A uma Floresta e um Beijo de Distância escrita por Henrique


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Vocês não sabem o quanto eu bati a cabeça pra pensar num enredo pra esse concurso hahaha. Cheguei até a pensar num "João e o Pé de Feijão" com aliens! Espero que gostem :)



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Dois rapazes, um deles vestindo trajes nobres típicos de uma família real e o outro com roupas mais modestas se encontravam de frente para uma grande floresta escura. O primeiro tinha cabelos castanhos lisos, que caíam numa franja um pouco acima dos seus olhos também castanhos. Os cabelos do segundo eram um pouco mais longos que os do primeiro, porém eram pretos e desgrenhados. Seus olhos eram azuis, mas puxavam para um tom acinzentado. Ambos montavam cavalos carregados de comida e equipamentos. Apesar da clara diferença social, os dois pareciam se tratar como se fossem irmãos.

— Richard, você está certo disso? — Disse o mais humilde.

— É claro, Arthur. Esta é a floresta onde se encontra a Bela Adormecida. Seguimos o mapa perfeitamente.

— Mas você tem certeza de que quer casar com ela?

— Que outra pretendente se encaixa melhor para um príncipe como eu? Suas fadas-madrinhas lhe agraciaram com as melhores bênçãos que se pode imaginar. Beleza, inteligência, talento artístico, entre outras. Além dos montes de ouro que devem estar guardados no castelo. Tudo isso a uma floresta e um beijo de distância. Quando nós três voltarmos, eu serei coroado o maior rei de nossa história! — O príncipe falava enquanto um largo sorriso cobria o seu rosto.

Os dois vieram de muito distante. Richard era o terceiro filho de seu pai, o rei. Por causa disso, não era o primeiro na linha de sucessão ao trono. Crescera sem a preocupação de se tornar rei um dia e teve a oportunidade de se aproximar dos filhos dos servos de seu pai. Arthur era um deles. Apesar disso, o príncipe sabia que esses servos, seus melhores amigos, sofriam com a tirania do governo. Não era fácil servir ao rei.

Richard, então, passou a almejar o cargo de majestade. Conhecia seus irmãos mais velhos e, por isso, sabia que eles não mudariam a situação do reino. Ele procurou por formas de avançar na linha de sucessão. Foi nesse momento que descobriu a lenda da Bela Adormecida. Ela seria a princesa mais desejada de todos os tempos e o príncipe que se casasse com ela seria um grande rei. A princesa estaria dormindo pela eternidade dentro de um castelo escondido numa perigosa floresta. Para acordá-la, bastava que o seu amor verdadeiro a beijasse.

Arthur era o melhor amigo de Richard, portanto era também quem mais se preocupava com o desfecho dessa missão. Ele sabia dos perigos que o amigo enfrentaria no caminho. Vários príncipes procuraram pela Bela e falharam. Muitos morreram e outros voltaram assustados com o que tinham visto. Richard conseguiu acesso a um mapa feito por um desses príncipes. Sua ambição de se tornar rei crescia a cada dia. Por isso Arthur se ofereceu para ir junto com ele, como seu escudeiro. Ele queria evitar que Richard perdesse a cabeça.

Ainda era de manhã. Os dois rapazes haviam chegado durante a noite passada, mas resolveram acampar do lado de fora da floresta até amanhecer. As árvores possuíam altos troncos escuros, cheios de espinhos, alguns pequenos e outros grandes, galhos grossos amontoados e as suas copas eram tão densas que a luz do sol praticamente não penetrava na floresta. Mesmo assim, pequenos arbustos, também espinhados, cresciam no chão por toda parte. Alguns ruídos estranhos podiam ser ouvidos, mesmo estando do lado de fora. Arthur chegou até a ver alguns vultos correrem pela escuridão.

— Quando eu li no mapa sobre os espinhos, não achei que seriam tantos assim. Ainda bem que nos preparamos para isso. — Disse Richard, apontando para um dos sacos que havia trazido para a viagem.

Arthur abriu o saco e tirou de dentro duas adagas incomuns. Elas tinham o tamanho normal de uma adaga, mas suas lâminas eram mais grossas. Além disso, tinham o formato de uma curva peculiar, mais acentuada do que o normal. Elas eram bastante afiadas e pareciam ser eficazes para um combate, mas seu propósito principal não era esse.

— Toma! — Exclamou Arthur ao jogar uma das adagas para Richard.

O príncipe segurou a adaga com a mão esquerda. Além dela, ele possuía outra arma. Embainhado e preso ao lado esquerdo de seu corpo estava um belo sabre de combate que ele havia ganhado de um tio, que era duque. O servo também portava outra arma, porém a sua era bem mais modesta: era uma espada com lâmina curva, ou seja, uma cimitarra comum. Os dois rapazes mantinham as suas adagas em suas mãos esquerdas enquanto fitavam o topo das árvores.

— Vamos! — Gritou Richard.

Os dois escolheram troncos diferentes e cravaram as adagas neles. Elas eram fortes o suficiente para se manterem firmemente presas às arvores. Além disso, suas curvaturas permitiam que elas se desvencilhassem facilmente dos troncos e suas afiadas lâminas cortavam os espinhos menores. Richard e Arthur, sabendo do quão complicado seria andar pelo chão da floresta, haviam inventado um equipamento de escalada projetado especialmente para aquelas árvores. Dessa forma, logo os dois estavam andando por cima dos grossos galhos, cortando os espinhos pequenos e desviando dos grandes.

— Nós somos gênios! — Richard exclamava com excitação, enquanto sorria.

— Agora só falta descobrirmos em que parte desse mato está o castelo! — Arthur também brandia um sorriso no rosto.

Por mais que as adagas funcionassem perfeitamente, elas ainda dependiam da força e da energia de seus portadores, que agora se encontravam exaustos. Depois de algumas horas procurando pelo castelo, sem sucesso, os sorrisos desapareceram. Os dois amigos resolveram parar para descansar e se sentaram em seus galhos.

— Eu não imaginava que a floresta fosse tão grande assim. Como pode ser possível ser tão difícil encontrar um castelo? É um castelo! Ele não deveria ser grande? E ainda temos que ficar ouvindo esses ruídos estranhos o tempo todo.

— Acalme-se, Richard. Enquanto nós estivermos por cima dos galhos não há com o que se preocupar. — Arthur apontou para baixo, onde se encontravam criaturas em forma de sombras. — Está vendo esses vultos por entre os arbustos? Os ruídos vêm deles. Mas, por algum motivo, eles não conseguem subir aqui. Estamos seguros e temos tempo para continuar procurando pelo castelo.

Momentos depois, Arthur se arrependera do que havia dito, acreditando ter trazido azar. Assim que ele terminou de falar, os ruídos pararam por alguns segundos. Então, de repente, Richard deu um grito e caiu no chão. Uma aranha do tamanho de um palmo tinha se colocado em cima da cabeça dele, enquanto os dois ainda estavam sobre o galho. Richard não havia percebido sua presença até ela produzir o ruído ao pé de seu ouvido. O susto fez o príncipe perder o equilíbrio e cair.

Richard caiu bem em cima de um arbusto espinhoso. Suas roupas se rasgaram em vários pontos, assim como sua pele. Seu corpo estava coberto de sangue. A aranha desapareceu, provavelmente voltou a se esconder em alguma toca. Entretanto, coisas piores do que ela se aproximavam. Sombras maiores rosnavam na direção do príncipe. Quando a primeira delas se preparava para atacar, outro vulto surgiu, dessa vez caindo do alto. Era Arthur, brandindo sua cimitarra. Ele aterrissou em cima da primeira sombra, enfiando sua arma nela.

— É um lobo! — Afirmou Arthur com a espada cheia de sangue. Ela atravessara a cabeça do animal. — São todos lobos! A gente precisa sair daqui!

Richard se levantou o mais rápido que pôde, apesar da dor. Teve sorte de continuar segurando sua adaga enquanto caía. Puxou o sabre com a mão direita e começou a correr sem direção enquanto tentava cortar os arbustos à sua frente. Arthur o seguia de perto. Conseguiram se distanciar um pouco dos lobos, mas as pernas de Richard não aguentavam mais. Quando ele avistou um grande buraco a seus pés, não conseguiu mudar seu curso e caiu. Arthur acabou fazendo o mesmo.

— Onde é que nós caímos?

— Não sei. — Richard respondeu ofegante. — Só sei que não consigo me levantar.

Arthur, já em pé, se abaixou e apoiou o braço esquerdo de Richard sobre seus ombros. O príncipe andava com dificuldade, mas conseguia se mexer graças ao amigo.

— Agora, que lugar é esse? — Arthur passou a mão esquerda numa parede. — Isso é pedra. É uma parede de pedra! Devemos estar nas masmorras.

Richard respondeu com o que pareceu ser um grunhido feliz. Estava quase perdendo a consciência.

— Deve ter algum lugar que ligue as masmorras ao castelo. Logo encontraremos a Bela Adormecida.

Arthur tateava as paredes enquanto caminhavam, já que as masmorras, assim como a floresta, mal recebiam a luz do sol. Em dado momento, o que ele tocou não era mais uma parede de pedra.

— É um homem. — Arthur tateou um pouco mais. — Ele está dormindo. Deve ser um prisioneiro.

De fato era um prisioneiro. Enquanto os dois seguiam, encontraram outros prisioneiros e guardas até finalmente chegarem ao castelo. Ao contrário das masmorras e da floresta, o castelo era bem iluminado pela luz do sol. Arthur e Richard se animaram até perceberem um problema.

— Agora só falta encontrarmos o quarto da princesa!

— Eu sei onde ela está! — Disse Richard, sorrindo. — No quarto mais alto da torre mais alta, é o que a lenda diz.

Richard olhou para suas pernas manchadas de sangue e seu sorriso desapareceu.

— Que sorte a nossa. — Os dois falaram ao mesmo tempo, ironicamente.

No caminho eles encontravam vários tipos de pessoas, todas dormindo. Servos, nobres, criados, e até mesmo membros da família real. Todos no castelo estavam adormecidos há muito tempo.

Quando finalmente chegaram ao quarto da princesa, encontraram outros rapazes da sua idade. Todos dormiam em diversas partes do cômodo. Os dois acharam isso estranho, mas resolveram se voltar para a Bela Adormecida. Ela era linda. A mais linda de todas as princesas. Seus longos cabelos loiros brilhavam. Seus lábios vermelhos eram um convite ao esperado beijo do príncipe.

Richard parou de se apoiar nos ombros de Arthur e ficou em pé por si só. Olhou para o amigo e recebeu em troca um sinal de positivo. Aproximou-se, não sem dificuldade, do corpo da princesa. Curvou-se e encostou seus lábios nos dela.

Arthur já fazia uma referência, esperando poder chamar o amigo de rei e ver todos no castelo acordarem. Todavia, não foi isso o que aconteceu. Todos continuavam a dormir e Richard olhava incrédulo para o rosto de sua ex-futura rainha.

— Como assim ela não acordou? Eu vim de muito longe e ainda passei por essa maldita floresta que destruiu minhas pernas por ela! Tudo que eu devia fazer era beijá-la, não é?

Richard desabou no chão. Não aguentava mais ficar em pé, principalmente depois de seu fracasso. Então, antes que Arthur pudesse responder, ele se lembrou:

— O que vai acordá-la é um beijo de seu amor verdadeiro! Ela não acordou porque eu não sou seu amor verdadeiro. — Deitado no chão, Richard ria da própria desgraça até seus olhos encontrarem Arthur. — Quem acordar a princesa se tornará rei... Arthur... Rei Arthur!

— O quê?!

— É isso! Eu não nasci para ser rei, sempre soube disso. Você, Arthur, é quem deve ser o rei! Agora tudo faz sentido! O lendário Rei Arthur um dia vai voltar. Você é Arthur e você está diante de algo que te transformará em rei. Você é o príncipe destinado a acordar a princesa.

— Richard, acho que você está delirando. Os espinhos te fizeram perder muito sangue e...

— Beije-a logo! Provavelmente algum dos adormecidos é médico e pode me ajudar. Esta é a minha última ordem a você, meu servo: beije-a!

Arthur acabou cedendo. Aproximou-se da princesa. Tentou ajeitar o cabelo, completamente sujo. Então, meio sem jeito, beijou a Bela Adormecida.

Todos continuaram a dormir. Richard, ainda deitado no chão, estava ainda mais incrédulo.

— Essa princesa é muito exigente! Nenhum de nós dois é bom o bastante para ser o amor verdadeiro dela? Eu digo que ela não é boa o bastante para ser minha rainha! — Ele gritava enquanto ria e chorava ao mesmo tempo.

— Vamos voltar. Não deu certo, Richard. Talvez nenhum de nós dois esteja destinado a ser rei mesmo. — Arthur estava com uma expressão abatida.

— Não, eu não irei voltar. — Agora Richard falava com calma.

— E você vai fazer o quê? Ficar aqui com a princesa?

— É exatamente o que irei fazer. Eu não tenho forças para voltar. Mal consigo sentir minhas pernas.

— Eu te carrego!

— Arthur, você já parou para pensar em quem são esses príncipes dormindo nesse quarto em que estamos? — Richard começou a apontar para os rapazes deitados ao redor deles. — Eles vieram aqui pelo mesmo motivo que nós, assim como também fracassaram. Eles passaram pelos mesmos problemas e desistiram aqui. Todos eles são “Belos Adormecidos” a espera do príncipe encantado. Eu também serei um.

— Mas e o reino? E a sua família? E os seus amigos? — Arthur estava desesperado.

— Eu não vou morrer, amigo. Você precisa encontrar o príncipe certo e trazê-lo até aqui. Essa será a sua missão. — Os olhos de Richard começaram a se fechar. — Até mais, Arthur. Você foi o melhor amigo que eu já tive. Nos veremos quando eu acordar.

Richard caiu num sono profundo. Arthur chorou, gritou e até deu alguns pequenos murros no peito do príncipe. Nada aconteceu. Depois que saiu do castelo, dedicou sua vida a procurar pelo amor verdadeiro da Bela Adormecida.


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Notas finais do capítulo

E aí? Deixa um comentário pra eu saber se você preferiria que tivesse aliens hehehe



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