PDV - Freddie

Sempre me pergunto se nada irá mudar...

Na mesma tarde, quando cheguei no meu apartamento, a minha mãe me lançou uma série de perguntas.

– Onde você estava!?

Fiquei com medo da possibilidade dela saber que fugi da escola para visitar a casa da Sam. Tudo por conta do Gibby.

– Ué... Na... escola, mãe!

– Não - Ela insistiu. Comecei a suar frio. - Eu falei com você há uma hora atrás no seu quarto e agora você aparece aqui!

Ela deve ter surtado de vez.

– Eu juro, mãe. Cheguei agora da escola!

– Está mentindo!

Suspirei fundo, jogando minha mochila no sofá. As chatices pós aulas deram início. A melhor coisa que eu poderia fazer era tomar um banho ou praticar uma atividade que me deixasse aliviado.

Algumas horas depois. Fui até o apartamento dos Shay's para ter uma conversa com a Molly. Fazia um tempinho que eu não trocava palavras com ela.

Havia dez mensagens dela no meu chat. As mais recentes foram essas:

MollyPaixão: Quase fui despejada da casa do meu amigo haha

MollyPaixão: As situações só pioram :/

MollyPaixão: Responda quando puder!!

Novo_Freddie: Ooi!

Novo_Freddie: Nem me diga. Essa semana não está nada legal para mim. Não sei nem se vou estar vivo para te encontrar :/

Esperei alguns minutos, até ela visualizar e responder. Enquanto isso, notei o Spencer montando uma torre de batatas fritas na cozinha.

– Para que isso?

– Tô intediado. - admitiu ele, fixando uma nova batata. - É que... Nada acontece!

A torre desmoronou e ele ficou bem deprimido. Talvez se ele controlasse mais os seus ânimos nada disso estaria acontecendo.

– Por que a sua mãe cancelou a Internet da sua casa mesmo?

Eu pensei que ele tivesse por dentro da história, por ter escutado minha conversa com o Gibby.

Hesitei em dizer o real motivo. Havia muita gente envolvida no meu "segredo". O Gibby, T-Bo e a minha mãe, que está fazendo de tudo para me deixar longe da tecnologia.

– Bem, - Não vi mal em contar ao Spencer. Ele era bem confiável. - Ela descobriu as minhas conversas on-line com uma garota.

– Que besteira...

– Pois é. Mas ela retirou a Internet após saber que eu marquei um encontro com essa mesma garota.

– Eu conheço essa garota? - perguntou ele.

– Não... Ela não é de Seattle. - Sempre fico sem jeito para falar do assunto. Decidi também pedir umas dicas do velho Spencer. Ele era bem mais experiente. - Eu tenho dúvidas sobre o encontro. Já tive alguns encontros... Só que estou fora de forma...

Spencer sorriu.

– Sei bem como é isso. No meu primeiro encontro derrubei creme de milho no cabelo do meu par... Ou foi no segundo encontro? - Ele parecia bem confuso. - Enfim, o correto é não ficar nervoso e não pedir creme de milho na hora da sobremesa!

– Certo, Spencer - Sorri, mesmo não ajudando. Voltei as atenções para o monitor. - Ela respondeu!

MollyPaixão: hahaha

MollyPaixão: Fredward Benson! Não pense em morrer até o dia do nosso encontro!

MollyPaixão: Você tem sido um grande amigo! :P

– Você tem sido um grande amigo!? - Repeti aquelas palavras em voz alta. Quase cai da cadeira.

Novo_Freddie: Falo com vc depois... '-'

Era só o que faltava. Agora a Molly me via como um amigo. Temi que um dia ela poderia dizer isso, como a Carly. Mas eu também fui muito burro por não ter descrito os meus sentimentos. Tive a péssima ideia de dizer: "Estou apaixonado por você", pessoalmente.

Expliquei o ocorrido para o Gibby - na manhã seguinte, enquanto estávamos no corredor da escola. Também discutimos sobre o episódio na casa dos Puckett's.

– Acho muito difícil eles notarem um espelho enorme quebrado! - comentou o Gibby. Claro quem nunca notou. - Tem tanta bagunça naquela casa que eles nem dão conta...

Sério, não dá pra levar o Gibby a sério!

– De qualquer forma, eu estou com medo. Eu sinto que estou ameaçado de extinção! - desabafei. - Vamos torcer para que o Shet seja uma daquelas 'pessoas relaxadas, que esquece de dar o recado de visitas inesperadas'.

– É, fica tranquilo! Ele não contará nada até o "Dia da Surpresa" que faremos para a Sam...

Esqueci desse fato, mesmo sendo uma farsa para enganar o colega de quarto da loira.

– Acorda, Gibs! Não vai ter o Dia da Surpresa!

– Ah, não vai ter? - Ele ficou desapontado. - Então por que armou isso tudo?

Não respondi. Tomei o meu tempo para esvaziar a mochila com os livros e objetos inúteis. Bem melhor do que ficar explicando coisas óbvias para o Gibby.

– Posso confessar uma coisa?

– Fala!

Retirei uma lata de refrigerante da mochila.

– Seu nome traz má sorte.

– Ah, valeu, Gibs. Ajudou bastante! - Dou um gole da bebida. - Voltando ao assunto. Estive pensando no que fazer a respeito da Sam. Tipo, se nós arrumarmos um namorado ou um novo amigo para ela...

– Isso não vai dar certo, Freddie! Ainda acho que não devemos mais nos intrometer nas coisas da Sam e essa coisa de "arrumar alguém para outra pessoa" só funciona em filmes clichês.

Do que ele sabia de filmes clichês?

– Você é sempre iludido por uma dessas adaptações idiotas.

– Pela última vez! Eu não sou iludido!

Cessemos a nossa conversa com a chegada da Sam no corredor.

– Ei, Benson! - gritou ela. Gibby correu para um lado qualquer, com medo do que pudesse acontecer. Pensei em seguí-lo, mas já era tarde de mais. - Preciso falar com você!

Ela pegou o meu refrigerante. Por um momento, achei que ela fosse descontar o problema do espelho quebrado. Torci para que ela não soubesse de nada. Mesmo assim, me defendi:

– Foi o Gibby!

Ela não entendeu bem.

– Fica calmo! - Sam jogou a minha lata na lixeira. - Eu só queria falar sobre a nossa amizade. Ultimamente estamos tão distantes e o Super Provão não está ajudando muito...

O diálogo não foi tão longo quanto pensei. A Sam apenas propôs um recomeço no nosso laço de amizade. Sem aqueles xingamentos e apelidos-de-duplo-sentido emvolvendo o meu nome.

– Hoje a tarde podemos ir ao Vitamina da Hora para estudar um pouco. Você vem? - convidou ela, sorridente. Fiquei em dúvida se devia ou não aceitar. - Vamos, cara! - Ela deu um soco amigável no ombro e depois se desculpou, após os meus gemidos. - Foi mal, é o costume... - Sei que não foi intencional, mas doeu bastante. - É... Pode chamar o Gibby também!

– Pode deixar! - murmurei, enquanto alisava o meu próprio ombro.

PDV - Sam

Depois da aula, mantive contato com o Sr. Patetão pelas mensagens do Pear Phone. A conexão dele estava péssima e não consegui entender nada do que ele falava. Nunca consegui...

Isso é o que acontece quando se está carente demais. Para piorar, aquele depoimento não saia da minha mente.

Cheguei em casa...

– E aí! - cumprimentei ao avistar o porco assistindo TV.

Já o Shet parecia bem irritado. Ele carregava uma sacola preta, uma pá e uma vassoura ao mesmo tempo.

– O que houve, cara?

– O que houve!? - Perguntou ele, indignado. - Isso aconteceu!

Ele mostrou a perna cortada, enquanto recolhia os cacos de vidro na sacola.

– Eu estava no meu quarto, quando me deparei com o espelho quebrado.

– Mas o espelho é enorme. Como você não notou!?

– Eu sofro de "DDA"! - admitiu. E saiu cambaleando para jogar o lixo fora.

Fiz uma rápida pesquisa no meu dicionário de bolso. Nele dizia que DDA se tratava de um Distúrbio de Defict de Atenção. Os sintomas eram semelhantes ao que ele apresentava, como: a distração, pequeno âmbito de atenção e outros. Se o Freddie estivesse presente naquele momento, ele diria que o Shet poderia ser um Semideus, graças a um livro qualquer para adolescentes.

Droga, eu estava pensando nas idiotices do Benson mais uma vez...

– Quais são as novidades na sua escola? - perguntou Shet, curioso.

Agora o meu colega de quarto estava sentando na poltrona preparando um curativo para os cortes na perna.

– Não tenho muita novidade. Somente o... O meu amigo de classe, Freddie Benson. Aquele garoto me dá... - serrei os punhos com muita força. - ... Ódio!

– E você sente alguma coisa por ele?

– Não! - respondi de imediato, séria. Shit continuou me encarando com um sorriso de lado. - Já disse que não!

Ele insistiu em fazer aquele sorriso maliciosos para cima de mim e fui obrigada a dar um longo tapa na perna ferida dele.

– Au! - gritou ele. - Você é muito má, sabia!?

– É, eu sei!

Fiquei preocupada em ter piorado ou inflamado ainda mais o machucado dele. Então decidi ajudá-lo nos curativos.

– Esse tal de 'Freddie Benson'... hmm... Não é um nome muito comum em Wisconsin. - comentou Shit, na tentativa de puxar conversa.

Deu a entender que ele havia conhecido outros 'Freddie's Bensons' em Seattle. Também poderia ser coisa da minha cabeça.

– Você é de Wisconsin?

– Sim.

– Ah tá... Eu já devia ter notado. - Ele fez uma expressão estranha. - É que eu já estive lá com o grupo do iCarly para um casamento idiota de uma fã nossa.

Ele balançou a cabeça como se estivesse entendendo o meu raciocínio. Logo depois fez um drama para por o remédio no pé.

– Argh! - murmurrou ele, enquanto eu realizava o trabalho. - Tem muitos Freddie's Benson em Seattle?

Suspirei.

– Você conhece algum!?

– Não sei... Acho que já ouvir falar... Mas não me lembro bem de onde!

Finalizei o curativo com sucesso, não ficou da forma que eu esperava, pelo menos tentei.

– Bem, hoje nós vamos montar um grupo de estudos no Vitamina da Hora. Quer ir também?

– Ah, por mim tudo bem.

(***)

Pela tarde, Shet e eu fomos ao Vitamina da Hora. Carreguei a maior quantidade de livros que pude na minha mochila.

O Freddie e o Gibby já estavam a minha espera, ambos sentados numa mesa larga. Talvez não tenham percebido a minha chegada, pelo fato do Freddie estar explicando algo importante para o Gibby.

– Ah! Claro! - falou Shet para mim.

Ele até apontou para os dois.

– O quê? - Parei no meio do caminho.

– Esses são os seus amigos, o Freddie e o Paul. Agora estou me lembrando!

Não conheço o Paul. E do que ele estaria lembrando?

– Não tenho nenhum amigo chamado Paul!

– Claro que tem!

Fomos até a mesa dos dois. Interrompi a explicação dos Nerds para fazer uma rápida apresentação geral.

– Já nos conhecemos - falou o Shet, sorridente. Ele olhou estranho para o Freddie. - Você não era o Paul!?

– É verdade! - Concordou o Gibby, antes do Nerd tampar a boca do amigo.

Arregalei os olhos, surpresa e confusa ao mesmo tempo.

– De onde vocês se conhecem!?

Ninguém se pronunciou. Joguei minha mochila no chão - para dar um ar de suspense.

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui!?

Shet me levou para um outro canto da loja para me contar algo absurdo. O Freddie e o Gibby tentaram me impedir de saber a verdade.

– Desembucha logo! - ordenei, fazendo medo.

– Foi o seguinte... - Ele olhou para os dois. - O Freddie e o Paul estiveram lá em casa... Mas era uma surpresa!

– Na minha casa!? - Peguei a primeira cadeira que apareceu na minha frente. - O que os dois manés queriam na minha casa?

Levantei a cadeira para o Gibson, daí o Benson mandou uma desculpa esfarrapada:

– É... queríamos uma xícara de açúcar?

– Aposto que um de vocês quebrou o espelho do quarto!

Quase arremesso a primeira cadeira daquela tarde, mas sou impedida pelo Shet e suas dúvidas estúpidas.

– Espera, Sam, eu estou um pouco confuso! - Sussurrou ele. Foi uma boa hora para fazer perguntas. - Você gosta desse cara, certo? - Ele apontou para o Gibby.

– Não, esse é o Gibby! - expliquei, estressada. - E não, não estou gostando de nenhum deles!

Voltei a ameaçar os dois idiotas.

– Eu vou contar até três para vocês...

T-Bo se aproximou, calmamente, atrapalhando o meu barraco:

– Ei, Sam! Você deixou o shampoo do Freddie cair da sua mochila!

Não pode ser!

Como posso ter esquecido de tirar da mochila as coisas que furtei da casa do Freddie.

– Oh! Esse não é o shampoo do Freddie!

– Claro que é! - T-Bo conferiu a capa. - Aqui está escrito: "Pertence a Fredward Benson". E eu vi o momento em que isso caiu da sua mochila vermelh...

T-Bo não conseguiu concluir o que tentava dizer. Acidentalmente uma cadeira foi lançada em sua direção. Triste história.

Mas agora os papeis se inverteram. O Freddie estava questionando as minhas atitudes:

– O que estava fazendo no meu quarto?

– O que VOCÊ estava fazendo no meu!?

– Uou! - Intrometeu Shet - Agora aquele quarto é meu! Esqueceu?

Gibby chamou a atenção de todos da lanchonete.

– Porque ninguém quer invadir o meu quarto!? Eu deixo, galera!

– Quieto, Gibby! - dissemos em harmonia.

Por qual motivo ele e o Gibby teriam para entrar na minha casa?

Não tenho dúvidas de que isso tenha relação com o tal segredo obscuro do Nerd. Agora, mais do que nunca, preciso saber de toda a verdade.