Daniel sangrou até a morte no chão da Mansão Grayson.

Ele se fora.

Para sempre.

Morrera por mim.

Salvou minha vida.

- Você devia ter me ouvido! – agarrei-me a Daniel – Por que não correu?

Meu coração havia se partido em tantos pedaços que talvez eu não soubesse como consertá-lo desta vez. Eu poderia suportar vê-lo nos braços de outra mulher, me amaldiçoar ou me ignorar completamente, poderia se mudar para qualquer lugar do mundo, mas como lidar com sua eterna ausência?

Nosso relacionamento fora complicado e cheio de altos e baixos. Apesar das mentiras e de todas as brigas, os sentimentos eram reais. Eu o amava e sabia que ele também me amava.

O divórcio nos deixou com feridas profundas que ainda tentávamos curar. Talvez só precisássemos de um pouco mais de tempo para refletir e nos entender. Infelizmente, nunca iríamos descobrir.

Queria escapar da realidade aterradora, do sentimento de culpa e da escuridão que me assombravam, então, tranquei-me em seu antigo quarto por um momento. Apaguei as luzes e me deitei na cama.

Deixei que seu cheiro e o que restou de seus pertences - ainda por todo o cômodo - me levassem por um caminho doce onde a dor daquela perda parecia não me alcançar.

Abracei-me a seu travesseiro, fechei os olhos e respirei fundo. Uma lembrança dominou meus sentidos. Era quase como tê-lo ali novamente.

Os raios de sol brincavam pelas brechas das cortinas. Minhas mãos acariciavam seu peitoral, esperando que ele acordasse. Ele sorriu e eu imitei seu gesto.

“Acordar com você é a melhor parte do meu dia, Em.”

Uma crise de choro se seguiu até que minha mente exausta e meu corpo dolorido vencessem.

*

O dia amanhecia do lado de fora da mansão.

Pássaros cantavam e o sol se aventurava pelas fendas das grandes janelas. No entanto, eu não queria me afastar da cama.

Chorei até quase não ter mais lágrimas.

Ouvi alguém abrir a porta e a luz forte fez meus olhos doerem mais.

- Em? – chamou cuidadosamente.

Nolan permaneceu em pé, perto da porta.

- Eu o amava. – era estranho ouvir minha voz embargada – Eu nunca amei ninguém assim.

- Eu sei – ele respondeu, esperando que eu continuasse a falar.

- Nós tivemos a chance de viver juntos e a desperdiçamos. – sussurrei – Eu não deveria ter desistido dele.

- Daniel te amava. – meu amigo respirou fundo – Ninguém poderia ter o parado.

- Ele estava bem e feliz. Margaux está grávida. – o pesar atingiu-me em cheio – A culpa é minha.

Sentou-se na cama e continuou:

- Uma vez, Danny me disse que se sentiu triste em grande parte de sua vida, mas que as coisas mudaram quando te conheceu. Você o deu uma boa razão por qual viver e morrer.

Eu o abracei e tentei me recompor. Nolan era mesmo meu melhor amigo. Sempre sabia o que dizer e fazer em qualquer situação. Sua sabedoria e gentileza eram maiores que ele mesmo. Ele se levantou e eu soube que meu tempo ali tinha acabado.

Ainda tínhamos que ir ao funeral.

Dar adeus à única pessoa que me amou apesar das minhas falhas e tramas.

- Temos que ir. – disse cautelosamente – Daniel queria que você ficasse com isso.

Nolan me entregou uma caixa.

- Vou te esperar lá embaixo. – me olhou por um momento e saiu.

Dentro dela estavam uma carta, algumas fotos e meu anel de noivado, que reluziu na luz do quarto.

Coloquei-o no dedo para ter de novo a sensação de que ele era meu e que fomos felizes enquanto ele estivera naquele mesmo lugar.

Abracei as folhas grossas e deixei outra lágrima cair.

Suas palavras ressoam pelo quarto enquanto eu lia em voz alta:

“Querida Emily...

Deixo-lhe como lembrança de nossos melhores momentos juntos seu anel de noivado, que marcou a época mais feliz da minha vida. Não há dinheiro ou pedra preciosa que valha mais do que o amor que sinto por você.

Você é meu tesouro.

Pense no dia em que nos conhecemos, em nossas melhores noites e nas vezes em que acordamos juntos e em nos amamos pela primeira vez.

Eu a amei desde o primeiro olhar, do primeiro beijo e ainda mais quando você disse sim. Mesmo nos dias ruins, embaixo do rancor e raiva, meus sentimentos continuaram os mesmos.
Você foi o meu refúgio, tocou meu coração e minha alma. Mudou minha vida e meus objetivos. Você foi o amor da minha existência. Sei que no fundo, você também sentiu e se importou e isso é o que me deixa partir em paz.

Eu pensei em você todos os dias.

Adeus, Emily.

♥

Danny.”

Quando terminei, um pequeno sorriso se abriu em meio a lágrimas e tristeza.

- Eu também, Daniel. – respondi saudosa – Eu também.

Fim