Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 26
Terra dos mortos


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath. Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais). Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais. Obrigado a todos, e boa leitura =)



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A cidade tremia sob a marcha dos mortos, que destruíam tudo por onde passavam. Os cidadãos de Manneuver podiam apenas se esconder em suas casas, visto que o único que era capaz de organizar e gerenciar uma cidade mesmo sob ataque era o Chanceler, e ele agora estava morto.

Muitas pessoas nunca sequer conheceram o nome do Chanceler. Era comum naquela cidade que as pessoas desconsiderassem os nomes de batismo de pessoas públicas e razoavelmente importantes. Nesse caso, usavam o cargo delas, ou algo equivalente. O que importava era que eles desempenhassem um papel que de fato seria extremamente importante para o futuro da humanidade. Um exemplo, além do Chanceler, era o doutor.

Os dois eram velhos amigos, e foram os maiores responsáveis pela construção de um dos lugares mais seguros para se morar na Terra após o apocalipse de Thanatos. Infelizmente, agora, esse lugar estava sendo destruído.

Isaac ajudava Luke a espreitar pelas ruas de Manneuver, evitando as múmias. O rapaz do sopro de dragão estava muito atordoado, com um quarto do rosto queimado e apenas com um toco do braço mecânico. Ainda assim, mantinha-se de pé, apoiado em seu amigo ceifador enquanto lutava para que seus olhos não fechassem devido à exaustão. Eles procuravam pelo doutor.

No outro lado da cidade, dois destemidos companheiros se esgueiravam entre os destroços contra o fluxo da marcha dos mortos. Eles buscavam descobrir de onde vinham e quem estava no comando.

–Olha lá, Jack! – disse Ingvarr. Ele apontava para o céu, onde uma figura levitava parada no ar. O sol batia contra ela, formando apenas uma silhueta negra em forma de seta.

–Quem é aquele? – a pessoa vestia trapos que balançavam nervosamente ao vento. Jack tentava visualizar melhor com a mão tapando a luz do sol, mas de nada adiantava.

–Não faço ideia. Talvez nem seja uma pessoa.

–É sim – Jack se esticou um pouco pra fora de onde estavam escondidos, uma sacada que havia sido derrubada.

Ele falhou em enxergar melhor a silhueta no céu, assim como falhou em perceber a fina lâmina atravessando seu pulmão.

Jack sangrou pelo peito e depois pela boca, quando engasgou. Segurou a lâmina com as mãos e girou, derrubando aquele quem havia o atacado pelas costas.

A espada era fina e dolorosamente afiada, como Jack bem havia notado. A abertura que vinha desde o espaço entre duas costelas, passava pelo pulmão esquerdo e finalmente saía pelo peito, se fechava rapidamente.

O sujeito tinha longos cabelos brancos e vestia uma capa feita de ossos e articulações, a qual tinha uma enorme e chamativa gola. Veias roxas percorriam a pele sem vida como trovões ao meio-dia. No braço esquerdo, estava encaixada a espada suja de sangue, acoplada ao antebraço como uma muleta. No direito, cinco garras extremamente bizarras tilintavam ao bater durante o movimento constante que fazia com elas. Era impossível dizer se era uma luva ou sua mão de fato.

Ele levantou apoiando a espada no chão, como um deficiente. Os ossos estralaram enquanto ele se equilibrou de forma corcunda e macabra.

–Que porcaria é essa? – praguejou Jack. O estranho deu uma risada instável e doentia antes de responder.

–Eu sou Vlad – seus olhos amarelos brilharam. – E vim empalar vocês.

–Boa sorte com isso – disse Jack.

Ingvarr aproveitou a sua discrição para pegar do chão uma coluna de madeira partida ao meio, ainda com os pregos na ponta. Devia ser o sustento da varanda de uma casa que estava ali até minutos atrás.

Assim como tinha que ser, Ingvarr atacou Vlad pelas costas, de forma que ele foi arremessado na direção de Jack, que emendou um soco na cara dele.

No chão, o rosto de Vlad ficara um pouco avermelhado, e Jack se aproximou para vê-lo. Um erro, pois assim que chegou perto, seus olhos se abriram, e ele atacou com a espada a perna de Jack, que caiu de joelhos.

Levantou-se incrivelmente rápido, se afastou e correu para todos os lados, em ziguezague. Correu na direção de Ingvarr, que se defendeu com a madeira. Vlad, no entanto, apertou a madeira podre com as garras fazendo com que ela se quebrasse.

Ingvarr continuava andando para trás, e quando finalmente Vlad o atacou com a espada, ele avançou na direção do oponente, segurou seu braço esquerdo e deu uma cotovelada na barriga, e em seguida o derrubou fazendo-o voar por cima de si mesmo.

Pisou em seu ombro e puxou o braço, quebrando-o impiedosamente. Ingvarr então se afastou, e ajudou Jack a se levantar.

–O que aconteceu? – disse o viking. – Levou uma surra.

–É a bebida – Jack respondeu.

–Mas você quase não bebeu nada.

–Por isso. É a falta da bebida.

Entre mil estalos, Vlad voltou a se levantar. Seu braço havia retornado ao lugar onde sempre esteve.

–Vocês olham, mas não podem ver – ele disse. – Existe algo dentro de mim!

–Sei bem como é – Jack observou. Percebeu como fazia falta agora o psicopata.

E Jack percebera também como fazia falta especialmente agora, já que um velho amigo acabava de aparecer no final da rua.

Um monstro erroneamente chamado de lobisomem, vestindo uma máscara de couro ainda com o sangue de seu dono. Argos se aproximou de Vlad lentamente e se apresentou.

–Vejo que já conheceram o Vlad. Espero não ter perdido muito da luta.

–Não perdeu nada, homem-lobo – disse Vlad.

–Então é você quem trouxe tudo isso pra cá! – Ingvarr disse.

–Ah, não, não fui eu – Argos respondeu, e olhou para o céu. – Foi aquele cara lá em cima. Lembram-se dele? É Erick.

–Aquele é o Erick? – disse Jack. Ele pensou em abandonar a luta pra, de algum jeito, alcançar seu nêmesis lá no alto. Mas então mudou de ideia, pois sabia que não o alcançaria e ainda deixaria Ingvarr sozinho.

Que se dane, pensou Jack. Depois eu cuido dele.

–Vocês mexeram com as pessoas erradas – Ingvarr disse, confiante. Ao seu redor já avistava alguns cidadãos que não puderam escapar das múmias. Ele ergueu os braços na altura dos ombros, e lá no fundo os mortos começaram a levantar. Havia pouco mais de dez deles.

Argos não esperou pra ver. Ele pulou em cima de Ingvarr, tentando mordê-lo e arranhá-lo. Quando Jack partiu para ajudar, Vlad bloqueou sua passagem com agilidade, e defendeu o murro que Jack mirou em sua cara.

Enquanto Argos atacava loucamente o viking no chão, Jack focava em derrotar Vlad. Eles estavam cara a cara, a poucos metros de distância, e o sujeito de garras e espada foi quem tomou a iniciativa.

Deu uma investida com a espada, ao que Jack desviou com facilidade, girou e acertou um chute no maxilar dele. Vlad perdeu o equilíbrio, e a força do chute o havia feito parar de costas para a luta.

Rapidamente ele voltou, cortou o ar na horizontal e em seguida saltou para frente atacando com as garras. Jack foi ferido na barriga por três delas, e sua camisa xadrez criara um buraco revelando o sangue que escorria.

–Dane-se isso também – ele disse. Arrancou fora a camisa, exibindo o corpo musculoso e peludo digno de um caminhoneiro.

Vlad sorriu e voltou a atacar da mesma forma. Jack, entretanto, desviou da espada e segurou o braço das garras, e em seguida chutou a lateral do joelho de Vlad. Ele caiu sobre esse joelho, e então Jack deu-lhe fortes socos na cara, enquanto segurava seu braço para impedi-lo de cair.

Tudo ia bem, até que o inimigo enfiou-lhe a espada na costela. Jack gritou de dor, mas deslizou pra longe dali deixando um rastro de sangue.

–Acho que já é o suficiente – disse Vlad.

Ele estendeu a mão da espada, e todo o sangue no chão, bem como o que estava na espada, começaram a se juntarem no ar formando uma esfera de mais ou menos dez centímetros de largura.

–Agora eu te mato, barbudo – ameaçou Vlad. A bola de sangue dançou e mudou de forma, até disparar na direção de Jack como um projétil.

Jack abaixou na primeira, mas quando o sangue, em formato de adaga, voltou pelas costas, ele não conseguiu evitar. Ele atravessou o ombro de Jack, levando um fio de sangue por onde havia passado.

Mais um vez, Vlad disparou a adaga escarlate contra Jack com um riso frenético e doentio no rosto, ciente que a batalha já estava ganha. Desta vez, Jack foi ferido na perna, e o projétil sugava dois fios de sangue do corpo de Jack.

Como uma agulha que costura um tecido, o sangue de estado sólido perfurou Jack várias vezes em várias partes do corpo, principalmente no tronco. Ele sentia dor, mas aguentava firme. Sabia que não ia morrer.

Mas Jack começou a se assustar quando começou a ficar zonzo com a falta de sangue no corpo. Se perguntava se aquilo seria o suficiente para mata-lo. Olhou para o lado e viu Ingvarr sendo cruelmente atacado pelo lobisomem, sem conseguir reagir.

E foi aí que outro velho amigo de Jack tocou a campainha.

Ei, Jack... O que está fazendo? Porque não mata esse imbecil logo?

–Estava te esperando, seu maldito.

Você é um inútil mesmo. Tenho que nos manter vivos sempre que você arruma briga?

–Se você quiser continuar vivendo dentro de mim, sim.

O psicopata sem nome assumiu o controle.

–Com quem está falando? – perguntou Vlad. – Já está delirando com a hemorragia?

Jack levantou a cabeça e fitou os olhos amarelos de Vlad, e então deu um minúsculo sorriso.

–O quê? – Vlad estava espantado, e com algum medo. – Quem é você?

Quando eu descobrir, eu te conto – ele respondeu. – Se estiver vivo até lá.

Jack se aproximou de Vlad, que atacou com a espada. Jack então segurou a lâmina com a mão, que entrou na superfície de sua pele. Conforme ele ia caminhando em direção ao inimigo, a mão deslizava suavemente pela espada, aprofundando o corte.

Você quer sangue? – Jack disse. – Eu te dou.

Ele segurou o braço de Vlad, chutou-lhe a cara com uma flexibilidade incrível, ficando com o braço torcido entre suas pernas. Aos poucos, Vlad foi forçado a deitar, e quando o fez, Jack pisou em seu bíceps e puxou o braço. Puxou e puxou, colocando cada vez mais força, até que a articulação cedeu, e o braço havia sido arrancado de forma selvagem do cotovelo de Vlad. Apesar de não sentir dor, ele estava terrivelmente assustado com a ferocidade de Jack.

Jack o segurou pelos cabelos, o levantou e segurou na outra mão o braço com a espada acoplada. Finalmente, posicionou a lâmina no pescoço de Vlad e num único movimento, decapitou o inimigo.

Mais ao lado, os cadáveres tentavam puxar Argos de cima de Ingvarr, mas ele era forte demais. Somente Jack foi capaz de puxá-lo, com certa violência, para longe de Ingvarr. Argos observou, viu Vlad brutalmente morto e pensou.

–Nos vemos em breve – ele rosnou e fugiu.

Covarde – disse Jack.

–Obrigado – disse Ingvarr, se levantando. – Posso jurar que vi a luz chegando.

Jack notou os vários fios de sangue escorrendo no rosto de Ingvarr. Ele havia levado uma surra, mas aguentou firme. Seu corpo, sob as roupas rasgadas, estava quase dilacerado.

–O que, isso? – disse Ingvarr, quando viu Jack olhando suas feridas. – Não é nada. Já estive pior nas guerras que travei pelo meu povo.

O viking só não sabia de duas coisas: primeiro, aquele não era Jack. Segundo, Eva acabava de voar por cima deles com enormes asas de inseto que fez surgir em suas costas.

Coisas medonhas aconteceram com aqueles que foram submetidos ao anthrax. Por exemplo, um antigo presidente de um país da Europa oriental adoeceu ao abrir uma carta selada com uma quantidade imperceptível da tal bactéria. Os sintomas variavam entre enjoo, enxaqueca, olheiras e, finalmente, hemorragia. Esta última foi o que o matou, e então concluíram que a causa da morte foi um câncer não identificado.

Por outro lado, Eva parecia estar se dando realmente muito bem com o anthrax. O corpo dela não só assimilou suas propriedades, como também adquiriu a habilidade de transformar o código genético, criando e descartando genes em velocidade inacreditável. Assim, ela foi capaz de gerar, ao longo do tempo, o processo necessário para criar uma asa transparente, bem como a de uma libélula, num tamanho ideal para levantar vôo.

Ela ainda não tinha prática, mas quando deixou Alanna levar Madison pelo portal, que felizmente se abria com a presença da filha do ceifador, decidiu tentar. Do topo do Sarkany, ela deu um pulo, mas caiu uns metros abaixo. Pulou de novo, e quase conseguiu. Na terceira o vento a levou, e foi o que precisava para aprender a subir e descer livremente pelos céus.

Ela passou longe de Erick, apesar de não saber que era ele. Ela preferiu ir ajudar seus amigos na cidade. Eva pousou desajeitada no telhado de uma casa, ralando o joelho no processo.

Enfim, quando chegou à rua, ouvia o som distante da destruição das múmias. Decidiu que alguém deveria fazer algo para impedí-las de chegar aos cidadãos, que haviam se reunido numa velha catedral que estava ali mesmo antes de Manneuver receber seu nome.

Eva correu seguindo o barulho e olhando a paisagem ao seu redor. Era triste para ela ver todo um trabalho tão importante ser destruído por motivos que ela deduziu serem extremamente banais. Olhava casa por casa, imaginando quem teria morado ali, e se ainda estaria vivo.

Finalmente, ela se assustou quando percebeu que havia alguém no final da rua em que estava. Estava longe, e não sabia dizer se era amigo ou inimigo.


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Notas finais do capítulo

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Novos capítulos deverão sair semanalmente, não percam o próximo =)



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