Deixe ir escrita por Thalia


Capítulo 15
O sumiço do rei


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii lindos e lindas!!!! espero que n tenham desistido da fic kkkkkkkkk Pelos deuses essa espera cruel e muuuuuito longa, sorry. Eu to pulando de alegria aki ^-^ por finalemnte voltar a ativa hehehehe Obg a todos os leitores que entenderam as minhas razões (q sao as de sempre, mas dessa vez chegou ao extremo!)e sao pacientes comigo e eu amo vcs demais por isso



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O vestido de baile é um dos mais bonitos que já usei. É de um tom violeta escuro, com mangas longas e decote em V, expondo os ombros. Mas é quente e aperta demais na cintura. Meu cabelo, agora preso em um coque frouxo e enfeitado com pedrinhas prateadas, incomoda também. Já tinha me acostumado com minhas habituais tranças. Ou talvez fosse só a minha frustação mesmo, colocando defeito em tudo. A verdade é que as coisas estavam indo bem, estavam: eu sei como encontrar Kaleses, havia finalmente me entendido com Jack, coisa que ainda não consigo acreditar... Enfim, estava quase feliz. Só faltava minha família junto a mim de novo, vê-los em segurança, longe do inferno que eles provavelmente estão passando. Mas algo tinha que dar errado, e deu. O baile de noivado de Tristan está quase começando e não há, em nenhum lugar do palácio, sinal do Tiberius. Giovanna está perplexa com a situação, assim como eu, Jack, Aaron, alguns serviçais e guardas, os únicos que tem conhecimento do fato. Como um rei pode sumir assim, literalmente de uma hora para outra?

–Aaron, você não tem nenhuma ideia, nenhuma lembrança? Tem absoluta certeza de que seu pai não disse para onde ia? –Giovanna pergunta, talvez pela milésima vez. Ela, o príncipe mais novo e eu estamos em uma pequena sala privada, esperando impacientes enquanto os soldados varrem o palácio, à procura do rei. Jack também está com eles. Ele me convenceu a ficar para trás, protegendo a família real dos possíveis sequestradores de Tiberius e dando um alento a rainha desesperada. Nós dois encontramos uma infeliz coincidência no sumiço do rei com a nossa conversa de ontem sobre Kaleses. Talvez estivessem relacionados, ou não. Talvez fosse “apenas” um atentado político, sem envolver seres imortais ou mágica. É isso o que eu espero que seja, porque assim meus problemas seriam bem menores e minha culpa também.

–Eu já falei, mãe.... –resmunga Aaron, pondo a mão na cabeça, em sinal de dor, que está apoiada no braço do divã –Não me lembro do sermão que Marco me deu e nem se ele falou para onde ia –ele suspira, cansado de repetir a mesma resposta- Só sei que estávamos conversando nos meus aposentos e eu o ouvia gritando comigo deitado na cama, sem prestar atenção. Acabei ficando com sono, mas ele continuou reclamando sem parar! Ele resmungou alguma coisa e saiu, o que eu achei um alívio. Então eu dormi e só acordei quando você foi berrar no meu quarto.

A rainha de Sorayan dá um arquejo irritado.

–Você é um irresponsável, Aaron! A nossa maior pista podia estar em suas mãos, se não estivesse tão bêbado! –ela para, conseguindo fôlego- Se as circunstâncias fossem outras, eu também estaria dando um sermão em você! Onde já se viu? Acordar com uma garrafa de bebida na boca, você não tem juízo? –exaspera Giovanna, andando de um lado para o outro. Seu vestido verde esvoaçante balança com o movimento, o cabelo escuro está preso em um elaborado penteado, pronta para o baile, que talvez não viesse a acontecer.

–Mãe... a senhora já está dando um sermão em mim. –Aaron fala, o braço cobrindo uma parte da testa. A roupa de gala amassada por ele está deitado. O cabelo castanho claro e cacheado está assanhado, mas ele não parece se importar, esparramando-se no divã preguiçosamente.

–Que seja! –ela dispara- A prioridade é seu pai! Oh, meu deus, onde será que ele está? Desde ontem sumiu, não consigo entender!

–Você está se preocupando à toa, mãe. Papai já sumiu outras vezes, lembra? Ele deve estar se divertindo por ai e clareando as ideias.

–Clareando as ideias? Ora, por favor, Aaron.

O príncipe suspira, despreocupado e me sinto uma intrusa e culpada, sem saber o que dizer. É muita coincidência para deixar passar. Tiberius ainda nem havia me dado as coordenadas de Kaleses e então sumira, do nada. Há algo errado, tenho certeza disso.

Mexo-me desconfortavelmente na poltrona azul em que estivera sentada, coloco uma mecha de cabelo que havia escapado do coque para atrás da orelha enquanto observo distraidamente um vaso de uma planta próximo à janela. São de uma espécie que não identifico: longos ramos verde-escuros coberto de pequenas flores laranjas e folhas frágeis, que se mantém eretos, embora muitos descessem pelo vaso, o cobrindo quase que totalmente. Acho que a planta havia crescido demais.

Como não sei o que dizer para consolar Giovanna, apenas vou até ela e coloco a mão em seus ombros, em silêncio.

–Ah, Elsa. Eu... já não sei mais o que fazer. Como isso é possível? Eu... não entendo. –ela assume, observando de perto o fogo da lareira recém acesa crepitar.

–Jack e os outros vão encontrá-lo, tenho certeza disso. Ele não pode ter saído do palácio, pode? Os guardas teriam visto... Se ele está aqui, então vamos encontrá-lo.–digo, firme.

–É... sim, acho que sim. –ela concorda, a voz falha.

–Está vendo, mãe? Elsa concorda comigo. –diz Aaron, satisfeito.

Giovanna apenas o repreende com o olhar. Eu o ignoro, não suportando o jeito como aquele garoto age e fala.

–Agora... –começo, recosa- não seria melhor avisar Tristan, Giovanna? Ele precisa saber, já se passou um dia.

Assim que digo essas palavras, ela se afasta bruscamente de mim.

–Não. –ela afirma, rapidamente- Não agora, pelo menos. Já lhe disse isso. Essa notícia iria estragar todo o baile, ele... –a rainha para, hesitante- Meu filho merece ter o seu momento. Tenho fé que Marco será encontrado logo.

–Mas é o pai dele! –insisto, descrente em suas palavras.

–Eu sei, Elsa. – ela suspira- Mas pense comigo: Se Tristan souber disso, vai se preocupar e cancelar o baile. E mesmo que os convidados não descubram o real motivo da preocupação do noivo, ficarão curiosos, aos murmúrios e perguntarão demais. As pessoas vão querer saber. Como acha que vou afirmar que o rei sumiu em sua própria casa? Isso seria terrível, enfraqueceria o reinado...–ela balança a cabeça em negação- Não, quero resolver a situação da forma mais discreta possível e se não encontrar Marco em pelo menos duas horas, avisarei meu filho e então serão inevitáveis as consequências.

Faz sentido. Um pensamento próprio de uma rainha estrategista, que pensa à frente de todos, coisa que luto para um dia ainda ser. Lembro de já ter ouvido falar que Giovanna governa mais que o próprio soberano... Bem, agora tenho a certeza disso. Olho para sua expressão firme, apesar da preocupação, determinada, apesar do medo, que ainda consegue pensar em um plano em meio à dor. Imagino como ela deva estar se sentindo, aflita pelo marido, mas tendo que visar também as consequências políticas por seu desaparecimento.

A porta se abre, dando passagem a quatro homens de uniformes vermelhos, os guardas sorayanos. Entre eles, está Jack, a expressão impassível de sempre no rosto.

–E então? –pergunta uma ansiosa rainha de cabelos castanhos.

Percebo o medo e a preocupação do guarda à frente, o que já me leva a deduzir sua resposta. O homem provavelmente é o capitão, por ter um evidente porte de líder e seu uniforme possuir alguns detalhes diferenciados, incluindo um broche dourado no lado direito do peito, como um símbolo da guarda real.

–Nada, Majestade. –ele diz, cauteloso, depois de uma curta reverência- Mais cinco homens estão procurando pelo palácio, mas minhas expectativas são baixas. Ninguém viu o rei saindo dos aposentos do príncipe ontem no final da tarde, nem se ele falou com alguém depois disso. Os portões de saída para a cidade estavam sendo monitorados e ainda estão, não há por onde ele ter saído. –ele para, envergonhado- Peço seu perdão, Majestade, Por ter falhado na segurança. Mas continuarei procurando...

Giovanna parece se espantar com a notícia. Acho que ela imaginou, com sua permanente fé, que os guardas chegariam explicando que tudo havia sido um mal-entendido e que o rei estava em segurança agora, esperando a companhia de todos com o baile na iminência de começar. Ela recua para trás, sem palavras e sua respiração falha.

–Não... encontraram? –ela repete, atordoada, colocando a mão sobre a boca- Ah, meu Deus... e agora? –ela pergunta, para ninguém em particular.

Há um silêncio pesado na sala: Giovanna está nervosa, tentando recuperar seu auto controle, e se serve de mais água que está em uma jarra sobre uma mesinha circular, os guardas estão esperando suas ordens e Aaron está quase adormecendo no sofá. Olho para Jack, que ainda está com a roupa fina e bordada da nobreza, embora tivesse retirado o colete, só restando na parte de cima a camisa de tecido branco, aberta até a metade dos botões, conferindo-lhe um aspecto despojado, o que combina muito mais com ele. Com os braços cruzados, ele capta meu olhar e se afasta dos guardas, vindo em minha direção.

–Preciso falar com você, à sós. –ele sussurra em meu ouvido, e me lembro automaticamente de nosso beijo naquele quarto... Mas é claro que ele não iria falar sobre isso, há coisas mais sérias.

–Tiberius? –pergunto, em voz baixa.

–Bem... é sobre isso –ele assume, mas antes que eu pudesse responder, o silêncio se quebra com a chegada de outra pessoa.

–Por que ainda estão aí? –Tristan pergunta, animado, chegando na sala já completamente pronto para o baile. Ele veste um elegante sobretudo azul escuro com detalhes em dourado. Sua aparência é quase idêntica a do irmão mais novo: quase a mesma altura, embora Tristan fosse mais forte e os mesmos cabelos escuros do irmão e da mãe. Outra diferença está nos olhos, pois os de Aaron são verdes e os de Tristan castanhos, além do fato de que o mais velho é mil vezes mais simpático.

–Os convidados já chegaram. Onde está o pai? Não o vejo desde ontem com essa correria do noivado... Por acaso o anfitrião não vai aparecer na festa? –ele ri, mas ninguém o acompanha.

Se ele soubesse que é exatamente isso o que vai acontecer....

–Estão com um aspecto péssimo... o que houve? –ele percebe Aaron dormindo no sofá e balança a cabeça, desaprovando- Com ele eu não contava mesmo.

–Ah, seu pai está cuidando de um assunto de extrema urgência, Tristan. Não sei do que se trata, mas ele saiu e deve se atrasar um pouco.

–Um pouco? Mas... –ele parece desapontado.

–Vamos a festa, não? Os convidados estão esperando. Serei a anfitriã sem o Marco, por enquanto. –Giovanna se adianta, segurando o braço do filho e o conduzindo a porta.

–Guardas, podem ir e sigam minhas antigas ordens. –ela diz, lançando-lhes um olhar significativo- E Aaron, acorde! Já é hora de descer. –ela continua, áspera, embora o garoto continuasse de olhos fechados, imóvel.

–Deixa ele, mãe. Deve estar com dor de cabeça por causa da bebida. Ele sempre foi fraco com elas. –defende Tristan, despreocupado.

–Como é? –Aaron protesta, se levantando- Estou ótimo, idiota. Fraco é você. –ele diz, tentando ajeitar inutilmente os cabelos desarrumados.

Tristan apenas revira os olhos, sem se abater. Acho que nada poderia estragar sua felicidade hoje.

–Aaron! –Giovanna repreende.

–O quê? –ele diz, indignado. - Ah, pelo amor de Deus, não vou me desculpar! Nos tratamos assim o tempo todo, mãe, é normal! –ele diz.

–É, mãe.... já estou acostumado com a infantilidade dele. –Tristan provoca, e se olhares fossem capazes de matar alguém, Aaron o faria agora com o irmão. - Rainha Elsa, Lorde Walters? –o príncipe mais velho nos olha, esperançoso- Espero os dois no salão.

Balanço a cabeça em confirmação e dou um sorriso.

–Já vamos descer. –digo, lembrando que Jack queria falar comigo.

Tristan nos devolve um sorriso que acredito ser sincero e sai da sala, junto de Giovanna e um outro príncipe irritado. A rainha de Sorayan me lança um último olhar de tristeza e preocupação antes de sair. Os guardas vão logo em seguida.

Suspiro pesadamente, compartilhando de sua preocupação. Afinal, vendo Tristan assim, alegre e esperançoso pelo compromisso que está assumindo hoje, consigo entender o receio dela em contar a verdade. É horrível destruir a felicidade de uma pessoa, principalmente se for a de alguém que amamos. É uma sensação tão inconstante e passageira que queremos a todo tempo protegê-la, conservá-la, adiar o momento inevitável em que o sofrimento chegará novamente.

–Acho que estamos procurando no lugar errado. –afirma Jack, sério, depois que só restou nós dois na sala. –É impossível ele estar aqui, olhei em todas brechas desse palácio. E prestei atenção em cada serviçal e guarda, nenhum emanava a áurea de um imortal... -ele diz, um tanto frustrado.

–Você... acha mesmo que esse sumiço tem alguma coisa a ver com a nossa conversa de antes? –pergunto, cautelosa.

Ele me encara, as sobrancelhas franzidas.

–É muita coincidência, Elsa. Já falamos sobre isso. O estranho é que... –ele hesita, passando a mão nos cabelos bagunçados em preocupação- não consigo pensar em um imortal que tivesse interesse em nos impedir de chegar à Kaleses.

–Afinal, esse é o desejo de Imogen.- lembro, e um calafrio percorre meu corpo. Imogen está em algum lugar me esperando para me matar e retornar com sua imortalidade, torcendo para que eu caia em sua armadilha, o que já estou fazendo.

–Exatamente, e a Mãe terra... –ele para, balançando a cabeça em negação.

–Ei! –exclamo, surpresa- Pode ser ela, Jack. Você mesmo disse que ela quer me proteger e não quer que eu me envolva nisso.

–Mas como ela saberia que Tiberius poderia nos ajudar? –ele pergunta.

Paro, percebendo a lógica.

–Ah, é, não há como. A não ser... –paro, olhando com algum interesse para o sofá em que Aaron estava deitado.

–Jack... –começo, sem tirar os olhos do sofá.

Ele olha para mim, esperando.

–Você notou que não temos nenhuma prova de que Tiberius saiu dos aposentos de Aaron além da palavra desse bêbado? E se...

O rosto de Jack se ilumina, seguindo meu raciocínio.

–...ele nunca tiver saído de lá? –ele completa, dando um sorriso. –É brilhante, rainha da neve. Como não pensei nisso?

Dou de ombros.

–Estávamos tão focados em imortais e Giovanna tão preocupada com o desaparecimento de Tiberius que não pensamos em duvidar da palavra daquele garoto mimado. –explico.

Jack concorda com a cabeça e vejo aquele sorriso surgir em seus lábios e só de pensar que já provei deles.... Só me faz ansiar por mais.

Ele parece ler meus pensamentos, pois se aproxima de mim e nossas bocas se encontram por um breve instante, porém perfeito.

–Estou adorando essa situação sabia? –ele diz, acariciando minha têmpora- Eu e você... desse jeito... –ele entrelaça sua mão na minha -Vamos encontrar o rei e pegar logo a localização daquela ilha. –ele diz,sem tirar os olhos de mim.

Concordo com a cabeça. Ainda me sinto um pouco estranha em tratá-lo daquela forma, mas, ao mesmo tempo é a melhor sensação de todas.

E sorrio para ele, segundos antes de alguma coisa se enroscar em sua perna e o puxar para trás.

~Narrador

Anna acreditava que já tinha passado mais de vinte e quatro horas naquele quarto. Acreditava.... Afinal, não havia como saber de fato e ela se remoía com essa dúvida. O pequeno aposento era completamente fechado, exceto por duas discretas portas: uma à sua frente, por onde havia entrado à força, e outra na parede à sua esquerda, que dava para um banheiro improvisado. O quarto em si era muito simples: apenas um colchão desgastado no qual ela estava em cima, o piso de madeira escura e coberto de poeira, as paredes cinzas e descascadas.

Sentada em um canto afastado do quarto abafado, ela encostou a cabeça na parede, fechou os olhos e ficou refletindo amargamente onde aquela sua desventura a havia levado. No meio de uma ilha deserta, sequestradas por homens nojentos e cruéis por motivos que ela ainda desconhecia, com saudades de casa, faminta, era demais! O que havia feito para merecer aquilo? Estava tudo indo tão bem... Ela iria para casa, ver sua família, seus amigos, sentir a atmosfera familiar e acolhedora que Arendelle inspirava nela, como uma grande mãe que abraça seus filhos com todo o amor que ela é capaz de dar.

Agora, presa novamente depois de uma frustrada tentativa de fuga, sua terra natal parecia algo distante, inalcançável. Um lugar que ela temia nunca mais ver. A sua situação naquele lugar amaldiçoado por Deus estava começando a assustá-la como nunca, mas se recusava a deixar sua fé ruir, mesmo sendo uma tarefa árdua. Ela precisa ter esperança, precisava, o otimismo que sempre tivera ao longo da vida não podia lhe abandonar agora.

A princesa permitiu que as lágrimas percorressem seu rosto quando se lembrou de Elsa. De todas as pessoas, era dela que mais sentia falta. Será que descobrira que ela havia desaparecido? Ou ainda pensava que ela estava em Sorayan? Será que, Anna se deixou acreditar ingenuamente, sua irmã estava vindo salvá-la? Mas enquanto os braços fraternais ainda não chegavam em seu auxílio, Anna tinha que ter paciência, muita paciência e determinação para manter a cabeça erguida e não fraquejar quando a situação exigisse, mesmo com todo o medo que sentia desde que tinha sido sequestrada em alto mar.

Ela se lembrava daquele dia com bastante perfeição. Proteu e seus homens surgiram de repente no horizonte marítimo, e assim que invadiram o navio em que Anna viajava, aniquilaram quase toda a tripulação que navegava com ela, colocando fogo na embarcação sem nem pensar duas vezes. Nem ao menos hesitaram quando ouviram os gritos desesperados de socorro das pessoas que havia ficado nos conveses inferiores, presas para sempre...

Ela respirou fundo, tamanha era sua tristeza. Tantas vidas perdidas sem necessidade, tudo para capturá-la... Havia culpa maior do que aquela? Se pelo menos Kristoff estivesse ali... Desde que foram pegos tentando escapar, Proteu a havia mandado, junto com Olaf, de volta para o quarto em que estiveram presos, sem anunciar o que iria fazer com Kristoff. Anna não teve bons pressentimentos com aquilo. Lembrava-se de Ryan, o imediato, sussurrar alguma coisa no ouvido de Proteu, que concordou discretamente. Os comentários maldosos e os risos de escárnio por parte dos outros homens também não lhe passaram despercebida. Todos haviam encarado Kristoff com curiosidade, exceto Proteu, que o olhou de cima baixo, como se o estivesse avaliando, e por fim, dissera apenas três palavras antes de ordenar que a prendessem novamente:

“Ele irá servir”

***

–Anna! Anna! –Olaf sacudia seus ombros, tentando acordar a princesa que acabara adormecendo.

Anna abriu os olhos vagarosamente e viu um boneco de neve ansioso olhando de volta para ela. Como seus infelizes pensamentos a fizeram dormir, ela não fazia ideia. Mas agradecia por não ter tido nenhum pesadelo. Para falar a verdade, seu sono havia sido pesado e sem sonhos, uma demonstração do quanto ela estivera cansada e dormira pouco nos últimos dias.

–O que foi, Olaf? –ela perguntou, se mexendo desconfortavelmente.

Mas Olaf fez apenas um sinal com os dedos para que ela ficasse em silêncio e aguçou a audição. Anna repetiu o último ato do amigo e de repente, começou a ouvir passos rápidos, provavelmente descendo escadas.

Ela arregalou os olhos, surpresa.

–Está vindo para cá. –Olaf sussurrou, apesar de não haver necessidade. –Só não sei se isso é bom ou mau –completou, baixando a cabeça.

–Bom, Olaf! –ela respondeu, abrindo um pequeno sorriso- Se eles abrirem essa porta, vamos ter enfim uma oportunidade de escapar!

Olaf, vendo por esse lado, assentiu euforicamente a cabeça.

–E achar o Sven! – completou, animado.

Anna concordou, sabendo que ele se referia a Kristoff e quando abriu a boca para comentar sobre essa troca de nomes que o boneco sempre fazia, ouviu o barulho de um molho de chaves. Segundos depois, a porta se abriu bruscamente e a claridade do corredor afora iluminou o cômodo escuro.

Os prisioneiros cerraram os olhos por causa da luz, mas logo puderam ver o recém chegado, bem conhecido por sinal. Anna se lembrava daquele jovem lunático com cabelos platinados e olhos cinzas. Era seu carcereiro, Jonatas alguma coisa. O que Kristoff havia quase enforcado quando tentaram fugir, o que correu atrás deles e a capturou com violência, desferindo-lhe um forte tapa no rosto.

Quando o viu parado na porta, com um sorriso maldoso piorando o seu aspecto cruel, Anna ficou vermelha de raiva, automaticamente encostando os dedos nos lábios rachados, tocando o pequeno corte que o ato de violência havia feito no lado esquerdo de sua boca. Ela odiava Jonatas um pouquinho mais do que os outros marinheiros, com exceção de Proteu talvez. Ela não sabia, estava na dúvida de quem era o pior.

–O capitão deseja vê-la. –ele anunciou, com uma expressão satisfeita no rosto. Na mesma hora, Olaf deu um grito de guerra, abriu os bracinhos e partiu para cima de Jonatas, que era um “pouco” mais pesado, forte e alto que ele. Surpreso e entretido com tanta agressividade, Jonatas deixou que o boneco viesse, se arrependendo logo depois, pois não esperava que Olaf fosse mordê-lo.

–Ai! –ele exclamou, debatendo a perna para que o seu agressor a soltasse. Olaf não o fez, pelo contrário, apenas intensificou a mordida. Pelo menos assim Anna percebeu, pois Jonatas soltou outro urro de dor.

É claro que a princesa não ia deixar essa oportunidade escapar. Se levantando rapidamente, Anna correu até a porta e quando estava quase a atravessando, Jonatas a agarrou pelos cabelos. Ela tentou, com os braços, se desvencilhar daquele louco, mas ele era forte demais. Ele puxou seus cabelos com violência e a empurrou de volta para o meio do quarto. Arfando, ela olhou para Olaf e viu um par de mãos grandes agarrando seu nariz, que se soltou facilmente de seu rosto.

Anna soltou um pequeno grito e foi até Jonatas novamente, tentando tomar a cenoura de sua mão. Mas o rapaz, cujo semblante parecia mais de alguém irritando do que sentindo dor, assim que viu o braço de Anna em sua direção, o segurou com força e o moveu para o lado, quase o torcendo. Anna soltou um agudo arquejo de dor e Jonatas se aproveitou disso para empurrá-la para trás novamente. Dessa vez, a princesa cambaleou e caiu, fazendo um baque doloroso quando sua cabeça bateu no chão.

Olaf ficou desesperado. Apesar de Jonatas ter-lhe arrancado seu tão amado nariz, o boneco só parou de mordê-lo quando ouviu o grito arquejante de Anna. Após isso, ele imediatamente soltou a perna e exclamou, preocupado:

–Anna! –ele disse, se virando para ver a garota caída no chão. Nesse exato momento, Jonatas o chutou pelas costas, fazendo o boneco parar ao lado da princesa.

–Seus estúpidos! Estúpidos! –Jonatas falou, arfando- Nunca vão conseguir escapar daqui, se conformem com isso!

Mas nem Olaf, nem Anna estavam prestando atenção. Com alguma cautela, a menina inclinou a cabeça para a frente e pôs a mão na parte de trás da cabeça, estava sangrando... havia batido a cabeça bem no meio de uma pedrinha afiada.

–Anna! Ai, Anna, isso não foi nem um pouco bom! –Olaf falou, aflito, olhando o sangue dela escorrer. A mini nevasca acima da sua cabeça adquiriu uma tonalidade cinza escuro, refletindo o estado de preocupação do boneco.

–Estou bem, Olaf. Foi só um corte superficial. –ela tentou acalmá-lo, apesar de se sentir tonta e com um dor forte na cabeça por causa do baque. Ela usou os braços como apoio para se levantar.

–Seu grosso mal-educado! –Olaf protestou, olhando para Jonatas- Ninguém pode machucar as pessoas desse jeito!

Jonatas deu um sorriso falso.

–Não pode? –ele repetiu, incrédulo- Você me mordeu, sua criatura idiota!

Olaf hesitou, vendo a contrariedade de sua frase.

–Ora, mas... –ele começou- Você é mal! Todos vocês são! Pessoas más podem ser machucadas se fizerem algo ruim contra alguém que é bom. Se não nós, seres do bem, vamos sofrer de graça, não acha?

Jonatas levantou a sobrancelha, obviamente ele não esperava essa resposta. Anna também olhou para Olaf, surpresa com aquele argumento. Olaf apenas inclinou a cabeça em sua direção e deu de ombros, fazendo Anna dar um singelo sorriso apesar das circunstâncias. O boneco ficava muito engraçado sem o nariz.

–Que seja. -o marinheiro disse, quebrando a cenoura nariz ao meio e a jogando para os prisioneiros.

Anna pôs a mão na boca para abafar o grito. Mas Olaf não o poupou.

–Ah, não! –ele exclamou- Não, não, não! –ele segurou os dois pedaços quebrados do seu nariz, um em cada mão, e as lágrimas começaram a cair. A nuvem acima dele escureceu ainda mais, e a neve começou a cair mais rápido, como uma verdadeira tempestade.

–Seu monstro doente! –Anna recriminou, áspera, colocando o braço em volta de Olaf para consolá-lo, o boneco estava aos prantos.

Jonatas revirou os olhos, insensível àquela situação.

–O capitão não tem tempo para isso! –ele disse, avançando pelo quarto e segurando o braço de Anna violentamente.

–Me largue! –ela ordenou, puxando o braço de volta, embora não conseguisse se soltar.

Jonatas a içou para cima, a forçando a ficar de pé. Anna continuou se debatendo, irritada, até que ele perdeu a paciência. Jonatas segurou seus dois braços e a olhou nos olhos, ameaçador.

–Escuta aqui! Ou você vai por bem, ou eu juro que derreto de uma vez esse pedaço de neve. –ele desviou o olhar até Olaf, que estava alheio a conversa, segurando os pedaços de seu nariz como se fossem ouro- Não faz diferença para mim! Vou levá-la de qualquer jeito!

Anna suspirou, vencida. Tinha certeza de que Jonatas poderia cumprir sua promessa e não queria ter uma oportunidade para confirmar. Talvez até arranjasse um jeito de escapar e descobrir o que haviam feito com Kristoff... A única coisa que a prendia ali era deixar Olaf, naquela situação, sozinho.

–Posso levá-lo? –ela perguntou, humildemente. –Por favor, eu imploro. Deixe-me ir com ele e prometo que não farei resistência.

Jonatas a olhou desconfiado. Foi preciso alguns longos segundos para ele tomar sua decisão.

–Está bem- ele assentiu, ríspido- Mas se o capitão o proibir de entrar, ele vai ter que voltar de qualquer jeito, entendeu?

Anna confirmou rapidamente com a cabeça. Jonatas soltou seus braços, embora o olhar não desviasse dela, atento a qualquer movimento suspeito que a princesa viesse a fazer.

Ela conseguiu convencer Olaf a ir com ela, mas não conseguiu fazê-lo soltar seu nariz partido, o que ela não fez questão.

–Vou lhe arranjar um novo o mais rápido que eu puder, eu prometo. - ela disse, triste com a aflição do amigo e querendo ao menos compensá-lo de alguma forma.

Juntos, os três saíram do quarto. Jonatas permaneceu atrás deles durante todo o percurso, para garantir que eles não fugissem, o que não foi preciso. Olaf estava arrasado demais e Anna muito cansada e dolorida para fazer alguma coisa com rapidez. Eles percorreram o corredor do nível mais alto do dormitório, onde se localizava o quarto de Anna e desceram três lances de escada antes de chegar ao andar certo, o primeiro. Jonatas mandou eles seguirem até uma porta dupla de madeira e desgastada.

Para falar a verdade, todo aquele lugar tinha um aspecto sem graça e abandonado. Anna deduziu que Proteu e seus homens não costumavam ficar muitas vezes naquela casa velha, exatamente por estar cheia de poeira e não haver marcas de que alguém vivia ali, exceto uma. O único sinal era o forte cheiro de bebida alcoólica em quase todos os andares, principalmente naquele, misturado ao de maresia e frutos de mar. Esse último fez o estômago da princesa protestar. A quanto tempo ela não comia? Desde que um marinheiro havia passado há horas em seu quarto e lhe trouxera de má vontade um prato de algo gosmento e estranho que Anna, por mais que a aparência fosse repugnante, comeu tudo, tamanha era sua fome. A mesma que estava sentindo agora.

Anna se perguntou o que Proteu queria com ela... Se exibir? Mostrar a cabeça ensanguentada de Kristoff em suas mãos? A infeliz hipótese atravessou rapidamente em sua mente, o que a fez ter um calafrio na espinha. Ela tratou de espantar a ideia tão rápido quanto veio.

Jonatas bateu na porta de Proteu calmamente, lançando a Anna outro sorriso maldoso, o que a menina logo ignorou. Ela olhou para Olaf ao seu lado, que devolveu o olhar temeroso, ainda segurando firmemente os pedaços do seu nariz.

–Será que o Sven está aí? –ele perguntou, a voz falha pelas lágrimas de antes.

–Eu não sei, Olaf... –ela admitiu, embora desejasse ardentemente que isso fosse verdade. De repente, seu coração se encheu de esperanças. A única coisa que ela queria agora era voltar a vê-lo vivo, inteiro, pronto para abraçá-la.

“Mas por que Proteu facilitaria as coisas assim?”, indagou sua razão, alertando-a. Mas Anna só deu ouvidos ao seu coração, que começou a bater mais forte, pronto para encontrar Kristoff novamente. E ela alimentou esse desejo todos os segundos antes daquela porta se abrir.

–Entre. –a voz de Proteu ecoou através da porta, segura e autoritária como sempre.

Anna deveria ter ouvido sua razão, porque o resultado foi desapontador. Assim que a porta de abriu, seu coração quase pulou para fora, mas não por felicidade e sim, por surpresa e ódio.

À sua frente estava Proteu, de pé e braços cruzados, escorado em uma longa mesa no meio da sala pouco iluminada, e diante dele e de costas para Anna, havia um homem. Mesmo de costas ela pôde reconhecê-lo e foi ele a razão de seu ódio.

–Olá, princesa. –Proteu cumprimentou, embora Anna tivesse percebido pelos seus semblante e tom de voz que ele estava muito irritado com alguma coisa e não se importava em deixar transparecer.

–Tem alguém aqui que ou é muito bondoso e tolo ou gosta muito de você para querer te tirar da minha humilde hospitalidade. –Proteu continuou.

Ditas as palavras, Anna cerrou os olhos, confusa, e o homem se virou e olhou diretamente nos olhos dela. A menina lembrou o quanto costumava amar aqueles olhos verde amendoados. Agora, ela os via exatamente como eram: mentirosos e traiçoeiros.

–Anna.. –disse Hans, abrindo um sorriso que antes a encantara tanto...


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Notas finais do capítulo

medo kkkkkk confesso q nao achei um de meus melhores cap. mas bem, ne fazer o q. Como tinha dito, eu queria colocar logo o fim da 'Parte Sorayan" nesse cap. mas o tempo n ajudou. Desculpem mais uma vez rsrsrs E então? deu para aproveitar? kkk



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