Depois que contamos ao Kevin sobre a minha situação, ele disse que essa era, possivelmente, a terceira parte da tradução das consequências, no caso era a forma de se livrar delas. E pensar que eu estava começando a ficar tranquila em relação à esses anjos... Castiel estava patrulhando pelo bunker sempre que possível. Isso mesmo! Patrulhando! Ele achava que Metatron poderia me encontrar lá, mas todos sabíamos que era impossível para qualquer criatura encontrar o bunker.

No entanto, o anjo sempre tinha alguns argumentos do tipo "E se ele varrer o mundo telepaticamente e perceber que esse é o único local que está bloqueado?". É, para isso eu tinha uma resposta ainda pior "Então me mandem para o Inferno, que lá ele não chega"... Parecia uma coisa cruel de se falar, mas pelo menos mantinha a boca do Castiel fechada.

Como se não bastasse toda essa preocupação, a presença constante do Castiel deixava Claire irritada ao extremo, a pirralha nos infernizava toda vez que nos via juntos. É sério! Eu não podia nem abraçar o anjo sem que ela resmungasse! Claro que todos me condenavam e diziam que eu fazia de propósito para irritar a menina, mas não era verdade... É que ver o Cas ali, tão sério, tão concentrado e às vezes fazendo aquela carinha fofa de dúvida me dava vontade de agarrá-lo loucamente.

A parte boa dessa história era o Gabes. O arcanjo alternava com Cas para ficar de olho e sempre era uma diversão. Ele sempre tinha piadas inúteis, trazia muitos doces e ficava importunando o Sam... Isso era divertido! Até mesmo a criatura da Claire gostava dele. Até o Dean estava gostando um pouco mais dele... Óbvio, Gabriel trazia torta de vez em quando.

O único que não estava se divertindo era o Kevin, que diga-se de passagem, traduziu outra parte da tábua. Essa nos deixou preocupados, dizia algo como "Se o poder absorvido da tábua for usado de forma desqualificada e pecaminosa, o desertor sofrerá uma punição que trará consequências de níveis catastróficos." Nem preciso dizer que surtamos, era exatamente o que Metatron estava fazendo! E se ele escreveu a Palavra e sabia dessa parte, por quê?

– Acham que ele planeja se usar como botão de autodestruição do mundo? - Dean questionou.

– Eu não sei, tudo isso vai fazendo cada vez menos sentido! - Castiel resmungou - Se Metatron sabe das consequências do mau uso, não deveria estar agindo desse jeito.

– Gente... E se essas "consequências de níveis catastróficos" não forem para o mundo no geral? Se forem psicológicas? - Eu perguntei.

– É! Pode ser, mas não podemos nos dar ao luxo de ter hipóteses. - Sam falou.

– Eu sei! - Kevin gritou da outra sala - Mas essa outra parte não está tão fácil de traduzir!

– Vai com calma, Kev! Você já fez muito com essa parte. - Eu disse, o tranquilizando.

– É bem provável que sejam psicológicas. - Gabriel falou após estourar uma bola de chiclete - Vejam bem, ele sempre soube que a Meghan era o receptáculo certo... Por que só agora ele decidiu vim atrás dela?

– Porque talvez a casca dele não esteja apenas se desintegrando, a mente dele também! - Sam exclamou.

– E aí entra a parte da sobrecarga de informações! - Dean complementou.

– Perfeito! Metatron está entrando em colapso... Não precisamos fazer nada, certo? - Perguntei, cheia de esperanças e pronta para um banho de água fria que veio de ninguém menos que o Anjo do Senhor.

– Ele ainda está atrás de você! E outros anjos também. Vai ter que ficar quieta.

– Que coisa, já que eu sou tão "poderosa" assim, deveria poder rasgar a garganta dele com um simples golpe do meu machado. - Cruzei os braços e me joguei na poltrona.

– Já está se achando, não é? - Gabes perguntou rindo.

– Ok, qual dos cães de guarda vai me levar para a escola? - Claire apareceu no corredor com a mochila nas costas.

– Escola? - Todos questionaram.

– É, já está na hora... São 7:30 e eu não estou afim de chegar atrasada. - Ela veio até o centro da sala - Então, já decidiram?

– Não acredito que passamos a noite em claro novamente! - Dean levou uma das mãos até a cabeça e massageou a própria testa.

Já era a terceira vez, só naquela semana, que virávamos a noite buscando respostas, na maioria das vezes não notávamos as horas se passando até que Claire aparecia dizendo que estava na hora do café ou da escola.

– Eu levo. - Gabriel se prontificou.

– Valeu, tio Gabe. - Ela sorriu para o arcanjo.

– Tio? - Sam perguntou.

– Ele me pediu para chamá-lo assim. - Claire deu de ombros.

– É... Já que o Cas é meu irmãozinho e ela é praticamente filha dele, então acho que sou tio! - Gabriel sorriu para nós - Não é nada demais, volto em breve. - Ele sumiu levando a loira junto.

– Era só o que me faltava... - Resmunguei e olhei para o anjo pelo canto do olho, ele mantinha um meio sorriso.

– Repararam que ela não se incomodou quando ele disse que eu era praticamente o pai dela? - Cass perguntou - Acho que ela não está me odiando tanto assim.

– Não se iluda, Cas. - Dean soltou uma leve risada.

– Gente, alguém considerou a opção de que eu sou a única que pode matar Metatron? Eu posso fazer algo como o Sam fez... - Falei cautelosamente, principalmente quando aqueles três pares de olhos descrentes viraram para mim.

– Você ficou louca? - Sam perguntou erguendo as sobrancelhas.

– Não sei, me responda você! - Estreitei os olhos para ele.

– Meghan, não vamos deixar você fazer isso... - Dean falou tentando manter a calma - Você mesma disse que não deu certo, afinal o Sam foi parar no Inferno e depois ficou sem alma.

– Só que dessa vez não tem nada a ver com o Inferno... É apenas Metatron!

– Meghan, ele é muito calculista, poderia acabar com você psicologicamente. - Castiel veio até mim - Fora que ele podia reprimi-la dentro da sua própria mente, a impedindo de expulsá-lo.

– Isso está fora de cogitação. - Dean finalizou.

Revirei os olhos e me joguei na poltrona, odiava quando eles cismavam em decidir qualquer coisa por mim. Mal sabiam que ao me proibir de fazer algo, me dariam mais vontade de fazer. Eu e minha tendência à teimosia.

Logo o Gabriel estava de volta e era mais um para se preocupar comigo. Homens... Achavam que tinham algum direito sobre mim! Ele achava que o melhor a se fazer era desmascarar Metatron, pois dessa forma poderíamos afastá-lo dos anjos que ele matava para se manter estável e ficaria mais fácil de matá-lo.

– Não acho que matar Metatron seja uma boa opção... - Castiel comentou.

– Como não? - Sam indagou.

– Isso nos igualaria à ele.

– Ah, sinto muito, Cass... Mas se eu tiver a oportunidade, vou matá-lo sim! - Eu afirmei.

E então toda essa história gerou uma nova discussão, matar ou não matar Metatron? Óbvio que nós iríamos matá-lo! Na verdade, eu iria matá-lo... É, tecnicamente eu sou a única com estrutura para isso. Sei que o Dean também adoraria isso e pelo menos o apoio dele eu teria.

Próximo ao meio dia nós decidimos ir descansar, Castiel e Gabriel foram embora e precisávamos dormir um pouco para aguentar, até mesmo porque passar tantas noites em claro estava acabando com nossos nervos. Antes de conseguir dormir eu não pude deixar de pensar no que me aguardava, quer dizer, Metatron está por aí espalhando que é o novo Deus, anjos retardados e humanos desesperados o seguem... Tenho que admitir que o patético poderia ser presidente com aquela lábia toda, toda a ladainha de viver entre os pobres só para demonstrar o interesse que Deus nunca demonstrou, só para fazê-los pensar que ele sempre vai estar ali para atender as preces... Só para ter um número considerável de pessoas o idolatrando e o fazendo esquecer do fracassado que ele realmente é.

E quanto aos demônios? Como será que tudo isso os afetaria? Eles iriam começar uma revolução e tentar tomar a terra? Um outro apocalipse? Talvez eu não devesse me preocupar tanto, morrendo agora ou depois, eu vou para o Inferno de qualquer jeito e então não tenho nada a perder. Já aceitei que irei perder meus garotos, meu arcanjo e meu... anjo. Ah Castiel, você está acabando com minha mente.

Naquele momento, decidi que precisava esvaziar a cabeça ou nunca conseguiria descansar... Mais fácil falar do que fazer, mas eu tentei e por algumas horas não tive sucesso, até que apaguei sem ao menos notar. Tão cansada que nem tive sonhos, se tive, não lembro.

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Depois de acordar fui tomar um banho, me senti ainda mais renovada e pronta para mais 36 horas de especulações sobre o que faríamos. Fui até a cozinha e encontrei Sam tomando algo verde e saudável e assistindo o noticiário pelo notebook.

– Só você está acordado? - Perguntei.

– Sim, Kevin está tão apagado que nem se mexe e o Dean... Bom, sabe como é. - Ele deu de ombros.

Olhei para o relógio da cafeteira, já passava das cinco da tarde e logo começaria à escurecer.

– Quem foi buscar a Claire na escola? - Questionei depois de relatar que nem a garota e nem os anjos estavam.

– Ah... Ninguém! - Sam arregalou os olhos - Eu esqueci!

– Minha nossa... - Eu soltei um riso - Eu vou lá, só espero que ela não tenha fugido.

Peguei a chave do Porsche e subi até a garagem, admirei novamente os outros carros que estavam ali e renovei a promessa de tirar um dia só para testá-los. Dirigi o mais rápido que pude até a escola, temendo não encontrá-la mais lá... Ai, se isso acontecesse, Castiel iria arrancar nossa pele. Eu sei! Ele nunca faria isso. Mas mesmo assim eu não queria ser responsável por deixá-lo triste.

Ao chegar estacionei o carro e saí correndo a procurando, ela não estava no pátio e o prédio já estava fechado. Fui até a área do playground e a vi sentada em um dos balanços conversando com um garoto que ocupava o outro. Dei um sorriso de lado e me aproximei, eles estavam tão animados e entretidos que nem me notaram ali.

– Olá. - Eu anunciei minha chegada e ganhei um par de olhares decepcionados.

– O que está fazendo aqui? - Claire perguntou.

– Bom, apesar de estar feliz por você não estar nem ligando para o fato de que te esquecemos aqui, já está escurecendo e você precisa ir para casa.

– Ah, nossa! Eu já deveria ter ido pra casa! - O garoto se levantou e só então pude reparar melhor nele, era alto, magro, com cabelos pretos, lisos e bagunçados, olhos bem escuros e um sorriso adorável.

– Você precisa de carona? - Perguntei.

– Ah, não, obrigado... - Ele respondeu e estendeu a mão para me cumprimentar - Um prazer conhecê-la, Senhora Novak.

– Ela não é minha mãe! - Claire exclamou.

– Ah, me desculpe... Er... Eu podia jurar...

– Não se preocupe, sou como uma irmã da Claire, mas é um prazer te conhecer também... - Ergui uma sobrancelha esperando que ele dissesse o nome.

– Benjamin, mas pode me chamar de Ben. - Ele sorriu e depois acenou para Claire - Até mais!

– Até! - Ela acenou de volta e depois me fuzilou - Qual o seu problema?

– O quê? Eu só vim te buscar, o Mister Simpatia que falou bobagem... Eu tenho cara de ser mãe? - Questionei um tanto indignada.

– Não a minha! - Ela jogou a mochila por cima dos ombros e foi marchando em direção ao carro.

– Então, ele é seu namorado?

– Ah, pelo amor de Deus, não! - Ela revirou os olhos e suas bochechas ficaram vermelhas - Ele é só um carinha que eu conheci hoje na detenção.

– Ah que romântico... Espera, o que você fez? - Perguntei quando já estávamos no carro.

– Me envolvi numa briga... Elas me cercaram no corredor e eu tive que me defender, mas como fui a primeira a partir pra cima, levei a culpa. - Claire deu de ombros.

– Quantas eram?

– Apenas duas... Eu derrubei elas com facilidade.

Deixei escapar uma pequena risada e a olhei pelo canto dos olhos, quem diria, hein? Parece que ela realmente é uma das nossas.

– Muito bem. - Falei deixando escapar uma pontada de orgulho.

– Pessoas normais iriam me repreender. - Ela riu também.

– Pessoas normais não querem te preparar para a realidade, além do mais, eu faria a mesma coisa... Quer dizer, eu fiz a mesma coisa.

– Sério?!

– Só que foram com quatro garotas! Mas não se assuste, eu já tinha treinamento de caçadora e uma delas beijou o Dean... Não gosto de vadias rondando meus garotos. - Acabei gargalhando ao relembrar da cena, elas acharam que eu era um tipo de psicopata e o Dean ficou com muita raiva de mim, pois segundo ele, nenhuma garota mais queria se aproximar.

– Você faria isso de novo? Digo, pelo Dean...

– Acho que hoje em dia, não... Seria egoísmo agora que eu... eu...

– Agora que você está em algo sério com o Castiel. - Ela acrescentou e me olhou dando um sorriso maroto.

– Pode-se dizer que sim... Mas obviamente qualquer garota que quiser um dos meus meninos tem que passar por mim. - Falei decidida.

– Você é louca, Meghan. - Claire balançou a cabeça negativamente.

– Um pouco... É o que essa vida faz com você. - Dei de ombros - Você tem sorte de não precisar ficar nela.

– Acho que é tarde demais pra isso, você acha mesmo que quando eu ficar maior de idade e for embora vou ter uma vida normal? - Ela questionou - Ou melhor dizendo, você acha mesmo que eu vou embora quando ficar maior de idade?

– Eu espero que vá! E sei que o Cass também quer isso... Nós fazemos de tudo para não arrastar mais ninguém pra essa realidade... E já fizemos isso com o Kevin e você... Ele nunca vai sair, ele sempre será um profeta! Mas você não, então aproveite a chance.

Nós chegamos de volta ao bunker, Claire me fez prometer que não contaria nada ao Castiel pois não estava a fim de ser repreendida ou escutar um sermão. Claro eu não falaria nada, a garota arrasou lá e ainda tivemos um momento de paz na volta para casa. Quando entramos, todos já estavam acordados e os anjos haviam retornado, mas pela cara deles, pareciam ter algo para contar.