Preciso tirar uma foto!

Não sei quanto tempo ficamos viajando. Lembro de termos atravessado a ponte do Queensboro e de Jake fazendo inúmeras piadas e cantadas. Nem prestei tanta atenção. Não sabia o porquê de Lou ter mandado irmos para a Grand Central, mas eu sentia que tinha alguma coisa a ver com Nico. Olhei para ele e vi que estava me encarando. Encarei-o também, mas senti minhas bochechas ficarem quentes e desviei o olhar. Por que eu fiz isso?! Que ridículo...

– Maria!

– Ah, oi

– O que foi? Tá viajando?- perguntou Thaís

– Hã, não, só ‘to pensando...

– Hum...

Descemos em frente à Grand Central meia hora depois. Agradecemos Argos e entramos na estação. Havia pessoas por todos os lados, dentro tinha um relógio enorme e o teto era de um verde lindo, com todos os símbolos do horóscopo. Avistei o caranguejo e sorri.

– Maria!!!!- gritou Thaís pulando em cima de mim

– O que foi criatura?- disse, tentando tirar ela de cima de mim

– Aqui tem Starbucks!- disse ela toda animada e eu quase gritei. Meus pais não me deixavam tomar café por que me deixava muito mais agitada do que eu já sou, então algumas vezes, Thaís e Bea contrabandeavam café do Starbucks e me davam.

– Será que as duas malucas podem calar a boca?- perguntou Nico

– Vem calar Puro-osso!- disse Thaís, com fogo púrpura no olhar

– Como quiser garota do vinho!

– Epa, epa, epa! Podem parar os dois!- disse, me colocando no meio deles- Não quero que vocês se matem ainda!

– Ainda?- perguntou Nico

– É, espera acabar a missão!- ele olhou para mim de olhos arregalados e eu e a Thaís riamos feito hienas. Depois de uns cinco minutos, Jake voltou (eu nem sabia que ele tinha saído)

– Cheguei! Toma pra você, linda- disse Jake me entregando um copo de cappuccino- Toma, Thai- ele entregou outro para Thaís e olhou para Nico- Desculpa aí, caveirudo, só tinha três

Fiquei com pena de Nico, mas fazer o que se só tinha três... Depois de tomarmos os cappuccinos, que estavam deliciosos, discutimos o que fazer.

– Eu posso viajar nas sombras- disse Nico, acalmando a discussão que havia se iniciado minutos antes- É fácil, chegaremos lá hoje mesmo e voltaremos amanhã

– Mas você consegue levar três pessoas?- perguntei, lembrando do enjôo que senti da última viagem nas sombras

– Bem- ele olhou para Thaís- Já levei coisas muito maiores- ela arregalou os olhos

– Como é que é?! Esse saco de ossos ta me chamando de gorda?!

E depois de eu e o Jake impedirmos a Terceira Guerra Mundial, pedi para Nico explicar direito isso

– É simples. É só eu segurar vocês e logo chegamos em Salém

– Humpf! Duvido! Mas faz logo esse negócio seu!- disse Thaís e Nico revirou os olhos

Em menos de um segundo, Nico não estava mais lá, apenas uma rastro de sombras. Já estava pronta para chamá-lo de volta, quando um portal negro se abriu e ele foi literalmente lançado para fora dela. Ele bateu com tudo numa parede, mas ninguém pareceu perceber. Corremos até ele e o ajudamos a sentar.

– Tá tudo bem Nico?- perguntei

– Tá, mas... parece que alguém obstruiu as sombras

– Oi?- Thaís

– Alguém trancou a passagem de viagem nas sombras...

– Hã?- Thaís

– Não podemos viajar nas sombras

– Não? E como vamos chegar em Salém?- Thaís

Olhei para minha mochila. Será que Lou sabia disso? Se sim, por que não me contou? Abri minha mochila

– O que você ta procurando aí, linda?- Jake

– Meu livro de feitiços...deve ter algum que ajude- comecei a tirar tudo de dentro da mochila: dracmas, dólares, um casaco, O caçador de Pipas, um caderno de capa preta, o fichário azul e... Senti algo frio sob meus dedos, agarrei o objeto e o observei minuciosamente. Era um cristal longo de forma de hexágono e com um brilho esbranquiçado no centro. Fiquei observando o objeto. Eu já tinha visto esse cristal em algum lugar, mas não me lembrava onde e porque Lou colocou na minha mochila.

Deixei-o de lado e olhei para o fundo interminável da mochila e depois para os dólares na mão de Jake. Thaís olhou para mim, pegou os dólares e disse:

– Saiam daí, e eu faço parreiras crescerem nos seus ouvidos. Principalmente em você, Puro-osso!

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– Você viu direito se não tinha nenhuma passagem para Massachusetts?- Nico

– Vi, caceta! A única passagem direto para Massachusetts era pra daqui a duas semanas, eu já disse! A menos que vocês quisessem ficar duas semanas em Manhattan...- Thaís

–Sei, mas o que faríamos por duas semanas em Nova York?- perguntou Nico e eu olhei para Thaís

– Ah não! Nada de ficar duas semanas fazendo compras em NY!- disse Jake

– E quem disse que faríamos compras?- eles olharam pra mim- Que foi? Vai ter um show do Imagine Dragons daqui a uma semana e eu queria ir!

Eles suspiraram e Thaís riu. Olhei para o céu através da janela. Neste momento estamos num trem que está indo pra New Haven, Connecticut. Devia fazer umas cinco horas desde que saímos do acampamento e desde desse momento, Thaís e Nico não pararam de discutir. Peguei o papelzinho do trem e o li com certa dificuldade. Um dia para chegarmos a Connecticut, isso se nada de ruim acontecer.

– O que te preocupa minha lindinha?- perguntou Jake e Nico o olhou feio

– Nada e...e eu não sou sua lindinha!- Jake me olhou surpreso, mas depois sorriu de modo galanteador. Deixando claro, NINGUÉM me chama de “minha lindinha”

– Ela ta preocupada por que nenhum monstro nos atacou até agora- olhei feio para Thaís- Que? Sou sua melhor amiga, sei quando uma bruxinha ta preocupada

– Calma minha lin...- levantei as sobrancelhas- baixinha- sorri- Não vai acontecer nada okay? Afinal, que monstro atacaria um grupo de quatro semideuses?

Olhei para Nico e vi que estava grudado na janela, olhando alguma coisa. Me levantei e olhei para a janela. Abafei um grito. Vindo paralelo ao trem o monstro mais louco que eu já vi mostrava suas presas. Tinha três cabeças: um de leão, outra de cabra e mais outra de dragão. Também tinha duas caudas e corpo de leão.

– Mas o que diabos é isso?

– Uma quimera- explicou Thaís

– Caraca, eu realmente preciso de uma foto dessa coisa- disse Jake, indo pegar alguma coisa que tire fotos

– Ele não parece querer nos atacar...

– Mas ele não estaria aqui se não sentisse cheiro de semideus- disse Thaís

– Não sei...não é melhor deixar para lá?

– Não, talvez os mortais percebam a presença dele e pode da merda...

– E o que vamos fazer então?- Nico se pronunciou pela primeira vez

– Esperar

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O trem teria que parar para resolver um problema técnico, o que gerou muitas reclamações do outros passageiros, mas apenas agradecemos a Zeus, pois assim poderíamos dar um jeito no bichano.

Saímos do trem rapidamente e vimos a quimera se dirigir para uma pequena floresta perto da estação. Deixamos Thaís para validar os tickets e seguimos a coisa para dentro da floresta. Quando a alcançamos, ela estava deitada na grama, lambendo as patas. Olhou-nos com tédio, como se perguntasse o porquê da demora. Levantou-se e rosnou ou sei lá o que, soltando “fogo pelas ventas”, como diria Bea...

– Cheguei meus vadios e...eita!- disse Thaís olhando para fera, pegou a espada de bronze celestial e quando olhei para os outros, todos já estavam com lanças (Jake) e espadas. Chamei por Tenebris e como de costume, ela apareceu em minha mão e uma palavra em grego brilhou em sua lamina: Πήγασος.

Pégaso?

A quimera veio para cima da gente e começou a atacar.

– Thaís, a quimera foi derrotada...

– Por (Uepa!)Belerofonte com seu cavalo...- disse ela em meio aos desvios dos ataques do bichano

– Que...- perfurei a pata dianteira do bichano- cavalo?

– Pégaso!- gritou Jake lutando ao lado de Nico contra a traseira do bicho

Pégaso... Pégaso...Pégaso... isso! Annabeth me dissera que Belerofonte matou a quimera montado No Pégaso com um único golpe...um único golpe que lhe cortou a cabeça!

– Preciso de ajuda! Thaís!- vi ela lutando contra a fera e fui ajudar

– O que foi Maria?- perguntou ela, ofegante

– Preciso que me ice no ar com umas...parreiras...sei como matá-lo!- respondi ofegante também; ela me olhou séria e me deu o mesmo sorriso louco que eu conhecia

– Segure as pontas ai!- assenti e me desviei do fogo nasal da quimera. Mas senti uma dor latejante no meu braço. Olhei para ele, estava quase em carne viva. Me segurei para não vomitar. Onde Thaís estava?

De repente senti algo me levantando no ar. Vi parreiras presas a minha cintura. Jake lutava com a frente e Nico com a traseira enquanto Thaís cuidava das parreiras.

– Um pouco mais alto Thaís!

E então fiquei na altura certa. Dois metros acima da quimera. Comecei a recitar o feitiço que me lembrava e senti a lamina de Tenebris esquentar. Quando vi, Tenebris estava em chamas. Chamas azuis. Dei um sinal para Thaís e ela assentiu. Senti as parreiras afrouxarem e finquei a lamina com tudo no pescoço da fera, que explodiu em pó dourado.

Todos vieram em minha direção, mas não era só quatro semideuses e sim oito...

– Thaís...-eu disse meio grogue- por que tem duas Thaís?- ela me olhou confusa e viu meu braço, reprimiu um grito. Lágrimas escorriam pelo meu rosto sem eu me dar conta. Aquilo estava doendo muito.

– O que eu faço? O que eu faço? Me ajudem seus manés, não fiquem só olhando!- gritou ela enquanto esvaziava minha mochila

– Roxo...- eu disse, ainda grogue- Frasco roxo- apontei para um frasco roxo que estava ao pé de Nico- Água...gelo...

– Água, gelo...Água gelada!- Thaís pegou uma garrafa térmica e jogou o conteúdo em uma bacia (sei lá de onde ela tirou isso O.o)-O que mais?- fiz um três com a mão- Três gotas?- assenti, fora do ar. Ela jogou as três gotas e colocou meu braço dentro da bacia, rapidamente senti a cor voltar ao meu rosto e vi a pele do meu braço crescendo de novo. Era um negócio bem nojento, mas me deixou bem melhor. A bacia, que estava borbulhando, secou e todos me olharam estupefatos.

– Mas...como?- Thaís me olhava de olhos arregalados

– Presente...da mamãe- sorri