Eu estava desapontada por notar que Oliver não estava mais ao meu lado quando acordei novamente , aparentemente depois de um cochilo . Apenas me ajeitar em seus braços era bom , porém não era o que eu esperava quando havia o convidado para passar a noite comigo . Eu não sabia a maneira que Patrick reagiria e confesso que ele tinha me surpreendido . Mais cedo ele tinha sido bem arrogante ao lado de sua nova " namorada " , o que de algum modo me fez esperar por uma reação um pouco mais fria e cautelosa , esperava que ele pelo menos tentasse esconder superficialmente a maneira que eu havia o incomodado levando Oliver até ali , claro que parte de mim se divertia , era exatamente o que eu desejava que acontecesse , só que não podia negar o quanto aquilo me deixava confusa .

Tentei ligar para Oliver assim que me recordei que hoje seria a fogueira , mas caiu automaticamente na caixa postal o que me fez ficar sem reação por alguns segundos , afinal não queria nem pensar em como tudo terminaria se eu fosse obrigada a ir sozinha . Me levantei e caminhei até a minha mala onde havia o meu exemplar de Alice no país das maravilhas , tornei a me deitar na cama e deixei que as páginas me engolissem , na pior das hipóteses , Oliver não retornaria a minha ligação a tempo e eu ficaria em casa , o que não me parecia ser tão ruim .

– Espero não estar interrompendo ... - Disse meu pai ao abrir a porta antes de bater . Levantei os olhos do livro e abri um sorriso .

– não ... Estou sem o que fazer de qualquer maneira . - disse dando de ombros enquanto fechava o livro que eu já havia lido mais de um milhão de vezes e voltava minha atenção a ele .

– Eu só queria saber se estava tudo bem por aqui ...mas , aparentemente está melhor do que eu podia esperar . - Eu não podia acreditar que ele estava ali para espiar o que eu havia feito com Oliver , apesar de constrangedor , eu tinha de admitir que era engraçado .

– Mais do que bem pai . - Abri um sorriso que pudesse o tranquilizar . - Não teria nenhum programa interessante para o dia , não ? - Qualquer coisa para manter minha mente ocupada .

– Bem , estou indo resolver algumas coisas na empresa ... Se quiser me acompanhar . - Imediatamente pulei na cama . Corri para o armário e tentei escolher algo que parecesse apropriado e que se assemelhasse ao que Carolyn está acostumada a usar e no fim , terminei com um terninho que não me caiu tão mal .

Podia ver que meu pai estava surpreso , eu não podia o culpar , eu também estava , porém aquilo de longe me parecia ser bem melhor do que passar o dia na cama com um livro , que apesar de maravilhoso , eu já conhecia todas as falas . Aquele seria o primeiro programa que eu faria com meu pai desde que tinha me mudado e nem sequer era um programa de verdade , claro que antes eu apenas conseguia me concentrar nas diferentes maneiras que eu deixaria aquele lugar e não podia negar o quanto estava focada em me tornar a dor de cabeça daquela família , porém agora , depois de ter me envolvido até o talo com o meu próprio sangue , outras coisas começaram a aparecer , mostrando que eu vinha deixando de lado o essencial .

Fiquei ainda pior por notar que nem sequer sabia com o que meu pai trabalhava . Poderia ser tudo , desde o ramo tecnológico a indústria alimentícia e eu nem sequer tinha me dado ao trabalho de perguntar . Uma vez dentro do prédio , ainda mais luxuoso do que o que vivíamos ,comecei a ter uma breve noção do que acontecia dentro daquelas paredes . Era uma construtora . Quando me disseram que meu pai havia ajudado a construir a cidade , pensei que era apenas uma metáfora para o dinheiro que deveria ter aplicado em muitos lugares é claro que em parte isso era verdade , porém agora eu podia notar que não era simplesmente uma metáfora , meu pai de fato havia construído muitas das paredes daquela cidade . Cada funcionário ali , sendo ele homem ou mulher , parecia ter saído de um catálogo de revista , tão bem vestidos e engomados que me senti desconfortável pela maneira que eu me vestia , que em minha cabeça , tinha aparentado ser ideal .

– Senhor Gray . - uma mulher se aproximou . Ela era tão alta que por reflexo , olhei para seus pés para averiguar o tamanho do salto que ela trazia aos pés e me senti profundamente humilhada ao perceber que eram baixíssimos .

– Amanda , leve minha filha até minha sala. - seu tom era sério e direto . Sua voz soara perfeita e sem qualquer vestígio de casualidade . Uma formalidade tão tamanha que até eu estremeci .

– Irá a algum lugar pai ? - perguntei ao notar que aparentemente ele mesmo não poderia me mostrar sua sala .

– Reunião rápida . - disse ele com um sorriso . Deu-me um beijo na testa e me deixou sozinha com aquela que deveria ser a sua secretária.

Não dissemos uma sequer palavra durante o trajeto , porém , ela não precisava abrir a boca para que eu pudesse notar a curiosidade em seus olhos . Eu não esperava nada menos , eu tinha deixado minha zona de conforto , adentrado um espaço aonde eu sou uma grande novidade , ainda mais depois da tentativa de estupro . Eu não podia me esquecer de que aquele era um mundo onde a culpa era da vítima . Fui conduzida pelos corredores até a sala do meu pai , atraindo diversos olhares pelo caminho . Eu sabia que me parecia com meu pai , ao menos o castanho claro do meu cabelo , que agora se mascarava pela tinha , vinha dele ... Assim como meus olhos em tom de mel e isso aparentemente era o suficiente para causar uma tremenda agitação entre os funcionários , fazendo-me pensar que eu de fato havia perdido a cabeça quando aceitei estar ali .

Ela me colocou dentro , me indicou a maioria das coisas e me deixou sozinha . Caminhei até a cadeira do meu pai e me sentei , permitindo que ela se virasse e me apresentasse a mais bela vista que eu já tinha visto . Suspirei sentindo meu peito pesar , notando que havia muito tempo em que eu não parava para pensar em mim mesma . Tinha decidido que ao me mudar não criaria nenhum vínculo e para minha surpresa , tinha me envolvido com quem menos espera , com quem esperava odiar perdidamente e eu sabia que com ele , tudo funcionava da mesma maneira . Claro que a medida que o tempo se passava , ficava ainda mais difícil controlar meu desejo tamanho por ele e ainda mais complicado de o entender . Eu teria odiado ver Carolyn tão cedo , mas considerando que foi justamente a maneira como ela entrou na sala que me impediu de fazer a grande besteira de ligar para Patrick e despejar um monte de coisa , eu até estava grata . Ela não parecia surpresa em me ver , ao menos não tanto quanto eu estava em vê-la .

– Não sabe o quanto é difícil a encontrar . - Revirei os olhos . Eu a preferia muito mais quando costumava não me envolver em sua vida .

– Facilitaria a sua vida se simplesmente não me procurasse . - Disse em um sorriso que deixava claro que ela atrapalhar o meu momento de paz não me agradava .

– Temos planos mocinha . - A julgar pela maneira como estava animada , eu podia notar que aquilo não me agradaria nem um pouco . Olhei para o celular e pedi que esperasse . Depois de tentar ligar mais duas vezes para Oliver , desisti . Sem ele eu não iria a fogueira de qualquer maneira e talvez aquela fosse sua maneira de dizer que não poderia me suportar naquele momento . Frustrada , me rendi aos caprichos da minha madrasta .

A muito tempo , tudo tinha se tornado mais do que confuso ,e no meio de tudo eu nem sequer tinha parado para pensar naquilo que eu realmente quero . Agora , cercada por extensões de cabelo , maquiagens , vestidos e sapatos , a única certeza que tinha era de que o que eu desejava , não tinha nada haver com aquilo ou muito menos com a vida que meu pai me proporcionava . Talvez eu pudesse me acostumar com os dramas diários de um hospital , as contas malucas que um empreiteiro tem que resolver ou até mesmo lidar com a papelada de um escritório , porém , eu jamais me acostumaria com alguém mexendo no meu cabelo , enfiando cada vez mais e mais mechas de cabelo em mim que nem sequer são minhas e que eu de longe sei de onde são . Não tinha sequer me deixado o ver o que faziam , mas o cheiro forte deixava claro que havia tocado na coloração . Queria sair correndo , mas sabia que Carolyn me mataria antes mesmo que eu chegasse até a porta , então tudo o que eu conseguia fazer , era me odiar mortalmente por ter deixado meu ciúmes bobo me fazer dizer sim para aquilo que era simplesmente ridículo .

Eu nunca tinha participado de uma sessão de fotos e aquilo me deixava nervosa . Não restavam dúvidas de que aquela havia sido uma péssima ideia , porém , eu claramente não tinha mais espaço para voltar atrás . Permiti que passassem a camisa branca , quase transparente , sobre o conjunto de lingerie que Carolyn havia separado , senti que os últimos toques foram finalizados e em seguida , estava novamente sendo arrastada , desta vez para diante das câmeras . Não tinha como sentir algum conforto no meio de tantas poses e eu de fato não fazia a menor ideia de qual delas me deixava mais ridícula , porém , o olhar no rosto de minha madrasta cheio de ansiedade e entusiasmo, me passou um pouco mais de confiança e permitiu que eu me soltasse um pouco mais , afinal se aquilo tivesse um final trágico , não gostaria de pensar no que isso poderia causar ao meu pai .