Tédio escrita por 5xxxxx


Capítulo 1
Capítulo unico


Notas iniciais do capítulo

Linha do tempo: a que você quiser imaginar. Não pensei num momento cronológico quando escrevi a fic.
Ponto de vista: somente do Sanji, que é quem interessa aqui. Pelo menos para a escritora.
Contém cena de estupro
Itálico = pensamentos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580055/chapter/1

Tudo começou de forma simples.

Começou com o tédio que ambos sentíamos.

Ao contrário do que se pensa, ficar num navio com a constante companhia das mesmas pessoas cansa depois de um tempo. Sanji, mas do que ninguém, sabia disso.

Apesar de apaixonado por Nami-swan e Robin, sabia muito bem que elas nunca lhe dariam uma chance.

Por isso cozinho tanto! Tenho que tirar minha frustação em algo e comida eu sei que faço bem demais. Prova é o Luffy, que não para de esvaziar as panelas... Também, dando conta das duas gostosas do navio, não é a toa que precisa tanto de energia... E eu aqui na solidão. Sem ninguém para esquentar minha cama. Pensei enquanto preparava mais um lanche da tarde. A vida é injusta assim.

Foi numa tarde qualquer na cozinha, enquanto cortava verduras que minha vida virou de ponta cabeça. Tudo por causa do cabeça de alga e sua ideia estúpida.

Aquele infeliz chegou bem atrás de eu, sem que nada percebesse, concentrado que estava no que fazia e de guarda baixa. De mansinho, Zoro se aproximou das minhas costas e sussurrou no meu ouvido:

– Tá querendo diversão? Tenho te notado um pouco irritado e triste e posso ter uma solução para o seu caso. Venha me ver hoje à noite no meu quarto e traga vinho ou cerveja.

– Por que eu iria lá?

– Não seja um desmancha-prazeres. Vá e descubra!

Pronto! Dizem que a curiosidade é uma puta sem coração, e por causa dela, aquela noite fui parar no covil do lobo, apenas porque não queria dar o braço a torcer e por causa também da minha eterna busca de respostas.

Quando bati a porta, Zoro me disse para entrar e fechar a porta.

Zoro estava calmamente sentado na cama com as três espadas entre as pernas. Parecia pensativo. Como se alguém com um cérebro de cogumelo pudesse pensar. Rá rá.

– Interessante que você veio, disse Zoro, naquele tom arrastado que eu particularmente detestava. – Vamos beber e afogar nossas mágoas juntos - ele propôs.

Como não via como beber um pouco com ele poderia me fazer mal, sentei na cama, abrir a garrafa de vinho e lhe entreguei um dos copos que também trouxera comigo. Marimo colocou as espadas cuidadosamente no chão próximo a cama e pegou um dos copos que lhe estendi.

Bebemos em silêncio por um longo tempo, degustando o vinho devagarinho, até que perguntei:

– Você só queria companhia para beber vinho ou vamos nos divertir de verdade? Ou pensando bem, esta é sua ideia de divertimento?

Zorro me lançou um sorriso lento e malicioso, que fez meu coração pular no peito.

– Apressadinho você, hein? Vou te mostrar a diversão agora!

Antes que eu pudesse reagir, Zoro se jogou por cima de mim e o copo quase vazio de vinho caiu no tapete, fazendo um suave barulho. O copo dele nem vi onde foi parar.

– Zoro, o que diabos você está pensando? Ficou louco?, perguntei bem zangado e um pouco zonzo por causa do vinho.

– Como você, Sanji, é inocente. Faz tempo que te observo. Fica aí cheio de frescuras com as mulheres do Luffy, mas notei que na verdade o que você anda sentindo muito ultimamente é frustação sexual e tédio. Com um movimento gentil ele percorreu o contorno de minha boca e prosseguiu com lógica irrefutável. – Que tal se a gente espantar o tédio juntos? Podemos transar e nos divertir também.

– Eu gosto é de mulher!, retruquei furioso.

Se esse bastardo pensa que isto vai funcionar comigo, tenho outra ideia vindo ai... Mas meus pensamentos foram subitamente interrompidos por uma língua molhada com gosto de vinho e ao que parecia anos de experiência em beijar.

Tentei me controlar ao máximo, mas a medida em que o beijo prosseguia e aquela língua habilidosa fazia maravilhas com minha libido reprimida, me entreguei.

Antes que pudesse entender se estava no inicio do sexo, no meio ou sei lá o que, fui desavergonhadamente despido de toda a minha moralidade e violado despudoramente por Zoro, que passou boa parte da noite me mostrando o be-a-bá do que o sexo entre homens podia ser.

Ele foi até gentil no começo, considerando que era minha primeira vez, mas aos poucos, a medida que me entregava mais e mais, Zoro se tornou bem exigente, até que eu estava sentindo meus ossos virando geleia e a cabeça pulsar com o prazer puro que Zoro conseguiu arrancar de mim naquela noite.

Nunca gemi tanto. Nunca sexo tinha sido tão bom.

=====================================

Na manhã seguinte acordei aconchegado com Zoro, que me olhava e sorria. Só não sabia se ele estava sorrindo para mim ou rindo de mim. Seja como for, levantamos da cama, nos vestimos, apanhei copos e garrafa de vinho e me portei o restante do dia de forma normal. Não nos despedimos ou houve quaisquer demonstrações de afeto de cada parte. Tínhamos um acordo bastante interessante entre nós agora. Falar o que?

Eu e Zoro tivemos pelo menos dois desentendimentos durante o dia, pois sempre brigávamos como cão e gato e só porque tivemos um pouco de vai-e-vem juntos a noite passada, não significava que eu iria pegar leve com ele.

Passamos vários dias assim, de dia agíamos como sempre, mas a noite eu sempre ia visitar o Zoro levando uma garrafa de qualquer bebida alcoólica disponível na despensa como desculpa para me transformar de cozinheiro em comida. Tenho de admitir que gostava de ser devorado inteiro por Zoro.

Quem diria que eu, Sanji, um dia um verdadeiro amante de mulheres, agora passava as noites brincando de sexo com o filho da mãe mais idiota da galáxia.

O problema é que tudo se complicou depois de uma tarde.

=====================================

Eu tenho um problema com garotas. É sério. Sempre quero ser gentil. Está na minha natureza. Tem raízes tão profundas que nem mesmo eu sei explicar. Só sei que é assim. Vi uma garota, me apaixono em menos de dez segundos. Mesmo que agora gostar de uma garota não signifique tanto assim para mim, mas sei que o que eu e Zoro temos é apenas um acordo para espantar o tédio.

Então quando paramos num cais qualquer para abastecer, vi minha perdição em lindas e elegantes curvas femininas num vestido verde que caminhava na direção contrária. Esqueci de comprar os suprimentos e passei o resto da manhã mostrando para ela meus dotes culinários, felizmente aceitos por um dono de restaurante nas redondezas. A garota, Marina, era um anjo em forma linda e suave, com uma natureza gentil, incapaz de me dizer não e nos divertimos muito, rindo e conversando sobre diversos temas.

Até ele aparecer.

Infelizmente Zoro apareceu bem na hora em que eu e Marina conversávamos sentados numa mesa perto do mercado, bem próximos um do outro, quase nos beijávamos enquanto falávamos.

– Se divertindo, Sanji?

O tom de voz irônico fez com que me voltasse e tenho certeza que meu rosto empalideceu. Engoli em seco. Tentei contornar a situação.

– Esta é a Marina, nos conhecemos hoje de manhã. Este é Zoro, um conhecido.

Para meu inteiro horror, as sobrancelhas de Zoro se ergueram e ele cumprimentou Marina de forma educada, e em seguida dirigiu a palavra a mim.

– Você comprou os suprimentos de comida para o navio? Vamos embora no máximo amanhã de manhã.

Corei de vergonha e raiva. Zoro tinha razão. Eu estava me comportando de forma ridícula por causa de uma garota. Com pesar me despedi dela e ela partiu, não sem antes lançar um olhar nervoso na direção de meu parceiro de embarcação. Esperava que ela não tivesse visto nenhum cartaz de recompensa por nossas cabeças.

Depois disso Zoro e eu passamos a tarde fazendo compras para o navio. Uma tarefa chata e inglória, mas alguém tinha de fazer. Nesse caso, os escolhidos fomos nós. Brigamos boa parte do tempo por tudo e por nada, já habituados a esta rotina. Tivemos de voltar várias vezes ao navio e no final das contas, tudo foi comprado, ficando apenas pequenas entregas para o dia seguinte. Ainda bem que a tarde foi proveitosa.

Após um jantar espetacular para a tripulação, graças em grande parte as novas provisões conseguidas aquela tarde, alguns ficaram no convés e outros se recolheram em seus quartos, com a barriga cheia da melhor comida que um cozinheiro como eu é capaz de preparar.

Naquela noite resolvi não ir até o quarto do idiota, porque estava a fim de ficar sozinho, devido ao cansaço, pois havia sido uma tarde bem movimentada. Ledo engano. Estava quase dormindo, quando a porta foi aberta pelo Zoro, que me olhou feio.

– Por que você está aqui? Não temos um acordo, seu cozinheiro tarado?

– Olha aqui, seu espadachim idiota. Vai dormir. Estou cansado e sem um pingo de paciência de ver sua cara hoje, tá legal? Deixe-me em paz!

Algo na expressão de Zoro mudou para pior.

– Tá com saudade da Marina? Só porque ela tinha as curvas que você considera certas? Acho que vou te ensinar hoje a noite uma liçãozinha para você não esquecer mais de mim.

Tentei me levantar de imediato ao ouvir a ameaça, mas Zoro era muito ágil para alguém com a mente de uma ervilha. Antes de poder ataca-lo fui jogado com toda força contra a parede do quarto. Zoro me olhou feio e com força desmedida arrancou minha blusa, rasgando-a no processo.

– Zoro, você enlouqueceu? Me solta agora mesmo, senão eu...

O tapa que senti no rosto me calou. Completamente chocado fitei Zoro com olhos arregalados de espanto. Ele não disse nada. Apenas me encarou muito zangado e em seguida me fez virar 180 graus e senti meu rosto sendo imprensado contra a parede. Tentei lutar em vão. Não tinha a mínima chance na posição em que estava.

Senti a mão dele me apalpar, e em seguida o barulho de minhas calças sendo baixadas me fez tentar mais uma vez fazer Zoro voltar a razão.

– Pare com isso agora mesmo! Eu não me lembro de nosso trato incluir este tipo de brincadeira de mau gosto.

– E quem disse que estou brincando? Hoje a noite não haverá jogos, vou fazer você lembrar de mim... de cada parte de mim em você, Sanji.- O tom de fúria contida em sua voz não deixava muita margem para dúvida sobre quem estava no comando da situação.

Pensei em gritar por ajuda, mas que tipo de homem eu seria se fizesse isso? Lutei contra o aperto de morte que Zoro me dava nos braços, mas não consegui me soltar. Como um homem pode ter tanta força numa única mão?

Os dedos que antes me acariciavam toda noite se insinuaram em minhas nádegas e lutei com mais força para me soltar. Não funcionou. Zoro estava bem zangado comigo, o que aumentava ainda mais sua força descomunal. Senti os dedos lubrificados dele dentro de mim de um jeito estranhamente familiar e novo. Nunca tinha sido assim antes, embora tivesse me acostumado com ele me preparando para o sexo todas as outras noites, aquilo me parecia diferente pela primeira vez, e engoli as lágrimas que queriam cair.

Doeu muito quando fui penetrado por ele. Não havia um pingo de gentileza na forma como Zoro me forçou contra a parede e fez sexo comigo como se eu não passasse de um mero boneco para sua satisfação carnal.

Assim, após usar meu corpo pelo que me pareceu uma eternidade, finalmente Zoro me soltou e partiu sem dizer palavra e sem sequer um olhar para trás. Senti-me como se não valesse nada.

Um longo tempo se passou, não sei dizer quanto, e finalmente me levantei, limpei a pouca bagunça de minhas roupas rasgadas, tomei um banho e caí na cama, ainda zonzo pelo que tinha acontecido, procurando uma explicação que não me veio, porque o cansaço e o trauma me venceram, levando minha consciência.

Não sei se foi a dor física ou emocional de toda aquela crueldade que ele me mostrou, mas no dia seguinte estava doente.

=====================================

Chopper me olhava preocupado enquanto me examinava deitado na cama. A noite anterior não tinha deixado quaisquer marcas de violência no quarto. Exceto talvez, meu coração partido, meu corpo que ardia em febre, uma ou outra contusão em meus pulsos também. Não tive coragem de encarar Chopper muito tempo. Tinha medo do que ele veria em meu olhar e não estava disposto a demonstrações de simpatia ou amizade. Aquilo seria demais em meu atual estado emocional. Era melhor ficar sozinho.

Após uma manhã inteira sob seus cuidados, finalmente Chopper me deixou um pouco só. Ele tinha ficado o tempo todo em silencio, esperando que eu dissesse algo. O que, eu não sabia ou fazia ideia.

Depois que ele partiu para buscar algo leve para eu comer, tentei me levantar. Infelizmente minha parte de trás inteira protestou. Tive vontade de matar aquele bastardo, mas ainda me faltava forças. Voltei a deitar. Foi assim que Chopper me encontrou ao voltar ao quarto, deitado na cama quieto como um doente.

– Trouxe sopa de frango. Foi a Nami que preparou. Ela disse que tomasse tudo ou ela vinha aqui acabar com o que sobrou de você.

– Não se preocupe, Chopper, vou comer tudo direitinho e ser um bom menino. Não quero que a Rainha venha brigar comigo.

Chopper riu do meu comentário e comi fazendo pequenos comentários cordiais com ele. Era tão estranho, ele normalmente socializava mais com Luffy e Usopp, pois tinham muito mais assuntos em comum do que eu e ele.

Depois da sopa, finalmente pude dormir. Meus sonhos incluíram os olhos verdes e frios de Zoro, enquanto ele estendia a mão e me agarrava. Acordei suado e confuso, no quarto escuro e silencioso, com o coração acelerado pelo medo.

Levei dois dias para me recuperar por completo. O navio já estava longe da costa e nem pude ver Marina uma última vez. A vida é mesmo injusta. Tinha tantas lembranças que queria levar dela quando estivesse no navio. Pena que foi somente uma manhã de felicidade.

=====================================

Conformado e de volta a rotina, naquela tarde, três dias depois do incidente com Zoro, que felizmente tinha se mantido longe do meu caminho este tempo todo, ele apareceu na porta. Sua expressão era infeliz, mas não estava disposto a facilitar nada para ele, afinal não se deve dar chance para quem o magoou e traiu sua amizade.

– Vim me desculpar pelo que aconteceu entre nós.

Olhei para ele friamente, esperando mais. Eu merecia, afinal. Ele entendeu o recado.

– Olhe, sinto muito pelo que aconteceu, estava zangado com você por se deixar iludir por qualquer garota bonita que passa na rua. Sei que não é desculpa para o que fiz, mas tentei me controlar a tarde toda. Só queria arrancar a cabeça dela e sua, Sanji, por me fazer de idiota. Você estava quase se agarrando com aquela desconhecida. O que sabia dela? Ela podia ser uma espiã, pelo que sei, mas você ficou todo derretido com ela e perdi as estribeiras. Prometo que isto nunca mais vai acontecer.

Nem pensei, apenas tentei ser o mais cruel possível.

– Pode parar de me olhar com esta cara de um filhote de cachorro que foi chutado. A culpa de tudo isso é sua. Suma da minha frente e tente não mais cruzar meu caminho. Creio que nosso pacto de diversão acabou, Zoro, porque você francamente não conhece os limites. Pelo menos da Marina eu guardo boas lembranças, enquanto que você só trouxe problema para minha vida. Aproveite e pare de falar comigo. Finja que não me conhece. Que nunca fomos amigos.

Isso foi tudo que bastou.

Zoro me encarou com uma expressão de dor e saiu, sem dizer palavra. Nos próximos dias quase não nos vemos, mas quando estávamos perto um do outro, a tensão podia ser cortado com uma faca.

Finalmente, Luffy interferiu e nos chamou para saber o que estava acontecendo, mas demos uma desculpa qualquer e nosso capitão distraído a aceitou. Infelizmente o restante da tripulação nos olhava esquisito a cada dia que passava e nos afastávamos cada vez mais da amizade que tínhamos antes.

Não ia fingir que tudo estava bem com o cabeça de alga só para acalmar meus nakamas. Nem pensar. Isto seria demais, até para mim.

=====================================

Não sei como sobrevivi nas próximas semanas, mas a dor, aos poucos, diminuiu. Podia me sentar próximo ao cabeça de alga sem me preocupar muito, apenas fumando um cigarro, pois nosso dialógo havia diminuído bastante. Eu era incapaz de fita-lo muito, pior seria voltar a ter discussões tolas com ele.

Até aquele dia horrível, em que fui forçado a reconhecer de verdade, o que estava, de fato, acontecendo comigo.

No inicio, não queria acreditar mesmo que Luffy tinha concordado em nos dividir em grupos para treinamento de sobrevivência numa ilha que parecia ter sido esquecida por um panteão inteiro de deuses. Aquilo estava mais para um bloco de gelo no meio do oceano. Gemi internamente, pensando que somente nosso capitão era louco o suficiente para aprontar uma dessas conosco com a ajuda de Franky.

Para meu horror, os grupos foram divididos e, antes que eu pudesse processar direito o que estava acontecendo, me vi num casaco de pele a caminho de uma ilha gelada junto com Zoro. Era muito azar para um cara só.

A ideia maluca era cada grupo ir por um caminho diferente até alcançar o outro lado da ilha, que era rodeada por muito frio, vento, e grupos de pequenas colinas e morros, formadas, eu suspeitava, por rocha, gelo e nada mais. A equipe em questão teria de tentar vencer as outras equipes e quem chegasse primeiro teria direito ao primeiro banho quente no navio. Uma recompensa por nossos esforços. Uma idiotice épica. Estava mais emburrado no caminho do que um cavalo sem pasto. Para completar minha desgraça tinham me jogado com a última pessoa com quem queria ficar. Passei a maior parte do tempo em silêncio, enquanto subíamos uma encosta íngreme e fria, que era tão convidativa a conversa quanto um deserto.

Já estávamos na metade do caminho quando ela começou. Uma nevasca dos infernos, vinda diretamente da boca gelada de um monstro qualquer, que deixou nossa visibilidade quase zero. Resolvemos por bem, parar em qualquer retraência ou caverna que houvesse nas proximidades. Após andarmos vários minutos de mãos dadas (para não nos perdemos) finalmente achamos um lugar razoável, uma caverna não muito profunda, mas cuja abertura para entrar não era muito larga, mantendo assim quem estivesse dentro dela longe do fulgor da neve e do frio. Entramos calados e cada um ficou em seu canto sentado, esperando que o tempo amainasse. Não tivemos sorte. A noite chegou, com o vento cortante e frio e mais neve do que eu podia suportar. Aquela altura dos acontecimentos, não enxergávamos nada lá fora.

– Vamos fazer uma fogueira, propôs Zoro.

– Com o que? Nossos casados, Marimo? A situação já está ruim o suficiente sem você ficar dando ideias idiotas. Retruquei, furioso com a falta de juízo dele.

– Tudo bem então. Vamos comer o que trouxemos frio mesmo e descansar. Amanhã o tempo deve melhorar, de qualquer jeito. Zoro aquiesceu.

– Tá certo, vamos comer e descansar. Acho melhor ficarmos próximos um do outro para não congelarmos durante a noite. E nem pense em ter qualquer ideia idiota.

– Não se preocupe, não vou te tocar de qualquer jeito inconveniente. Já aprendi minha lição. Nosso caso acabou de uma maneira bem ruim por minha causa.

– É, a culpa foi mesmo toda sua, seu cabeça de alga.

Com isso resolvido, comemos em silencio novamente e deitamos de costas um para o outro. Sem nos tocar.

Seria uma longa noite.

=====================================

A memória é algo feito especialmente para nos enganar. O cérebro inteiro é algo que está aqui apenas para que nos preocupemos com o que, de fato, não é importante em nossas vidas.

Como o cheiro do cabeça de alga. Ou sua respiração, que eu me acostumara a ouvir, deitado em seus braços, durante várias semanas, unida a batida de seu coração. Algo tépido em que me aconchegava toda noite sem pretensões ou preocupações. Ali, deitado tão perto dele, mas tão distante como se houvesse uma galáxia inteira nos separando, eu lembrei.

E pior, senti saudade.

Devia ter uma veia masoquista em mim, era isso. Apenas algo deste gênero explicava minha súbita fraqueza ante Zoro. Ele me traíra. Manchara nossa amizade, me mostrando o paraíso e o inferno num pacote que todas as noites eu tentava esquecer. Houve dias em que quase sucumbi. Quase fui ao seu quarto ou o convidei para o meu, porque aquele canalha fazia eu me sentir completo. Inteiro. Feliz. Vivo. Amando... E o pior de tudo, amando ele, que não merecia.

Eu era uma piada... Mas nem mesmo eu conseguia entender como chegara nesse nível tão patético... Tao inverossímil quanto parecia, havia amado um nakama, depois tido o coração partido por ele, e agora lá estava eu, com saudades de um sentimento que era unilateral. Zoro demonstrava no máximo, arrependimento pelo que acontecera. Nunca saudades, ou pelo menos um olhar que indicasse que eu fora algo além de diversão para ele, um corpo quente. Uma distração do tédio.

Fiquei acordado a maior parte do tempo, incapaz de dormir. Zoro roncava ao meu lado. O infeliz. Pensei seriamente em assassinato a noite toda, mas sabia que era apenas inveja do jeito simples de ser do Marimo.

=====================================

Pela manhã, Zoro e eu comemos nosso café, feito especialmente de comida quase semi-gelada e partimos, pois o tempo havia melhorado. Falamos somente o essencial.

Na metade da manhã chegamos ao navio, eu mal me segurando, morto de sono e louco de vontade de encontrar minha cama quentinha.

Todos nos olhavam desconfiados, nem sei o que estavam procurando, mas quando Nami viu meu olhar desolado e as olheiras, pareceu ter entendido algo. Achei melhor recuar por hora.

– Nami, estou morto de cansado. Vou dormir e mais tarde farei o prato que quiser do cardápio.

Ela me deu um sorriso com a cabeça meio virada de lado, que parecia um misto de compreensão e conspiração.

– É claro, pode ir dormir sossegado.

Dei um aceno breve e andei a velocidade máxima para o meu quarto. Quando entrei naquele lugar quentinho e acolhedor, me joguei na cama, dormindo quase que imediatamente.

=====================================

Naquela tarde fiz comida para meio exército, e considerando o quanto nós comemos, tinha valido a pena. Fiz o prato favorito da Nami, que me agradeceu, dividindo-o em pequenas porções entre Luffy e Robin, enquanto os três riam e brigavam amigavelmente pelo doce.

Aquilo jogou sal na ferida aberta na noite anterior. Engoli em seco, enquanto observava entre fascinado e horrorizado, a troca de intimidade entre os três. Senti uma inveja tão grande deles, que podiam se expressar daquele jeito desavergonhado na frente de todos, demonstrando um amor mútuo, profundo e belo.

Tão ao contrário de mim, que me envergonhava de ter amado.

Fiquei lá, tentando fingir que aquilo não me atingia, enquanto parecia que uma faca tinha se cravado em meu peito, me causando uma dor lancinante, fria e dura como uma adaga.

Finalmente, após uma tarde inteira e parte da noite que transcorreram em festas, devido ao fato de todos terem chegado ao navio sãos e salvos, fomos todos descansar de mais um dia de aventura.

=====================================

Acordei sentindo minhas mãos presas, e um corpo quente imprensado contra o meu. E nós dois estávamos completamente nus.

Ainda um pouco atordoado, pois acabara de acordar, senti a mão calejada de Zoro em minhas coxas, acariciando-as devagar. Logo a tepidez de sua respiração estava contra o meu pescoço, onde ele deixou várias mordidelas, enquanto sua outra mão estava ocupada brincando com o pênis semi-flácido entre minhas pernas.

–O-o que diabos pensa que está fazendo, Zoro? Perguntei, mas na verdade queria dar um chute nele pela ousadia.

– Acha que sou completamente cego? Tudo bem, reconheço que fui um tolo, mas Nami me chamou para conversar, junto com Robin. As duas me encurralaram contra a parede e me fizeram confessar tudo. Então me deram um pequeno conselho, que por sinal, estou tratando de seguir.

– Como é que é? Você me amarrou porque duas malucas te disseram para fazer isso? Seu idiota!

– Hummm... Isto é mesmo bem interessante. Elas me disseram que você ia mesmo me xingar a principio, mas que a recompensa seria bem doce, no final. Bom, acho que está na hora de te provar que me importo conosco.

Antes de ter chance de reclamar, ele me beijou. Oh Deus... Como senti falta de seus beijos... Eu era mesmo um fraco, pois se não estivesse deitado, teria caído.

Zoro me beijou com força, ímpeto e habilidade. E que habilidade... Tive a impressão de que nossas almas se fundiram naquele beijo que durou até ficarmos com falta de ar. Respirando com dificuldade, o fitei com os olhos arregalados.

O cretino estava ofegante, mas sorrindo de um jeito particularmente canalha... o jeito certo. O jeito que eu adorava! Não tive, entretanto, muito tempo para apreciar o sorriso, pois fui gentilmente afagado e acariciado em quase todos os lugares do meu corpo. Fui beijado, do pé até o ombro, então beijado na boca tantas vezes que perdi a conta.

Aquelas mãos calejadas mapearam meu corpo de um jeito enlouquecedor de tão bom, como se ele não pudesse obter o bastante de mim... Aquela boca tentadora dele me levou ao êxtase em pouco tempo e meus débeis protestos se transformaram em gemidos de prazer. E então, como um tolo, no calor da paixão, cedi e meu corpo se uniu ao dele, naquela comunhão carnal que já conhecia e de que tanto sentira falta.

Foi maravilhoso, delicioso, uma noite em que fiquei sendo mimado, afagado, fodido até gritar o nome de Zoro em completo abandono, sem me importar se alguém no navio tinha nos escutado.

Mas só sexo não resolvia nossos problemas, por melhor que fosse.

Acordei me sentindo dolorido de um jeito bom, com vários músculos protestando e um sorriso no rosto. Abri os olhos e vi olhos verdes vívidos e divertidos, que me encaravam de volta com uma complacência que nunca vira antes.

– Bom dia dorminhoco. O pessoal passou aqui e perguntou que horas você vai levantar e fazer o café. A Robin disse que não te acostumasse mal.

– C-como?!

–Sanji, você não está achando que o pessoal daqui é surdo, ne? Ontem à noite demos um show e já passa das dez horas da manhã.

Atordoado, fitava Zoro como se ele tivesse três cabeças, tentando encaixar pelo menos uma frase que fizesse sentido. O filho da mãe riu.

– Vou explicar bem direitinho, cozinheiro tarado, mas só uma vez. Estava há muito tempo esperando uma chance de te agarrar. Infelizmente, você só tinha olhos para as mulheres. Era Nami-swan e Robin pra lá e pra cá. Você nem me notava, a não ser para me criticar e reclamar. Fiquei esperando um bom tempo até o dia em que o Luffy e aquelas duas malucas resolveram assumir de vez o caso deles... Nem quero ver quando a Boa Rancock souber disso... mas enfim, isso não vem ao caso. - Com um suspiro, ele prosseguiu o relato – Até que te notei triste e cabisbaixo... então decidi apostar tudo e te fiz aquele convite indecente que você aceitou. Fiquei nas nuvens, mas como não sabia o que você sentia por mim, te fiz acreditar que era apenas uma brincadeira, uma maneira de nos divertimos. Sinto muito por isso, Sanji.

– Espera, está me dizendo que gosta de mim?!

Zoro riu e disse:

– Você é mesmo lento, Sanji. Claro que gosto de você. Por que acha que agi daquela maneira estúpida quando te vi todo derretido pela tal da Marina? Tive vontade de arrancar os olhos dela... e os seus também. Queria te estrangular e te trancar no quarto para você pensar somente em mim, sorrir só para mim. Morrendo de ciúmes, quis te provar que você era todo meu e acabou que as coisas deram terrivelmente errado... Perdi completamente o controle de meus atos. Sinto muito por ter magoado seus sentimentos e te machucado. Prometo que aquilo não vai mais se repetir. - Ele falou a última frase de forma solene, como uma promessa.

– Quer dizer que este tempo todo você esteve me enganando, me fazendo acreditar num conto da carochinha e eu caí feito um patinho?

– Sim, Sanji. Isso mesmo. Às vezes você consegue ser mais tapado do que eu. Todo mundo no navio tinha notado. Até o Luffy. Exceto você, é claro, que não me dava bola.

– Mas sempre que te olhava você estava com a cara emburrada ou prestando atenção a outra coisa, ou brigando comigo por besteira.

– Se tivesse olhado com mais cuidado, teria notado que seguia até sua sombra, mas você estava sempre ocupado perseguindo garotas. Quando planejei que dormiríamos juntos, pedi ajuda ao Chopper com o lubrificante.

Senti meu rosto aquecer e sabia que estava completamente rubro.

– Ai, que vergonha, todos no navio sabendo e eu pensando que tinha disfarçado bem. Devolva minha inocência, cabeça de alga.

– Hahahah... Até parece que você ficou mesmo ofendido! Saiba que deu muito trabalho para te conquistar, Sanji. Até o Franky teve a ideia de nos deixar naquela ilha sozinhos quando viu que tínhamos brigado. Embora ninguém soubesse o motivo de nosso desentendimento, todos fizeram o possível para nos unir de novo. Ontem aquelas duas me puxaram as orelhas e exigiram que eu viesse até você e te agarrasse de jeito. Segundo elas, eu teria de explicar para você o quanto te amava e pedir perdão. Então faríamos sexo selvagem. Acho que só inverti um pouco a ordem das coisas, mas no final deu tudo certo.

– E porque você acha isso?, perguntei, disposto a cutuca-lo um pouco mais.

– Você me ama, não é, Sanji? Ele perguntou, sério.

Envergonhado, mas feliz, o fitei e, lentamente abri um sorriso.

– Sim, eu te amo Zoro idiota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tédio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.