Entre as gotas de chuva. escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu estava com vontade de escrever, e achei uma música linda o suficiente para me inspirar. Espero que gostem, da fic e da música!
Trechos da música foram utilizados nos diálogos.

Música: "Between The Raindrops" - Lifehouse



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Eu ainda me lembro de quando nos conhecemos, claro que lembraria. Estava completamente ansiosa, e ao mesmo tempo feliz. Aquele dia seria uma divisão entre ser uma menina comum e ser uma menina extraordinária. Eu sempre sonhei com a segunda opção. Ser extraordinária. Assim como meus pais, assim como toda a minha família.

Ele estava lá, olhos enormes, porém apagados, ou melhor, acinzentados. E ainda assim capturou toda a minha atenção. Não que naquele momento eu soubesse o motivo pelo o qual meus olhos não conseguiam desviar dele, naquela época era apenas curiosidade, vontade de conhecer todos, de saber sobre tudo.

Quando meu pai disse para que não me tornasse muito amiga dele, foi como se algo dentro de mim gritasse “mas você precisa ser amiga dele”, obvio que eu disse que não poderia, mas desde pequena passo um bom tempo questionando a mim mesmo. E no final eu realmente virei amiga dele.

Nossa primeira conversa não foi muito agradável, sempre que me recordo volto a me questionar o motivo de ter virado amiga dele, ainda mais depois que meu pai visivelmente preferia que não virasse.

— Por que está usando roupas de velhos? – Questionei observando o mini terno preto.

— Não é roupa de velho, é roupa social. – Ele respondeu sem erguer os olhos.

— É roupa de velho sim. – Claro que eu continuei a analise. – E te faz parecer uma folha de papel de tão pálido. Extremamente branco.

Vi meu primo esperando ansioso pela resposta, mas ao invés de continuar a discussão ele apenas sorriu. Depois de um segundo ou dois gargalhou. E no fim apenas tirou o terno e a gravata e respirou aliviado.

Não foi o começo de amizade mais normal, mas foi o nosso começo.

Como esperado caiamos em casas separadas. Nada de mudar as tradições. Ruivos, engraçados e em bando, todos na Grifinória. Loiro, pálido e de terno feio, na Sonserina.

Esse seria um bom indicio de que nossa amizade acabaria antes da primeira copa das casas. Mas não acabou. Ela apenas cresceu a ponto de não conseguir viver apenas na parte do coração reservada aos amigos.

No segundo ano nosso grupo tinha aumentando. Não éramos apenas ele, meu primo e eu. Éramos quase em dez. E mesmo que muitos não entendessem como podíamos andar juntos sendo de casas diferentes, ainda assim andávamos. Minha mãe me ensinou a ser extraordinária, não me ensinou a ser eletiva, seletiva, ou preconceituosa.

No terceiro ano nos perdemos em Hogsmeade, eu nem me lembro como, mas lembro que chovia. Eu nunca gostei de chuvas, não até aquele momento. Eu estava desesperada.

— Olhe ao redor. – dizia atordoada. - Não há ninguém além de você e eu.

— Rose, se acalme...

— Não diga para me acalmar... Está chovendo! – Eu nunca gostei muito de chuva, dos raios, e de ficar com o sapato molhado.

— Nunca te vi tão histérica.

Ele começou a rir. Aquele sorriso que raramente aparecia. Uma risada cheia de vida. Por um momento quase comecei a rir também.

— Scorpius... – respirei cansada. – eu não quero ficar aqui sozinha enquanto todos estão indo embora.

E claro que ele não se abalou, apenas parou de rir.

— Vamos!

Pegou em minhas mãos. Pela primeira vez. E saiu correndo enquanto eu tentava acompanha-lo. Ele também não sabia onde todos estavam, mas correu, correu, correu e quando finalmente parou me olhou.

— Eu realmente amo chuva.

Encontramos a professora de feitiços aos prantos dizendo que tinha perdido a filha de Ronald Weasley.

E de repente eu também aprendi a gostar da chuva.

Depois de quase oito anos estava em plena tempestade segurando um guarda-chuva e rezando para que ele chegasse o mais rápido possível.

Tinha que chover justamente no dia que nos encontraríamos depois de quase três meses sem nos ver. Meu vestido estava todo cheio de pontos manchados por culpa dos pingos de chuva. Mas meu sorriso de expectativa não sumia nem por um segundo.

Quem olhasse de cima veria apenas mais um guarda-chuva entre milhões. Não perceberia a diferença entre o senhor de botas brilhantes que falava no celular, e nem da menininha de cinco anos que pulava nas poças que se forçavam na calçada, e com certeza não repararia na garota de vestido azul e tiara branca. Ela também não iria reparar se olhasse de cima.

Seria impossível ela não enxerga-lo de imediato. O único olhando para cima, sentindo as gotas em seu rosto. Sem guarda-chuva. Cabelos grudados no rosto e um sorriso que parecia ter vida própria. Uma vida para Scorpius, e uma vida para seu sorriso.

Seu guarda-chuva vermelho até parecia sem cor perto do sorriso dele, tudo ficava em preto e branco quando Scorpius sorria. Eu não sabia quando descobri isso, mas depois que percebi nunca mais nada foi igual.

— Oi – ele disse assim que ela se aproximou.

— Você está todo molhado. – foi tudo que pude dizer.

— Grande observadora...

— Não vão deixar você entrar assim lá. – Apontei para o café onde estava esperando por ele.

— Não podemos andar?

— Na chuva? – Eu já sabia a resposta. Sempre me lembro do quanto foi espontâneo ele dizer que amava. Não a mim, mas a chuva.

Começamos a andar em silencio. Provavelmente ele não sabia o motivo de tê-lo chamado. Não era obrigação de ele conversar comigo. E quando finalmente respirei fundo e tomei coragem de falar, foi ele quem tomou a iniciativa.

— Olhe ao redor. Não há ninguém além de você e eu. – E ele sorriu.

— Não acredito que ainda se lembre.

— Eu nunca irei esquecer-me do quanto você estava histérica.

— Não estava não... – digo, mas a verdade é que eu estava completamente histérica.

— Não diga mentiras Rose, elas não combinam com você.

E ele tinha razão. Sempre que tentava mentir acabava sendo pega, fosse por quem fosse. Principalmente por sua mãe. Dizia que era igual ao meu pai, minhas orelhas falavam por mim, nunca entendi muito bem.

— Scorpius, eu te odeio. – Digo suspirando cansada.

— Continua mentindo. – ele voltou a sorrir, mas dessa vez se aproximou mais de mim.

Estávamos tão perto. Seria o momento perfeito.

Poderia beija-lo, meu coração pedia isso. Minha mente dizia que ele que deveria me beijar. Eu nunca fui boa em sincronizar coração e mente.

Ele poderia me beijar.

Tão perto.

E quando fechei os olhos tudo que senti foram as gotas geladas caindo na minha cabeça. Scorpius fechou meu guarda-chuva e saiu correndo para longe de mim. Por um momento parecíamos duas crianças brincando na chuva. Porque tudo que eu conseguia era rir. E ele também ria.

— Não há ninguém além de você e eu... Bem aqui e agora do jeito que deveria ser. – Ele parou e fez com que eu também parasse. Há um sorriso em meu rosto por saber que juntos, e tudo que esteve em nosso caminho foi tão bom.

— Deveria ser assim? – Pergunto, mas já sei a resposta. Sempre teve que ser assim.

— Sim... Caminhando entre as gotas de chuva... Cavalgando pelo tremor ao seu lado em direção ao pôr-do-sol. – Scorpius sorriu e voltou a correr, mas continuou falando comigo. - Vivendo como se não houvesse nada a perder, caçando minas de ouro, cruzando os limites que conhecíamos.

Eu voltei a ficar de mãos dadas com ele. E devo confessar que daquele momento em diante esse seria a sua parte favorita da vida. Dar as mãos a Scorpius Malfoy.

— Espere e tome fôlego. Eu estarei aqui a cada passo... – Ele disse parando em minha frente. A chuva ainda era forte, mas não chegava a ser uma tempestade, era apenas chuva, apenas a chuva que Scorpius tanto gostava.

— Eu estou molhada, cansada e você ainda está dizendo que sou lerda e preciso de folego? – Pergunto sendo a Rose Weasley que sou.

— Não estrague o momento Rose.

— Está bem... – Digo e sorrio.

— Rose, o mundo é um lugar tão louco... Quando os muros vierem abaixo, você saberá que estou aqui para ficar.

— Que muros?

— Rose eu já pedi para não me interromper. Por favor... – Ele suspirou cansado. – São os muros entre nossas famílias, entre nossas diferenças... Entendeu?

Eu assenti. Estava realmente gostando do rumo daquela conversa. E Scorpius estava tão lindo molhado e falando tão seriamente. Olhando nos meus olhos. Sem desviar.

— Enfim... Quando os muros vierem abaixo, você saberá que estou aqui para ficar. E não há nada que eu mudaria porque eu sei que juntos tudo em nosso caminho é melhor... Tudo é incrível.

Certamente esse era o momento certo para que ele me beijasse. Eu estava pronta. Ele deveria estar pronto depois do discurso lindo e que certamente ele havia pesquisado em alguma música, livro ou filme. Mas um discurso que eu adorei.

Eu esperei. E nada.

Fechei e abri os olhos. Nada.

— Eu adoro quando você faz esses discursos Scorpius, mas será que você poderia...

Eu ia perguntar se ele poderia me beijar. Mas no meio da frase senti seus lábios junto aos meios. Foi um pouco esquisito, afinal ele tinha sido o meu melhor amigo, afinal eu não estava preparada. Foi um esquisito perfeito. Um esquisito doce e meigo. Ele me beijou no meio de uma frase, nenhum beijo poderia ser melhor que um no meio da frase. Esses eram o melhor tipo de beijo. Definitivamente.

— me beijar... – disse assim que ele se afastou.

— Rose...

— Eu também estarei aqui a cada passo, caminhando entre as gotas de chuva com você. – Digo finalmente.

— Entre as gotas de chuva... – Scorpius sorriu. – Com você. Só com você.

E nos beijamos novamente. E mais uma vez. E de novo. E a cada beijo meu pensamento dizia “obrigado” a chuva. E a cada beijo meu coração batia no ritmo das gotas que caiam.

— Só com você, Scorpius.

Eu não gostava de chuva, mas eu amava Scorpius.

E se ele amava a chuva porque eu não poderia dar uma chance a ela? Afinal, não existe nada mais romântico, clichê e perfeito do que um beijo na chuva. Um beijo entre as gotas de chuva.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, espero que deixem reviews, e obrigada...



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