- Hazel?

Hazel se afastou de Frank e olhou para quem estava na porta da garagem. Sammy. Ops, Leo. Ah, Sammy-Leo. Enfim, Hazel se sentiu envergonhada. Flagrada. Não sabia o porquê, afinal, Sammy foi seu passado - até 1942 -, e Frank era seu presente. Gostava muito mais de Frank do que Sammy. Sentia Sammy como um amor infantil. Frank era... Seu futuro.

- Sim, Sam... Leo - disse, mais confiante do que se sentia.

Frank ficou rígido.

- Quem é esse? - Sammy estava sério. Era evidentemente Sammy. Não tinha os olhos divertidos de Leo. Tinha os olhos ciumentos de Sammy. Ele tinha novamente tomado a posse do corpo de Leo.

Hazel xingou baixinho. Frank a olhou, assustado.

- Leo, o que...? - ele começou a dizer, mas não pôde terminar. Sammy jogou uma bola de fogo em Frank, que se desviou. Um buraco flamejante ficou na parede.

- Sammy, pare com isso! - Hazel gritou.

- Sammy...? - perguntou Frank, antes de escapar por pouco de uma bola flamejante que quase pegou seu pé.

Sammy preparava mais uma bola quando ela se interpôs entre ele e Frank.

A bola flamejante nas mãos de Sammy-Leo desapareceu.

Hazel suspirou aliviada, mas não podia perder a compostura.

- Hazel, o que está fazendo? - perguntou Frank.

Hazel não sabia como Sammy tomava o controle de Leo, nem o porquê de estar assim. Sammy era tão tranquilo...

- Sammy, pare. Vamos conversar.

- Conversar o que, Hazel? Que você me traiu?

Doía a Hazel ouvir isso. Fazia 80 anos que ficaram juntos. Ele devia estar morto. Ela deveria estar morta. Nada colaborava para o fato de ela o trair. Ela sempre pensou nele...

- Sammy. Não o traí. Nunca te esqueci...

Ela foi se aproximando, a fim de acalmá-lo.

Mas isso só serviu para deixá-lo mais nervoso.

Duas labaredas se formaram, uma em cada mão. Frank gritou dolorosamente.

O calor, pensou Hazel. Instintivamente, ela colocou as mãos em cima do toco de madeira, da vida de Frank. Tirou de dentro da camiseta o toco, em que havia colocado um laço em volta para usá-lo no pescoço. Pegou-o nas mãos, desprotegido. Ele estava muito quente, e um pedaço caiu no chão. Sobrou metade. Frank gritava, se contorcendo no chão.

Ela olhou para Sammy, se contorcendo de raiva. De amante para inimigo, pensou. Em um mísero tempo de 80 anos.

- Ah, então, esse cotoco de madeira tem a ver com a vida de seu namorado? - seus olhos brilharam maliciosamente. - Dê-me aqui.

- Nunca! - gritou Hazel. Frank desmaiara. Estava sozinha. Não podia correr, deixá-lo à mercê de Sammy.

Metal. Hazel precisava de metal. Concentrou-se, enquanto fitava Sammy se aproximar dela.

Uma voz feminina invadiu sua mente.

"Não tente adquirir coisas da terra, Hazel. Eu coordeno a terra. Você não tem mais poder sobre ela".

O desespero começou a invadir Hazel. Ela respirava fundo, tentando se acalmar. Olhou para Frank, caído, impotente. Seu Frank.

Olhou para Sammy. Ia pegar a espata quando sentiu o chão tremer, fazendo-a perder o equilíbrio e cair de costas no chão. O impacto fez o toco voar de suas mãos. Sammy correu para pegá-lo. Hazel pegou a espata e jogou no caminho de Sammy, fazendo-o tropeçar nela e cair. Aproveitou para levantar e correr em direção ao toco, e o chão começou a tremer novamente. Não, não começou somente a tremer. Começou a abrir. Abaixo de Frank. Ele iria cair. Iria cair para o abismo, o Mundo Inferior, o Tártaro. Hazel não queria descobrir.

Sammy se levantou e sorriu. Estava prestes a pegar o toco. Era só esticar o braço.

Hazel estava entre Frank e o toco. Frank estava com metade do corpo caído para o lado do buraco. O desespero não a deixava pensar bem.

- Então, Hazel? Salvar Frank, a vida de Frank ou nenhum dos dois e voltar comigo para 1942?

O tempo pareceu parar. A terra parecia ter ficado estática. Só Sammy se mexia.

Ele fez aquele olhar que Hazel tanto adorava: brilhante, sedutor, hipnotizador.

- Oras, obviamente, sou aliado de Gaia. Ela me deixou voltar. Voltei em outra vida, na vida de Leo Valdez. Tomei conta do corpo dele. Então uma voz disse na minha cabeça: "Volte, Sammy. Tenho poder para isso. Poderá reencontrar Hazel. Ela estará louca, traga-a de volta à sanidade". E você está louca, Hazel, se acha que pode viver plenamente aqui, com aquele brutamontes... - apontou com a cabeça para Frank. - Poderia voltar comigo, Hazel, no tempo. Gaia garantiu-me que a manteria em paz. Poderíamos nos casar...

Ele sorriu. O coração de Hazel quase pulou do peito. Mas não era o sorriso de Frank.

- Então você tomou o corpo de Leo - disse Hazel, recomposta e horrorizada.

- O que vai ser, Hazel? - ela pareceu não ouvir. Continuou com aquele sorriso e olhos sedutores. – Frank, a vida de Frank ou o recomeço que sempre quis?

O tempo pareceu voltar a correr, mais rápido do que antes. Frank caía.

Voltar. Recomeçar.

Pegar Frank. Perder o toco.

Pegar o toco. Perder Frank.

Mas poderia reencontrá-lo...

Correria o risco de não conhecer essa vida, que parecia tão sua...?

Se pegasse Frank, de nada adiantaria, pois sua vida estava no toco. Lembrou-se das palavras de Sammy: "Salvar Frank, a vida de Frank".

Ecoava em sua cabeça: "A vida de Frank...".

Ela olhou para Frank. Balbiciou "desculpe" e voltou-se para Sammy.

Seu coração acelerou. Fez o olhar mais brilhante e feliz que podia. Chegou perto de Sammy. Tocou-o. Ele passou a mão por seu rosto, parecendo feliz. Ele se inclinou para beijar Hazel.

E teria o feito, se ela não tivesse dado uma joelhada no meio de suas pernas e ele não gritasse de dor.

Hazel pegou o toco e deu uma cotovelada nas costas de Sammy, que caiu. Olhou uma última vez para Frank, que caía de vez no buraco, e saiu correndo em direção aos estábulos, segurando as lágrimas.