— Treinar crianças? — Elizabeth indagou indignada. O sorriso do Senhor dos Senhores aumentou. Elizabeth tinha certeza de que ele estava se divertindo com a situação. Treinar crianças. Com certeza essa não era a resposta que a mulher estava esperando.

— Sim, senhorita Querbec — o velho respondeu com a voz grossa. Elizabeth pousou a mão nos fios louros de sua cabeça. Harold a mataria assim que a menina chegasse á seu apartamento. — Algum problema?

— Bem... — Elizabeth tentou se controlar. Ela vinha fazendo isso desde quando Harold perdeu seu controle. Alguém tinha de ter o controle entre os dois. — Pessoas estão desaparecendo, as paredes estão sendo riscada com a frase eu estou chegando, e você me fala para treinar crianças — a mulher soltou. Seus fios louros se agitaram, e o Senhor dos Senhores apenas sorriu.

— Treinar jovens, minha cara Elizabeth — falou com a voz calma e terna. Elizabeth se perguntou como ele podia não se preocupar com a situação. — Jovens super dotados — reforçou. — Essa é a chave para derrotar o mal que assombra Upontime — respondeu dando um leve sorriso.

— Eu queria a chave para poder controlar os poderes de Harold — falou rangendo os dentes. O Senhor dos Senhores apenas sorriu como se aquilo fosse um sonho o qual Elizabeth nunca conseguiria alcançar.

— Somente Harold pode alcançar seu controle. Vocês dois sabem disso — o velho de fios brancos falou, e Elizabeth bufou batendo o pé no chão e colocando as mãos na cintura.

Desde muito tempo era como a protetora de Upontime. Ela e Harold — por mais que Harold sempre ganhasse mais destaque que ela. Entretanto, eles sempre fizeram uma boa dupla. Vilões recuavam ao entrar em Upontime; os cidadãos idolatravam os dois; eram grandes fãs dos mesmos. E claro, eles conseguiam manter sua identidade secreta.

Elizabeth suspirou.

Não que não queria ter que ensinar jovens a controlar seus poderes e a derrotar alguém que nem ela conhecia — ok, ela não queria isso —, entretanto, se esse fosse o único jeito de salvar Upontime... Havia prometido a si que faria de tudo para salvar a cidade. Ela era mais que importante para Elizabeth. Ela era necessária.

— Como eu os acho? — perguntou fitando o velho, que pareceu sorrir animado. Elizabeth quis dar um soco na sua cara e tacá-lo no chão com toda a força; mas se conteve.

O velho levantou de sua cadeira, foi em direção a uma estante, pegou uma pasta enorme e então entregou a Elizabeth, que se assustou com a mesma.

— Ai tem nomes de mais de cinquenta jovens — comentou voltando a sua cadeira. Elizabeth arregalou os olhos. Ele queria que ela treinasse cinquenta jovens? — Escolha alguns, os melhores — Senhor dos Senhores falou. Elizabeth voltou ao normal, endireitando sua postura. — Ai tem a lista de seus poderes, onde eles moram, o que fazem, quem são, essas coisas — o velho falou acenando com a mão como se essas coisas fossem banais.

— Como você conseguiu isso? — a mulher perguntou assustada. O homem sorriu.

— Oh, Elizabeth, eu sou o Senhor dos Senhores. Sou o mais Majestoso de todos os mundos, e assim como você, também sou super dotado — comentou com aquele sorriso de quem diz: ‘eu sou foda’. Elizabeth revirou os olhos e agarrou mais a pasta. — Boa sorte em sua busca.

— Obrigada — sussurrou e então saiu dali.

[...]

— Harry! — gritou assim que abriu a porta do apartamento. Elizabeth ainda segurava a pasta. Por mais que pudesse levitar as coisas, ainda se sentia especial carregando a pasta e se sentindo mais humana. A mulher colocou a pasta em cima da mesa da cozinha, se sentindo mais leve por esse movimento. Suspirou e então olhou para a cozinha.

Em cima da pia estavam panelas e assadeiras sujas. Elizabeth se perguntou o que diabos tinha acontecido ali. A mulher olhou no forno, onde um frango assado estava queimando. Desligou o mesmo e retirou o frango de lá de dentro. Abriu a geladeira e encontrou a mesma praticamente vazia. O chão estava com uma cor estranha, e totalmente melecado. A mulher bufou irritada e então se levitou até um local mais limpo. Retirou seus sapatos e os colocou perto da porta.

— Hei, Elizabeth — Harold apareceu na cozinha. Em sua cabeça tinha um chapéu branco como de um chefe de cozinha. Usava um avental branco que estava tudo sujo de todos os tipos de alimentos que Elizabeth poderia conhecer. A mulher percebeu que Harold estava somente com uma boxer preta, mas isso não a incomodou. Pareceu irritá-la cada vez mais.

— O que diabos aconteceu aqui? — perguntou tentando se controlar. Harold forçou um sorriso, não conseguindo se explicar. Falaria a verdade. Estava fazendo um jantar para você, Liz, mas as coisas meio que saíram do controle. Não, não. Não falaria a verdade. Seria humilhante demais para ele. — Eu deixei você ficar em meu apartamento contanto que não bagunçasse! — a mulher praticamente gritou com o rapaz. Harold se sentiu culpado.

— Desculpe-me Elizabeth — sussurrou tirando o chapéu que havia comprado. Tinha tentado ser legal e havia arruinado tudo. Graças a sua capacidade de não conseguir mais controlar sua força. Droga, Harold!

— Está tudo bem — a loira suspirou e então olhou para cima, tentando se controlar. Tinha que ter o controle perto de Harold. Uma pessoa sem controle já era ruim; imagina duas.

— Você... Conversou com o Senhor dos Senhores? — o rapaz perguntou. Elizabeth assentiu e então se aproximou da mesa, pegando a pasta e indo para a sala. Harold achou conveniente que colocasse uma roupa em vez de usar somente um avental, por isso pediu licença e foi se trocar.

Elizabeth colocou a pasta no chão. A luz do Sol entrava pelo vidro da janela fechada, iluminando a mesma. Várias pastas estavam dentro daquela maior. Todas tinham uma foto do jovem, juntamente com alguns dados. Depois, nas outras folhas, suas histórias, e tudo o que Elizabeth precisaria — e não precisaria — para poder decidir os jovens que poderiam derrotar aquele mal.

— O que é isso? — Harold perguntou se aproximando. Estava com uma bermuda bege e uma blusa branca. Por mais que estivesse nevando do lado de fora, o rapaz não sentia frio. Principalmente, pois estavam no interior da casa de Elizabeth, e o aquecedor ficava ligado 24 horas por dia.

— O Senhor dos Senhores não nos ajudou tanto assim — a mulher respondeu amarga com aquele homem. Odiava ter que depender do mesmo, e ele ainda gozar na cara dela. — Ele disse que não pode ajudar a controlar seus poderes — a mulher respondeu pegando outra pasta menor. Harold também pegou uma. Assustou-se ao ver que era uma ficha sobre um rapaz qualquer. Ou quase qualquer.

— E porque tem fichas de jovens aqui? — o homem perguntou pegando outra.

— São jovens super dotados, Harry — Elizabeth respondeu pegando outra ficha. — Ele disse que se quisermos derrotar esse mal, temos que convocar jovens suportados e treiná-los.

— Treinar crianças? — Harold perguntou quase rindo.

— Ou Upontime já era.