– Aquele? – Scott apontou para um cara alto e totalmente musculoso que estava correndo.

– Ele socaria a minha cara antes mesmo de eu dizer oi. – Stiles fala com um bufo.

– Você não tem certeza disso. – Scott fala teimosamente.

– Sim, eu tenho. – Ele suspira. – Por que a gente está aqui, de novo?

– Porque você mentiu para o seu pai.

– Eu não menti. – argumenta.

O fato é, sim ele mentiu. Uma coisa pequena e sem importância e que infelizmente voltou para assombrá-lo no dia de Ação de Graça.

Fazia mais ou menos dois anos que Stiles tinha contado a seu pai que era gay, e o xerife como um bom pai não agiu nem um pouco surpreso e brincou com o filho sobre como ele sabia da preferência dele desde o jardim de infância, quando Stiles muito corajosamente declarou que um dia ia se casar com o Aladin.

Depois dessa declaração, Stiles saiu de casa para a faculdade com um peso a menos no ombro – mesmo que deixar seu pai para trás era uma coisa muito difícil de se fazer –, e as coisas se estabeleceram em uma rotina, Stiles acordava sempre perdendo hora, engolia o café em menos de um minuto e depois passava o dia lamentando ter ficado até tarde no computador enquanto tentava prestar atenção nas aulas. Ou seja, uma vida comum para um estudante universitário.

Com o passar dos meses o xerife começou a fazer cada vez mais perguntas, preocupado que Stiles estava se sentindo sozinho – afinal, seu amigo para toda vida, Scott, tinha ficado em Beacon Hills para estudar na faculdade local –. E as perguntas variavam entre as classes que Stiles estava tomando e o que ele fazia em seu tempo livre – jogos no computador, é claro –, deixando o xerife cada vez mais frustrado com as respostas que recebia.

– Você precisa sair um pouco mais, filho. – o xerife disse em uma quinta-feira.

– Pra quê? – Stiles perguntou enquanto fazia um miojo para comer.

– Você precisa fazer alguns amigos, ou algo assim.

– Eu tenho amigos. – Stiles falou magoado.

– Sim, e eles estão há 100km de distância.

– Isso é um exagero. – Stiles fala exasperado.

– Você já arranjou algum namorado? – o xerife perguntou fazendo Stiles congelar.

– Hum… O quê?

– Um namorado? Eu pensei que a faculdade era o tempo para se experimentar e fazer loucuras.

– Você quer que eu faça loucuras? – Stiles perguntou assustado, afinal seu pai era o xerife do condado de Beacon Hills.

– Não! – O xerife solta um bufo exasperado. – Mas, eu quero que você se divirta, faça amigos, tenha algumas experiências.

– Hum… Ok! – Stiles olha para a parede vazia. – Eu posso tentar.

– Bom.

E assim as perguntas diminuíram, Stiles realmente tentou cumprir o que o pai pedira e tinha ido a algumas festas, mas logo ele percebeu que não fazia parte desse ambiente, que as festas de faculdade não eram para e que o quanto mais ele ficava nesses tipos de lugares mais ele ficava entediado e frustrado. Ele tentou fazer algumas amizades também, mas logo percebeu que não era tão fácil assim.

Stiles nunca tinha sido o tipo de cara que era fácil de se conviver e conversar, ele sempre foi consciente de que muitas pessoas o aturava somente porque ele era o filho do xerife e por esse motivo ele sempre se manteve fechado ao seu circulo de amigos. Então, fazer amizades na faculdade era mais um desafio do que uma coisa fácil para Stiles.

E por esse motivo ele desistiu.

Ele tinha plena consciência de que talvez a sua experiência na faculdade era a pior de todas que já existiram, mas ele simplesmente não tinha a vontade de se perder em festas e fazer conversa fiada com alguém que ele nem veria no dia seguinte.

E por isso ele mentiu.

– E como foi a festa? – o xerife perguntou em um sábado que Stiles não tinha nada para fazer e tinha mentido sobre estar com uma ressaca.

– Foi boa. – Stiles olhou para a tv que estava no mudo.

– Conheceu alguém? – o xerife perguntou e Stiles conhecia aquele tom, era o tom de que Stiles estava em apuros se a resposta fosse um não.

– Sim, hum, ele é muito legal. – Stiles mordeu uma das unhas.

– Jura? – O xerife estava claramente surpreso.

– Uhum.

– Vocês vão sair de novo? – O xerife pede curioso.

– Sim, ele me mandou uma mensagem hoje cedo. – Stiles se sente mal por mentir.

– Isso é muito bom filho.

– É.

– Bom, eu vou deixar você então, eu tenho que estar na delegacia daqui meia hora. – o xerife fala e Stiles consegue ouvir o sorriso na voz dele. – Tenha um bom fim de semana, filho.

– Você também, pai. E cuidado.

– Sempre. – o xerife disse e desligou.

As semanas passaram e Stiles percebeu que era mais fácil apenas mentir sobre o cara que ele tinha conhecido do que sobre qualquer outras festas ou pessoas, e por esse motivo uma mentira sobre um encontro se transformou em uma mentira sobre um relacionamento completo. O que é claro, só poderia acabar em problema.

– Eu pensei que você podia trazer o seu namorado!? – o xerife fala.

– Como assim? – Stiles pede em pânico.

– É Ação de Graças e eu ainda não conheço ele – o xerife argumenta –, vocês namoram a três meses e eu nem sei o nome dele na verdade.

– E-eu não sei pai.

– Stiles? – O xerife usa a sua voz.

– Eu posso perguntar pra ele. – Stiles diz desesperadamente.

– Sim, pergunte. – o xerife diz. – E aproveita e me manda uma foto de vocês por e-mail.

– Por quê? – Stiles pede com a voz estridente.

– Eu quero saber como ele é. – o xerife diz e é claro pela voz dele que ele está desconfiado.

– Claro, claro. – Stiles concorda rapidamente. – Eu vou fazer isso.

– Ótimo, falo com você mais tarde, filho.

– Sim. – Stiles diz alheio e desliga o celular.

Bom, eu estou ferrado. Stiles pensou quando se deitou naquela noite, o pânico começando a se formar no fundo da sua garganta quando ele ligou para Scott.

– É só dizer que ele disse não, ou que vocês terminaram. – Scott opina por skype.

– É. – Stiles pondera.

– Por que você sempre toma as decisões mais difíceis?

– Você me diz, cara. – Stiles suspira frustrado.

– Eu posso chegar ai em duas horas e a gente pode resolver isso. – Scott suspira já arrumando uma mochila.

– Você é o melhor. – Stiles fala com alivio.

– Você vai pagar pela gasolina.

– Claro. – Stiles sorri feliz.

Naquela noite, Scott chegou completamente cansado e se instalou no colchão de ar ao lado da cama de Stiles, os dois conversaram sobre como Stiles ia resolver o problema e em uma nuvem de sono Scott sugeriu que a melhor coisa era tirar uma foto com um estranho e depois dizer que eles tinha se separado.

– Eu estava brincando, cara. – Scott diz na manhã seguinte quando Stiles avisou que ele iria perguntar pra alguém na faculdade tirar uma foto com ele.

– Mas é uma ideia fantástica. – Stiles sorri enquanto toma seu café.

– E se um dia seu pai vem aqui e vê o cara que você tira foto e descobre que tudo foi uma mentira? – Scott pergunta.

– Você está viajando cara. – Stiles ri.

– Eu estou pensando no futuro. – Scott comenta. – Pode acontecer.

– Você está paranoico, mas tudo bem. – Stiles coloca a xícara na mesa. – E se formos para fora do campus.

– Algum shopping? – Scott pergunta.

– Sim, ou um parque.

– Eu ainda acho que isso é uma péssima ideia, e que você deveria falar a verdade.

– Eu sei. – Stiles sorri enquanto se veste. – Mas, como você mesmo disse eu sempre escolho as opções mais difíceis.

E foi assim que os dois acabaram em um parque aleatório da cidade as dez horas da manhã olhando para as pessoas que passavam, com Scott apontando para cada homem que passava.

– Você mentiu e não quer dizer que é um perdedor. – Scott tira Stiles de seus pensamentos.

– Obrigada. – Stiles bufa.

– De nada. – Scott soca o ombro de Stiles de leve. – E aquele? – Scott aponta para um homem lendo sentado em um dos bancos.

– Ele é bonito. – Stiles observa o ombro largo do homem no casaco preto.

– Sim, e ele está sozinho. – Scott sorri.

Stiles olha para o homem que está perdido no livro, seu cabelo que é preto e precisa de um corte está jogado para trás com o vento, suas bochechas estão um pouco avermelhadas pelo vento e a mandíbula forte é coberta pela barba por fazer. Seu corpo está em uma posição confortável no bando e só pelos braços e ombros Stiles consegue dizer que o homem é bem definido.

– Meu pai nunca acreditaria que eu estava namorando ele. – Stiles argumenta.

– Como assim?

– Ele é muito bonito pra mim.

– Stiles. – Scott olha chateado para o amigo. – Nós já passamos por essa merda no ensino médio, você é fantástico, bonito e engraçado. Qualquer um seria sortudo de ficar com você.

– Você diz isso porque é meu melhor amigo. – Stiles diz, mas sorri com sinceridade.

– Agora você vai lá e pede por uma foto. – Scott empurra ele.

Stiles respira fundo e caminha em direção ao homem que de tão concentrado ainda não percebeu a comoção perto dele. Stiles sente sua mão suar e tremer e seu coração bater acelerado e se obriga a respirar fundo e tomar mais um passo em direção ao homem, porém antes que Stiles possa dizer oi o homem ergue a cabeça e sorri em sua direção.

Porra, Stiles pensa ao olhar para os olhos verdes do homem e para o sorriso gentil que deixa a mostra as covinhas na bochecha do homem.

– Oi. - o homem diz e sua voz não é tão forte quanto Stiles esperava, é mais suave e gentil.

– O-oi. – Stiles diz e se amaldiçoa por deixar uma simples palavra parecer tão incerta.

– Tudo bem? – Ele pousa o livro no banco – Game Of Thrones, Stiles faz uma anotação mental.

– Tudo. – Stiles respira fundo. – Eu queria te pedir um favor, eu sei que isso é estranho e você provavelmente está pensando que eu sou uma pessoa completamente louca, e eu agradeceria se você não me batesse – Isso consegue uma sobrancelha levantada do homem, mas Stiles não para de falar: –, é que eu menti para o meu pai, eu não sabia mais o que fazer, ele ficava me perguntando se eu já tinha arranjado um namorado, ou se eu estava tendo experiências de faculdade – e eu realmente não sei o que isso significa –, então eu menti pra ele e falei que tinha arranjado um namorado, mas é claro que eu não tenho um namorado, e então ele começou a desconfiar e pediu uma foto e meu amigo sugeriu que eu pedisse para alguém e a gente viu você, e eu sei que isso é muito estra-

– Tudo bem. – O homem corta o discurso do Stiles com um sorriso de lado.

– O quê? – Stiles está com a boca aberta.

– Você quer que eu tire uma foto com você, certo? – O homem pergunta, dessa vez com um sorriso cheio.

– Uhm, sim. – Stiles tenta um sorriso.

– Tudo bem. – O homem se levanta. – Mas, somente se eu puder usar a foto também.

– C-claro. – Stiles gagueja pela proximidade do homem.

– Minha mãe vem perguntando há um tempo quando eu vou levar alguém pra casa. – ele diz. – Como você me quer?

– Hum… – A mente de Stiles vai para todos os sentidos possíveis e ele sente as suas bochechas se esquentarem. – Eu acho… – Ele tenta clarear sua mente. – O seu braço em volta de mim!?

– Claro. – o homem responde e coloca o braço pesando no ombro de Stiles, puxando-o para mais perto.

Stiles ergue o celular e arruma a câmera em uma posição em que os dois estão bem no centro e bate no botão do obturador.

– Hum… – o homem faz e olha para foto. – Eu acho que não parece muito com um casal, talvez se você me abraçar.

– Claro. – Stiles fala e sente o suor nervoso escorrer no seu pescoço.

Stiles passa um braço pela cintura do homem e sente o calor que o corpo dele emana enquanto é puxado para mais perto ainda, fazendo com que a sua cabeça se aconchegue no ombro do homem, com o outro braço Stiles estica o celular e clica no botão da foto.

– Melhor. – O homem observa a foto. – Que tal se eu beijar você? Acho que ia ser muito mais convincente.

– Eu acho. – Stiles repete com a sua bochecha queimando de tão vermelha.

– Vem aqui. – O homem puxa Stiles, fazendo o peito deles se colarem, e passa os dois braços pela cintura de Stiles que solta um suspiro quando a boca rosada dele encosta na sua. – Bateu? – o homem pergunta com um sorrisinho.

– Perdi o botão. – Stiles fala constrangido.

O homem se inclina mais uma vez e cola a boca na de Stiles, aprofundando um pouco mais o beijo quando Stiles aperta o botão para a foto ser tirada.

– E… – Stiles sente a respiração do homem nos seus lábios.

– Eu acho que ficou bom. – Stiles diz com a voz fraca sem conseguir desviar os olhos dos lábios do homem.

– Me deixa ver. – ele pede e pega o celular de Stiles passando entre as várias fotos. – Será que você pode me mandar essa? – ele fala mostrando a foto do beijo.

– Claro. – Stiles fala e deixa ele mexer no seu celular.

– Aqui. – Ele devolve o celular com um sorriso. – Acho que minha mãe vai ficar feliz com essa.

– Sim. – Stiles diz e olha para o celular vendo se a mensagem tinha sido enviada – às vezes o sinal era fraco de mais para enviar mensagens com fotos –, e nota o nome salvo: Derek.

– Assim você não tem que inventar um nome. – Derek sorri.

– O meu é Stiles. – Stiles diz sorrindo de volta.

– Jura? – Derek levanta uma das sobrancelhas.

– É um apelido, mas meu nome é impronunciável e até meu pai me chama assim. – Stiles explica.

– Tudo bem então. – Derek sorri

– É… – Stiles começa, e pela visão periférica vê Scott pulando de um lado para o outro. – Eu tenho que ir.

– Claro. – Derek fala, mas parece um pouco desanimado.

– Obrigado pela foto. – Stiles tenta se afastar.

– Obrigado você também. – Derek olha fixo para Stiles que se vira e tenta não se sentir mal por andar no sentido contrário ao homem mais lindo que ele já conheceu.

Ele não está nem próximo de Scott quando seu telefone vibra com uma mensagem, Stiles olha para o aparelho e sorri como um louco.

Derek

sab, 11 de out - 11h

Que tal um encontro? Fazer esse relacionamento ser de verdade?

Epílogo

Stiles se recostou no peito do seu namorado ouvindo a TV passar algum filme estúpido de feriado. Iria fazer mais ou menos um mês que ele e Derek estavam namorando e ele não poderia estar mais feliz, afinal ele não estava mentindo mais para o seu pai e o seu namorado tinha ido passar a Ação de Graças com eles, contanto que Stiles prometesse passar o natal com a família Hale.

Stiles sorriu ainda mais sentindo a sono chegar e se deixou aprofundar nos braços de Derek que conversava com o xerife sobre coisas aleatórias.