Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 2
Memórias enterradas


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas :)

Então, eu pensei, no princípio, em escrever uma fic em honra à Emaya e à Tomily sem muitas complicações, ou seja, basicamente, sem Alison. Mas quem eu estou querendo enganar? Isso é IMPOSSÍVEL. A Ali é uma parte vital de Pretty Little Liars (pelo menos pra mim), não tem como esquecer dela. Pra resumir, eu dei um jeito de enxertar um pouquinho da essência dela na história.



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Emily amava segundas-feiras, sendo julgada completamente maluca pela irmã dois anos mais nova, Carolyn, e provavelmente pelos demais habitantes do planeta, se soubessem. Isso porque segunda-feira, ironicamente, era o único dia da semana – sem contar domingo – que ela não precisava ir para os treinos de natação depois da aula.

Não que Emily não gostasse de nadar, muito pelo contrário – ela tinha plena convicção de que já dava braçadas na piscina que ficava no quintal da família antes mesmo de conseguir firmar os pezinhos no chão - , ela não conseguia se imaginar sem a natação. Mas há muito tempo nadar deixara de ser algo divertido.

Desde que ela entrara para a liga infantil de Rosewood Day, no quarto ano, um sentimento de competitividade começou a tomar conta de Emily, e foi o que possibilitou-a vencer inúmeros torneios com outras escolas e, agora, competir a nível estadual.

Emily também utilizava a natação como instrumento para que os pais sentissem orgulho dela. Era sempre assim. Ela tinha que bater os próprios tempos nos treinos porque assim seus pais ficariam contentes. Não não podia se sentir cansada e faltar a um deles porque os pais ficariam desapontados.

Ela vivia assim, sob pressão, desde que se entendia por gente e parecia não se importar.

Assim que chegou em casa, Emily pôde ouvir o som costumeiro e angelical da flauta de Carolyn vindo do andar de cima, provavelmente do quarto dela.

A irmã não nadava, assim como Emily, mas tocava flauta transversal desde que tinha sete anos e vivia sob a mesma pressão de ser “a filha perfeita”.

De longos e ralos cabelos ruivos ondulados, sardas nas maçãs do rosto e pele alva, Carolyn tinha o perfil de uma musicista e não se parecia em nada com o resto da família – todos tinham pele bronzeada e cabelos escuros - , isso porque fora adotada quando Emily tinha dois anos, pois a mãe entrara em depressão quando soube que não conseguiria mais engravidar.

Apesar de se dar muito bem com a irmã e gostar de vê-la tocar, em pé, diante do cavalete com as partituras, como em um concerto particular, Emily notava, principalmente agora que Carolyn estava entrando na adolescência e começando a ter vida social, que a irmã era muito diferente dela. Dona de um humor sarcástico, Carolyn sempre fora mais descolada e tivera mais amigos que ela.

Andando em direção a cozinha e procurando em seguida por algo para comer, Emily refletia e chegava a conclusão de que nunca tivera amigos realmente. Todas as pessoas que a cercavam, fosse na escola ou mesmo na equipe de natação, na qual continha garotas que ela conhecia por mais de cinco anos, não passavam disso: conhecidas. E assim como ela não se importava com a pressão que os pais colocavam nela para “ser a filha perfeita”, ela também não se incodava em não ter amigos.

Tinha um biscoito de mel entre os dentes e estava começando a subir as escadas que davam para seu quarto quando ouviu a mãe chamá-la atrás de si. Emily se virou.

A mãe tinha uma cesta florida em mãos, recheada com bombons e outras guloseimas.

Desde que ela havia parado de dar aula para o ensino fundamental em Rosewood Day, Pam Fields havia se juntado ao Clube de Boas-Vindas de Rosewood, no qual o trabalho era exatamente entregar cestas cheias de firulas aos novos moradores da cidade.

— Querida, você pode levar isto para a jovem que finalmente ficou com a casa dos DiLaurentis? – Pam havia explicado em seguida o porquê de ela mesma não poder ir entregar, mas Emily parou de escutar no momento que ouviu o nome DiLaurentis.

Uma corrente elétrica percorreu-a da cabeça aos pés. Emily sentiu que as pontas dos dedos suavam quando ela entornou a mão direita na alça da extravagante cesta. Saiu em direção à casa da esquina sem se pronunciar.

Alison.

Deus, há quanto tempo não pensava nela? Há quanto tempo não ouvia aquele nome? Uma figura angelical invadiu sua mente. Há muito tempo.

Alison DiLaurentis se mudara para Rosewood (e consequentemente começara a frequentar Rosewood Day) quando Emily começara o sétimo ano.

Da menina de longos e brilhantes cabelos dourados ninguém sabia nada. Nem de onde era e nem porque viera para aquela cidadezinha. Era um mistério. Alison fora um mistério. Uma criatura indecifrável, até. E talvez tivesse sido realmente isso que encantara Emily à primeira vista.

Alison era dona de uma beleza incomparável, como nada que ela vira antes na vida. E toda a escola parecia pensar assim. Garotos, principalmente.

Quando as duas se cruzavam pelos corredores, era como se Emily tivesse receio de olhar para ela, como se não pudesse, sem querer, esbarrar nela ou mesmo tocá-la. Era como se... ela não fosse real.

Em suas primeiras semanas em Rosewood Day, Alison se mostrara adoravelmente tímida. Mas ao longo dos meses, fora revelando um lado um tanto “superficial”. Seu ego fora inflado pois todos ao redor imploravam publicamente por sua companhia. Isto é, todos menos Emily.

Quer dizer, é claro que Emily gostaria de se aproximar de Alison, mas ela não demonstrava isso, não como os outros. Apenas permanecia em seu canto, onservando-a. E isso foi o que pareceu fazer Alison notá-la também. Aliás, ela também notava os olhares que Emily direcionava para ela nos corredores, ou mesmo na sala de aula. Olhares ternos. Olhares... amorosos. Alison corava, olhando doce e curiosamente para Emily, sorrindo em seguida em agradecimento. Tais sorrisos faziam o interior de Emily formigar. E ela não sabia por quê.

Alison era um mar de feminilidade. Ainda mais quando estava entre o grupo de patricinhas que arranjara ainda em seus primeiros meses na escola nova. Ela apenas deixava de lado parte de tal feminilidade todas as terças e quintas, por uma hora, depois da escola no campo de hóquei.

Emily estava saindo de mais um treino de natação quando vira Ali em campo pela primeira vez. Vê-la praticando qualquer tipo de esporte era algo que ia completamente contra o estereótipo de “bonequinha de porcelana” que Ali parecia ser. De tão abismada que estava, Emily decidira ficar para assistir, em um banco um tanto afastado do campo.

Alison gritava e xingava as colegas de equipe quando elas deixavam escapar a bola. Aquilo era tão surreal que a única coisa que Emily se sentia em condições de fazer era rir.

O uniforme de hóquei (camiseta regata e shorts verdes um tanto soltos) fazia Alison parecer... mais humana. E aquela fora a primeira vez que Emily via alguém a quem pudesse chamar de sexy. Ela mordera o lábio inferior, permitindo-se deliciar com aquele pensamento inusual.

Emily ficara assistindo a partida por talvez quinze minutos – ainda que acreditasse fielmente que poderia observar Ali correr de um lado para o outro por horas – e, quando Alison dera por sua presença, Emily desejara evaporar dali. Mas não havia nada que ela pudesse fazer, Ali já caminhava em sua direção.

— Hey! – saudara ela, animada, como se fossem velhas amigas e, por um segundo, Emily se deixara acreditar que eram (ainda que fosse a primeira vez que Ali dirigia a palavra a ela).

Ali tinha os cabelos cuidadosamente presos em um rabo-de-cavalo, porém alguns fios rebeldes haviam se soltado. Ela estava com o rosto vermelho e gotas de suor escorregavam por sua testa. Ela nunca estivera tão linda.

— Você gosta de hóquei? – perguntara ela, ainda ofegante, pegando uma squeeze de um dos bolsos laterais de sua mochila cor-de-rosa e sentando-se ao lado de Emily.

Emily sentia que aquela proximidade poderia fazer muito mal ao seu sistema cardiovascular. E tudo piorara drasticamente quando a coxa de Ali tocara levemente a sua. Ela sentia a pele quente e sutilmente suada dela e, por um momento, Emily pensara que fosse desmaiar.

Eu gosto de ver você jogando, Emily pensara no mesmo instante em que ouvira a pergunta.

— Acho que sim – conseguira gaguejar, constatando meio segundo depois que tal fora a pior resposta que alguém poderia dar na história da humanidade.

Ali colocara a squeeze de volta no bolso da mochila depois de ter tomado um gole d’água e sorrira, recolocando a mochila nos ombros.

— Foi bom te ver aqui – afirmara ela antes de se afastar.

Emily fora para casa naquela tarde com a plena convicção de estar apaixonada.

Ela e Ali continuaram a trocar olhares e sorrisos em meio aos corredores de Rosewood Day e, eventualmente, informações banais sobre as aulas. O coração de Emily dava cambalhotas de felicidade assim que ela ouvia a voz de Ali se dirigindo a ela. Ela era sempre tão gentil e simpática com Emily! Não parecia a patricinha usual quando estavam juntas.

O que mais entristecia Emily, entretanto, era o fato de ela e Ali nunca terem sentado juntas para almoçar. Emily ficava em um canto da cantina, na “mesa dos atletas”, com suas colegas do time de natação, e Ali ficava em outro, na “mesa dos populares”.

Porém, por mais que as conversas das duas não fossem profundas e, por conta disso, Emily não se sentir no direito de visitá-la na casa da esquina, era como se tudo que precisasse ser dito entre elas fosse dito com aqueles olhares e sorrisos. Havia algo neles, e isso era o suficiente para Emily.

Ou fora o suficiente até o último dia de aula antes das férias de verão.

Emily estava sentada na grama, de pernas cruzadas, no mesmo ponto afastado do campo de hóquei onde havia visto Ali jogar pela primeira vez. Mas desta vez, o campo estava vazio. Não havia ninguém por perto. Emily estava matando aula. Pela primeira vez em sua vida, se é não estava enganada.

Ela arrancava pedacinhos da grama ao seu redor, um por um, e jogava-os para longe. Sentia o próprio corpo tenso, o choro entalado em sua garganta e sua expressão furiosa. Tinha a cabeça baixa, ainda brincando com os pedacinhos de grama, mas notou alguém vindo em sua direção. Ela não precisava olhar para cima para ver quem era. Tinha certeza que era Alison.

A garota caminhava lentamente na direção de Emily e se sentara ao lado dela muito calmamente, como se seus movimentos fossem calculados. Ela parecia não se importar com o fato de que provavelmente sujaria os jeans azul claros.

Emily ainda não olhava para ela, mas sentia a seriedade e a preocupação que estavam em seu olhar recair sobre ela como um peso. Ali colocara com as pontas de dois dedos alguns fios de cabelo de Emily para trás de sua orelha.

— Em... – sussurrara ela. Tinha na voz a mesma seriedade e preocupação.

Ouvir Alison chamá-la pelo apelido fizera o corpo de Emily tremer inteiramente.

— Olhe para mim – suplicara Alison, porém Emily mantivera o rosto firme.

— Por que está indo embora? – perguntara Emily, se referindo ao que ouvira recentemente pelos corredores da escola. Ninguém sabia para onde, ninguém sabia por que, mais uma vez. Apenas sabiam que Alison estava deixando Rosewood. A mágoa era perceptível em seu tom de voz, falava como se as duas fossem melhores amigas de longa data e Ali estivesse escondendo de Emily um terrível segredo.

— É uma coisa de família, Em – sussurrara ela novamente. Soava esgotada e decepcionada. Em seguida, ouvira Emily deixar o ar escapar pela boca, como se a luta contra as lágrimas estivesse difícil – É... complicado.

Emily ainda não conseguia acreditar em como Alison conseguia ser assim, sombria, misteriosa. Mas, sem razão aparente, Emily apenas sentira que deveria respeitar a privacidade dela e não perguntar mais nada.

— Mas quero que saiba – Alison prosseguira, fazendo uma pausa em seguida para envolver a mão direita de Emily entre as suas – que eu acho você encantadora.

Encantadora.

Tudo dentro de Emily parecera pulsar assim que ela ouvira aquele adjetivo. Uma fração de segundo depois, enquanto ela concluía que não era digna de tal adjetivo, Alison se inclinara e mantivera pressionado os lábios sobre a bochecha de Emily pelo que parecera muito tempo. O lábio inferior de Emily tremera e ela fechara os olhos, outra vez sentindo-se perto de um desmaio em potencial.

Alison se levantara sem dizer mais nada e ia, cautelosamente, se afastando enquanto vozes e zumbidos chacoalhavam na mente de Emily. Seu coração nunca batera tão descompensadamente. Ela quisera gritar. Algo, qualquer coisa.

— Ali... – chamara ela com a voz vacilante, quase como em uma súplica, porém sentindo um prazer indescritível ao pronunciar o apelido da garota, como se fossem de fato velhas amigas.

Alison se virara instantaneamente, Emily demorara um pouco para levantar a cabeça.

— Posso te abraçar? – pedira ela, como uma criança que pergunta à mãe “posso pegar uma bala?”.

Alison sorrira brevemente e caminhara a passos lentos de volta para Emily, estendendo-a as duas mãos para que ela levantasse. Tentavam olhar uma nos olhos da outra, sem sucesso. Alison, por fim, tocara os antebraços de Emily, trazendo seu corpo para junto do seu em seguida, soltando o ar nervosamente pela boca quando seu queixo finalmente repousara no pescoço dela. Emily, por sua vez, não sabia o que fazer. Ainda estava brava com Ali por ela estar indo embora e não tinha certeza se possuia forças físicas para corresponder ao abraço.

Um cheiro muito suave de morango invadiu as narinas de Emily, deixando-a em uma espécie de transe. Ela não tinha certeza se tal vinha da pele ou dos cabelos de Ali.

— Está tudo bem? – Alison soava extremamente preocupada, seu rosto a poucos centímetros do de Emily (mas continuavam entrelaçadas uma na outra), que apenas balançara a cabeça negativamente com o olhar baixo.

Com os olhos fixos nos lábios de Emily, Alison selara-os com os seus.

Ao chegar em casa naquele dia, deitar em sua cama e chorar com a porta do quarto trancada foi tudo que Emily conseguira fazer.

Durante as férias de verão, Emily procurara Alison em quase todas as redes sociais já criadas pelo Homem Moderno. Nada. Ela até mesmo jogara o nome completo de Ali no Google para ver se achava uma manchete do tipo “Fantasma de garota brutalmente assassinada há seis décadas é visto novamente à beira de uma estrada na divisa do estado”, pois era a única explicação para uma garota que aparece Deus sabe de onde e desaparece Deus sabe para onde. Mas não havia nada disso também.

Emily se lembrara então de certa vez em que passara pelo quintal dos DiLaurentis de bicicleta e vira Ali e a mãe – uma mulher bonita de meia-idade e cabelos compridos cor-de-avelã – ajoelhadas cuidando das roseiras. Ufa! Fantasma ela não era, afinal. E por mais ridícula que fosse a conclusão, tal possibilitou que Emily seguisse em frente, agora aliviada pois tinha certeza de que o que vivera com Ali, apesar de breve, fora real.

E a lembrança da incomparável sensação dos lábios macios e úmidos de Ali contra os seus – o fatídico primeiro beijo – fora a única coisa que restara daquela garota misteriosa que virara de cabeça para baixo o mundinho regrado de Emily Fields. Isso e também os cadernos do sétimo ano dela que, na parte de dentro das contracapas, tudo que podia-se ler era Alison, escrito carinhosamente em caneta roxa, dezenas e dezenas de vezes.

Enfim, as roseiras do quintal dos DiLaurentis morreram e a casa estava há mais de um ano abandonada. Isto é, até agora.

Emily parou, voltando abruptamente para sua realidade, e olhou para a cesta em sua mão direita. Do outro lado da rua ela avistou o quintal de... alguém que não era Ali. O típico sol de fim de verão aquecia a parte de trás da cabeça de Emily. Ela não conseguiria fazer isso. Não agora. Não com todas aquelas memórias que voltavam à sua mente como uma avalanche. Precisava de um tempo para respirar. Afinal... como sua mãe ousa trazer de volta memórias que Emily tentara esquecer durante todo o oitavo ano?

Ela atravessou a rua às presas. Havia um caminhão de mudanças estacionado ao pé da calçada, quase que totalmente descarregado. Ninguém dentro dele, ainda bem. Emily atravessou o quintal rezando para que não houvesse ninguém à espreita dela nas janelas da casa e deixou a cesta à porta, não se incomodando em tocar a campainha.

Ela corria para fora dali, porém parou ao avistar duas caixas empilhadas. Seriam de Ali? Colocou uma mecha do cabelo comprido para trás da orelha e se curvou para analisar melhor. Sobre alguns cadernos e jornais havia uma medalha aparentemente folheada a ouro. Uma tira de tecido com as cores da bandeira americana fazia o papel de uma corrente.

Emily tomou a medalha entre os dedos e estreitou os olhos. Nela estava gravado Liga Infantil de Hóquei de 2004 – Escola Keller de Ensino Fundamental, Chicago, Illinois.

Um sorriso largo e nostálgico cruzou o rosto de Emily. Ela colocou a medalha no pescoço e manteve-a por debaixo da blusa, como um amuleto da sorte. Assim que o fez, sentiu uma enorme paz tomar conta de si.


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