Amores Ocultos escrita por Docemente


Capítulo 5
Quando o céu não tem estrelas.


Notas iniciais do capítulo

A amizade é posta à prova,o amor é desafiado e o que restou?



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O destino é tão insano. As responsabilidades são tão cruéis...Porém,se há algo pior que eles,é o amor. E,se ainda pode existir algo mais arrebatador que o amor,é a incerteza.

Naquele momento, apoiando Lysandre para chegarmos em minha casa,eu me senti uma cobaia do universo,experimentando um novo sentimento. Uma caótica mistura de peso na consciência,dúvida e carinho,que arrebentavam como as ondas daquele mar agitado que vira outrora,em meu peito,e fazia o diaparecer ainda mais nublado.

–Falta muito pra chegar?-ele perguntou,ofegante,enquanto eramos banhados por incessantes pingos de chuva.

–Um quarteirão. Está doendo?

–Sua presença ameniza minha dor. Tem certeza que não é um anjo?

Não pude deixar de sorrir:

–Antes fosse.

–És como um.

Olhei pra ele,apreensiva,o que o fez rir como se a dor nao existisse:

–veja bem:- consertou- você me conheceu hoje,nem sabe quem sou.No entanto,está me ajudando.

–Sabe,acho que você devia conversar com Castiel. Ele deve estar muito confuso coitado

–Vou deixa-lo com suas confusoes. E sugiro que você faça o mesmo. Castiel pode ser pior do que parece.

–Não tenho medo. Não sou uma garotinha indefesa.

o olhar de Lysandre me repreendeu:

–Ele sabe muito bem acabar com alguém.- sua voz saiu rouca e ofegante,com um vestígio de preocupaçao.

–Isso quer dizer o que?

–Quer dizer que não quero você perto dele,ok?

Pensei um pouco pra responder,depois balbuciei:

–ele me pareceu legal...

Após ouvir um suspiro abafado dele,anunciei que havíamos chegado.

A casa estava vazia. Mamãe devia estar no trabalho,e papai em uma de suas partidas de futebol-pós-expediente.Se havia alguém ali,devia ser meu irmão mais novo,Henrique,provavelmente trancado no quarto,jogando vídeo-game,como o bom bebezão que era.Após ajudar Lysandre a se sentar no sofá,peguei a caixinha de curativos de mamãe e me juntei a ele.

Enquanto eu tentava fazer parar o sangramento,Lysandre apenas me observava,como se eu fosse uma peça muito interessante de um museu,em exibição.Com um meio-sorriso de curiosidade,perguntei-lhe:

–Que foi?

–É engraçado...

–O que é engraçado?

–Você.Seu jeito,seu sorriso...sei lá,é engraçado.

–Ta zoando ne?-brinquei

–Tô não. Eu nunca...nunca havia tido uma amiga mulher.

Eu ri,intrigada,concentrando-me no machucado.

–Acho você uma gracinha. - ele disse, analisando minha expressão atônica com um ar divertido.

–C-como...Lysandre!

–É serio.-ele gargalhou- é bonitinho a forma como você age diferente das outras.

–Por favor,pare quieto.-pedi.

–Duvido que alguma outra daquela escola fosse ter a coragem de contrariar Castiel e me trazer pra sua casa,cuidar de mim e ainda assim conseguir ter compaixão por ele.

–E por que elas não o fariam?- disse eu,os olhos fixos no machucado.

–Elas conhecem Castiel. E conhecem a mim. Nem eu nem ele somos exemplos. Não viu a forma como Ambre se foi quando eu te defendi? Elas tem medo de nós. Mais de Castiel,claro, eu sou mais passivo,porém...

–Eu não tenho medo porque estou acostumada a lidar com gente assim.-respondi de pronto- Mesmo assim,nem você, nem ele me pareceram maus elementos.

–Não somos maus elementos. Somos apenas um pouco...AI!

–Eu disse pra você parar quieto!

Após aquilo,um inquietante silêncio se seguiu até que Henrique surgiu no topo da escada:

–Olá maninha você sabe onde... UAU! ISSO É UM CORTE? QUE MASSA!

–HENRIQUE!- gritei.

–Deixe ele- Lysandre riu.-Seu irmão?

–Infelizmente. -suspirei enquanto este me dava um beijo na bochecha.

–Uau cara! O que houve com você! Não me diga que foi a Sttela,porque se foi mamãe vai ficar uma fera.

–Não foi ele não. Foi um amigo meu.

–Poxa cara,que amigo faz isso com o outro? Se esse cara é assim com amigos,não quero nem saber como ele é com inimigos.

–Ele não é mau.- interferi,e o que eu disse deixou Lysandre desconfortável. -Ele é apenas... estourado.

–Ei,cara!Por que não jogamos video-game no meu quarto um pouco?- Henrique disse,entusiasmado

–Por mim tudo bem.- respondeu Lysandre,depois se virou pra mim: - você vem?

–Claro. Vou fazer pipocas e já subo.

Enquanto eu preparava a pipoca e o suco de goiaba,fiquei pensando em como Lysandre estava sendo legal comigo,e eu com ele, o que poderia dar a entender que estivessemos afim um do outro. Não era o caso. Estávamos nos conhecendo,nos tornando amigos e amparando um ao outro,visto que éramos tão parecidos interiormente.Porém,havia algo em Castiel que me prendia.Um brilho no olhar acinzentado,sua personalidade caótica e impulsiva,sua sinceridade e honestidade para comigo,seu mistério envolvente e ensurdecedor,sua voz rouca,e espontanea vontade de viver,sem medo nem limites. Talvez eu gostasse dele porque ele era exatamente aquilo que eu fora um dia,esse caos ambulante,e,querendo ou não,eu ainda era assim. Era o meu jeito,mesmo tendo que esconder. Eu era como Castiel: livre. Porém, muito me assemelhava a Lysandre: rotulada e reprimida.

Quando cheguei ao quarto,eles estavam jogando um jogo de guerra incrívelmente barulhento,e eu permaneci ali com eles por mais umas duas horas,rindo e brincando,fazendo guerra de pipoca e me esqueci dos problemas.

Já eram sete horas da noite quando Lysandre resolveu ir embora. Meus pais ainda não haviam chegado,o que era ligeiramente normal. Eu e Henrique já passamos muitas noites sozinhos,sem nossos pais,e isso não foi tão frustrante como deveria ter sido.

Acompanhei Lysandre até o jardim, onde cresciam belíssimas margaridas e, sob um fecho que luz do luar,seu rosto pareceu mais angelical do que de costume.

Prostrando-se de frente para mim,ele pegou minha mão e acariciou,fitando meus olhos com incrível intensidade:

–Muito obrigado por tudo.- falou.- Foi um ótimo primeiro dia de amizade.

–Espero que você fique bem pra ir à escola amanha.

–Você acha que eu te deixaria sozinha no segundo dia de aula?- ele riu

–E como vai explicar esse corte?

–Não vou explicar. Não devo satisfaçoes a ninguem. Exceto a você que é minha anjinha protetora.- Lysandre bateu a ponta do dedo em meu nariz e me fez rir.

–Você deveria ter medo de mim.-brinquei.

–Uma pessoa que aguenta o peso da mão do Castiel e ainda está de pé,não precisa temer mais nada.- ele riu,bem humorado,mas aquilo me incomodou. Baixei a cabeça e murmurei:

–Tenho medo do que ele pode fazer com você.

Lysandre segurou meu queixo com toda a delicadeza e o levantou.Olhando nos meus olhos,ele sorriu,calmante:

–Não se preocupe com isso.

E,fechando os olhos,aproximou-se de mim e tocou meus lábios com os dele,o que fez as estrelas que o céu nem continha naquela noite,brilharem em minha mente.


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Notas finais do capítulo

A revolta de Castiel,a doçura de Nathaniel e o afastamento de Lysandre. Não percam. No próximo capítulo.



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