E você não é? escrita por Boo


Capítulo 1
Ruiva - Único.


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem a leitura.



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– Como você pode ver, ele é um maníaco. Ele fere você, porque acredita que é inferior a ele. Harley Quinn, você é a psiquiatra aqui. Como pode continuamente passar por esses sinais?

A mulher agachada ao chão agarrava seu corpo com certo desespero, encolhida em algo semelhante a uma posição fetal, as costas rentes a parede. Alguns murmúrios incompreensíveis escapavam de seus lábios, e percebia-se que ela não estava em seu estado mais lúcido. Em seus braços, haviam marcas arroxeadas, cujo formato lembravam um aperto de mãos humanas.

– Ele estava me levando para a cama, Pam. - comentou, os olhos desfocados. - Suplicou juras de paixão ardente em meus ouvidos. E bastou que eu mencionasse você para que ele fosse violento. Me apertasse, me violasse, me fizesse sua da maneira mais cruel. Ele me desejava. Apenas para ele. Foram ciúmes. Ele me ama. Ele me ama!

– Pare com isso. Está cega?! - A ruiva questionou, abrindo as pernas da amiga e apontando para sua região ferida, com toda a violência que lhe era característica. - Não vê o que esse maldito faz com você? Por céus, garota, ele já te colocou em um maldito foguete! Ele vai te destruir. Ciúmes? Isso é obsessão!

– E o que você sente pela Catwoman e pelo Batsy? Não é obsessão? - devolveu, a loucura faiscando em seu olhar.

Ivy empertigou-se, ofendida. Deu as costas à mulher que chamava de melhor amiga, sem querer feri-la mais ainda no momento, mas instável o bastante para proferir amargas palavras:

– Às vezes, acho que você e Joker se merecem.

Doeu. Definitivamente, aquelas palavras magoaram Harley Quinn. Mais do que qualquer dito pejorativo saído da boca de seu pudinzinho. Dele, já esperava maus tratos. Dele, não havia surpresa. Mas apesar das incontáveis discussões que tinha com Ivy referentes a sua vida amorosa, nunca ouvira tamanha ofensa. Psicótica. Surtada. Maníaca. Sádica. Poderiam dizer que era tudo isso. Mas não era uma psicopata. Era dessa forma que chamava seu amado Joker. A ilusão de amor ia e vinha, mas era isso o que era. Uma ilusão, o raio passou por sua mente.

– Você está dizendo que eu não me importo com você? Como você ousa?

– Não faça-me rir. Ele é tudo o que te importa. Essa sua paixão platônica vai te levar a ruína. Mas o que tem, não é? Minha obsessão pela gata e pelo morcego também vai.

– Pam, você sabe que eu não queria... - riu alto, tentando quebrar o clima de tensão.

Não funcionou. A ruiva continuava de costas para ela, olhando para qualquer ponto que não fosse atrás de si. Harley Quinn viu-se obrigada a levantar e se aproximar da outra, passeando as mãos por suas costas.

– Vamos. - sorriu. - Não fui tão má assim. Já passou.

– Por que você é sempre assim? - perguntou, entristecida.

– E você não é?

Poison Ivy se viu sem resposta. E não era? Era. Riu, como aquela mulher sabia como acalmá-la tão bem? Um abraço caloroso envolveu seu corpo, fazendo com que sorrisse também. Amava sentir aquele corpo contra o seu.

– Você é uma idiota.

– Você também.

– Deveríamos fazer alguma coisa hoje, doutora. - sugeriu, arrancando um sorriso malicioso da parceira de crimes.

– Estamos esperando o que? - E pôs sua máscara.

[x]

Ivy estava deitada em sua cama, bebendo um pouco de vodka enquanto lia uma revista de jardinagem. Achava grande parte dos conselhos tolos, mas às vezes haviam coisas interessantes. Em seu corpo, uma blusa curta, porém larga pendia de seu ombro, e após as costas expostas estava um short curto. Amava sua costumeira roupa verde, possuidora de belas folhagens, mas era tão refrescante estar sem ela.

Distraída em sua leitura, não percebeu aproximação alguma, só notando a presença de outra pessoa quando a mesma se jogou sobre seu corpo, fazendo pressão. Pelo cheiro, o formato do corpo pequeno e os fios ruivos e negros que caíam em frente a seus olhos, sabia quem era.

– A mocinha pode me explicar o que está fazendo?

Apenas uma risada soou como resposta, enquanto as mãos frias e pequenas se locomoviam para as axilas lisas da ruiva. “Oh, não!”, exclamou, enquanto uma série de risadas ecoou pelo cômodo enquanto era atacada pela companheira.

– Você é cruel! - riu, jogando a outra sobre a cama e puxando o ar com força.

– Eu sei. - sorriu de volta. - Hey, Ruiva, por que você lê tanto? É tão chato...

– Você acha? Não lia bastante enquanto estava na faculdade?

– Porque precisava. Não por achar legal, que horror!

– Eu estava pensando... você não sente falta de ser uma psiquiatra? De ser apenas Harleen Quinzel?

– Você não sente falta de ser apenas a Pamela?

Permaneceram em silêncio. A ruiva se questionava quando fora o primeiro breakdown da amiga. Sabia que os seus foram causados pelas experiências sofridas, que sua insanidade nasceu ali. Mas e a loira? Ou melhor, antiga loira, já que seus fios tingidos dividiam-se em dois tons.

Já Harley Quinn pensava em como seu pudinzinho mudara sua vida. Como Ivy mudara sua vida.

– Eu te amo, sabia? - A boba da corte proferiu tais palavras lentamente, testando sua sonoridade.

– Nunca foi preciso dizer. - A outra devolveu, sorrindo. Deram as mãos, cientes de que sua amizade era mais forte do que qualquer briga que tivessem, ou mesmo do que possíveis ataques de loucura.

– É nessa hora que eu pronuncio as palavras “me beija” e “agora”?1

– Pare de ficar brincando. - riu.

– Não estou.

E então Harley Quinn fez um beicinho tão fofo e tão ingênuo, que Ivy não se viu capacitada a negar o insistente pedido que era dirigido a si pelo olhar da mulher. Abaixou-se e selou seus lábios com suavidade, deixando que permanecessem juntos por um bom tempo. Foi bom, tinha de admitir. Um formigamento se apoderou de seus lábios e se espalhou por seu corpo, em um gostoso calor.

Nesse momento, percebeu que queria mais. Afastou-se de súbito, tentando impedir esse tipo de pensamento. O que diabos estava se passando por sua cabeça?, Harley era sua irmãzinha, praticamente.

A outra mulher, no entanto, permaneceu parada, os lábios levemente entreabertos, a respiração lenta e ritmada, fazendo seus seios seguirem o movimento natural, encarando-a. Aquela cena estava demais para Poison Ivy. Ela respirou fundo e fez menção de se levantar, mas sentiu seu pulso ser segurado.

– Para onde você está fugindo, Pamela?

Um choque elétrico pareceu percorrer seu corpo. O olhar de Harley Quinn era quente, quente como as maças vermelhas de sua bochechas, que mostravam seu profundo estado de êxtase, enquanto ofegava brevemente. Sabia que as sensações que explodiam por todo seu ser também aconteciam com ela, só poderia ser isso.

– Ruiva?

– Sim? - respondeu, quase sem ar.

– Eu pedi para me beijar, não para roçar os lábios. Por favor, o pudinzinho faz melhor.

A feição enfurecida de Ivy arrancou um sorrisinho malicioso da parceira do Joker, já que sua intenção era provocá-la.

– Eu. Não. Sou. Inferior. Àquele. Psicopata. De. Merda.

E com essas palavras duras, avançou sobre os lábios da companheira, tomando-os com avidez. Sua língua invadiu agressivamente a boca quente e acolhedora de Harley Quinn, a qual correspondeu com urgência o beijo proibido. Aproximaram seus corpos, de forma que não sobrasse espaço entre elas.

– Que desespero. - riu-se Harley.

– Não quero nem um átomo de distância entre nós. Eu te quero, aqui e agora.

Quando foi mesmo que conseguiu ter esse tipo de atitude? Não sabia, mas seu corpo clamava por mais contato com a garota que jazia na cama, completamente vulnerável a si. Beijou-lhe o pescoço, sorrindo.

– Eu te amo, Harley Quinn.

E fê-la sua ali mesmo, em meio a suspiros, súplicas e diversas juras de amor e luxúria, com uma promessa silenciosa de que aquilo nunca se repetiria.

Mas elas sabiam que aconteceria muitas e muitas vezes.

1 - Referência a uma cena da HQ Harley Quinn dos novos 52 (https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/1d/90/85/1d90852e852792a1db4951df0b5d6de2.jpg)


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Notas finais do capítulo

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