Lembram quando eu disse que o dono da arena havia me chamado para aparecer na TV?

Pois é, o Homem-Aranha havia se tornado um enorme sucesso! E eu ficava cada vez mais empolgado. Usando o Kit de Química que meu tio havia me dado, um microscópio e meu conhecimento de ciência, consegui criar um fluido muito especial.

Ele tinha a mesma força e aderência do fio das aranhas. Em seguida, criei um dispositivo para transformar o fluido em teia. E chamei aquilo de "lançador de teia". Passei várias semanas trabalhando nele, até que finalmente ele havia ficado pronto.

Eu então fiz meu próprio uniforme. Passei algumas semanas trabalhando nele, mas o resultado foi melhor do que o esperado. Escolhi as cores vermelho e azul, como o uniforme do super-soldado Steve Rogers, que havia lutado durante a segunda guerra mundial usando o codinome de Capitão América. Haviam teias em cor preta por todo o uniforme, além de uma aranha no peito e outra nas costas.

Fiz uma nova máscara também, feita do mesmo material que meu novo uniforme. Quando eu me vestia, sentia-me como um super-herói!

Meus tios não sabiam que eu estava trabalhando na TV, se soubessem, não permitiriam que eu continuasse a fazê-lo, mesmo que isso estivesse me ajudando a conseguir dinheiro.

Como eu já havia dito, as minhas aparições foram um enorme sucesso. Mas como poderiam não ser? Qualquer um ser impressionaria com um Homem-Aranha capaz de escalar paredes e se balançar em teias!

Em pouco tempo, todos queriam o Homem-Aranha. Eu comecei a me sentir importante, requisitado e poderoso. Ninguém se atreveria a zombar de mim novamente! Não enquanto eu tivesse poderes como aqueles...

– E aí, Parker molenga? - Flash Thompson se aproximou de mim, me tirando dos meus pensamentos e lembranças sobre meu alter-ego.

– Oi... - Cumprimentei-o. Eu, pela primeira vez na vida, não estava com medo de apanhar de Flash. - ... Eugene.

Ele me olhou com raiva. Todos os alunos de Midtown sabiam o quanto Flash odiava ser chamado por seu verdadeiro nome.

– Olha só... Parece que a lagarta decidiu virar borboleta... - Provocou. - Acho melhor você me dar logo o dinheiro do lanche, antes que eu perca minha paciência com você, Parker.

– E eu acho melhor você sair da minha frente, antes que eu perca a minha com você, Thompson. - Disse, em tom arrogante.

Todos me olharam surpresos, enquanto Flash me olhava com mais raiva ainda. Ele então se preparou para me dar um soco, quando, de repente, foi impedido por sua namorada. Flash teve muita sorte de ter sido parado por Liz Allen, a garota mais linda de Midtown High. Caso contrário, ele veria do que o Homem-Aranha é capaz...

– Você deu sorte, Parker! - Exclamou, indo embora, com sua pose narcisista de sempre.

Eu ri, sabendo que o sortudo havia sido ele.

– Pety, você foi muito corajoso enfrentando o Flash daquele jeito... - Liz sorriu para mim, fazendo-me sentir o melhor cara do mundo.

– Obrigado, Liz... - Agredeci, sorrindo.

Ela então, infelizmente, foi atrás do namorado. Eu nunca entendi o que ela vê naquele idiota...

***

Certo dia, eu me distraí pensando, mais uma vez, em minha nova e fantástica vida como Homem-Aranha. Eu sonhava acordado com a fama. Assim, quando um guarda pediu ajuda para segurar um ladrão que fugia pelo estúdio, eu simplesmente ignorei.

O ladrão, sem ninguém para detê-lo, entou no elevador. As portas se fecharam e ele conseguiu escapar. Mas eu não me importava. Eu tinha grandes poderes... Daquele momento em diante eu só precisaria cuidar de uma pessoa: eu mesmo.

Porém, durante a noite, após voltar de mais uma apresentação na TV, eu cheguei em casa e me deparei com uma cena preocupante:

Haviam viaturas do lado de fora e do lado de dentro, policiais conversando com minha tia May, que estava chorando.

– O que aconteceu? - Perguntei, quase desesperado.

– Peter... O seu tio... - Ela começou, soluçando por causa do choro.

Naquele momento eu entendi. Tio Ben havia sido morto. Ele havia sido assassinado por um assaltante...

Os policiais disseram que uma equipe havia cercado o criminoso em um armazém no cais. Eu subi as escadas correndo, vesti meu uniforme e saí me balançando pela cidade para vingar o meu tio.

Quando finalmente cheguei ao armazém, o ladrão ficou desesperado ao me ver. E foi aí que o Homem-Aranha entrou em ação!

Ele tentou atirar em mim, mas minha agilidade e meu sentido aranha me ajudaram a desviar sem a menor dificuldade. Usei então minhas teias para desarmá-lo.

– Foi essa a arma que você usou para matá-lo? - Questionei, cheio de ódio. - Foi essa a maldita arma que você usou para tirar a vida do meu tio?

– E-Eu sinto muito... - Disse o criminoso. - Eu juro! Se soubesse que ele era seu tio...

Eu o soquei com toda a minha força, nocauteando-o. O gorro do criminoso caiu e seu óculos foi completamente destruído. Eu então pude dar uma boa olhada nele... Foi naquele momento que senti um enorme aperto no peito.

Não podia ser. Mas era.

O homem que matara meu tio, era o mesmo homem que eu havia deixado escapar no elevador do estúdio de TV...

A culpa do tio Ben ter morrido era minha!

Eu... Eu poderia tê-lo impedido...

Se eu o tivesse feito, ele jamais teria matado meu tio...

Se eu não tivesse sido tão egoísta, meu tio ainda estaria aqui...

Tudo que consegui fazer naquele momento foi prender o criminoso com minha teia e pendurá-lo em um poste de luz para que a polícia o recolhesse. O melhor que eu podia fazer naquele momento, era impedir que o bandido ferisse outras pessoas...

Em meio ao meu sofrimento, eu me dei conta de uma coisa: eu não havia pedido para ter aqueles poderes, mas era minha obrigação usá-las para o bem!
O importante não era o dinheiro, a fama ou qualquer das outras recompensas que meus poderes poderiam me proporcionar... Aquilo que o tio Ben havia dito fazia sentido agora:

"Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades."

E por esse lema eu viveria daquele dia em diante.