Fragmentos escrita por Mrs Born to Lose


Capítulo 1
Capítulo único - Travesseiros de algodão


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por - começar, ao menos- ler essa estória *---*
Ela é muito importante para mim.
Agradecimentos especiais para as minhas Naomis, e as minhas Claras... E também aos meus Pams. Sem vocês, meus amores, nunca haveria sequer os Fragmentos. Porque eles seriam vazios.
Vocês colorem os meus dias negros ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/581390/chapter/1

Até aquele momento estava habituada a viver de fragmentos. Com isso, digo que ninguém à minha volta se doava por inteiro.

A vida em seus olhares... essa era consideravelmente notável. E também nunca fui do tipo que prende muita atenção para si. Era como se toda maldita qualidade se esvaísse a cada lágrima.

Mas nem sempre foi assim.

Começou com o AVC.

Deveria mesmo ter ficado contente por fazer parte da vaga minoria que conseguia sobreviver sem danos graves ao sistema nervoso. E talvez eu realmente tivesse, se não por ter perdido a movimentação do lado esquerdo do meu corpo, como o resultado da falta de oxigenação cerebral.

Até aquele momento estava habituada a viver a minha vida clichê, de adolescente com uma mãe amorosa que prendia seu cabelo em um penteado desajeitado e tomava chás para acalmar os ânimos.

E também aprendi a conviver com as lágrimas que molhavam o travesseiro, a cada noite. E tive de aprender a me defender dos constantes apelidos que apareciam, por conta da cadeira de rodas, ou até mesmo por conta das muletas.

Mas isso foi até aquele momento.

E há sempre um momento, em que você diz "chega", e toma uma atitude.

Eu já estava cansada daquela vida monótona e sem sentidos maiores.

Passei a frequentar festas. A tomar coisas que eu não aguentava.

Assumi uma nova personalidade. E gostava de ver que as pessoas gostavam de me ver dessa forma.

Aos poucos, Clara estava se tornando tudo o que sempre jurou que não seria.

Meu nome fazia jus à tudo, em mim. Cabelos lívios, pele clara e lábios ainda mais alvos. E meus olhos eram ainda mais claros.

Claramente mortos.

E em um de meus devaneios no mundo errado não esporádicos, acabei por conhecê-la.

Nunca ouvi muito sobre Naomi. Ela, assim como eu, tinha dezenove anos e um enorme gosto pela literatura.

Seus olhos acastanhados e os cabelos negros realçavam a pele branca, ainda contrastada com os lábios sempre cobertos por películas artificiais, quais muitos diziam ser sangue.

E nunca saberei como descrever o seu sorriso.

Não por ser magnificamente encantador e perfeito de uma forma inigualável às palavras humanamente conhecidas, mas por nunca tê-lo visto.

E também nunca entendi o motivo para ter se mudado para a minha casa assim que a minha mãe faleceu.

Ou a razão para ter tratado de minha pessoa como uma criança, mesmo sem precisar de tais tratos.

Também foi a noite em que lhe apresentei Pam, o meu melhor amigo desde a infância. E por algum motivo por mi desconhecido, ela abriu um quase sorriso - que ainda não poderia ser dito como tal - e apertou carinhosamente suas mãos.
E então eles se despediram, e ela empacotou alguns biscoitos caseiros para que ele levasse para casa.

E foi difícil compreender seus motivos para ter me levado para a varanda, até que ela me beijou, à luz pálida do luar.

E seus lábios tinham gosto de sangue. E sua face era mais fria que a noite, tal como seus olhos possuíam um brilho ainda mais mortífero do que o que reluzia em sua luminosa faca.

E assisti o sangue se escorrer do meu peito, segundos depois que a arma foi cravada em meu corpo.

E tentei dizer que a amava, como as minhas últimas palavras, mas a dor era tão incessantemente agonizante, que sequer consegui abrir a boca.

E eu queria que assim como eu, ela repousasse em um travesseiro de algodão, ao invés de estar ali, em um quarto trancado, solitariamente, sem direito legal algum.

E também anseio pelo momento que ela virá até mim, para eu poder lhe dizer que Pam ficou grato pelos biscoitos amaldiçoados com o seu veneno.

Ei, Naomi? Como reagiria se lhe dissesse que já não preciso mais da cadeira de rodas, e que agora posso visitá-la sempre que puder, com o auxílio das minhas asas?

Naomi?... Você pode me ouvir?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse drama todo é o que se espera de Mrs Suicidal, né? Kkkkkk.
Comentem, meus amores. COMENTEM! :nnnn
~CHUS DE SANGUE ♥