Mil Formas de Amar escrita por Hyuuga Nashiro


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Fiz essa fic em, no máximo, duas horas. Confesso que estava pensando em ser algo realístico e traumático, mostrar o choque da vida. Mas no meio, eu percebi muitas coisas. Uma delas: estar apaixonado é uma droga se você é um Nico diÂngelo da vida, então eu queria fazer algo que nos desse esperança na vida porque... ALL YOU NEED IS LOVE!
Fiz como presente para meu abiguinho Bernie ♥ Sua praga hue
E não tem lemon porque é tudo tão romântico, fofo, deprimente e final feliz que... Porra, não combinava, vai bater punheta nas minhas outras fics, essa não kspokspospsk
Enfim, são exatamente 4:01 da madrugada e amanhã vou acordar às três da tarde, eu sei disso, mas valeu a pena :D JASICO, CARALHO, É VIDA! Agora deixa eu pensar na sinopse.



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Nico só queria desaparecer.

Não era muito difícil, ele só tinha que se concentrar, entrar em uma sombra e sumir por ela, ninguém teria tempo de dizer “hey” ou de segurar seu braço, ele já estava virando fumaça mesmo... Entrando no esquecimento, na solidão, na depressão tipo de um garoto órfão de quinze anos que acabou de ver o primeiro amor de sua vida pedir a namorada em casamento. Não o leve o mal, só o leve longe dali... Não era como se ele não estivesse feliz porque era a notícia mais feliz que aquele Acampamento havia recebido em anos desde que Percy chegou e uma série de guerras e mortes intermináveis se sucederam. Ele se sentia tão feliz por ele que o sentimento era quase morno em seu peito, mas você precisa entender, precisa saber cada detalhe antes de tirar conclusões precipitadas.

A primeira –sólida, talvez- lembrança verdadeira de sua vida era Percy Jackson lhe dizendo que os deuses de seu jogo de mitomagia eram reais e seu pai era um deles. A segunda foi uma demonstração do quão heroicos meio-sangues poderiam ser –e azarados, se você contar que Annabeth caiu em um precipício várias vezes em sua vida. Ele era um garotinho pequeno, indefeso e altamente impressionável. Era óbvio que ele, com seus míseros dez anos, encontraria em Percy a personificação da perfeição, a epítome do heroísmo e, mais tarde, o amor de sua vida. Teria sido assim, teria sido bonitinho e normal, uma paixonite como qualquer outra.

Mas Bianca diÂngelo morreu.

E com ela morreu sua alegria, sua cor, seu coração, sua confiança em Percy.

O amor se tornou ódio. Não seja enganado tão facilmente, não seja tolo, não seja infantilmente clichê, mesmo que isso pareça simples porque relacionamentos amorosos conturbados e platônicos nunca são simples. Existe um motivo pelo qual as pessoas dizem que existem uma linha tênue entre amor e ódio. Não é porque ambos são opostos. Eles. Não. São. Entenda bem isso ou vai passar o resto de sua vida em uma eterna ilusão de filme à la Disney.

Amor é se importar tão profundamente com alguém que daria a vida por ela, não porque é o certo a se fazer, mas porque você prefere morrer a viver em um mundo sem ela. Logo, o oposto do amor é simplesmente indiferença. Se você não ama, não se importa, não olha, não sente, não toca, nadica de nada.

Então por que as pessoas insistem que o ódio é o oposto do amor? Não é o oposto, é apenas mais uma de suas dimensões destorcidas e escurecidas com nada mais e nada menos que um coração partido. Se você ama demais, você odeia demais. Não é odiar “as amiguinhas”, odiar seus pais que não te deixam sair com ele, odiar o mundo que parece não te dar uma chance...

Se você ama alguém e ele quebra seu coração, você vai odiá-lo. É simples de se entender. Ainda é amor, ainda é forte e ainda dói, mas está manchado, quebrado, tingido de dor, revolta e ressentimento. E essa é a pura verdade, quer você aceite ou não, porque assim que seu coração se permitir perdoar aquela pessoa, você vai descobrir que ainda a ama tão forte quanto sempre foi.

Foi isso o que houve com Nico. Ele amava Percy, ele sabia, Bianca sabia, o papa sabia, Afrodite podia ver isso de olhos fechados. Ele era uma criança e o dom das crianças é amar incondicionalmente, irrevogavelmente e inconsequentemente. Era um sentimento puro de adoração e tudo o que ele queria era que Percy continuasse ao seu lado lhe contando suas aventuras e que mandasse Annachata às profundezas da Terra por ser tão irritantemente linda, legal e... Sim, ele morria de ciúmes. Mas era tão puro, tão bonito, tão... fofinho.

Então não importava se ele o conhecia há pouco tempo, se era puramente veneração e se Nico não entendesse nada sobre os preconceitos do mundo de um homem amar outro homem. Seu coração estava inteiro, vivo e batendo.

Mas Bianca diÂngelo morreu.

E com ela morreu sua alegria, sua cor, seu coração, sua confiança em Percy.

E com ela o amor se tornou ódio.

E sem ela tudo se distorceu.

E sem ela não faria diferença Nico estar no Mundo dos Mortos porque era assim que ele se sentia e ninguém –morto ou vivo- negaria que ele não estava vivo, que ele estava morrendo a cada segundo e logo, logo...

No entanto, Percy foi atrás dele. Ele o procurou, lutou por ele, confiou nele e... Curou seu coração, pouco a pouco, uma atadura aqui, um remédio ali, um beijo nos dedos ralados e um bagunçar de cabelos sujos. A escuridão foi embora, a cor voltou, a alegria era momentânea –mas estava ali- e quando a confiança voltou, ele percebeu que ainda amava Percy e que aquilo nunca havia sumido, apenas sido camuflado por montanhas e montanhas de ressentimento e dor.

Ele já era velho, já entendia o que aquilo significava e o quão errado e sujo ele era. Nico não tentou dar uma chance para si, ele se afastou, passou um tempo com seu pai, resolveu seus problemas, cuidou de sua própria vida, tentou esquecer.

E então veio a Guerra de Gaia. Ele não queria estar ali, não queria mesmo estar ali. Ele poderia lutar longe das pessoas, poderia fazer a diferença das sombras, ficar na sua, ser esperto e sobreviver sem mais cicatrizes do que já tinha. Mas ele foi obrigado a encarar Percy todos os dias, a saber que não era digno do amor de ninguém, que não tinha o direito sequer aos seus próprios sentimentos porque eram errados, porque ele todo era errado, uma aberração e ninguém nunca o aceitaria.

Ele havia se acostumado com a ideia de estar sozinho. E quando a guerra terminasse, ele voltaria a sua solidão –contanto que outra guerra não estourasse- e todos o esqueceriam. Talvez, a cada dez anos em reencontros casuais, eles dissessem “alguém se lembra do filho de Hades? Qual era mesmo o nome dele?” e, apenas talvez, Percy se lembrasse porque Nico lhe havia dado muito problema.

Ele estava acostumado com a ideia –mesmo que doesse como brasa de fogo- que Percy se casaria com Annabeth. Ele sequer havia fantasiado que ele poderia retribuir o sentimento, que ele fosse sentir algo por um garoto magrelo com sérias tendências suicidas. Então não estava tudo bem, estava um inferno e doía pra caralho, mas era a realidade e ele poderia aceitar.

Até que Cupido lhe fez confessar tudo.

Ele pensou que sua vida houvesse acabado porque finalmente dizer aquilo significava que o sentimento nunca iria passar, sempre iria doer e ele conviveria com aquilo para sempre porque aquele era o seu “feliz para sempre”, sequer continha um plural, quanto mais felicidade verdadeira.

No entanto, Jason estava ali e, com um tapa na cara que ele nunca se desculpou, mandou ele levantar a cabeça e parar de sofrer por um cara que não merecia metade de tudo aquilo que era Nico diÂngelo.

Ele sentiu vontade de rir, de chorar e rir de novo. Porque era o contrário: era ele que não merecia Percy, mas apenas o fato de que Jason pensasse que ele era valho de algo... acendeu seu peito. Não foram fogos de artifícios, não foram borboletas no estômago, aquilo era uma coisa ridícula nem um pouco verdadeira!

Foi apenas uma sensação morna como quando tomava um chocolate quente antes de dormir e o cobertor era excepcionalmente confortável. Foi o primeiro sinal de normalidade que ele teve em meses e, mesmo em meio a uma guerra e com o coração cheio de cicatrizes, ele riu como se não houvesse amanhã.

Jason disse que estava feliz por fazê-lo sorrir porque era a cena mais linda que ele já havia visto.

Talvez, se Nico fosse menos autodepreciativo, ele poderia entender que aquilo era um flerte.

Mas ele nunca teve tempo para pensar sobre nada do que aconteceu e quando a missão de carregar a estátua se apresentou, ele alegremente concordou em leva-la para o Acampamento, para se certificar de que ele não sentiria mais ninguém morrer e que seu herói teria um lugar para voltar quando todo o pesadelo cessasse.

Ele nunca contou que Reyna soubesse mais sobre corações partidos do que ele. Nunca esperou que ela se tornasse tão parecida com Bianca, mas excepcionalmente mais forte... Forte o suficiente para não morrer em qualquer luta, para não abandoná-lo, para aguentar todas as sombras de dor e ódio em sua alma. E, uma por uma, ela iluminou cada uma dessas sombras como um sol e aquele buraco vazio se preencheu em seu coração. Porque ela havia visto tudo sobre ele e ainda assim estava ao seu lado, então ele era digno de amor, então ele não era uma aberração, então ele não estava... sozinho.

E conforme tudo voltava ao normal, ele teve tempo para perceber que, não importava o quanto odiasse a si mesmo, ele ainda seria aquilo. E não era errado ser assim porque se Reyna podia amá-lo, então ele podia amar a si mesmo!

Nico mudou. Porque admita, se você não amar a si mesmo, como vai amar a alguém mais? Amor próprio, confiança em si mesmo... isso atrai pessoas. Ele não mais se sentia sozinho, ele não mais se odiava. Ele percebeu que era digno de mais, que merecia algo mais que um gosto ruim no fundo da garganta. Ele passou a amar a si mesmo e era a melhor sensação do mundo acordar feliz consigo mesmo. Foi aí que ele percebeu que haviam diferentes formas de amor e nenhuma delas eram erradas ou distorcidas.

E o jeito que Nico amava Percy era diferente. Ele definitivamente não queria enfiar sua língua na boca dele do jeito que Annabeth fazia. E embora ele o achasse atraente, ele não corava feito uma garotinha querendo arrancar as roupas e gritar “me possua”. Não que algum dia ele fosse sentir isso...

Mas ele entendeu tudo. Ele apenas assumiu que amar Percy, se importar com ele e querer estar perto dele, fosse estar apaixonado. E eram coisas tão diferentes que as pessoas confundiam o tempo inteiro e estragavam vidas inteiras por causa disso. E agora que você sabe, que você entende a história toda, você pode concluir o que era aquele amor.

Era puro e verdadeiro. Porque todo amor é assim. Se você ama, você mata e morre por ele. Nico faria isso por Percy, assim como faria por Hazel, por seu pai, por Reyna, faria por Bianca se ela ainda estivesse ali... Mas estar apaixonado? Isso implicava querer jogar Percy em uma cama e esse nunca foi o ponto de seu sofrimento.

Ele havia confundido um amor puro com paixão porque gostava de garotos e apenas assumiu que amor e paixão se encaixassem com a mesma pessoa: Percy. E você precisa entender que não era assim. Eles. Não. Encaixavam.

Mas ainda era embaraçoso pensar nisso porque Jason pensava que ele era apaixonado por Percy Jackson e ele havia admitido isso em voz alta! Deuses, a expressão desdenhosa de Cupido nunca esteve tão claramente impregnada em sua mente: ele estava zombando de seu intelecto, era óbvio.

Mas você precisa entender: não é todo garoto de quinze anos que entende coisas sobre amor. E mesmo as mais sensíveis garotas podem não saber nada sobre isso. Ele havia demorado cinco anos de puro sofrimento, autodepreciação, ressentimentos e reviravoltas para entender que ele nunca esteve apaixonado por Percy Jackson.

Então quando Jason lhe perguntou, ao final de toda guerra e trauma, se ele queria conversar sobre seus sentimentos porque –obviamente- devia ser difícil ver o amor da sua vida pedindo a namorada dele em casamento...

Bem, Nico queria desaparecer. Não porque estivesse depressivo e precisava da solidão, mas porque estava mortalmente embaraçado e ficar sozinho em seu quarto lhe faria lembrar do quão desprovido das graças sociais ele era.

Ele não sabia o que dizer a Jason Grace, ou se devia dizer algo a ele. Jason havia ganhado sua confiança facilmente e se tornar amigo dele havia sido tarefa fácil nos meses seguintes. Principalmente porque ele havia terminado com Piper e Nico não se sentia como um estorvo perto dele.

Mas você precisa entender, não importa como, precisa entender que Nico sempre será Nico e sua primeira escolha sempre será fugir para as sombras e evitar o máximo possível a vergonha e confronto. Jason achou que ele estava magoado, que aquele era um assunto delicado ou algo do tipo, então apenas se calou com uma expressão melancólica e saiu de perto para se distrair com algo.

Nico não teve a chance de dizer o que queria para Jason porque, ele sabia, você sabe, o papa sabe, não era a coisa certa a se dizer. O que ele tinha em mente era dizer que não se importava, que Percy podia fazer o que quisesse da vida e estava tudo bem. Porque a esse ponto você já deve ter entendido ou –deuses- faça um teste de Q.I... Você já entendeu que quando se ama, se importa. E Nico realmente amava Percy, então ele se importava sim que ele se casasse com Annabeth. Ele se importava tanto que já estava pensando em qual seria o seu presente de casamento, mesmo que fosse uma missão tortuosa muito mais difícil do que matar monstros e lutar contra forças da natureza antigas e destruidoras.

Então se ele não conseguia as palavras certas para dizer algo a Jason, ele teria que contar a Percy. Além de que, ele ainda tinha um pouco de senso de humor e a cara de Percy Jackson ao perceber que perdeu um drama de cinco anos seria imperdoável!

Nico contou tudo. E, como ele era uma pessoa extremamente bem humorada –nos últimos meses, pelo menos- ele acrescentou que Percy não era o seu tipo.

Ele não disse, no entanto, que seu tipo era loiro, com um olhar abandonado e sério, músculos fortes e quase dois metros de altura.

Não precisava, não era necessário. E naquele ponto de sua vida, ainda não era um problema. Ele gostava de Jason como uma companhia e um amigo, ele não o amava do jeito que amava Percy e Reyna... E se ele estava tendo problemas em controlar a cor de seu rosto perto de Grace, isso era culpa de seus hormônios adolescentes e perfeitamente normal. Ele poderia lidar com uma paixonite porque dessa vez seria normal e muito menos destrutivo. Seria um drama comum de um cara comum que gostava do jeito nada comum que um certo loiro comum sorria quando o olhava.

Mas você precisa entender mais do que tudo que nada na vida de um semideus é comum, nem mesmo seu pequeno drama amoroso simplório.

E quando Nico percebeu, já era tarde, tão, tão tarde e já estava tão perdidamente envolvido nas graças daquele sorriso com uma cicatriz discreta... Ele estava batendo uma vitamina de morango quando percebeu isso. Ele estava olhando para a janela da cozinha de seu chalé e Jason estava tentando tirar seu tênis de um alto galho de árvore no qual Nico o havia amarrado. Ele estava rindo e quando Jason olhou para ele, emburrado e sujo, mas sorriu mesmo assim, ele se lembrou daquilo... De que Jason achava seu sorriso a coisa mais linda que ele já havia visto. E você precisa saber, precisa entender que Nico seria uma criatura fria e sem coração se não houvesse se apaixonado perdidamente por Jason Grace.

Jason se importava, perguntava uma e outra vez se ele realmente queria sanduíche de atum ou só estava comendo para agradá-lo e quando Nico dizia que odiava peixes, ele largava tudo e ia preparar um sanduíche de presunto com o maior sorriso no rosto, dizendo que o tudo o que importava era o que Nico queria. Ele nunca havia se sentido tão importante, tão válido na vida de alguém. Como quando Jason fazia questão de lavar sua jaqueta velha e emprestar a sua sempre, como quando ele sempre colocava um cobertor a mais em Nico, como quando sempre trazia seu café da manhã na cama e passava cada segundo possível de seu dia com ele dizendo –e você precisa entender que Nico sabe discernir bem uma mentira e Jason era incapaz de mentir para ele –que preferia lutar contra uma legião romana do que passar uma semana longe de Nico.

Mas talvez Nico fosse mais lerdo que Percy porque foi só naquele momento de epifania atrás do barulho de um liquidificador e do cheiro de uma vitamina de morango que ele percebeu que Jason sempre esteve completamente caído por ele, um garoto magrelo com sérias tendências a divagações em dimensões aleatórias.

Ele havia passado os últimos meses tentando entender porque Jason gostava tanto de perder tempo com seu mau humor matinal, com sua rabugice em fugir das refeições, com sua afeição sobrenatural a sua espada, com suas birras de organização, com seu gosto musical terrivelmente estranho e antigo, com suas manias de rir até morrer toda vez que Jason tropeçava no próprio pé em momentos de completa paz no solo.

E se ele não fosse tão lerdo, poderia ter descoberto que era porque Jason estava olhando abobalhado para ele.

Mas agora, enquanto segurava dois copos de vitamina na mão e observava um certo loiro alegre entrar em seu chalé com um sorriso de vitória por ter conseguido seu precioso tênis, Nico entendeu que talvez gostasse dele mais do que o normal, que talvez houvesse se acostumado tanto com ele que faria uma falta dos infernos passar duas horas longe dele, que talvez ele precisasse de Jason assim como um coração precisa de uma batida, mas ainda não era...

-Essa é a melhor vitamina que eu já tomei na minha vida. –Jason havia dito com um sorriso enorme no rosto e um bigode de espuma. Nico havia gargalhado e, com um pouco de timidez e talvez um sorriso misterioso, passou o polegar lentamente por seu rosto até tirar a espuma e então colocou o dedo na boca.

-Acho que eu melhorei, mas a sua vitamina ainda é melhor. –ele havia comentado casualmente e fingiu com todas as suas forças que não havia reparado no jeito que Jason prendeu a respiração, se avermelhou feito tomate e sorriu atônito.

Porque a vida era muito curta e –você precisa entender e deve concordar- que Nico não poderia deixar Jason Grace fora de sua vida e, se a vida também fosse bela como diziam ser, não poderia deixar Jason Grace fora de sua cama.

Talvez fosse a coisa mais absurda que ele já tinha feito em seus oitenta anos de vida... Ou quinze, se você preferir. Mas ele havia parado de se odiar pelas coisas que fazia e sim pelas que não havia feito. Se algo desse errado, ele poderia se trancar no Hotel&Cassino Lótus até a próxima geração e se apaixonar por algum outro loiro com sorriso brilhante e... covinhas.

Mas você, o presidente, Consuela e o papa sabem que nunca vai existir ninguém como Jason Grace além de... Bem, ele mesmo.

-Eu gosto de você, Jason. –ele havia dito naquele momento de loucura quando Jason se atrapalhou lavando o liquidificador e voou espuma em seu rosto. Ele o havia encarado como se houvesse ganhado o melhor presente de Natal e o fato é que nenhum presente chegaria perto da honra de se ter a afeição daquele garoto para si, mas Nico sequer poderia imaginar isso, não que houvessem resquícios de sua natureza autodepreciativa, mas porque como todo garoto de quinze anos, ele apenas não se via no pedestal que Jason o colocara.

-Mesmo? –Jason havia perguntado, um sorriso aberto e sincero no rosto. E mesmo que ele estivesse feliz, ele precisava de confirmação porque ele também era um garoto, ainda que não de quinze anos, mas ainda era um garoto e ele apenas não podia acreditar que o amor de sua vida gostava dele. Não era o suficiente, nunca seria o suficiente por mais que ele tivesse de Nico, mas apenas aquele pedacinho de paraíso já coloria sua alma e ele queria muito jogar a louça pro alto, arrancar a roupa e sair gritando que a porra da vida era linda e –caralho- ele amava aquele garotinho esquisito.

-Mesmo quando você está coberto de espuma. –Nico havia respondido com um sorriso sarcástico. –Mas tudo bem porque você está sujo, é bom tomar banho de vez em quando, Jay.

-Vai se ferrar, tampinha.

E ali estava aquele sorriso. O melhor sorriso do mundo porque não importava o quanto você clareasse os dentes e usasse Photoshop, sua foto nos outdoors nunca se comparariam àquele deus grego. Ou semideus, se você gosta tanto de estragar referências irônicas.

-E o seu sorriso é a coisa mais linda que eu já vi. –Nico havia dito. Pronto. Jason havia quebrado um copo e cortado o dedo, mas após o grande momento de estupor e maior perda de água potável do planeta, ele finalmente sorriu e se virou para perguntar se Nico realmente estava flertando de volta com ele, mas o garoto não estava mais ao seu lado.

Jason quase agradeceu aos deuses porque, em sua cabeça, não fazia sentido. Era perfeitamente fácil amar Nico com todas as forças de seu ser, mas Nico amá-lo de volta parecia ser a mais improvável das fantasias, nem em seus sonhos mais malucos e ele estava começando a citar One Direction, então a situação realmente estava deplorável.

Não era assim que ele se sentia no entanto. Amar nunca tinha parecido tão bom e agora ele estava citando Michael Jackson, talvez devesse desistir do Pop e se focar em algo menos açucarado que não lhe desse tanto diabetes ao ouvir. Mas sorriu mesmo assim porque você já deve ter entendido que a razão para a felicidade de Jason, que o motivo de seu sorriso gostava dele e de repente o mundo parecia tão... mil vezes mais perfeito.

Talvez fosse sua alegria constante ofuscando o bom humor de Leo Valdez, talvez fosse sua mão brincando com o cabelo de Nico enquanto ele lia algum livro deitado em sua perna, talvez fosse o sol no torso nu do garoto e seu olhar babando nele, talvez fosse seu sorriso ao vê-lo rir de algo engraçado no livro... Mas o Acampamento inteiro já sabia que ele estava completamente apaixonado por Nico.

E talvez Afrodite já houvesse se tocado que apesar de Jason amar Nico mais do que amava a todo o resto do universo, ela não poderia interferir com nenhuma história tragicamente bela porque eles eram simplesmente perfeitos juntos e nem ela poderia estragar aquilo.

E agora, você sabe, Consuela sabe, o Acampamento sabe, a América sabe e o papa sabe que Jason Grace está tão apaixonado por Nico que não consegue desviar os olhos um segundo, nem mesmo quando come, ou quando dorme... Talvez Jason não estivesse dormindo porque quando ele se mudou definitivamente para o chalé de Hades, além dos murmúrios pervertidos, todos apostavam que ele apenas deitava ali a noite inteira e encarava Nico com aquele sorriso extremamente bobo no rosto.

-Você precisa disfarçar. –Nico lhe havia dito em uma noite na fogueira enquanto pegava dezenas de marshmallows para os dois. –Eu sei que sou extremamente atraente com todos meus ossos charmosos, mas as pessoas vieram me perguntar se você já havia se declarado pra mim.

E nós sabemos que seria tão lindamente clichê se Jason corasse nesse momento, mas nunca saberemos disso porque estava escuro e Jason havia aprendido muito bem a se esconder dos olhares inquisidores de Nico e sua única resposta foi que ele não estava magro há séculos e que se não tomasse cuidado, ficaria obeso e... Quem o carregaria para cama quando ele adormecesse em seus braços assistindo um filme?

Aquela havia sido a vez de Nico corar violentamente, então apenas enfiou o maldito marshmallows na boca enquanto ignorava o fato de que Jason realmente queria ser aquele doce no momento, de que Jason conhecia cada músculo de seu corpo e que Nico estava mais alto e mais forte, tanto quanto Percy, mas ainda assim encaixava-se perfeitamente entre os braços fortes e largos de Grace.

-Eu sei que você quer ser esse marshmallows, mas nós estamos em público Jay. –Nico havia provocado e Jason começou a achar que o garoto tinha um senso de humor muito cruel se sabia o efeito que morder os lábios daquele jeito realmente causava em seu corpo. E Nico parecia ainda mais cruel, lindamente cruel e ele ainda estava completamente maluco por ele quando começou a gargalhar. –Toma, eu sei que você quer, você estava namorando o pobre marshmallows. –ele ofereceu um e Jason pensou que talvez ele não fosse cruel, talvez ele apenas brincasse e não soubesse o quanto exercia poder sobre cada parte de seu ser.

Mas ele estava enganado. Oh, tão terrivelmente enganado. E quanto Nico colocou aquele pedaço macio de doce dentro de sua boca, passando os dedos em seus lábios no processo e perguntando se estava bom, ele teve vontade de dizer que o gosto da pele dele era muito melhor do que qualquer outra coisa que seus lábios já provaram. Mas ele não disse porque sua mente estava em branco e a única coisa que ele conseguia fazer era mastigar e pensar em quando Nico recebeu seu diploma de mente mais ardilosa e cruel do milênio.

Era fácil demais cair naquela armadilha, era óbvio. Mas Jason não se importou em se envolver nos joguinhos de Nico, mesmo que ele sempre soubesse, desde o começo, que ele não tinha auto controle e nem um pingo de sanidade quando o assunto era aquele garoto. Ele apenas fechava os olhos cada vez que Nico achava um motivo para tocar seu rosto e prendia o ar sempre que ele se esgueirava por debaixo de seu braço e murmurava que estava com frio e sono. E Jason sempre tiraria a jaqueta –sempre- e Nico sempre suspiraria –sempre- e diria –em todas as vezes- que o cheiro de Jason era uma das coisas que ele mais amava no mundo.

Quando eles se machucaram naquele jogo estúpido de Caça a Bandeira, Nico perguntou qual era o gosto do néctar de Jason. Não porque quisesse provocar, não porque tinha certeza que era algo relacionado a si, mas porque era genuinamente curioso e você sabe, assim como o papa sabe que Nico ás vezes ainda se comporta como uma criança.

-Tem gosto de vitamina de morango... –Jason havia respondido com um sorriso feliz enquanto seu ferimento se curava. –Mas tem cheiro de livro novo.

Nico não precisou pensar muito para entender porque Jason tinha orelhas vermelhas com algo tão pequeno... Era porque ele sempre estava lendo livros novos e sempre obrigava Grace a cheirar as viciantes páginas novas.

-E você?

Nico havia parado no lugar, mordendo os lábios nervosamente entre vergonha e algo mais.

-Tem o cheiro da sua colônia. –ele disse com os olhos para baixo e as bochechas coradas. –E gosto de sanduíche de presunto.

Jason não perguntou se não era uma combinação estranha porque aquelas eram as coisas que Nico mais gostava no mundo e se o seu perfume estava no meio, então ele era o cara mais sortudo do planeta e talvez, apenas talvez, o gostar de Nico fosse muito além do que ele imaginava.

-Jay... –Nico o chamou com olhos cansados e um sorriso fraco. –Eu posso dormir?

Mas você precisa entender que isso não era estranho. Ele não estava pedindo permissão para dormir, não era essa a implicação escondida. Era o fato de que Nico sempre dormia no colo de Jason e você sabe, assim como o papa sabe que se você pode dormir no colo de Jason Grace, não existe um motivo bom o suficiente que te fará dormir em uma cama e não ao lado daquele loiro.

-Nem precisa pedir. –ele sorriu grande. –Travesseiro humano à disposição, mas eu posso começar a cobrar porque preciso de grana pra comprar mais presunto ou você vai morrer de fome.

Nico riu baixinho e se aproximou. –Eu posso pagar com um beijo? –e, sem esperar uma resposta nem nada, ele apenas beijou a bochecha de Jason e se afastou com um sorriso pequeno antes de deitar a cabeça em sua coxa e enrolar os braços ao redor de sua fonte particular de calor.

E agora, você sabe, Consuela sabe, o papa sabe o quanto Jason Grace estava hiperventilando no momento, o quanto ele estava feliz, sorrindo, o quanto ele olhava para aquele garoto ressonando em seu colo e queria mais do que tudo beijá-lo até que seus lábios estivessem inchados e...

-Eu amo você, tampinha. –ele havia sussurrado no escuro da noite enquanto deitava no tapete felpudo e puxava a única coberta próxima para cima de Nico, não que houvesse qualquer discussão sobre o fato de que ele morreria congelado por aquele garoto.

Mas quando Nico acordou na manhã seguinte, ele estava enrolado feito uma cobra no corpo musculoso e descobriu que o peito de Jason, quente e com um coração batendo, era muito mais interessante, então ficou ali, abraçado e sorrindo até que estivesse prestes a dormir de novo e o pensamento cruzou sua mente.

Ele realmente havia ultrapassado a parte de gostar de Jason.

Mas ele não teve tempo de falar nada ou pensar sobre aquilo, porque logo dormiu e quando acordou novamente, ele estava em sua cama, alguém mexia em seu cabelo e o chamava suavemente, havia um cheiro de vitamina de morango e sanduíche de presunto. Ele abriu os olhos, pensando seriamente se havia alguém no mundo mais perfeito que Jason Grace e quando a primeira visão de seu dia é aquele loiro magnífico dizendo “Bom dia, Bela Adormecida”, não tem como o seu dia ser menos do que perfeito. E você sabe disso.

Então Nico sabe que é a hora. Como quando ele teve uma luz em sua vida e descobriu que não estava apaixonado por Percy. Como quando ele descobriu que ele era um ser humano digno que poderia ser amado. Como quando ele descobriu que gostava de estar com Jason. Como quando ele descobriu que amava estar com Jason.

Como agora que ele descobriu que ama Jason.

Não é um momento de epifania atrás de um liquidificador barulhento, mas o sol batendo nos cabelos loiros faz Jason parecer um sol e ele apenas sorri com o rosto corado quando simplesmente diz isso e a expressão de completa incredulidade é quase cômica e a que se segue –da mais pura felicidade- é tão linda que o contagia.

E quando Jason o puxa para o primeiro beijo de sua vida, ele pensa que valeu a pena esperar quinze anos por aquele garoto porque não havia nenhum jeito que alguém pudesse fazê-lo sentir-se derretendo cada osso e músculo. É o melhor momento de sua vida porque ele sabe que Jason o ama como ninguém jamais o fez e ele nunca mais vai ficar sozinho porque Jason vai fazer a missão da sua vida –não que já não fosse- lembrar a Nico todos os dias o quanto o seu sorriso era a coisa mais linda que ele já havia visto na vida.

E nesse momento, quando você sabe a verdade, quando entende a história inteira e pode concluir que esse era o final feliz mais clichê de todos, mesmo sabendo que poderia ter terminado de maneiras infinitamente trágicas... Você sabe, Consuela sabe e o papa sabe que existem mil maneiras de se amar uma pessoa e todas elas são puramente lindas.

Mas você tem que saber, você precisa entender que esse não é o final. Porque a vida é muito curta e os momentos são breves, mas um amor de verdade nunca desaparece e ele vai cruzar oceanos, céus e mares, vai sobreviver a preconceitos, vai passar por cima de guerras e vai continuar vivo. As pessoas vão se lembrar desse amor e vão pensar em como gostariam de viver algo assim. Vão fazer filmes sobre isso e, quando você estiver na fossa, comendo sorvete e assistindo esse filme em uma tarde chuvosa, vai chorar e dizer que o amor é lindo.

Porque nós todos sabemos que amar, independente de quem, é a única felicidade duradoura em nossas vidas.


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Notas finais do capítulo

Aww, que fofos. Espero que o Bernie tenha gostado porque foi tão fofinha que eu acho que morrer e OMG!
Sim, essa fic é o resultado de minha revolta interior contra os preconceitos de nosso mundo, sim, isso é chato, sim, vai tomar no * se você é um homofóbico!
Mas fora isso, to orgulhosa de meu trabalho. Tudo culpa do Bernie por me enfiar em música indie por dias e milhares de fics Jasico, mas valeu a pena.

HOMENAGEM À SUA CONSUELA, BERNIE ♥



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