Two Worlds escrita por EdB, Dullg, Apple003


Capítulo 7
Consequências




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-O que está acontecendo comigo?

-David, o café tá na mesa! - grita Carlos

-Já estou indo!

Pouco tempo depois David adentra a cozinha onde vê Carlos comendo uma fatia de pão junto com Helena. Ele se aproxima e se senta ao lado de Carlos, em sua frente estavam algumas frutas. Logo pegou uma maçã e, ao dar a primeira mordida, notou que estava sentindo algo que não sentia há muito tempo: fome. Ele come a maçã rapidamente e enquanto isso o telefone toca, Carlos se levanta e vai atender. Ele apoia o telefone sobre o ombro e o segura com a cabeça enquanto passava um pouco de manteiga no pão.

-Já vi que acordou com bastante fome David – diz Helena vendo o mesmo comer sua terceira maçã – É sempre bom se alimentar bem antes de um dia de trabalho.

No mesmo instante David parava de comer e olhava fixamente para a maçã, estava impressionado consigo mesmo. Ele coloca a maçã sobre a mesa e se levanta.

-Com... Com licença

-Claro David.

Ele sai da cozinha em um ritmo acelerado e, sem notar Carlos vindo em sua direção com uma parte do pão na boca e a faca na mão, acaba se chocando com o mesmo e ambos caem no chão. A faca acaba resvalando sobre o braço de David e Carlos se levanta preocupado.

-David! Você se machucou?

-Me desculpe Carlos... A culpa foi minha, não vi você chegando

-Mas e o seu braço? Não se cortou?

-Não, pode conferir. Acho que foi sorte, a faca deve ter batido com a parte que não é afiada – dizia ele sorrindo

-Entendi... - ele estende o braço para ajudar David a se levantar – Mas eu podia jurar que tinha te cortado.

-Então, quem era no telefone?

-Ah, sim. Era o seu chefe, ligou para avisar que você não precisa ir trabalhar hoje, parece que a livraria não vai abrir.

-Ele disse o motivo?

-Não sei ao certo, mas parece que tem algo a ver com o filho dele.

-O senhor Charles tem um filho? Ele nunca comentou sobre isso.

-Pois é, fazer o que? Bem, de volta ao café da manhã...

David se dirige até o banheiro onde se prepara para tomar um banho, ao entrar debaixo do chuveiro ele fica pensativo e com a cabeça baixa, enquanto a água caía sobre seu corpo. Ele direciona seu olhar para o braço que antes fora atingido pela faca e nota um pequeno arranhão sobre o mesmo.

-Então... Já começou.

No dia seguinte, durante a tarde, David estava deitado na cama com um livro em mãos, Carlos estava na sala assistindo televisão e Helena havia saído para fazer comprar. O mesmo houve a campainha ser tocada e vai atender a porta.

-Ei David, temos visita!

-Já estou indo - ele desce da cama e coloca o livro sobre a mesa, sai do quarto e, ao descer as escadas, se deparava com alguém bastante familiar

-Olá David

-O-Olá, Teresa

-Pode entrar e ficar a vontade Teresa – dizia Carlos

-Com licença...

-Bem... Vou deixar vocês dois sozinhos, tenho que fazer uma coisa ali no quarto, até mais

-Ei Carlos esper...

-Cala a boca. Olha só, não é sempre que uma garota vem aqui – cochichou Carlos ao lado de David – Então não estrague tudo, eu vou subir porque não quero ficar segurando vela.

-Entendi, eu acho...

-Ótimo... Então Teresa, se precisar de alguma coisa pode falar com meu grande amigo David – dizia Carlos dando pequenos tapas sobre o ombro do mesmo.

-Pode deixar – ela sorri

-Então, você quer alguma coisa? - perguntou David

-Um pouco de água está ótimo.

-Está bem, senta aqui no sofá enquanto eu vou buscar. - e assim ela o fez enquanto David ia até a cozinha, logo ele volta para a sala com um copo em uma das mãos e uma jarra na outra – Aqui está

-Obrigada. - ela dá um pequeno gole – Sabe David... Sobre aquela nossa conversa...

-Aqui não é o um local para conversarmos sobre esse assunto, o Carlos pode ouvir e eu não quero envolver mais ninguém nisso.

-Entendo.

-Gostaria de dar uma caminhada?

-Adoraria – dizia ela terminando de beber a água e entregando o copo

Quando David retorna para a cozinha para guardar o copo e a jarra, Helena chega em casa com suas compras, ficando um pouco surpresa ao ver aquela jovem sentada em seu sofá.

-Olá senhorita Helena

-Teresa? Nossa, faz tempo que você não vem aqui, como vai?

-Realmente faz tempo. Estou bem, obrigada.

-Vocês duas já se conhecem? - Perguntou David ao voltar para a sala

-Sim. O Carlos já deve ter lhe contado, nós estudamos juntos há alguns anos e algumas vezes eu e a Angela vinhamos aqui para fazer trabalhos.

-Entendi

-Por falar na Angela, como ela está? Ela é outra que está sumida.

-Ela está ótima, continua animada como sempre

-Que bom

-Podemos ir Teresa?

-Ah, sim. Foi um prazer revê-la senhorita Helena

-Digo o mesmo, fique a vontade para aparecer sempre que quiser.

-Muito obrigada

David sai de casa acompanhado de Teresa, eles começam a caminhar pelas ruas da cidade até uma praça próxima dali. Chegando lá eles avistam um balanço com dois lugares, um olha para o rosto do outro e dão uma pequena risada. Teresa então se aproxima do balanço e se senta no mesmo em seguida David se senta no lugar vago ao seu lado.

-Podemos conversar agora?

-Sim... Sei que naquele dia eu não fui totalmente claro, mas agora irei lhe explicar mais coisas sobre nós Juizes – Teresa ficou em silêncio apenas olhando atentamente para David. - Como eu já havia dito, nós somos seres especiais, e sendo um ser especial temos alguns “benefícios”

-Benefícios?

-Sim. Nós não envelhecemos, não importa quanto tempo passe desde o dia em que morremos, nossa aparência continua a mesma. Não temos as mesmas necessidades humanas, como se alimentar e dormir... Também não podemos ser feridos por armas normais, o única coisa capaz de ferir um ser especial é um outro ser especial...

-Entendi. E como exatamente vocês sabem quando alguém irá morrer?

-Bem... - David olha ao redor para ver se não havia ninguém por perto, ao ver que a praça estava quase vazia e que as poucas pessoas que se encontravam ali não estavam próximas, ele estende a mão e faz surgir sobre a mesma o Livro da Vida – Nós usamos esse livro, aqui estão contidos o nome de todas as pessoas, o dia e o motivo de sua morte.

-Entendo, então quer dizer que aquela noite seria realmente o dia da minha morte?

-Sim

-E agora? Quando... Quando será?

-Infelizmente é impossível saber, quando um Juiz interfere na vida de uma pessoa, seus registros são apagados dos nossos livros e ficamos impossibilitados de saber quando essa pessoa ira morrer.

-Quer dizer que eu posso morrer a qualquer momento sem você saber?

-Exatamente

-Ah... Na verdade isso não muda muito minha situação...

-O que quer dizer com isso?

-Nada... Pode continuar

-Ok... No nosso livro ficam apenas registrados o dia em que a vida da pessoa está marcada para ter um fim “natural”, quer dizer que nenhuma das vidas está registrada para ter um fim de uma outra forma.

-Como assim?

-Por exemplo, no nosso livro não está registrado que uma pessoa será assassinada ou irá cometer suicídio. Se uma pessoa está destinada a morrer por causa de um ataque cardíaco, e a mesma acaba sendo morta por uma outra pessoa, nós não saberemos quando isso irá acontecer. A menos que seja um acidente, como um incêndio, por exemplo.

-Entendi. Usando o seu exemplo, e se por acaso o incêndio for causado por alguém propositalmente e isso acabar resultando na morte de alguém... Vocês não saberão desse fato com antecedência assim como as outras mortes?

-Isso mesmo.

-E o que acontece quando uma pessoa não morre da forma como estava “previsto”

-Se uma pessoa está destinada a morrer com setenta e cinco anos e tem sua vida encerrada aos quarenta, por exemplo, seu espirito vagará pela Terra até que o prazo de sua vida chegue ao fim, ou seja, vagará pelos próximos trinta e cinco anos para então poder seguir para o Mundo dos Mortos.

-Entendi. Isso tudo é muito impressionante e inacreditável...

-De certa forma tenho que concordar com você... - David notava que próximo dali passava um vendedor de sorvete com sua carrocinha - Você... Gostaria de um sorvete?

-Adoraria.

-Que bom – ele se levanta do balanço – Qual sabor?

-Morango.

-Tudo bem – Ele seguia em direção ao vendedor e pouco tempo depois voltava com duas casquinhas de morango – Aqui está.

-Muito obrigada – ela leva um pouco até a boca

-O que achou? - perguntou enquanto se sentava novamente

-Delicioso – dizia ela sorrindo gentilmente

-Mesmo? - David também saboreava um pouco – Concordo.

-Tá um pouquinho sujo aí...

-Onde?

-Aqui... Deixa que eu limpo... - ela aproxima a mão e toca a face de David gentilmente próximo de sua boca

-O-Obrigado – dizia o mesmo um pouco envergonhado e voltando a tomar o sorvete

-De nada.

Ambos continuaram a tomar os seus sorvetes e a conversarem e o tempo ia passando sem que notassem. Até que a tarde chega ao fim e as primeiras estrelas começam a surgir no céu.

-Nossa, está tarde, preciso ir para casa antes que a Olivia fique preocupada

-Tudo bem – disse David se levantando. Ele logo notava poucos metros atrás de Teresa um pequeno canteiro de rosas azuis que decorava a praça. Olhando fixamente para uma delas, a mesma começava a flutuar e vinha em sua direção – Aqui... Para você.

-Que linda, obrigada – ao pegar a flor da mão de David um dos espinhos espetava o seu dedo – Ai.

-Deixa eu ver... - ele pega na mão de Teresa gentilmente e via uma pequena gota de sangue escorrer pelo seu dedo

-Não... Não foi nada...

-Estou vendo... - ele coloca o dedo de Teresa na palma de sua mão, ela fica em silêncio e um pouco sem jeito, logo a mesma sente um pequeno calor sobre sua mão e o pequeno machucado em seu dedo desaparece.

-Nossa... Você... Você é cheio de surpresas.

-Você não faz ideia... - diz ele soltando sua mão

-Obrigada – ela sorri – Bem, até amanhã.

-Até.

Na tarde seguinte a turma de David estava no meio da aula de Biologia, era mais um dia comum para todos. David sempre quieto, Carlos fingindo não notar os acenos de Angela e Teresa chegando atrasada. Tudo estava como sempre, até que Victória pede para alguns alunos lerem em voz alta uma parte do capitulo.

-Teresa. Poderia ler a próxima página por favor?

-Sim professora. - diz ela se levantando com o livro em mãos

Ela então começava a ler, os outros alunos acompanhavam a leitura em silêncio com seus respectivos livros. No meio do segundo parágrafo Teresa interrompe a leitura, todos os seus colegas direcionam o olhar para ela sem entender o que estava acontecendo. Ela leva uma das mãos até o rosto e fecha os olhos.

-Me desculpe... Estou... Estou um pouco tonta... - no mesmo instante ela cai no chão desacordada.

-Teresa! - exclama Angela se levantando e ficando de joelhos próximo de sua amiga. De repente todos os outros alunos e a professora se aproximam muito preocupados

-O que está acontecendo? - perguntou um outro jovem.

-Carlinhos me ajuda aqui! - dizia Angela tentando levantar Teresa do chão.

-Essa não, sabia que isso poderia acontecer... - diz Carlos ajudando Angela.

-Teresa... - diz David abrindo caminho entre os outros alunos – Carlos, o que houve?

-Depois eu explico David, me ajuda a levá-la para a enfermaria.

-Está bem... - ele a segura nos braços e sai da sala, indo na direção da enfermaria junto com Angela e Carlos. Os outros alunos e Victória ficam na sala apreensivos.

-Senhorita Irene, ajuda aqui por favor! - diz Angela ao entrar na enfermaria

-O que está acontecendo? - perguntou a enfermeira da escola. Ela estava na faixa dos trinta anos, começou trabalhando na escola como estagiária e quando a antiga enfermeira se aposentou assumiu o seu lugar.

-Minha amiga desmaiou na sala.

-Aqui está ela senhora – diz David ao entrar com Teresa nos braços juntamente com Carlos

-Nossa, é a Teresa não é? Ela não pode ficar aqui, temos que levá-la para um hospital rápido.

-O que? - disse David espantado

-Coloquem ela na cama enquanto chamo uma ambulância.

Irene pega o telefone e chama uma ambulância, poucos minutos depois a mesma chega na escola. Irene junto com outros professores levam Teresa em uma maca até a ambulância. David, Carlos e Angela seguiam logo atrás.

-Apenas um poderá acompanhá-la até o hospital – diz Irene

-Vai você Angela, eu e o David ficamos aqui e tentamos entrar em contato com a irmã da Teresa

-Tudo bem Carlinhos, vejo vocês depois. - e assim a ambulância seguiu para o hospital

-Carlos me diz o que está acontecendo.

-Depois eu explico David, temos que ligar para a Olivia.

-Nem pensar! Você vai me dizer o que está acontecendo agora mesmo!

-Tudo bem, tudo bem. Não precisa se alterar. Você sabe porque a Teresa vem sempre chegando atrasada na escola? É que a Teresa... Bem, ela está doente.

-Doente? O que ela tem?

-Sim, ela... Ela tem Leucemia...

-O que? Não... Não pode ser.

-É isso mesmo. Os únicos que sabem disso somos eu e a Angela, além da senhorita Irene e alguns professores.

-Mas... Porque não me contaram isso antes?

-A Teresa não gosta que ninguém a trate de forma especial por causa disso, ela pediu para que eu e a Angela guardássemos segredo quanto a isso. - David ficou em silêncio – Teresa vem passando por um tratamento quase todos os dias pela manhã durante anos, mas parece que ultimamente ela não tem reagido aos medicamentos...

-O que isso significa?

-Significa que... - seus olhos se enchem de lágrimas – A Teresa pode... Ela pode morrer a qualquer momento

-Não... Isso não pode ser verdade...

-Eu sei que é difícil de aceitar... Vamos, temos que ligar para a Olivia, depois nós vamos para o hospital.

Algumas horas se passaram. David, Carlos e Angela estavam no hospital sentados do lado de fora do quarto onde Teresa estava. No quarto estava Olivia fazendo companhia para sua irmã, ela já havia acordado, mas voltara a dormir após tomar um remédio.

-Não acredito que isso está acontecendo...

-Fica calmo David, ela vai ficar bem.

-Espero que esteja certa Angela...

-Olivia, como ela está? - pergunta Carlos ao ver a mesma sair do quarto

-Ela está bem agora, já acordou e quer ver vocês.

-Vai lá David, pode ir na frente.

-Obrigado Carlos.

David adentra no quarto e via Teresa deitada sobre a cama com uma cadeira próxima. Ao vê-lo se aproximar e se sentar ao seu lado, Teresa esboça um pequeno sorriso.

-Como você está?

-Estou bem, desculpa preocupar vocês...

-Não se preocupa.

-Então... Você já sabe?

-Sim... Carlos me contou.

-Entendo. Desculpa esconder isso de você.

-Não tem problema, você teve seus motivos.

-Amiga, como você está? - diz Angela ao entrar no quarto chorando

-Estou bem Angela, não foi nada de mais, pare de chorar.

-Você nos deu um baita susto Teresa.

-Desculpe Carlos...

-Quando você vai poder sair daqui? - perguntou Carlos

-Amanhã já poderei ir para casa, o médico só quer que eu passe a noite aqui para fazer alguns exames.

-Entendo.

-Muito bem pessoal, sei que estão preocupados com a Teresa, mas ela tem que descansar agora – diz o médico entrando no quarto.

-Ah sim, então estamos indo. Até amanhã Teresa, melhoras.

-Até amanhã Carlos. Obrigada.

-Se cuida em amiga – diz Angela lhe dando um pequeno abraço e limpando as lágrimas do rosto.

-Pode deixar, e eu já disse que não foi nada de mais. Para de chorar.

-Não consigo...

-Vamos logo Angela, Teresa tem que descansar

-Está bem, já vou indo Carlinhos.

-Bem... Até amanhã Teresa... - diz David segurando em sua mão – Melhoras.

-Obrigada... Até... Até amanhã.

Passaram-se três meses. Teresa continuou frequentando a escola normalmente, desde aquele dia ela passou mal algumas vezes, mas em nenhuma delas chegou a desmaiar. Durante esse período a relação entre ela e David estava se tornando cada vez mais intima. Ela o visitava nos finais de semana, algumas vezes acompanhada de Angela, e o mesmo era feito por ele. Essa era a ultima semana do primeiro semestre e o recesso escolar estava se aproximando. David cada dia que se passava se sentia diferente, sua força estava cada vez menor e todas as necessidades humanas que o deixaram quando se tornou um Juiz, voltavam cada vez mais fortes.

-David, estou livre! - diz Carlos correndo em direção à cesta

-Lá vai! - David passa a bola que é agarrada por Carlos em pleno ar e a enterra.

-Belo passe.

-Droga, desisto de ganhar do time desses dois – lamentou um dos jovens do time adversário

-Eu também.

-Ei o que estão fazendo? O jogo ainda não terminou – diz Carlos voltando para o lado do seu time na quadra.

O jogo recomeça e o time adversário parte para o ataque, mas logo perdem a posse de bola para David que de imediato avista Carlos se livrando da marcação. Ele se prepara para passar a bola, mas sua visão começa a embaçar e ele acaba errando o passe.

-David errou o passe? Impossível – diz um jovem do seu time espantado

-É, até os melhores erram – concordou um adversário

-Desculpe Carlos...

-Não tem problema, todos cometemos erros.

-Sabe, não estou me sentindo muito bem - ele ameaça perder o equilíbrio e cair no chão, mas é segurado por Carlos.

-Ei David, o que houve?

David é levado para a enfermaria por Carlos. Ele se encontrava sentado na cama enquanto Irene media sua pressão sanguínea.

-Parece não ser nada de mais. Você tem se alimentado e dormido direito?

-Acredite, ultimamente eu tenho dormido e comido até demais...

-Entendo. Bem, já está liberado.

-Obrigado

Ao sair da enfermaria David se depara com Angela, Carlos e Teresa do lado de fora lhe esperando, após explicar que não foi nada de mais, todos retornam para a sala.

-Nem acredito que já estamos no meio do ano – diz Angela – Vocês têm algum plano para essas férias?

-Não sei... - diz Carlos – É difícil pensar em alguma coisa, visto que são apenas duas semanas antes de voltarmos para a escola.

-Concordo, mas mesmo assim eu pretendo viajar. Essa cidade já está me cansando... E você David, vai fazer alguma coisa nessas férias?

-Não. Vou ficar na cidade mesmo.

-Nossa, que coisa. Se me lembro bem você disse ter um irmão, não é? Porque não vai visitá-lo e passa um tempo com ele?

-Ah, meu irmão... Acho que não seria possível...

-Entendi. E você Teresa?

-Também vou continuar na cidade. Talvez eu saia com a Olivia, afinal ela também estará de férias do seu trabalho.

-Ah, que bom.

O final de semana chega. David como sempre estava em casa no quarto, Carlos havia saído para dar uma volta pela cidade e Helena estava na cozinha preparando o almoço, quando a campainha toca.

-David, você tem visita! - diz Helena ao abrir a porta

-Quem é? - diz ele descendo as escadas

-Ele diz ser um amigo seu. - diz Helena voltando para a cozinha

-Amigo meu... - ao se deparar com a pessoa que estava em pé na sala David fica estático – Ri-Ricardo?

-Olá David, quanto tempo. Como vai?

-O que está fazendo aqui?

-Ora, não posso visitar um velho amigo?

-Venha comigo – David o guia até o quarto – Pronto, aqui não seremos incomodados... Agora me diga, o que veio fazer na Terra?

-Gabriel me mandou aqui.

-Gabriel?

-Sim. E você já deve saber do que se trata.

-Fale baixo por favor.

-Não se preocupe, eu criei uma barreira ao redor desse comodo, mesmo que aquela simpática senhorita se aproxime, ela não poderá escutar a nossa conversa.

-Entendo. Afinal, porque Gabriel te mandou até aqui?

-Ele pediu para lhe entregar uma mensagem... Ele quer que você retorne para o Mundo dos Mortos imediatamente.

-Retornar? Mas ainda não conclui minha missão...

-Missão? Não me venha com essa desculpa, você não olha em seu Livro há meses, você se esqueceu completamente de sua missão David – David fica em silêncio – Enquanto você ficava ai curtindo sua vida de adolescente, os espíritos continuaram desaparecendo cada vez mais.

-Mas isso é impossível. Eu olhei no Livro e nenhuma morte acorreu.

-Mesmo? E quando foi exatamente a ultima vez que você checou isso? - David novamente fica em silêncio – E mais uma coisa... O que você acha que está fazendo? Você vem quebrando nossas leis como se fossem nada.

-Eu sei disso...

-Eu vejo, pelo visto já começou não é mesmo? Sua força está sumindo, você está se sentindo cada vez mais fraco. Já foi ferido algumas vezes não é mesmo? Sorte sua de ter poderes curativos.

-Não precisa me dizer isso, eu sei perfeitamente.

-Sabe mesmo? David vê se acorda. Você sabe a besteira que você fez ao salvar aquela garota? Você cavou a sua própria cova. Sua força continuará diminuindo até que não reste nada. Você... Você irá morrer, David.

-E o que você quer que eu faça?

-Eu já lhe disse, retorne para nosso mundo.

-Não posso.

-Como assim não pode? E não me venha dizer que é por causa da sua missão. É por causa daquela garota não é? David você está recebendo uma chance, geralmente você já estaria banido do nosso mundo para sempre, mas Gabriel está tentando ajudá-lo.

-Não! Eu não vou voltar Ricardo.

-Entendo... Bem, há uma forma de você continuar aqui sem sofrer as consequências.

-Do que está falando?

-Tudo isso começou quando você violou nossas leis e se tornou um pecador. Ou seja, para que você volte ao que era antes... Seu pecado deve desaparecer.

-Você quer dizer... Que eu devo matá-la? Como ousa me dizer uma coisa dessas?

-Não sou eu que estou te dando essa opção. De fato, esse é o único modo. Essas são suas opções David: volte para o nosso mundo e viva como antes, mas sofrerá a devida punição por violar nossas leis, ou então fique aqui e pereça, a menos que você faça o que eu lhe disse.

-E se eu tiver uma terceira opção?

-E que seria...

-Ficarei aqui ao lado de Teresa e meus amigos, não me importo com o que aconteça comigo.

-Está certo disto?

-Eu já disse, não irei retornar... A menos que você queira tentar a sorte e me levar a força.

-Não confunda as coisas David, eu estou aqui apenas como um mensageiro. Se minhas ordens fossem para levá-lo de volta, as coisas seriam diferentes... E você sabe, não é? - naquele momento a aparência do quarto tomou uma forma totalmente distorcida.

-Suas ilusões não me assustam Ricardo.

-Ilusões? - ele sorri – Você me subestima... Bem, meu trabalho aqui está feito, poderia me levar até a porta?

-Claro... - eles saem do quarto e descem as escadas

-Você já vai embora? - diz Helena – Não quer ficar para o almoço?

-Não obrigado, tenho uma coisa para resolver. Quem sabe numa próxima.

-Está bem.

-Bem, já vou indo. - diz Ricardo já do lado de fora da casa – Mais uma coisa, você sabe o que acontecerá com aquela garota quando sua hora chegar, não é?

-Eu sei... Você disse que está aqui apenas como um mensageiro, não é? Então entregue uma mensagem para o Gabriel... Diga a ele que caso queira que eu volte, terá que vir me buscar pessoalmente.

-Você não tem noção de suas palavras não é mesmo? Como queira, sua mensagem será entregue.

-Ótimo.

-E aí David – diz Carlos chegando em casa acompanhado de Teresa, que havia sido convidada para o almoço – Quem é esse cara?

-Olá, prazer. Meu nome é Ricardo, sou um amigo de David que está de passagem pela cidade.

-Prazer, meu nome é Carlos e essa aqui é a Teresa.

-Olá...

-Encantado senhorita... - diz Ricardo olhando fixamente para ela – Bem, preciso ir agora.

Ricardo então começa a caminhar e, alguns minutos depois, some do alcance de visão de David. David, Carlos e Teresa adentram a casa, Helena já havia terminado de preparar a refeição e ambos se preparam para comer. Durante todo o almoço David permaneceu pensativo. Ao terminar ele e Teresa saem para dar uma volta no parque central da cidade que ficava próximo da escola.

-Uma pergunta David, aquele seu amigo... Ele era...

-Um Juiz? Sim, ele faz parte da minha equipe.

-E o que ele veio fazer aqui?

-Veio me entregar uma mensagem de nosso líder. Ele quer que eu retorne.

-Mas... Porque?

-Isso não importa, eu não vou voltar.

-Que bom... David, você poderia me contar como foi sua vida quando você ainda era um humano?

-Claro, isso já faz muito tempo...

Enquanto isso no Mundo dos Mortos, Ricardo retornava.

-Estou de volta Gabriel.

-Vejo que está sozinho.

-Me desculpe, mas ele disse “não” para sua mensagem.

-Entendo... Não posso fazer mais nada sobre isso.

-Na verdade... Ele me pediu para lhe entregar uma mensagem...

-Do que se trata?

-Ele disse: “Diga a ele que caso queira que eu volte, terá que vir me buscar pessoalmente.”

-O David ficou maluco? - diz Rafael enquanto Gabriel começava a caminhar para dentro do portão – O que vai fazer Gabriel?

-Preciso pedir um favor para o Lucas...

-Pode deixar Gabriel – diz Lucas se concentrando e fazendo surgir três cópias suas ao seu lado – Minhas réplicas irão tomar conta da parte externa do portão.

-Porque pediu para o Lucas tomar conta do portão Gabriel? - pergunta Ricardo ao se aproximar junto com Rafael

-Porque nós estamos indo para a Terra – diz ele erguendo a mão e fazendo um portal se abrir


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