Deixe ir escrita por Thalia


Capítulo 2
Em Dhever


Notas iniciais do capítulo

2 capítulo huehue espero q gostem a aprovação ou não de vcs é mt importante para mim ;)



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“Querida irmã, está tudo bem por aqui, é claro que estaria melhor se você estivesse comigo, mas... deveres reais são extremamente chatos, eu sei A festa foi ótima, meu deus, foi realmente incrível. Acho que você imagina a quantidade de atrações que teve em um baile de uma semana. Fiquei muito cansada, mas ao mesmo tempo feliz. Apesar do aniversariante ser metido como sempre, (sério, quem gosta do príncipe Aaron?), sua festa foi linda. As cores, a música, os dançarinos, os artistas de circo, a comida e tudo o que você possa imaginar. Até o Kristoff, que não se sente muito à vontade com nobres desconhecidos, se divertiu. Olaf ainda está apaixonado pelas flores...Tinha uma hora em que jogaram diversas delas em cima dos convidados. Foi lindo. Um verdadeiro baile de primavera. Tudo acabou há uns três dias, mas Kristoff e eu resolvemos fazer um passeio pelo reino. Sorayan é grande e acabamos ganhado a chance de conhecê-la, então por que não aproveitar? Desculpe não ter escrito antes, foi tanta euforia que acabei esquecendo. Recebi as suas cartas, só me fez lembrar a saudade que estou sentindo de Arendelle e de você. Queria que estivesse comigo, queria mesmo... Prometo escrever mais, irmã.

Com amor, Anna.

Leio a carta inúmeras vezes para ter a certeza de que tinha entendido direito. Acabo me convencendo.

–Esqueceu de escrever? Fazer um passeio por Sorayan e nem menciona o tempo que vai ficar? Isso é ridículo. –falo, nervosa.

Alissa Farley encolhe os ombros, incerta do que dizer. Está sentada comigo em uma pequena mesa na sala privada, onde eu terminava meu desjejum.

Suspiro.

–Quando você disse que esta carta chegou mesmo, Alissa? –pergunto. Já que estava tão ansiosa para ler a carta de minha irmã que não prestei atenção quando ela dissera.

–Bem cedo, Majestade. O mensageiro real a guardou pois a senhora ainda estava dormindo.

–E como fui direto a sala do Conselho, quase ninguém me viu acordada.

–Exatamente. –concorda ela.

Tomo mais um pouco de meu chá.

–Foi a carta mais vaga que já recebi. –falo, triste.

–Ah, se anime, Alteza. Como Anna disse, foi a euforia. Isso acontece. Ela ainda é adolescente. –diz Alissa.

–Você está certa, é só que... queria que ela estivesse voltando.

–Eu também, para ser sincera. A princesa e o Olaf animam esse palácio.

Sorrio, abaixando a cabeça, lembrando da bagunça que os dois faziam. Quando volto a olhar para Alissa, ela está admirando um belo buquê de flores selvagens sobre minha escrivaninha.

–Quanta beleza em um jarro só. –diz ela, aproximando-se das flores. –Quem foi dessa vez? - um sorriso malicioso aparece em seu rosto.

Sinto meu rosto corar. Não por eu gostar de quem tinha mandado as flores, mas sim por que esse assunto, garotos, é um pouco desconfortável para mim.

–Ah, só o Hugo alguma coisa. Aquele Conde exibido.

–Mas lindo...

–Não comece, Farley. –digo, dando um sorriso.

Ela ri.

–E que bom gosto, não é, Alteza? –provoca ela –Quando vocês vão se encontrar?

Jogo um bolinho nela. Ela desvia facilmente.

–Que agressividade! –diz ela, rindo.

Reviro os olhos.

–Você é impossível! –digo, brincando.

–Só estou dando um empurrãozinho.

–Não tenho interesses românticos no momento, Alissa. Você sabe disso.

–É por isso que anda com tanta dor de cabeça. Por que não dar uma chance ao rapaz?

–Sou a rainha, lembra? Interesse é o que mais existe por trás de meus “pretendentes”.

–Então... como vai saber quando algum realmente gostar de você? –pergunta ela, sorrindo.

Me surpreendo com a pergunta. Como eu saberia?

–Eu... eu vou saber na hora. Mas ainda está muito longe de acontecer. –meu rosto volta a corar.

–Ou não. Talvez, quando olhar nos olhos de Hugo Delahari, vai saber que ele é seu grande amor. –Diz ela, irônica.

–Ah, é? –levanto as sobrancelhas- Falando de amores impossíveis, o que me diz de Theo James?

Assim que eu digo aquele nome, A expressão de Alissa muda. Ela fica séria.

–O que tem ele? –pergunta, na defensiva.

Encolho os ombros.

–Só acho que você deveria dar uma chance ao rapaz. –digo. Ela percebe que peguei sua frase e cerra o olhar.

–Isso é ridículo. Não sinto absolutamente nada por ele. É um metido, isso sim. –diz, gesticulando. Ela sempre faz isso quando fica nervosa.

–Estou vendo. –respondo, nem um pouco convencida. –Mas ele é bonito, não é? –pergunto, rindo.

Alissa foi salva de responder. Alguém bate na porta.

–Entre. –digo.

É ninguém menos que Lorde James, capitão da guarda, vestido para uma viagem. Alissa me dá um olhar de quem não está acreditando naquela situação e eu, um sorriso discreto.

–Majestade, Lady. –diz ele para mim e minha irritada conselheira. Aparentemente não havia percebido nada.

–Já organizei tudo. Quando a senhora quiser, partimos para Dhever.

Imediatamente, meus minutos de alegria se esvaem. Lembro do motivo para qual vou aquela vila e tudo que me espera hoje. Minha expressão séria retorna.

–Saio daqui a pouco, James.

Ele faz uma reverência. Dá um curto, mas perceptível olhar para Alissa e sai.

–É ... minha vida voltou.

Alissa suspira.

–Vai dar tudo certo. Pelo menos espero que dê.

Aceno com a cabeça e vou me vestir para a viagem. Saio do trocador usando um vestido de manga comprida violeta e uma capa azul escura.

–Me deseje sorte. –peço.

–É como eu sempre digo, rainhas não precisam de sorte. Elas fazem acontecer.

–Você nunca diz isso. –digo, rindo.

–Bem... acabei de inventar. Mas se aplica a você, não é?

–É o que vamos ver hoje. –respondo.

Me despeço dela e saio da sala. A carruagem está no pátio do castelo. Dois cavalos estão preparados para conduzi-la e cinco homens me esperam: o cocheiro, James e mais três guardas vestidos de azul, cor do uniforme da guarda real. É claro que eu posso muito bem me defender sozinha, mas sempre é bom ter guardas quando há rebeldes à solta no reino, ainda rancorosos do inverno que provoquei.

Lembro de um, há muitos dias... Eu estava ouvindo queixas de aldeões na sala do trono, quando chegou a vez dele de falar. Seus olhos cintilavam ódio e tinha profundas olheiras sob os olhos. Aparentava ter uns trinta anos. A barba estava por fazer e o cabelo tinha um aspecto sujo, assim com o resto de seu corpo. Parecia alguém que sofrera muito na vida. Quando eu ia perguntar por que viera, ele puxou uma faca de uma das botas e correu para me atacar. Lembro dos gritos de alguém. Os guardas vieram, mas já tinha me adiantado. Ele estava na metade das escadas que levavam a mim quando levantei e o imobilizei pelas pernas, deixando-as congeladas. Vendo que não tinha jeito, jogou a arma em minha direção, que bloquei rapidamente com farpas de gelo. Apesar da facilidade com que me livrei dele, eu estava tremendo. Tinha sido atacada em minha própria casa. Devia estar muito distraída, pois quase morri naquela hora. O homem tirara outra faca da calça e ia me acertar se um guarda não tivesse impedido. Ele se debateu parecendo um louco, atacando meu soldado com uma força descomunal. O soldado não teve alternativa a não ser por aquela mesma faca em seu coração. O homem tentou balbuciar algo, mas tombou para o chão, ainda com as pernas presas. Fiquei horrorizada. Mais guardas vieram e retiram o corpo, conseguindo partir o gelo. Mais tarde, descobri que seu nome era Eric Twilian e perdera a filha durante o Inverno. Congelada... “Você amaldiçoou Arendelle”. As palavras de Tenardy são uma tortura. Tantas mortes, tantas vidas destruídas...

Um solavanco na carruagem me faz voltar a realidade. Olho através da pequena janela. Passávamos por uma estradinha deserta. Atrás de mim, vejo o palácio real e todo o centro de Arendelle diminuindo aos poucos. Mais além, meu castelo de gelo, impotente sobre a grande montanha, solitário, sem sua rainha. Como eu pude um dia achar que tudo se resolveria com meu isolamento?

Se passaram duas horas de viagem até que James me informa que finalmente chegamos no vilarejo de Dhever. Ouço um dos guardas gritarem.

–A rainha, abram espaço! A rainha!

Percebo comentários curiosos e olhares para dentro da carruagem. Tento recebê-los da maneira mais gentil possível. Uns me olham com evidente admiração, outros, com desprezo rudemente disfarçado. Passados alguns minutos, a carruagem para. Outro guarda abre a porta e eu desço. Estamos em uma parte afastada do vilarejo, onde a construção mais alta é o galpão. Ao lado dele, uma casa grande, de onde saia um homem baixo, com uma barba longa e rosto enrugado.

–Está diante da Rainha Elsa e seus acompanhantes, senhor. Espero que possa colaborar conosco. –anuncia James.

–Majestade, Milorde. –ele faz uma reverência um pouco trêmula.

–O senhor é Joshua Kyle, comerciante, dono desse galpão? –James faz um gesto para a construção ao lado.

–Sim, sou eu, Milorde. –ele volta seu olhar para mim e parece assustado.

Vou até ele.

–Foi você que mandou a carta para Lorde Tenardy, informando sobre o gelo? – pergunto.

–Sim, os homens do Lorde me pediram para que... o disséssemos na mesma hora se houvesse algum indício de neve. –diz ele, sua voz carregada de nervosismo.

No mesmo instante, me pergunto como Tenardy havia adivinhado que o gelo chegaria em Dhever. Mas logo percebo, após Dhever, vêm Ronuas e bem mais além, Gharnes. Como Cecily dissera, está se movendo para o centro. Mas por quê?

–Vamos ter que dá uma inspecionada no galpão. Espero que não se importe. -diz James, já indo em direção à porta do lugar.

–Claro que não, por favor, eu... só vou pegar a chave. –concorda ele, e parte para dentro da casa, trazendo logo em seguida um molho de chaves. Ele abre a porta e espera nossa entrada. James dá ás ordens para que os guardas esperem fora e entramos.

A porta permanece aberta quando Kyle entra, de modo que a claridade da rua ilumina o interior do galpão. É preciso, já que não há nenhuma janela. Seu teto é extremamente alto e o chão está cheio de caixas grandes empilhadas por todo o lugar. Percebo tudo isso bem depois, porque a primeira coisa em que reparo é o gelo. Tudo, absolutamente tudo, está coberto de gelo. Como se o galpão tivesse sido revestido pelo sólido por dentro.

James dá um suspiro de surpresa. Sei a pergunta que ele deve estar omitindo. Como tudo havia congelado? Não há sentido, e sim, meus poderes também são misteriosos, mas isso é demais.

Passeio pelo cômodo quadrado, observando ao redor enquanto pergunto:

–Há algo que possa nos valer como pista, Sr. Kyle?

–Não, Majestade. –responde, também acenando com a cabeça- Foi tudo muito vago. Saí daqui tarde terminando de arrumar as mercadorias e não vi...nem ouvi nada suspeito. Quando acordei, vim... conferir para ver se tudo estava em ordem e o encontrei assim. –gesticula as mãos ao seu redor.

–O que tem nas caixas? –pergunta meu conselheiro.

–Grãos, Milorde. É aqui que guardo meu estoque.

James acenou com a cabeça. Continuo a observar tudo atentamente, em busca de qualquer coisa que pudesse me oferecer uma resposta, mas não há sucesso. Sinto o gelo como algo que mesmo familiar, por conta de meu poder, é ao mesmo tempo algo novo e estranho. Como um desafio que parece inicialmente simples, mas se mostra complexo. Me dou conta de uma coisa.

–O gelo não derrete, não é? –pergunto em voz alta, para ninguém em particular –É quase como se fosse o meu... –minha mão está quase encostando em uma parede congelada.

–Acha que pode descongelar, Majestade? –indaga James.

–Eu... talvez... –respondo, em uma espécie de transe. Meus pensamentos ficam enevoados. Só quero tocar na parede. Preciso sentir...

Tudo acontece muito rápido. Assim que toco, fecho os olhos e minha mente me lança imagens que não podem ser lembranças minhas. Há o galpão, ele não está congelado...está escuro... há um garoto... sim, mesmo no escuro eu consigo vê-lo. Seus cabelos são mesmo brancos? Ele está sentado, seus olhos se abrem na hora em que o vejo. São azuis... não os meus, mas gélidos, mais escuros, da cor da noite...

“Cuidado”, escuto um sussurro em algum lugar.

Dou um suspiro de surpresa. Uma mão se materializa em meu ombro e minha mão pende para baixo. O devaneio se esvai.

–Majestade. –diz James, calmamente. Me viro para ele. –A senhora está bem?

Com certeza ninguém havia escutado a voz além de mim.

–Sim... sim, é claro. Deixe-me só...- minto, tentando me afastar das lembranças. Por uma razão que desconheço, não conto o que tinha visto.

Encosto novamente a mão na parede, mas, dessa vez, não há visões. Já esperava que isso acontecesse, portanto, me concentro em descongelar aquele lugar. A princípio, me sinto como se ainda estivesse trancada em meu quarto: impotente, sem nenhuma ideia por onde começar. O gelo não cede. Aos poucos, me acostumo com o desconhecido, ordenando que ele desapareça. Ordeno, ordeno, sem palavras. Apenas pensamentos. Lembro de minha irmã, do que me fez ter o controle... enfim, consigo. A partir do ponto onde minha mão toca a parede, o gelo começa a derreter.

James dá um sorriso.

–É.... só nos falta umas duas cordilheiras e o problema está resolvido.

Mas ainda não me parece tão simples.

–Como posso garantir que não volte, Theo? –pergunto, quase aos sussurros. Mas para mim mesma do que para ele, na verdade.

–Como? –ele não entendera.

–O gelo... Como posso...

Mas ele nunca soube o que eu perguntara. De repente, ouço um grito agoniante do lado de fora. Um de meus guardas aparece na porta, com uma expressão de absoluto terror no rosto.

–É melhor ver isso, Majestade. –avisa ele.

James e eu nos entreolhamos, surpresos e saímos do galpão.

Meus guardas estão no meio da rua, ao redor de alguma coisa que se debate no chão. Vejo também pessoas do vilarejo, assustadas e curiosas, se aproximando. Vou até a origem do grito.

A cena é, no mínimo, estranha. Um jovem está se contorcendo no chão e parece sentir muita dor. Não há nenhum corte aparente, mas seus olhos estão totalmente azuis, da cor do gelo.

Meu coração para por um instante.

Os gritos retornam. Um dos guardas o pega pelos braços, mas logo o solta.

–Está muito gelado, queimando! – explica ele, incrédulo.

–Eu falei para você! –diz outro. Aparentemente já tinham tentado ajudar o homem.

“Mas só eu posso ajudá-lo.”, percebo, já que sou imune ao gelo.

Me abaixo para tentar descobrir a causa de seu sofrimento. O gelo, como eu esperava, não causa nenhum dano à minha pele. Assim que o toco, percebo de algum jeito, que seu corpo está sendo dolorosamente congelado por dentro. Também percebo algo mais, uma áurea estranha que emana de seu interior, mas não consigo definir seu significado.

As pessoas observam atentamente, guardas e aldeões, atentas a qualquer coisa que eu viesse a fazer.

Não obtenho o mesmo sucesso no galpão. É impossível descongelar aquele homem, não importa o esforço que eu faça. Mas, felizmente, consigo retardar seu avanço. O jovem suspira aliviado e fecha os olhos. Consulto seu pulso e descubro que ele está apenas desmaiado. O frio em seu corpo também está desaparecendo. Sei que é apenas por alguns minutos.

Me levanto e olho ao meu redor. Dezenas de aldeões já estão nos observando.

–Este homem precisa de cuidados urgentes. Alguém o conhece? Sabe onde mora?

Ninguém se pronuncia, o que acho estranho.

–Nesse caso, preciso que alguém ceda um quarto para esse rapaz –aponto para o homem caído, e vendo a hesitação crescente no rosto de meus súditos, completo –Quem fizer esse favor, será recompensado.

Não é preciso mencionar que logo encontramos um quarto. O dono é um senhor viúvo de cabelos grisalhos, que nos cede um cômodo no primeiro andar de sua estalagem. O jovem é carregado até lá por dois de meus homens e colocado na cama. Peço para que saiam e fico sozinha com ele. Sento ao seu lado e começo a tentar, sem sucesso, tirar o gelo de seu corpo. Como antes, minha magia está apenas retardando o efeito. Mas por quanto tempo? Não sei quem amaldiçoou esse rapaz, e não me interessa no momento. Só sei que não quero deixá-lo morrer nas minhas mãos sabendo que meu poder se mostrou uma forma de curá-lo, a única forma.

–Ele ainda corre risco de vida? –Me viro e encontro James fechando a porta ao entrar. Ele vai até mim

Eu paro, incerta do que dizer. Não tinha contado a ninguém sobre o efeito temporário da minha magia. Por fim, decido contar a verdade. Ele não parece surpreso.

–Não é que duvide de sua capacidade, Elsa, é só que... –percebo que, ao usar meu primeiro nome, meu capitão da guarda some para ceder o lugar ao meu amigo Theo.

Ele olha para o homem desmaiado.

–... talvez isso seja um feitiço permanente ou coisa assim.

Baixo os ombros, desanimada. Tenho que reconhecer que essa é realmente uma magia poderosa. Apesar disso, minhas mãos continuam tocando seu braço, adiando ainda mais o momento inevitável. Os minutos se passam, até que quebro o silêncio.

–O que eu faço, Theo? Não posso simplesmente deixá-lo... – Reparo seu olhar e percebo o significado:

“É o único jeito”.

Suspiro, acenando com a cabeça, mas minhas mãos não saem do lugar. Não sou capaz de salvar uma única vida. Meus poderem finalmente tiveram a chance de mostrar seu valor, mas falharam. Eu falhei. Havia magia mais poderosa em jogo.

De repente, me dou conta de uma coisa óbvia.

–O galpão, esse... feitiço – começo, olhando com pesar para o jovem que não tem nem mais um dia de vida – estão interligados. Alguém está fazendo isso! –me lembro do garoto de cabelos brancos – Existe outra pessoa com meus poderes, James. –uma esperança inunda minha mente- Só não entendo porque...

–... demorou tanto a se mostrar. –completa ele. –É uma hipótese arriscada, Elsa. Outra pessoa com seus dons, é... –ele suspira- ...algo perigoso. Já vimos o que foi capaz de fazer.

Com certeza é algo perigoso, já que conclui que seus poderes são superiores aos meus e ele... torturou um homem. Por outro lado, outra pessoa como eu mudaria tudo. Talvez encontrasse respostas para meus poderes, sua verdadeira finalidade. O grande mistério da minha vida seria finalmente revelado.

Logo após esses pensamentos, sinto uma pontada de culpa. O que estou fazendo? Quem quer que tivesse o dom de controlar o gelo, está usando para o mal. Repito para mim mesma que ele estava congelando o pobre rapaz, o faria gritar de dor até a morte se não fosse por mim.

“Mas ele vai morrer de qualquer jeito. Não pode adiar para sempre.

Como se soubesse em que eu estava pensando, o rapaz acamado abre os olhos e senta rapidamente. Solto imediatamente seu braço e o observo. Seu olhos são castanhos avermelhados, os quais olham para Theo e se fixam em mim.

Ele abre a boca como se fosse falar, mas parece fazer um esforço. Sua expressão é de alguém.... assustado não seria a palavra, como eu imaginaria, mas...irritado.

–Você. –ele fala, finalmente.

Cerro as sobrancelhas, confusa, mas permaneço em silêncio. O que quer que aquele homem dissesse, poderia me dar uma pista sobre o garoto de cabelos brancos.

–Escapou uma vez, mas não conseguirá de novo. –diz ele, o ódio estampado no rosto.

Estou mais perplexa do que antes.

–O que quer dizer? –falo, calmamente.

Ele simplesmente joga a cabeça de encontro a parede e dá um novo grito. Coloco minhas mãos novamente em seu braço, ele parece um pouco melhor, mas logo volta a se contorcer. Não adianta mais. Seu tempo está acabando, mas ainda não tenho nenhuma resposta.

–Quem fez isso com você? –pergunto, nervosa.

Ele dá um sorriso torto, mesmo através da dor.

–Você não vai escapar, não vai... –ele murmura.

–Do que está falando? –insisto.

Ele apenas continua sorrindo.

–Responda a pergunta, garoto! –fala Theo. Ele parece tão confuso quanto eu.

–Não importa se eu morrer agora. Não importa o que aquele desgraçado lançou sobre mim... –ele solta um arquejo agoniante, -Ela virá atrás de você. Sim, ela virá. Não deixará que... –E essa foi sua última frase. Sua cabeça tomba para frente, sem vida.

É impossível descrever minha frustração. Tento, inutilmente, usar minha magia, mas é tarde. Sua pele fica levemente azulada e seu corpo está rígido. Suspiro, desapontada, triste, intrigada, tudo ao mesmo tempo. O jovem tinha mesmo morrido e não pude fazer nada. Pelo contrário, apenas o enchi de perguntas, que por sinal, ainda flutuam em minha mente. Por que aquele olhar de ódio? Por que tinha sido assassinado? Quem fez isso e por qual motivo?

–Foi o interrogatório mais estranho do qual já participei. –assume Theo, ainda em pé ao meu lado.

–Nada do que ele disse me fez sentido algum. –digo, meu olhar distante através da janela. Estou totalmente abalada. Não é todo dia que vejo alguém morrer em minha presença.

–O coitado devia estar enlouquecendo por causa da dor. –ele encosta a cabeça do morto na parede. Seu olhar é frio, quase indiferente. Deve estar acostumado com cenas desse tipo.

–Pode ser, mas... –olho para ele- E se tiver significado alguma coisa? Tenho impressão de que é algo sério. Ele murmurou que alguém viria atrás de mim. Uma mulher...

–Não deve prestar atenção nos últimos suspiros de um moribundo, Elsa. –ele diz, sério.

Abro a boca para argumentar, mas percebo que não tenho argumentos sólidos.

–Bom... você deve reconhecer que está tudo interligado. –lembro do que disse a ele antes.

Ele pensa por um instante.

–Pode ser que sim. É muita coincidência para ser deixada de lado. –ele olha para o corpo na cama- Vou chamar os guardas para o retirarem. E precisamos achar os parentes dele, antes de ele ser enterrado.

–Sim, faça isso. –concordo, me levanto. –Vou sair também. Não há mais nada a fazer aqui. –digo, aliviada por sair de perto daquele homem.

James já está saindo pela porta, quando o detenho.

–Só mais uma coisa, Theo.

Ele para e olha para mim.

–Não conte para ninguém o que houve aqui, certo? Nem sobre como ele morreu. Se alguém perguntar, diga que ele teve uma crise nervosa ou coisa assim.

Ele concordou com a cabeça.

–A multidão ainda está reunida lá fora. Vão mesmo querer saber. –ele dá um sorriso fraco- Não se preocupe, Elsa, não contarei a ninguém.

–Obrigada.

–Então... vamos? –pergunta ele, abrindo caminho para mim.

–Claro. –olho mais uma vez para a cama ocupada. Nunca esqueceria aquele rosto. Poderia até parecer alguém dormindo se não fosse a pele azulada.

Vou em direção às escadas.

Tinha realmente sido uma manhã estranha. Saber de tudo aquilo... alguma coisa me diz que é apenas o começo. O que aconteceria quando o gelo chegasse ao palácio? Já está em Dhever... É apenas uma questão de tempo até eu encontrar as respostas que tanto anseio. Em vez de esclarecer, a visita ao vilarejo me deixara totalmente desnorteada, exceto por um detalhe. O garoto de cabelos brancos... o que quer que tivesse acontecido, sei que ele é o responsável pelo congelamento do galpão e a morte do homem. Por algum motivo, ele quer que eu veja o que está fazendo. Só preciso saber, o quanto antes, suas intenções.


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Notas finais do capítulo

O q acharam? Comentem u.u