Privacidade escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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Michael ainda não havia se acostumado com o odor desagradável de Sona, e duvidava que um dia iria. Parecia que o cheiro estava impregnado em todos os corredores, celas, até mesmo nos presidiários. E não havia nada que ele pudesse fazer para que o cheiro desse uma trégua. Até mesmo quando ele saía para a área de visitação, ainda sentia.

Mas estava trabalhando o mais rápido possível para sair dali e, o mais importante, tirar James Whistler do presídio.

Caminhou por Sona procurando um alguém em particular e, assim que o encontrou, sentado em sua cama, na cela, Michael escorou-se nas grades.

— Alex, preciso de uma mãozinha.

— Sim — Mahone levantou-se. Ele ainda tinha um comportamento estranho, apesar de já haver passado pela desintoxicação. — Sim, o quê?

— Venha até minha cela, preciso amarrar algumas cordas.

Alex fez uma expressão de curiosidade, mas o seguiu mesmo assim. Quando chegou à própria cela, abriu espaço para o outro entrar e começou a dar algumas instruções sobre as cordas para ele começar a amarrá-las da maneira adequada. Enquanto isso, Michael puxou o próprio lençol da cama e começou a pendurá-lo na porta da cela, para não serem incomodados.

Michael sentou-se para passar a dar os nós também.

— Michael, queria te pedir desculpas pelo... Pelo meu comportamento, ultimamente. Não acontecerá novamente, eu só quero sair daqui e viver em paz.

— Está se referindo a me ameaçar com uma faca enquanto está drogado?

— Sua sutileza sempre me comove.

— Então sim.

— Sim, é isso.

— Tudo bem, mas seria bom que não se drogasse de novo.

— Estou falando que não vai acontecer novamente.

— Ok.

Eles ficaram um novo período em silêncio.

Alex estava tremendo um pouco, o que comprometia sua habilidade para dar nós, mas era o suficiente. Michael terminou sua parte da corda, e Alex ainda estava em dois terços do progresso.

— Por que esse lençol? — Perguntou Mahone, eventualmente.

— Você claramente nunca esteve numa prisão. — Michael observou.

— Não.

— Os prisioneiros penduram um lençol na cela quando querem privacidade.

— Privacidade — repetiu Alex.

— Sim. Quando não querem ser incomodados.

— O que dois presos poderiam fazer que exigiria privacidade?

Michael não respondeu. Em vez disso, apenas o olhou de canto.

— Ah. Entendi. — Concluiu Mahone.

— Que bom.

— Então... estão todos lá fora achando que estamos...

— Talvez.

Alex mexeu as sobrancelhas. Michael estava até achando engraçado, mas não ia demonstrar, ou a conversa perderia a graça.

— Isso te incomoda? — Perguntou Michael.

— Não. Não temos reputação alguma para manter aqui dentro.

— Tive que fazer isso com o Sucre uma porção de vezes em Fox River, ninguém nunca mexeu com a gente.

— Um dia gostaria de saber exatamente o que você fez para sair de Fox River.

— Quem sabe um dia eu te conte. — Michael arregaçou as mangas e ficou observando silenciosamente enquanto Mahone terminava de dar os nós nas cordas.

Então, ele pegou tudo e reuniu-as em uma fronha, ainda faltava a parte de Whistler, mas ele estava na própria cela.

— Gostaria de entender a lógica completa da sua tatuagem, também.

Michael olhou para Alex com um sorrisinho de lado. Sabia que Mahone havia criado uma obsessão com a captura dos oito de Fox River, principalmente ele mesmo, mas não imaginava que havia ido tão longe a ponto de ele ainda se questionar o que exatamente Michael fez para fugir da prisão.

— Parece que você passou várias noites sem dormir pensando em mim, não é, Alex? — Sugeriu Michael com o mesmo sorriso nos lábios. — É muito gratificante, fico lisonjeado. Um dia eu também te explico a minha tatuagem. Mas, para isso, teríamos de usar o lençol novamente.

— Pendurar o lençol na cela para você me mostrar suas tatuagens.

Michael não tirava o sorriso do rosto. Mahone estava tendo reações lentas, mas devia ser culpa da depressão pós-heroína. Ele normalmente era mais sagaz do que isso. Respondia provocações sarcásticas no mesmo tom, tinha sempre algo para dizer.

— É para termos privacidade. — Disse Michael, mas deixou o assunto pendente por aí. — Vou atrás do Whistler, ele está me devendo uma corda.

Michael puxou o lençol para sair da cela e, na mesma hora, um dos prisioneiros, do qual já havia recebido várias propostas, passava pelo corredor. Quando o viu saindo de trás do lençol, ele meneou a cabeça negativamente.

— Aproveitando bem o tempo, né, blanco? Pelo jeito você só gosta de branquelos igual você.

— Sinto muito. — Michael sorriu gentilmente e o observou se afastar. Depois, voltou-se para olhar Alex, que tinha um sorriso surpreendido no rosto, e anuía lentamente.

— Você bem que disse.

— Eu sei o que eu digo, Alex. — Michael concluiu com um mexer de sobrancelhas e saiu da cela. Tinha mesmo que encontrar Whistler. Mesmo que quisesse passar uns minutos a mais atrás dos lençóis, mas era melhor deixar para outro dia.

Aliás, quando saíssem de Sona, poderiam ter algum momento de paz sem precisar usar lençóis na porta. Quem sabe em outro lugar.


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