17:55

Ainda sentada no banco do carro, olhando para frente; continuo calada. Peeta não havia dito nada e fazia uns 5 minutos que estávamos andando.

— Ele disse o que eu acho que disse? - pergunto finalmente

— Sim, ele disse. - engulo em seco e Peeta percebe - sabia que era melhor continuar buzinando

— Ele não pode ter dito isso. Não nesse momento.

— Você não ama ele também? - questiona sem me olhar

pondero bastante antes de responder

— Eu não acho que estou nesse nível em nossa relação

— Uau - diz balançando a cabeça

— O que?

— Um relacionamento que parecia perfeito e que foi esfregado na minha cara tantas vezes, é unilateral?

— Não - olho para ele na defensiva - eu gosto dele também

— Mas ele te ama

Levo minha mão a cabeça, isso me incomodava pra caramba. Eu poderia dizer que amaria Cato um dia, que aprenderia, mas eu não sei se quero. Não sei se quero continuar nesse relacionamento sem reciprocidade da minha parte até amá-lo. E se eu nunca aprendesse a amá-lo?

— Eu to fodida - olho para a janela tentando me distrair

— Cato é meio sensível. Você já deve ter percebido quando vocês brigam e...

— Nós não brigamos - passo a mão pelo cabelo que estava bagunçado por causa do vento

— O que? - pergunta incrédulo - Todo casal briga, é inevitável

— A gente nunca briga, nem discute por nada. Pode-se dizer que nós tínhamos um relacionamento perfeito.

— Duas coisas - ele limpa a garganta - Não é perfeito se é unilateral e você disse tínhamos

— O que?

— Você disse "tínhamos um relacionamento perfeito"

— Ah - mordo minha língua mas dou de ombros como se não fosse nada - falei por falar

— Você está pensando em terminar com ele?

Demoro para responder. Eu queria terminar com Cato? Precisava ponderar sobre o que me fazia pensar nisso. Nós não brigávamos então não era por isso, ele não era ciumento demais e nem me privava de fazer o que eu queria, então não era isso também.
Ele fazia de tudo para me deixar feliz e eu ficava confortável perto dele. E por que eu estava ponderando sobre terminar?

O nome pisca em minha mente como neon

Peeta.

meus pensamentos são interrompidos por uma voz me chamando

— Katniss? - ele questiona me olhando e depois voltando o olhar para a estrada

— Desculpa, o que?

— Eu perguntei se você está pensando em terminar com ele

— Eu não sei, só quero esquecer de tudo esse final de semana.

Eu ligo o rádio pois o silêncio me incomodava. Quase havia esquecido que estava um clima estranho entre mim e Peeta, por causa de nossa briga.

18:25

O sol já estava terminando de se por e era uma vista linda. Quando Peeta para no farol e repousa a mão no assento, sinto vontade de por a minha por cima, mas tenho medo de soar errado para ele. Ou para mim.
Tomo coragem várias vezes mas toda vez que abro a boca para me desculpar acabo fechando e não digo nada.

— Quem canta essa música? - pergunto para quebrar o gelo, mesmo sabendo quem era

— David Bowie - diz cerrando os olhos, ele sabia que eu era fã por isso achou estranho

— Eu imaginei - dou um riso fraco. Tamborilo os dedos em minha perna.

— Que horas são?

— Por que você não olha no seu celular? Eu estou dirigindo aqui.

— Tá, não precisa ser ignorante

— Então não faça perguntas idiotas - diz na defensiva e eu acabo respondendo da mesma forma

— Você que está agindo feito idiota.

— Não Katniss, você é que tem agido feito uma idiota ultimamente e é só comigo.

Permaneço calada, estava muito brava para falar agora

18:56

— Desculpa - digo baixinho

Ele me olha, estávamos parados no farol

— Eu agi feito uma babaca e você não merecia - continuo. Ele desvia o olhar por alguns segundos

— Eu também não fui o cara mais educado com você e peço desculpa pelo que falei.

Eu tinha minhas pernas dobradas sob o banco e minha mão pousada no joelho. Ele a pega e entrelaça nossos dedos, sorrio com o gesto.

— Então, nós estamos bem? - pergunto e ele sorri

— Estamos.

20:00

Levanto no susto, confusa. Uma buzina havia me acordado, e então lembro que estou viajando de carro.
Peeta ria do meu lado.
Percebo que havia baba no meu rosto, droga!
limpo-me enquanto ele ria mais

— Bom dia, Bela adormecida

— Não vejo graça - digo arrumando meu cabelo que estava uma zona.

Gale - que estava em nossa frente - diminui a velocidade e Peeta para ao seu lado

— O que vocês acham de irmos no Mc Donald's que tem ali na frente para comer algo? Finnick não para de reclamar que está com fome. Parece uma criança

— Eu estou fraco - diz Finn no banco de passageiro com a mão na barriga.

— Tudo bem. - entramos e fazemos nossos pedidos para a moça no drive thru e logo estamos com nossos lanches e seguindo viagem.

— Você vai ter que me alimentar - Diz Peeta enquanto eu como minhas batatas - Eu não posso comer com as próprias mãos, estou dirigindo aqui.

reviro os olhos enquanto ele ri

— Eu vou ter que te dar comida na boca?

— Isso aí

pego as batatas de sua sacola e faço aviãozinho.

— Abra a boca, neném - ele dá risada

— Tudo bem, não é pra tanto.

Continuo dando as coisas a Peeta enquanto como as minhas.
Começo a pensar sobre como irá ser esse fim de semana e em minha - assustadora - família.
Como se lesse meus pensamentos, Peeta diz:

— E seus parentes?

— O que tem eles? - questiono com a boca cheia de sanduíche

— Como eles são? eu quero estar preparado quando chegar lá.

— Bom, eles são...excêntricos - Peeta arquei uma das sobrancelhas e eu levo o copo de refrigerante a sua boca - Sabe aquela família que apesar de estranha, quando se sentam na mesa ao fim do dia, você percebe que os ama? - Ele balança a cabeça - Bom, a minha não é assim.

Peeta estreita o olhar em minha direção e eu o dou batatas. Depois de alguns minutos volto a falar

— Eu morei lá por um tempo, quando tinha entre 5 e 6 anos.

— Eu te conheci quando tínhamos 7

— Sim.

— E por que vocês moraram lá?

— Bom, meu avô adoeceu e minha avó precisava de ajuda, não de médicos e cuidadoras, mas da família. Então nós nos mudamos para lá e acabamos ficando mais do que deveríamos. Não foi um período fácil, eu não me dava muito bem com minhas primas. Elas queriam brincar de ser dona de casa e eu não suportava essa ideia, eu queria ter um emprego e ser bem sucedida. - Como mais batatas - acabava sempre sendo o marido por causa disso.

Peeta ri de leve e eu também, depois de alguns anos a memória passa a ser um tanto engraçada

— Enfim, meu avô faleceu e acabamos ficando mais alguns meses dando apoio a minha avó, porém minha mãe não aguentou e decidiu ir embora conosco, um ano depois minha avó decidiu sair também e virou a casa de campo. Desde então só vamos lá nas férias. É uma casa grande com vários quartos e o meu e o dos meninos continua do mesmo jeito.

— Eu acho que isso será divertido - diz com um leve tom de ironia

— Ainda bem que você estará lá - Peeta sorri mas sem tirar os olhos da estrada, eu continuo o alimentando e não falamos muito depois disso.

00:12

Sinto uma mão me cutucando e uma voz me faz despertar

— Ei, acorde! Katniss acorde

Afasto a mão e me levanto

— O que foi? - questiono coçando o olho

— Eu estou muito sozinho aqui na frente - Reclama e eu me deito novamente

— E eu estou com muito sono aqui atrás.

— Você acha que eu não estou com sono também? Venha logo para cá antes que eu durma e bata o carro

Resmungo pulando para o bando da frente novamente

Meu celular toca, era Gale. Coloco no viva voz

— Como vocês estão?

— Ah você sabe, empurrando com a barriga - digo em um bocejo

— Estou bem cansado, cara

— O hotel não está tão longe, uns 40 minutos, você consegue aguentar? — Eu podia ouvir o ronco de Finnick no fundo

— Consigo. Qualquer coisa passo o volante para Katniss

Gale ri

— É mais seguro você dirigir com sono mesmo

— Ok, tchau Gale - Desligo o telefone antes que ele diga mais alguma coisa e o guardo.

Troco de rádio várias vezes mas não havia nenhuma música boa então o desligo

— Cante algo - Digo e Peeta franze o cenho

— O que?

— Cante algo, eu amo sua voz

— Você ama? - diz abrindo um sorriso

— Apenas cante.

"Nobody ever loved me like she does
Oooh, she does, yes, she does"

(Ninguém nunca me amou como ela me ama
Ah, ela me ama, sim, ela me ama)

Sorrio instantaneamente, ele estava cantando don't let me down, dos Beatles. Eu amava essa música e ele sabia disso

— Ah um clássico - digo sorrindo

"And if somebody loved me like she do me
She do me, yes, she does"

(E se alguém me amasse como ela me ama
Ela me ama, sim, ela me ama)

o acompanho no refrão enquanto tamborilo os dedos em minha perna

"I'm in love for the first time
Don't you know it's gonna last?"

(Estou amando pela primeira vez
Você sabia que é um amor duradouro?)

Canto sozinha enquanto Peeta sorri batucando um ritmo no volante

"I'ts a love that lasts forever
It's a love that has no past"

(É um amor que irá durar para sempre
Ele não tem passado algum)

Peeta rasga a garganta para cantar essa parte e eu rio alto

"Don't let me down, don't let me down
Don't let me down, don't let me down"

(Não me decepcione, não me decepcione
Não me decepcione, não me decepcione)

cantamos o refrão a todos pulmões e eu jogo minhas mãos para cima
esse era um dos momentos mais divertidos de minha vida e eu queria que não acabasse nunca mais
queria aproveitar cada segundo para sempre, junto à Peeta e aos Beatles, é claro.

Quando chegamos ao hotel e Peeta estaciona o carro, ele se vira para mim antes de sair

— Sabe, Katniss, eu amo a sua voz também

***

— Eu só consegui dois quartos com duas camas cada. Como iremos nos dividir?

Estávamos parados do saguão do hotel apenas com algumas mochilas

— Eu pensei que tudo estivesse reservado - Diz Peeta

— E estava, mas nós acabamos demorando e eles passaram os quartos para outras pessoas.

Suspiro alto

— Bom, você pode dormir com Katniss em um enquanto eu e Peeta dormimos no outro - sugere Finnick mas logo me oponho

— Gale ronca, eu não vou conseguir dormir

— Então durma com Finnick

— Pior ainda - Finn me olha torto - ele ronca tão alto que todo o andar consegue ouvir. É melhor eu dividir com Peeta, ele não ronca à noite

— Como você sabe disso - Questiona Finnick estreitando os olhos para mim

— Bom - engulo em seco - eu já acordei de madrugada quando ele estava dormindo lá em casa e nunca ouvi um pio

— Tanto faz, eu só preciso dormir - Diz Gale seguindo para o elevador. Finnick continuava me analisando e eu fico incomodada, ele não podia saber de nada ou mataria Peeta e me levaria junto