I Must Be Dreaming escrita por Imaginary Girls


Capítulo 2
Penumbra


Notas iniciais do capítulo

Olá, Dreamers! Como prometido, aqui estou eu com mais um capítulo. Lembram que eu disse que queria tornar a Allyra tão perturbada - nossa, que pessoa legal eu sou - ao ponto de pensarem que ela está realmente louca? Bem, o processo da loucura começa nesse capítulo. Espero que gostem. Boa leitura!



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CAPÍTULO DOIS

PENUMBRA

Quando cheguei à minha casa e olhei o relógio, já eram 19h.

Tinha sido um longo e estressante dia, tudo o que eu queria fazer agora era descansar. Então, decidi subir para tomar um banho.

Liguei o chuveiro, e deixei a água fria escorrer pelo meu corpo. Eu não estava nada bem. Mesmo após a terapia, ainda não sabia o que estava acontecendo. A conversa com a psicóloga ajudou, mas ainda havia o detalhe de que eu não contara tudo a ela, e o fato de não poder contar me sufocava. Uma hora vejo sangue, outra hora, penso que é uma ilusão. Vejo sombras, ouço vozes, me sinto tonta... É muita coisa para um dia só. Quando meus pais voltassem, eu pediria para que me levassem ao médico. Mas, meus pais voltariam apenas na quarta-feira à noite. Tenho tempo até lá, então, decidi me concentrar no meu banho.

Assim que saí do banho e me vesti, a luz do meu quarto começou a piscar, até que todas as luzes se apagaram. Fiquei completamente imóvel no meio daquela escuridão. Havia apenas uma pequena fenda de luz da lua entre as cortinas. Eu tinha um pavor enorme de escuro, não importa a quão velha eu fosse, eu sempre teria medo de escuro. Por esse motivo, eu tenho duas velas, uma caixa de fósforos e uma lanterna, na gaveta do criado mudo, ao lado de minha cama.

Fui até o criado mudo e peguei a lanterna. Não tinha certeza se havia trancado as portas, então decidi descer para checar. Antes de descer, fechei a janela de meu quarto. Ainda estava com um pouco de receio em ir lá em baixo, mas era necessário. Fiquei encarando a porta de meu quarto, até que criei coragem para abri-la.

Andava lentamente pelo corredor, até que cheguei às escadas. O andar de baixo era iluminado pela luz da lua, uma penumbra que dava um clima sinistro ao ambiente. Nessa penumbra, minha imaginação me pregava peças. As escadas pareciam um enorme precipício, os galhos das árvores pareciam garras, as sombras eram monstros, e o som do vento parecia anunciar minha morte.

Respirei fundo, e comecei a descer degrau por degrau, causando rangidos que me arrepiavam, a partir meu crânio até as pontas dos pés. Fui até a porta e a tranquei.

Quando estava prestes a voltar para o meu quarto, ouvi barulho de passos no gramado. Foram três passos, depois, não ouvi mais nada.

Fique calma. Pensei. É somente a sua imaginação e o seu medo.

Mas, por precaução, fui até a cozinha e peguei uma das facas, que ficavam no faqueiro, em cima da bancada. Peguei a maior faca que encontrei, e voltei para as escadas, na ponta dos pés.

Novamente respirei fundo, e comecei a subir os degraus. Acelerei o passo quando cheguei ao corredor, e entrei rapidamente em meu quarto e tranquei a porta.

Fui novamente até o criado mudo, e acendi as velas. Depois, guardei a lanterna. Eu continuava com a faca em minha mão. Eu podia estar sendo paranoica, mas com tudo que aconteceu hoje, eu tinha razão para estar paranoica.

Eu estava encolhida no chão, ao lado de minha cama, para ficar perto das velas. Meu corpo suava frio. Eu podia sentir as pequenas gotas de suor, escorrendo de minha nuca, ao longo das minhas costas. Eu tentava respirar, mas não conseguia parar de tremer. Meu quarto era enorme, e apenas duas velas me faziam companhia. As velas o quarto de uma forma que parecia que eu estava em uma caverna, onde a escuridão dominava. A escuridão que criava ilusórios fantasmas. A cada canto que eu olhava, via um monstro vindo em minha direção. Eu piscava lentamente, e ele desaparecia.

Meu medo se intensificou, quando comecei a ouvir pequenos rangidos no andar de baixo. Não tenha medo. O assoalho é de madeira, rangidos são normais. Essa era a frase que eu ficava repetindo dentro de minha cabeça.

Lá fora, eu ouvia o barulho das folhas, que se moviam com o vento. O barulho das folhas me acalmava, e me distraia dos rangidos. Mas os rangidos aumentaram. Ficavam cada vez mais altos. Foi quando resolvi aceitar de que não eram apenas rangidos normais, ele havia entrado na casa. Continuei encolhida e imóvel, até que comecei a ouvir aquela voz novamente. A voz que chamara meu nome. A voz que ecoara em minha cabeça o dia todo.

– Pobre garota – gritou ele -, acha mesmo que uma simples fechadura pode me manter fora?

Não disse nada. Apenas continuei encolhida, minha respiração estava frenética. Eu continuei ouvindo os passos no andar de baixo. Eram apenas passos, até que comecei a ouvir o estrondoso barulho de coisas sendo quebradas. Podia ouvir claramente o rangido das portas dos armários sendo abertas, e os copos caindo ao chão. Os vasos de cerâmica da minha mãe sendo reduzidos a cacos, o barulho do faqueiro caindo da bancada...

Eu me sentia em um filme de terror, daqueles que você não sabe o que vai acontecer em seguida. Que o assassino aparece atrás de você em segundos, não importa o quão rápido você corra. Não importa o quanto você grite por socorro, ninguém irá lhe salvar. Não importa o quanto você se arraste, ele sempre lhe puxará pelos pés, arrastando você para o seu fim. Era inútil lutar, pois sentia que a cada movimento que eu fizesse cairia em uma armadilha diferente. Por isso eu não me mexia.

Mas não era apenas minha imaginação. Tinha realmente alguém dentro de minha casa, destruindo tudo, e procurava por mim. Foi então que decidi fazer alguma coisa. Em um movimento rápido, peguei meu celular e digitei o número da polícia.

– 911, qual sua emergência? – disse a atendente.

– Tem um invasor na minha casa, ele está destruindo tudo e ele... Ele vai tentar me matar! – respondi, com lágrimas começando a jorrar de meus olhos.

– Fique calma, senhorita. Diga-me seu nome e endereço.

– Me chamo Allyra Storm, moro na Rua Autumn Garden, 407.

– O.K. Srtª Storm, uma viatura já está sendo encaminhada para o seu endereço. Pode me informar em que parte da casa você está, e também onde está o invasor?

– Estou trancada no meu quarto. O invasor está na sala, no andar debaixo.

– Tudo bem, continue trancada, tente não fazer nenhum barulho. A polícia está a caminho.

– Obrigada. – disse eu, entre soluços abafados – Por favor, rápido. Fechaduras não iram impedi-lo de chegar até mim.

– A polícia chegará rápido, senhorita. Confie em nós.

– Tudo bem, obrigada novamente.

Desliguei o telefone, e me encolhi em baixo da minha cama, com a faca em mãos e os olhos vidrados na porta. O andar de baixo havia se silenciado. Até que o barulho que antes estava na sala, começou a dirigir-se para as escadas.

– Você acha mesmo que meros policiais humanos poderão dar conta de mim? – disse ele, com um tom sarcástico que me amedrontou ainda mais.

Trancas não eram o suficiente, policiais não eram o suficiente, e ainda o fato de ele ter dito “humanos”, me fez pensar que o invasor era ainda mais perigosos do que eu poderia imaginar.

O barulho nas escadas era constante. Estava subindo lentamente. Eu continuava parada, e apertava cada vez com mais força, o cabo da faca. As lágrimas continuavam a jorrar de meus olhos, escorrendo até meu queixo e pingando no carpete empoeirado.

Sentia a adrenalina correndo por minhas veias. Sentia os gritos sendo sufocados em minha garganta. Sentia as lágrimas afogando meus olhos. Sentia uma vontade imensa de sair correndo. Mas estava acabado. Eu estava acabada.

– Pare de se esconder, e venha até aqui.

Assim que ele disse isso, senti uma força me puxando para fora, me arrastando até chegar à porta, meu corpo foi lançado em direção a ela, e bati de cara na madeira fria, e caí de costas no cão. Senti algo quente escorrendo de meu nariz, e foi quando percebi que eu estava novamente sangrando.

– O que você quer de mim?! – gritei entre lágrimas.

– Eu ainda não tenho certeza, mas primeiramente, gostaria que você abrisse esta porta. Se não eu vou derruba-la em cima de você. A escolha é sua.

Ouvindo isso, levantei-me do chão e abri a porta com minhas mãos tremendo freneticamente. Quando a abri, houve um vento passando por mim e entrando em meu quarto. A vela que estava acesa apagou-se. A porta fechou-se sozinha com uma intensa batida, trancando-se. E eu não podia ver nada no breu de meu quarto. Nada... Além de dois olhos verdes reluzindo na escuridão.

Pressionei minhas costas contra a porta, tentando ficar o mais longe possível dos olhos que me fitavam do outro lado da sala.

– Allyra Storm em carne e osso. – disse ele – Você está mais bonita desde a última vez em que a vi. Você é mais bonita que sua irmã, o que é muito estranho para gêmeas idênticas.

– C-como conhece Clara? E quando você me viu? – indaguei gaguejando.

– É uma longa história que terá que ficar para outro dia. Mas, não é por isso que estou aqui.

– Então me diga logo que diabos você quer de mim!

Finalmente ouvi o barulho das sirenes da viatura policial. O invasor de olhos verdes reluzentes desapareceu em um piscar de olhos. No mesmo instante, eu abri a porta de meu quarto e fui correndo escada abaixo. Estava tudo muito escuro, e acabei tropeçando e caindo em alguns cacos de vidro que estavam espalhados pelo chão. A adrenalina não me permitiu sentir dor alguma, mas os cacos eram muitos e eu me machucava ainda mais, sem conseguir levantar.

Senti um alivio imenso quando os policiais adentraram minha casa, com lanternas iluminando meu rosto apavorado. Dois deles vieram em minha direção, levantaram-me e levaram-me para fora da casa.

Assim que me tiraram, pude ouvir os cochichos dos vizinhos ao meu redor. Alguns gritavam meu nome, perguntando-me o que havia acontecido. Eu não tinha forças muito menos foco para responder. Nem eu tinha certeza do que estava acontecendo.

– Senhorita, onde está o invasor? – perguntou-me um deles.

– Ele fugiu. – respondi entre lágrimas- Simplesmente desapareceu.

– Onde estão seus pais?

– Estão em East Point, voltam apenas na quarta-feira.

– Tudo bem. Levaremos você para a delegacia, cuidaremos desses ferimentos e lhe faremos mais umas perguntas, ok?

– Sim, só me tire daqui, por favor.

– Está tudo bem, você está a salvo agora.

Eles estavam me dirigindo para o banco de trás da viatura, e um pânico enorme correu por meu corpo. De jeito nenhum eu iria entrar em um carro. Nem a polícia poderia me obrigar.

– Não! – gritei.

– O que há de errado, moça? – perguntou-me o outro policial.

– Eu não posso entrar em um carro, eu tenho fobia. Sofri um acidente terrível, desde então, nunca mais entro em nenhum veículo motorizado.

– Está tudo bem, não precisa ter medo.

– Eu não vou entrar e vocês não podem me obrigar!

Após isso, senti uma picada em meu braço e minha visão começou a ficar turva. Meu corpo começou a amolecer, meus olhos se fecharam, e eu adormeci.

Quando acordei, estava em um lugar desconhecido. Estava deitada em uma maca, com meus braços enfaixados, e meu corpo ainda estava meio mole. O relógio na parede marcava 01h22min. Ouvia telefones tocando, passos pesados, choros gritos... Até que um familiar policial veio apareceu no quarto onde eu estava. Oficial Wilson, dizia seu crachá.

– Olá senhorita, como se sente? – perguntou ele.

– Em choque.

– Eu entendo. Peço-lhe desculpas, mas precisamos injetar uma dose tranquilizante em você, para você se acalmar e vir conosco. Você estava perdendo muito sangue, e precisávamos trazer você á delegacia de alguma forma. Não poderíamos carregar você ensanguentada até aqui.

– Tudo bem, eu compreendo.

– Agora, se não se importa, quero que me diga exatamente com todas as palavras o que aconteceu antes de chegarmos.

– Bem, eu tinha acabado de sair do banho quando as luzes se apagaram. Eu não sabia se tinha trancado as portas, então peguei uma lanterna e fui checar. Assim que me certifique que as portas estavam trancadas, decidi voltar para o meu quarto. Após trancar as portas, pude jurar ouvir passos no gramado, por isso peguei uma faca, pois eu estava sozinha em uma casa enorme e escura. Subi para o meu quarto, e depois de alguns minutos pude ouvir o invasor no andar de baixo, então liguei para vocês.

– Você conhecia o invasor?

– Não, mas ele parecia me conhecer. E conhecer minha irmã também.

– E onde está sua irmã?

Nesse momento, senti como se tivessem dado um soco em meu estômago. Abaixei minha cabeça, e senti uma lágrima escorrer por meu rosto.

– Ela está morta. – respondi. – Ela morreu em um acidente de carro há três meses. Eu estava dirigindo, por isso eu não quis entrar no carro.

– Eu sinto muito, senhorita. – disse ele.

– Tudo bem.

– O invasor falou com a senhorita?

– Sim. Ele disse umas coisas, mas nada que seja relevante. Quando ele estava prestes a me contar algo, vocês chegaram, e ele sumiu janela a fora.

– Você chegou a ver o rosto dele?

– Não, estava escuro, e ele era ágil. A única coisa que pude notar foram seus olhos. Olhos verdes reluzentes, que me observavam na penumbra de meu quarto?

– Reluzentes? – perguntou ele, com um tom zombeiro. – Você quer dizer que os olhos dele brilhavam no escuro?

– Eu sei que isso parece ridículo, mas sim. Você precisa acreditar em mim.

– Tudo bem, eu acredito em você. Algo mais?

– Não. Não me lembro de mais nada.

– Os ferimentos foram causados por ele?

– Não. Quando vocês chegaram, eu saí correndo, acabei tropeçando e caindo nos cacos de vidro causados por ele. Mas meu nariz foi machucado por ele quando me puxou contra a porta. O senhor pode achar que estou louca, mas senti uma força me puxando e só parou quando eu atingi a porta.

– Tudo bem, senhorita. Você passou por muita coisa, estou tentando manter a mente aberta.

Aposto que este policial mandara fazerem um teste com meu sangue, para se certificar de que não estou à base de drogas. Quando o teste der negativo, ele terá certeza de que sou louca.

– Você irá passar a noite aqui e estará liberada pela manhã. Tem alguém que possa vir busca-la?

– Tem. Minha melhor amiga Grace.

– O.K. Nos dê o número dela e ligaremos pela manhã.

Entreguei-lhe o número de Grace e depois ele me deixou sozinha para que pudesse dormir. Eu instantaneamente comecei a chora. Aquele policial acha que eu estou maluca, por causa do comentário dos olhos reluzentes. Isso é um pequeno detalhe. Todo o resto foi extremamente sensato. Mas fora isso, tem o fato de o invasor não ter deixado nada para trás. Nada além de destroços de vidro e cerâmica.

Algo que me intrigava é que ele disse que tem uma pequena tarefa para mim, deve ser algo importante. Isso significa que ele vai voltar. E isso me deixou apavorada.

Uma enfermeira veio me trazer comida e remédios. Dela me disse algumas coisas que não prestei atenção. Apenas fiquei fitando a parede, pensando no que aconteceria comigo quando ele voltasse.

– Senhorita, está tudo bem? – perguntou a enfermeira, assustada.

– Ele vai voltar. – sussurrei.

– Perdão? Não consegui ouvir.

– Ele vai voltar. – disse, virando meu rosto em direção a ela. – Ele vai voltar! Ele vai voltar!

Não sei o que deu em mim. Uma descarga de insanidade percorreu meu corpo. Só sei que fiquei gritando “Ele vai voltar”, e acabei agarrando a enfermeira, sacudindo seus ombros enquanto eu gritava e chorava.

– Eu preciso sair daqui, ele deve estrar vindo! – gritei loucamente.

Soltei a enfermeira, arranquei o tubo da bolsa de sangue que estava em meu braço e levantei-me da maca. Reparei que minhas pernas também estavam enfaixadas, e um de meus tornozelos estava engessado, pois havia quebrado quando tropecei.

Isso não me impediu. Sai mancando para fora da ala de enfermagem da delegacia. Pude ouvir os gritos da enfermeira pedindo por ajuda. Então aumentei meu ritmo, mas ainda era complicado com um tornozelo engessado e cortes ardendo por todo o meu corpo.

De repente sinto mãos me segurando. Dois enfermeiros me seguravam, um de cada lado. Comecei a me sacudir, tentando me libertar, mas era em vão. Vi a enfermeira que eu havia atacado vindo em nossa direção, com uma seringa na mão. De novo não, pensei. Tentava desesperadamente me libertar, mas os enfermeiros me seguravam firme no lugar. A enfermeira então espetou a agulha no meu braço, injetando o liquido que percorreu meu sangue, fazendo-me sentir mole e vulnerável. Eles me arrastaram para a maca novamente, injetaram o tubo da bolsa de sangue novamente em meu braço, e depois disso, os rostos se tornaram borrões, e meus olhos se fecharam para um longo sono.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Deixem sua opinião nos comentários. Espero que estejam gostando, e se não estão, comentem o que acham que está faltando. Vejo vocês segunda feira.
Até :*



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