A Rainha Bastarda escrita por CGillard


Capítulo 13
Capítulo 13




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580360/chapter/13

Thomas sentiu-se desconcertado diante o pedido de sua irmã. Sem conseguir pronunciar qualquer som, apenas acenou com a cabeça, encorajando-a a prosseguir. Escolhendo em sua mente com zelosa preocupação as palavras que proferiria a seguir, ela suspirou profundamente, sem saber como começar. “Ausentei-me deste palácio nova, meu irmão. Oito anos, não passava de uma criança que ainda brincava com suas bonecas, ignorante diante a maldade do mundo. Tudo que conhecia me era filtrado, toda a dureza do mundo suavizada por seus lábios e os de nossos criados. A realidade me era vedada. Sei que o fez com medo, meu irmão, medo de como eu reagiria diante tanta a ferocidade da natureza humana. Impediu-me de vivenciar certas paixões que, bem, acabaria por conhecer. Não o culpo por ter mantido intacta a pureza de meu coração, de meus ideais. Mas, tendo visto agora tudo que vi, preferia que não o tivesse feito.” Thomas olhou-a sem compreender, tentando encontrar algum sentido no que sua irmã o dizia.

“De doze anos, permaneci nove no convento. Após o nono ano trancafiada em tal vil prisão, sentia-me enlouquecer. Minha irmã e eu concebemos, então, um plano para nossa fuga. Depois de algumas tentativas mal sucedidas, finalmente conseguimos êxito e escapamos.” Oriane parou por um momento e olhou a janela, perdendo-se em seus pensamentos. Thomas observou os olhos vagos de sua irmã, as lembranças do fatídico dia a lhe assombrar a mente. “Lembra-se de minha mãe, Thomas?” ela perguntou repentinamente, e Thomas perguntou-se se ela estava devidamente enlouquecendo. Ao responder afirmativamente a pergunta, ela prosseguiu, a voz grave devido às emoções que lhe assolavam o coração.

“Durante toda minha vida, até aquele momento, havia acreditado que Heater tivesse falecido durante meu nascimento. Culpei-me, diversas vezes, por ser a razão de sua debilidade. Imagine, então, minha surpresa ao vê-la diante de meus olhos, viva.” A última palavra saiu dos lábios de Oriane como um suspiro. Os olhos voltaram-se às mãos em seu colo, e Thomas não suportou mais a vulnerabilidade em sua postura, abraçando-a delicadamente, como se a moça pudesse quebrar-se em seus braços. “Ela não morreu, Thomas, era tudo mentira. Tudo. Minha mãe vive. E eu não passei de uma peça em um jogo de xadrez perverso. Ela me usou, meu irmão! Usou-me como se fosse uma boneca em suas mãos! Minha mãe, minha própria mãe, nunca se importou comigo.” As lágrimas escorriam pela face de Oriane, enquanto sua voz tornava-se mais frenética. Agarrou o braço de seu irmão violentamente, olhando-o no fundo de seus olhos, tentando faze-lo compreender a gravidade do que estava lhe contando.

“Ela me usou! Minha mãe nunca morreu, Thomas! Escutas o que eu falo?! Minha mãe! Viva! Oh, Thomas. Se soubesse tudo o que ela me obrigara a fazer. E Mairead. Aquela cortesã me poupava por ser sua peça chave nesse jogo, mas minha pobre irmã. O que fez ela para merecer tal infortúnio? O que fez ela para merecer um destino tão cruel, uma mãe que a obrigava a deitar-se com homens por míseras moedas?” O príncipe sentiu todo o ar deixar-lhe os pulmões. Atordoado, ele segurou firmemente as mãos de sua irmã, temendo ouvir o que fora obrigada a passar.

“Por isso a trouxe ao palácio. Desejava livra-la desta condição.” Thomas deduzira, e Oriane apenas acenou levemente a cabeça. Desde a primeira vez que colocara os olhos em Maired, Thomas sabia que algo não estava certo. E, novamente, sua intuição provara sua infalibilidade. “Olhe para mim, Oriane. Olhe no fundo de meus olhos e conte-me todas as coisas que passara nesses anos, principalmente no tempo que permaneceu com sua mãe.”

“Passei por terríveis experiências, meu irmão, mas não me lamento por elas. Tornaram-me quem sou hoje, alguém de quem me orgulho. Deixaram-me forte, mataram aquela jovem e inocente criança, que chorava ao deparar-se com uma gota de sangue. Aniquilaram seus ingênuos e puros ideais. Endureceram meu coração, reforçaram meu espírito, e eu os destruí.” O sorriso nos lábios de Oriane continha uma crueldade, uma malícia que Thomas nunca vira em sua irmã. E de repente, a imagem que tinha construído da princesa estilhaçou-se como um espelho jogado violentamente contra o chão. “Não se engane Thomas. A única parte da Oriane de outrora que permanece intocável, é o amor por você. Amo-te.” Oriane inclinou-se com uma lentidão torturante, seus olhos nunca deixando os de seu irmão, e o beijou.

Thomas resistiu firmemente contra a tentação de tomá-la em seus braços novamente. “Não, Oriane, não podemos. Por favor.” Sua voz soava rouca, vulnerável até para seus próprios ouvidos. Como se não possuísse força suficiente para afastá-la. Sua irmã distanciou-se um pouco, sem sair de seus braços. Ele encontrava-se tenso, evitando o olhar atento de Oriane.

“Dê-me um motivo.” Oriane observou cautelosamente a reação de seu irmão. A tensão imediata que tal pergunta provocara em seu corpo, seus músculos enrijecendo-se. Abriu os lábios inúmeras vezes, esforçando-se em pronunciar as palavras que queimavam em sua mente. Após diversas tentativas frustradas, finalmente conseguiu balbuciar, hesitante, a palavra “inferno”. Oriane não pôde evitar a risada que lhe escapou. “Não acredito que está preocupado com nossa alma, meu caro irmão. Não depois de tudo o que fizemos.” Percebendo a expressão confusa e atônita do irmão, Oriane elaborou sua afirmação.

“Eu sei o que aconteceu durante esses anos, Thomas. Matara, torturara, e tantas outras crueldades, que não me darei ao trabalho de enumerá-las. Mas sabe toda a dor que já provocou, e sabe também que não se arrepende por tê-la infligindo a quem quer que fosse. Meios a um fim, foi o que me dissera um dia. Pois bem, não demonstra remorso por todos os pecados que já cometera. Não tens conhecimento, porém, de que eu mesma já cometi tais atos. Pecados mortais que me levarão ao inferno, sem possibilidade de redenção.” Thomas olhava-a atônito, e ela quase se arrependeu de sua confissão. Mas no fundo, sabia que era necessário contar ao seu irmão toda a verdade. “Sei que lhe desoriento com tal revelação, nunca fora minha intenção causar-lhe tamanho distúrbio. Mas você precisa saber quem sou, Thomas. Se não me amares mais, será por não aceitardes quem sou, e não por causa de um medo tolo do inferno. Será por não poder suportar quem eu me tornei.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rainha Bastarda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.