Blaine não conseguia tirar a última parte da conversa que tiveram da cabeça.

Ele sabia que sempre arriscaria sua própria sorte se fosse para tornar os sonhos de Kurt reais. E de repente, todas aquelas inseguranças dos meses anteriores vieram à tona. Talvez esse não fosse o perfil de atitude que Kurt tomaria naturalmente por ele, depois de meses de afastamento, Kurt podia já ter percebido que a presença de Blaine o sufocava de verdade e que Blaine já não valia tanto o sacrifício, talvez ele já nem o amasse tanto assim. Ele podia estar exagerando em seus pensamentos, mas assim era ele, a todo instante, de repente, baseado em suas inseguranças, ele construía visões dos acontecimentos de acordo com o que ele via acontecer ao seu redor, sem pensar em mais nada. E o que estava acontecendo agora era: Kurt preferia se distanciar à lutar pelo relacionamento deles.

Esse pensamento o deixava zonzo.

Preferiu deixar a poeira baixar e tentar um contato num outro dia, quando conseguisse usar um argumento melhor do que fazer Kurt sentir-se ainda mais oprimido.

Kurt, ao contrário do que Blaine imaginava, se sentia mal por tudo que estava acontecendo. Sua vida regou-se de pensamentos dos mais diversos tipos e ele ainda não estava pronto para tomar qualquer decisão, por isso, evitou as chamadas de Blaine por alguns dias.

Kurt fora colocado na pior das situações, tendo de escolher entre viver a sua mais perfeita visão de carreira em NYC ou largar tudo e viver os sonhos de Blaine.

Ambos os sonhos eram instáveis, os dois precisariam tomar muito cuidado e prestar atenção na forma como conduziriam suas carreiras, ou tudo poderia desabar. Por isso, Kurt resolveu tomar uma decisão que enxergou como inteligente. Depois de alguns dias sem conversarem, era hora de conversarem.

–KURT! – Blaine atendeu num salto! – Eu já estava desesperado achando que alguma coisa tinha acontecido. Por que você não retornou minhas ligações?

–Blaine, precisamos conversar – Esse tom era sempre alarmante, e Blaine já se preparou pro pior – Eu te conheço há anos, muito bem e sei que nossa última conversa guiou seus pensamentos pra longe e que você deve estar achando milhões de coisas sobre mim. – Blaine tentou interromper, mas Kurt não deixou – Eu queria te dizer que provavelmente nada do que você pensou é verdade, eu estou sofrendo muito com essa distância, com a nossa dificuldade de comunicação e com o fato de um dos dois precisar ceder o seu sonho em favor do outro. – Blaine ouvia, agora imóvel e calado – Isso não é justo com a gente! Nossos sonhos são nossos e só nós sabemos o quanto precisamos nos dedicar à eles para fazer dar certo. Mas, ao mesmo tempo que eu não posso desistir de NYC, sei que você não pode desistir de LA, não agora. – Blaine também havia aproveitado os últimos dias para pensar no assunto e ele havia chegado a mesma constatação, ele queria falar sobre isso com Kurt, mas Kurt continuava falando sem parar – Por isso, queria propor que nós déssemos um tempo dessas preocupações do noivado, desse comprometimento entre nós. – TEMPO? SÉRIO, KURT? –Você está livre pra agir como quiser, com quem quiser, – Como assim, eu estou livre para quem eu quiser? Será que mesmo depois de tudo que aconteceu, Kurt não tinha entendido que isso não fazia mais sentido? Enquanto Blaine se prendia em pensamentos silenciosos, Kurt seguia falando. – Contanto que você foque na sua carreira, no seu sonho. Eu não quero que você me encare como um estorvo na sua vida e não quero que você passe a ser um incomodo na minha. Não quero que a cobrança chegue ao ponto de nos saturar.

– Você está mesmo terminando comigo? Isso sim não é justo, Kurt! Sem saber que você está comigo vai ser ainda mais difícil! – Blaine não estava gritando, porém não estava dizendo nada calmamente. Ele ainda estava ofendido pela forma como Kurt escolhera para dar fim ao problema.

– Blaine, desde o início, você sempre disse que nós dois éramos destinados a ficar juntos, almas gêmeas e tudo mais. E é isso. Não importa o afastamento ou o desligamento, nós sempre vamos ter uma chance no futuro. No momento, só o que eu quero é não ser culpado pela interrupção da sua carreira, não quero que o seu pensamento esteja focado em como eu estou lidando com a situação. Eu só quero o seu sucesso e pra isso, você precisa de foco!

Blaine já havia entendido tudo e sabia que era inútil continuar discutindo. Kurt havia chegado há um veredito e nada que ele dissesse poderia fazê-lo mudar de opinião.

– Tudo bem. Prefiro que paremos a conversa aqui. Eu vou manter a minha promessa, trabalhar por mim, por você e por nós – Kurt estava chorando e fazendo o possível pra conter as lágrimas quando respondeu:

– Não deixe ninguém te derrubar, Blaine. Eu sei, no fundo do meu coração como essa história termina e você também sabe.

E desligou.

Então é isso, acabou por enquanto, Blaine pensou enquanto limpava as lágrimas que caíam. Já que Kurt não quer ser um estorvo na carreira dele e deseja que Blaine foque-se em oportunidades positivas, era isso que ele iria fazer. Isso se aplicaria perfeitamente a seu objetivo: trabalharia por si mesmo, construindo um nome no mercado, e trabalharia por Kurt, para enfim voltar para NYC e ganhá-lo de volta. Ele faria isso quantas vezes fosse preciso.

Você está livre pra agir como quiser, com quem quiser.

Que bobagem! Desde incidentes anteriores Blaine tinha certeza de que não havia mais ninguém no mundo que ele quisesse mais do que ele queria Kurt.