Já estamos – Carla retrucou. – No sentido em que você está falando comigo e eu fui obrigada a responder.

A Beta abaixou os ombros.

— Não me odeie para sempre, por favor – ela sacudiu o cabelo loiro. – Eu sei que o que fiz foi errado, mas olhe ao redor – ela gesticulou para a sala. – Ficamos todos vivos. Não deviamos ser felizes por isso hoje?

Carla a olhou com desdém.

— Eu venci uma batalha hoje e isso me deixou mais forte, sim – ela ergueu o queixo. – Mas isso não quer dizer que eu não esteja mais machucada.

Érika ficou em silêncio.

— O que você e aquele caçador fez foi frio e muito pior do que qualquer um dos inimigos que enfrentamos hoje. E você sabe por quê? Eu sei e vou te dizer. Eles não foram descarados e mentirosos, mostraram sua maldade na nossa frente e tentaram nos matar – ela olhou para Eduardo que estava na escada e depois para Érika. – E o que vocês fizeram? Você sorriram e vieram com o que chamam de amor para cima de duas pessoas que se importaram e amaram vocês. E o que fizeram no final? – ela bateu palmas. – Meus parabéns.

— Carla me desculpa! – Érika explodiu. – Quanto tempo mais vou ter que pedir?! Eu fiquei lá naquele lugar pagando pelos meus pecados achando que quando voltasse você estaria aqui por mim!

— Não me interessa – Carla rugiu de volta. – Eu não quero ver você, eu não quero ouvir sua voz e eu certamente não quero saber do seu ataque de epifania falso! Você é má, Érika, e prepotente. E alguma coisa me diz que se eu não sair de perto de você pode ser muito perigoso.

— Por quê? – A Beta arregalou os olhos.

— Porque você é toxica – Carla sussurrou bem perto do seu rosto. – E respirar o mesmo ar que você pode até me contaminar. Que Deus me livre ficar como você, que Deus me livre!

Aquilo foi demais. Érika limpou as lágrimas no rosto e depois chorou mais ainda ao ver que estava chorando mesmo. Ela empurrou Carla e atrevessou a sala em duas passadas enquanto uma Rita com pena corria atrás dela.

— Você foi muito dura! – Andressa apontou.

— E? – Carla olhou na direção dela e depois se virou para Eduardo. – Aprenda uma coisa que sua vida como Caçadora nunca te ensinou. Amor é só uma bala que pessoas sem corações vão usar para te destruir – ela começou a sair pela cozinha. – Só estou tentando me desviar da bala o mais rápido que posso.

Rita agarrou Érika pelo braço antes que essa terminasse de descer correndo as escadas de sua propriedade.

— Por favor, você não precisa ir!

A loira franziu a testa ao ver que se tratava dela e soltou sua mão.

— Quem é você para me deter?

Rita se empertigou.

— Eu sou a humana. Sou o que você também é. E não aquela coisa que Carla tentou te convencer que você é.

Por mais que as palavras fossem reconfortantes, Érika bufou.

— Bom, olha só a novidade, Ritinha, eu não sou totalmente humana e não sou como você! Eu nem sequer me lembro da minha vida! – ela girou os olhos pela mata. – Eu sou exatamente o que a Carla disse – seus olhos escureceram. – Sou tóxica.

E então saiu andando pela mata. Rita começou a correr atrás dela quando sentiu uma mão a puxando. Rafa olhava com pena na direção da Beta que corria.

— Deixe-a ir.

Rita balançou a cabeça com indignação.

— Por mais que ela tenha feito aquilo mesmo, Carla não devia ter dito aquilo – ela desabafou. – Foi maldade.

 Rafa assentiu.

— Foi mesmo, mas é o que pessoas filha da puta recebem Rita – ele suspirou. – Elas pagam pelo que fazem. O carma demora a chegar? Demora sim, mas quando chega, é melhor se preparar.

Rita suspirou e balançou a cabeça.

— Nem todo mundo merece o que recebe – ela soltou. – Alguns só levam a pior mesmo sendo bons a vida inteira.

Rafa franziu a testa.

— Está falando de você?

Rita franziu a testa.

— Estou falando de Lucas – ela disse duramente e um silêncio se estendeu entre os dois.

Rafa pareceu se controlar antes de conseguir olhar para ela de novo.

— Ele era uma boa pessoa, sim, tem razão – ele respirou fundo ao encarar os portões da propriedade que estavam abertos por algum motivo. – Foi uma morte injusta a dele.

— A maioria delas é – Rita ponderou. – Mas a morte, além disso, é justa. E chega para todos na hora que chega.

Rafa sorriu de lado e a puxou para um abraço.

— Meus pêsames, Rita.

— Meus pêsames, Rafa – ela murmurou contra o seu ombro.

— Meus pêsames o caralho!

Os dois se afastaram do abraço e olharam para a terceira pessoa que havia dito aquilo. Sem acreditar, Rita arfou e Rafa ao seu lado congelou.

— Vick?

A melhor amiga de Rafa tinha encarou de um para o outro com fúria nos olhos escuros. Seus braços tremiam e sua bolsa enrolada ao lado do corpo seguia seus movimentos.

— C-como entrou aqui? – Rita olhou para os portões. – Ah, não.

— Ah, sim – Vick piscou. – E eu ouvi direito?! Que história é essa do Lucas estar morto?!

Os outros dois se olharam de lado e Rafa engoliu em seco quando Vick o encarou com um olhar cheio de confusão. Não, aquilo não podia estar acontecendo logo agora.

— Rafa? – a garota chamou sua atenção com sua voz excessivamente alta. – Por favor, me diz que é só uma brincadeira e você e a amiga online do Lucas estão brincando comigo.

Ele queria dizer que sim, mas algo o impediu de falar. Algo que indicou a ele que não fizesse absolutamente nada.

— Rafa? – Vick chorou com o olhar espantado. – Rafa, não, não...

— Eu sinto muito Vick – ele engoliu em seco e encontrou seus olhos. – Foi um acidente.

— NÃO! – Vick berrou. – NÃO, VOCÊ NÃO SENTE! VOCÊ ME VIU ESPALHANDO AQUELES CARTAZES POR MESES!

— Eu não sabia como te contar...

— SEU EGOISTA FILHO DE UMA!

— VICK – Rita entrou em seu caminho e esse foi seu erro. A fúria da garota foi deespejada em cima dela.

Apavorado demais, Rafa demorou um pouco para se tocar que deveria separa-lás e quando o fez foi dificil. Mas Vick arfou ao descer as escadas e Rita tocou seu rosto todo marcado com as unhas da outra garota.

— Eu não acredito que mentiu pra mim – Vick olhou para ele com traição. – E ainda fiz o que me pediu. Eu mantive seu segredo pra você.

Rafa queria dizer mais alguma coisa, mas sabia que não podia. Não tinha nenhuma explicação normal para reconfortá-la e a verdade que talvez fosse o certo a se contar só a deixaria mais devastada. E no pior dos casos, louca.

— Ele se foi, Vick.

A garota chorou e ele resistiu ao impulso de correr ao seu encontro. Quando notou Rita querendo assumir coragem a ir até ela, a segurou pelo ombro.

Vick fungou e com os olhos cheios de lágrimas começou a se virar. Seu coração estava partido assim como o dele, assim como o dela deveria ter sido há meses antes da verdade ser escondida. Antes de o luto ter sido escondido atrás da falsa esperança.

Antes de Rafa se transformar em um péssimo amigo.

— Queen T, tem um cara lá fora pedindo para entrar.

Taffara não se atreveu a levantar a cabeça do mapa que estudava da escola de Vallywood. Ela pegou um post-it aleatório de dentro da sua nécesseire e o colou no que deveria ser a quadra da escola. Sabotar todas as L. De Torcida, ela escreveu logo acima.

— Queen T? – a garota baixinha bateu na mesa. – Está me ouvindo?

Ela suspirou, pegou um canetão e fingiu desenhar algo incrivelmente importante no pulso. Mas quando o formato começou a parecer uma forma bem explicita, ela mordeu o lábio inferior torcendo para que não fosse uma caneta permanente.

— Queen...

— O que é droga? – ela explodiu para a garota. – Não vê que estou ocupada traçando o maior plano de destruição social jamais feito por alguma outra Rainha Abelha? Você é loira por baixo disso tudo que chama de cabelo ou o quê?!

Apesar de ofendida a garota ergueu o queixo.

— Ele se diz ser seu amigo e que precisa falar urgente.

— BEM ENTÃO MANDE-O ENTRAR! – ela berrou e a garota correu. Taffa revirou os olhos para a amadora correndo e pegou seu copo de café enquanto voltava os olhos para o mapa da escola.

Alguns segundos se passaram até uma sombra tapar a luz colocada no depósito e ela fechar a cara para o mapa.

— Mas que diabos – ela levantou a cabeça e perdeu a fala. – Você? O que você quer aqui?

Henrique ajeitou a jaqueta preta que usava e colocou os dois braços em cima da mesa.

— Oi pra você também, Taff – ele sorria com os dentes brancos. – Sentiu saudades?

Ela bufou.

— Meninas, vocês podem tirar esse rapaz que achei que estava morto daqui? – ela tomou o café. – Ele cheira a covardia e mentira.

— Você não vai querer fazer isso – seu ex-namorado não desfez o sorriso.

— Ah, é, e por que não?

Henrique ergueu o queixo do mesmo jeito que ele costumava fazer quando ele tinha que implorar para ela fazer algo que não queria. E ele sempre conseguia.

— Eu vim te ajudar a limpar seu nome – ele olhou para o mapa e depois para todas as garotas que tinham parado de trabalhar. – Onde eu me inscrevo?

Taffara respirou fundo se perguntando se aquilo estava mesmo acontecendo. Ela beliscou o a palma de sua mão nervosamente e piscou várias vezes. Era real e ele estava bem ali.

         - Ótimo, então comece a trabalhar – ela passou a ficha que estudava e entregou a ele. – Leia tudo sobre essa garota e me diga o que ela tem de errado.

         Henrique terminou de ler o nome e a encarou.

         - Rita? – ele piscou. – O que você iria querer com a Rita? Ela não fez nada com você.

         Taffara deu de ombros.

         - Me diga você – ela apontou para o segundo andar do depósito. – Se for mesmo ajudar, comece saindo do meu caminho. Está atrapalhando meu foco.

         Por mais indignado que estivesse ele riu e foi andando até as escadas. Taffara tentou manter sua dignidade intacta, mas então algo chamou sua atenção.

         A bunda de Henrique havia crescido. Ele estava ficando definitivamente mais gostoso.

         Henrique se virou e ela se ajeitou na cadeira, fingindo ver algo de interessante no mapa. Só que algo mais interessante que o corpo de Henrique era impossível.

 

***

 

Carla tinha tomado sua segunda dose de uisque no Vallywood Bear quando ainda estava pensando em como todos defenderam Érika assim que ela saiu da casa de Rita. Pessoas tapadas, pessoas burras que se deixavam levar pelo tal poder do amor.

Ela encarou o copo e tomou mais um gole perdido, deixando a bebida quente echer seu peito. Quando pensava em Érika, seus dedos pareciam começar a virar ferro e ela tinha que se manter até o fim de seu autocontrole para não quebrar o copo.

Lembrou-se da noite que atacou Érika. Ela parecia uma jovem comum indo até a livraria no centro da cidade, falando no telefone com uma de suas melhores amigas e falando a respeito de um namorado controlador e possessivo que ela tinha. E que largaria ele até o final do semestre.

E então conseguiu ver a si mesma em quatro patas naquela noite de lua cheia, os sentidos explodidos, a cabeça cheia de raiva e confusão pela tortura das Bruxas que a soltaram com deleite naquela noite.

Érika parecia sentir algo se aproximando e por isso estava correndo pela avenida vazia. Ela devia ter sido avisada a não sair tão tarde da livraria. Alguém devia ter parado ela antes de sair de casa porque ela estava prestes a perder tudo de normal.

Ela virou a bebida para bloquear a memória e suspirou. Havia algo no uísque que a matava e que a fazia se sentir viva ao mesmo tempo.

— Que calor.

Carla olhou para o lado, meio grogue e franziu a testa para Lizz. A Caçadora de cabelo loiro sedoso sorria para ela de um jeito ironico no banco ao seu lado.

— O que está fazendo aqui? – Carla acenou para o barman encher seu copo. – Está me seguindo ou algo do tipo?

— Não sei – Lizz provocou. – Você está bebada ou algo do tipo?

Carla riu sem graça, mas então ergueu o olhar.

— Não. Sério. O que você quer?

Lizz deu de ombros.

— Comemorar o fato de estarmos vivas – Lizz riu e Carla só entendeu a piada quando se lembrou do show de Érika na casa de Rita. Ela a acompanhou.

— Eu sei que você detesta falar sobre isso – a loira continuou. - Mas pode desabafar e chorar no meu ombro se quiser.

Carla riu.

— Claro – ela brincou e pousou sua cabeça em seu ombro magro. – Pronto. Agora vou te falar o quanto está tudo ruim e uma droga.

Lizz riu e tocou seu rosto.

— Ou se preferir, não fale.

Carla franziu a testa com a intensidade das palavras, mas ao recompor sua cabeça e encarar o rosto da outra, entendeu tudo.

Ou será que não entendeu? Será que ela era mesmo o que ela pensava?

— Eu sei o que está pensando e já tenho a resposta – ela sorriu maliciosamente. – Sim, eu também sou.

Érika chorava e fazia as malas ao mesmo tempo. Pegou uma camiseta cinza de caveira e a jogou com tudo dentro da muda de roupas. Um top azul-escuro da Speedo que não sabia de onde tinha vindo também foi parar lá dentro. Ela agarrou com suas unhas o que parecia ser um samba canção e só podia ser de Erick e, mesmo revirando os olhos, o dobrou com carinho.

O loft era a única coisa que ela tinha aprendido em sua nova vida de normal. Seria estranho ficar afastado dele por muito tempo, mas era preciso. Ela fungou e decidida fechou a mala.

Ao mesmo tempo a porta do loft foi aberta com um rompante.

Assustada e alerta, ela foi até a sacada. Seus batimentos cardíacos cessaram quando reconheceu o cabelo escuro e comprido de Andressa Bertoni.

— E ai, Beta?! – berrou a Atiradora. – Vai descer ou vou ter que ir até ai te bater?

Com um suspiro ela desceu as escadas com os olhos fixos na Caçadora. Não ligava para sua ameaça, só queria acabar com aquilo logo.

Quando chegou ao degrau final, suas narinas detectaram o cheiro de àlcool e ela olhou para a garrafa na mão de Andressa. Avaliou seu rosto e seus olhos pareciam molhados. Ela estava chorando?

— Olha ela – Dessa riu fracamente. – Olha a destruidora de lares vadia bem aqui!

Érika revirou os olhos.

— O que você quer?

O que você quer? — Andressa a provocou e riu débilmente. – Tem noção do quanto sua voz é parecida com a de uma puta?

O que não era verdade não ofendia e Érika sabia disso muito bem, então só respirou fundo e cruzou os braços.

— Você está bebada.

— Sim, estou! – Andressa balançou a garrafa e a olhou como se ela fizesse parte da conversa. – Estamos bebadas!

— Deixe-me ligar para alguém...

Andressa jogou a garrafa no chão e a loira parou exatamente onde estava enquanto os cacos se espalhavam pelo loft. Érika olhou cada um deles antes de voltar para seu rosto.

— Louca – ela sussurrou. – Você passou dos limites.

Andressa riu.

— Falou a garota que teve relações sexuais com meu namorado por três meses – ela arrotou. – Você é foda, sabia?

Érika já estava enjoada daquela história.

— Pare com isso e vá embora. Todo mundo já sabe o que aconteceu, não tem necessidade nenhuma de você vir até aqui e me incomodar.

— E se eu quiser? – A Caçadora se aproximou. – E se eu quiser – ela cutucou seu peito. – Te incomodar – ela continuou cutucando. – O que você vai fazer?

A Beta ficou congelada contendo a raiva e foi então que Andressa fez a coisa mais doida do mundo. Ela a beijou. O gosto do beijo não pode ser sentido, mas foi um beijo sim.

Érika piscou e Andressa suspirou.

— Meu Deus – ela fechou os olhos. – Isso foi tão... – ela abriu os olhos. – Bom.

A loira franziu a testa.

— O que?

Andressa não respondeu e avançou nela, a boca vermelha e carnuda aberta respirando em cima dela. Sem saber bem como reagir Érika devolveu o beijo. No começo foi um beijo curioso, cauteloso, com as duas se olhando com um misto de confusão e medo.

Mas então Andressa gemeu de prazer e puxou Érika pela nuca para trazer seu hálito para mais perto. Ela já tinha beijado Carla antes, mas aquilo era... Fantástico... Ela conseguia se entregar aquele beijo e não sentir nenhum desconforto por algum motivo. Andressa era uma menina bonita e atraente e quando ela tirou sua camiseta preta para depois rasgar a dela, Érika não conseguia responder mais por si mesma.

A Beta e a Caçadora provaram suas bocas naquele final de tarde, acabando com qualquer fiapo de indiferença que sentiam uma pela outra.

Ou não.

— Olha só o herói.

Rafa olhou enjoado para Fernando ao se levantar do sofá e o encará-lo nos olhos. O loiro era uma das poucas pessoas que ainda continuavam ali no como que havia sido palco das brigas mais dramáticas daquela noite. Por mais que Rafa quisesse apenas dormir e descansar seu corpo e mente cansado, ele decidiu ficar mais um pouco e não soube bem por quê.

— Juro que se ouvir isso de novo eu vou vomitar – ele gemeu.

Fernando franziu o cenho.

— Por quê?

— Você sabe que eu não salvei ninguém – ele explicou.

— Mas destruiu o Capuz – Fernando o pegou pelo ombro com um tom de encorajamento. – E deixou todo mundo feliz.

— Neemias destruiu o Capuz – Rafa o corrigiu tristemente. – E consequentemente se autodestruiu também.

Fernando assentiu querendo concordar.

— Eu sinto muito pelo que houve. Espero que Roberto tenha entendido o que foi preciso fazer.

— Ele entendeu. Isso ele entendeu.

Fernando franziu as sobrancelhas loiras.

— Como assim?

— Eu terminei com ele – Rafa confidenciou. – Foi essa a coisa que ele não conseguiu entender.

O loiro arregalou os olhos.

— Verdade? – ele piscou várias vezes e se afastou. – Por que fez isso?

Rafa deu de ombros.

— Ele é humano e eu tinha um alvo nas minhas costas. Não ia dar muito certo.

Mas não era só isso e Rafa sabia dentro de si que aquilo estava longe de acabar.

— Bom, espero que tenha tomado à decisão certa – Fernando suspirou. – Porque se não estiver, Rafa, vai ser infeliz.

Rafa fitou o colega de trabalho se perguntando de onde vinham aquelas frases de encorajamento.

— Você já teve que decidir algo assim?

Fernando arregalou os olhos e parecia querer dizer algo quando olhou por sobre o ombro dele. Rafa seguiu seu olhar e franziu a testa para a mulher parada na escada.

— Anna? – ele a questionou com o olhar. – Algo errado?

A Chefa ergueu a mão e a balançou de um lado para o outro.

— Não entendi.

— Precisamos conversar – ela ajeitou os óculos e olhou para Fernando. – Se importar se eu interromper?

O loiro fingiu bater continência e sorriu de orelha a orelha.

— Não mesmo Chefa!

Rafa se soltou do abraço dele e seguiu Anna para o segundo andar. Em um dos quartos com porta de madeira resistente, ela gesticulou para que ele entrasse e fechou a porta logo atrás de si.

— Nossa – ele riu nervosamente ao se sentar na cama. – Desconfio que seja algo importante para tamanha ousádia. Essa casa não é sua.

— Basta de brincadeiras – Anna cruzou os braços e ajeitou os óculos. – Eu tenho algo a te contar.

Rafa suspirou.

— Ok. Pode falar.

A Chefa andou de um lado para o outro enquanto falava, o manto em cima da camiseta se balançando conforme ela fazia o movimento.

— Creio que para mim você tem uma pergunta que nunca conseguiu responder, certo?

Rafa piscou para ela, confuso.

— Acho que sim?

— Acha? – ela riu. – Não está louco para saber o que você é Rafael Capoci? – parou de andar. – O motivo pelo qual Neemias foi possuído e compelido a fazer tudo o que fez para te pegar?

O termo te pegar fez a nuca de Rafa se arrepirar mais do que deveria e isso o desapontou. Ele achou que estava melhorando nesse lance todo de ser corajoso.

— Sim – ele engoliu em seco. – Mas por que a pergunta? Vai me dizer?

Anna fechou os olhos.

— Eu costumava ter três amigos. E junto deles eu fundei o que você conhece como La Iglesia.

Rafa assentiu, com as siglas TAP aparecendo em sua mente.

— Sim.

— Eles se chamavam Thanatos, o indomável, Pandora, a perversa e Annabelle, la loca.

Rafa franziu a testa com os nomes, sentindo algo de estranho. Anna pareceu saber o que ele pensava e sorriu.

— Sim. TAP. Exatamente como o nome – ela sorriu de lado. – Eu coloquei esse nome da organização em homenagem a eles, sim. Mas acontece que eles nunca foram muito... Perdoáveis.

— O que quer dizer?

— Quero dizer, Rafa, que esses meus amigos cometeram muitos erros antes de eu me tornar o que sou hoje – ela olhou para as próprias mãos. – E eu fui obrigada a detê-los um por um e depois trancar suas almas dentro de uma caixa poderosa.

Rafa arfou.

— Espera o que?

— É isso mesmo Rafa – Anna ergueu o queixo. – Eu sou a razão pela qual você foi compelido a abrir a caixa e liberar os três espiritos deles por aí. E Thanatos, meu velho amigo, foi quem decidiu possuir seu amigo Neemias e se vingar de você!

— Eu? – Rafa sentia seu coração pulsando apesar do quarto estar silencioso. – Mas o que eu fiz?

— Você abriu a caixa – Anna o lembrou. – E um dos espiritos pulou em você.

A revelação arrancou de Rafa todo o ar e ele teve que tossir muitas vezes até que Anna percebesse que ele estava passando mal e decidir fazer com que ele se acalmasse. Apesar da face sempre severa, algo nas unhas da Chefa passando em suas costas o deixou mais tranquilo.

Quando o quarto parou de girar e a cama parou de tremer ele olhou para as próprias mãos palidas. Ele estava sendo possuido pela mesma coisa que estava possuindo Neemias. Só de se imaginar com os olhos Dourados seu corpo todo tremeu.

— Acalme-se Rafa – Anna o balançou. – Eu sei que é forte isso que te contei. Mas resista, por favor.

Ele estava prestes a fazer algum comentário sarcástico quando parte de seu cérebro se iluminou com algo que Anna tinha acabado de dizer.

— Espera você disse que seus três amigos estavam presos naquela caixa?

— Aham.

— E que um pulou em mim e o outro em Neemias?

— Aham.

— Mas se um deles foi destruido e um esta em mim – ele encarou Anna com horror. – Onde foi parar o terceiro espirito?

Até 18 de maio!


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Notas finais do capítulo

ATÉ 18 DE MAIO



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