Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 13
O Engano




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Parei ao virar a esquina. Limpei meus olhos novamente. O que tinha dado em mim? Estava tão desesperado assim pra arrancar-lhe seu primeiro beijo e agora ser odiado?! O olhar indignado dela, o modo em que limpou sua boca depois de eu tê-la tocado. Tudo isso machucava. Por que, talvez, eu ainda esperava que Sakura respondesse e quem sabe esquecesse, nem que seja um pouco, Yukito. Por que, provavelmente, aquela dor no peito não tenha sido por que ela me rejeitou, mas por que se tivesse sido o outro ela não teria hesitado sequer um segundo.

 

Eu não pedi pra fazer parte dessa espécie de triangulo amoroso. Yue percebeu subitamente os sentimentos que nem eu conhecia sobre ela. Acho que toda a escola esteve certa desde o começo. Pensando agora, é realmente estranho eu perder pra ela. Com certeza um homem é mais forte do que uma mulher. Muito provavelmente eu perdi incoscientemente de propósito por todo este tempo, apenas pra ter uma desculpa pra ficar ao seu lado.

 

Mas seus olhos nunca brilhariam tanto pra mim como pra ele. Sakura jamais se demonstraria frágil por minha causa. Seu coração não bateria mais forte somente por me ver. Suspirei, colocando as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. Logo avistei Wei pro lado de fora de casa, chamando por meu nome.

 

- Shaoye XiaoLang! - ele excamou mais uma vez, mirando na minha direção. Aumentei um pouco a velocidade, logo alcançando-o.

 

- Desculpa, Wei. Eu sei que sai sem avisar, mas...

 

- Não, Shaoye! - Wei me interrompeu, dando-me o telefone sem fio em mãos. - Sua mãe quer falar urgentemente contigo.

 

Olhei pro telefone e depois pro meu mordomo. Devo ter piscado os olhos uma ou duas vezes antes de entender que Yelan Li estava do outro lado da linha. Engoli em seco, apreensivo. Minha mãe costumava ligar a cada duas semanas, no domingo de manhã. Pedia como eu estava e logo passava a corneta pra uma das minhas irmãs ou pra Meiling. Nos últimos tempos teve que desistir do sonho de ser uma arqueóloga por que meu avô estava doente, portanto não tinha suas noticias há quase um mês.

 

- Oi, mãe. - eu disse, hesitante. Wei fez sinal para que eu o seguisse, e assim, numa espera que me pareceu durar séculos, eu comecei a caminhar até cruzar a entrada de casa.

 

- Syaoran. - ouvi a voz imperativa da mulher mais assustadora do mundo. - Não sou eu quem quer falar contigo. - pausa. Eu não sabia nem sequer se poderia pedir "quem?". Wei olhou pra mim preocupado. Sorri amarelo tentando dissipar aquele sentimento e rumei pras escadas, indo me trancar dentro de meu quarto.

 

- E... Quem? - finalmente me deicidi, apertando a maçaneta do meu cômodo.

 

- Seu avô. - parei exatamente como estava. Por uns instantes esqueci até mesmo de respirar. Meu avô? Eu nunca falei com ele diretamente. Mais de uma vez foi dito e redito que eu seria seu herdeiro por ser o único filho homem desta geração, entretanto jamais houve um verdadeiro contato. Eu nem sequer lembrava como era sua face. Lembro-me que quado era criança e ia visitá-lo, o grande Li sentava-se em uma espécie de trono como o próprio imperador, e nós tinhamos que nos sentar cordialmente e abaixar a cabeça sem fitá-lo.

 

- E o que é que ele... - cogitei bem qual verbo usar. - ...deseja?

- Não sou eu quem tem que dizer, Syaoran. - ela suspirou de forma cansada e aborrecida. Pensei que seria melhor não dizer mais nada, limitando-me a esperar que a corneta fosse passada de uma orelha à outra.

 

Meu avô, Tong Li, falava um chinês coloquial e extremamente arcaico. Normalmente eu conseguia entender somente metade do que dizia, o que nunca importou muito nas minhas poucas visitas à casa madre, mas que agora me parecia ser o fim do mundo.

 

- Xiao Lang. - a voz cansada pareceu arrastar-se pelos fios até alcançar meus timpanos.

 

- Honun ye.* - respondi, tentando me lembrar de como deveria tratá-lo.

 

- Eu... tenho uma noticia para lhe dar. - finalmente me convenci a cruzar a porta do meu quarto, sentando-me lentamente sobre a cama. Respirei fundo. Bem, ao menos até ali tinha entendido. Disse um "Prossiga" em chinês atual, e pelo jeito em que ele esclareceu a garganta não tinha lhe agradado. - Da China... Viagem... Quinta.

 

Aquela frase tinha corrido nos meus ouvidos por alguns segundos, e só pude capturar aquelas quatro palavras. Por que ele precisava falar daquela forma estranha? Não é culpa minha se fui criado no Japão.

 

- Entendeu, Xiao Lang? - ele pediu, e eu fiquei sem respostas. Por que diabos é que eu só entendo a parte menos importante?

 

- S-Sim. - sem querer gaguejei, mas logo uma pergunta me veio em mente. - Que horas é... O voo? - respondi sempre no chinês atual, esperando que ele não se aborrecesse.

 

- Pergunte ...mãe. - Tong passou o telefone, claramente irritado. Nem sequer consegui pegar a frase toda. O ouvi reclamar sobre algo, e minha mãe logo se desculpando.

 

- Xiao Lang Li! - ela exclamou depois de um tempo. Yelan me chamava daquela forma somente quando estava realmente nervosa. - Como ousa se dirigir ao seu avô com uma linguagem tão profana?! Ele ficou muito decepcionado!

 

- Mãe, eu não sei falar chinês arcaico.

 

- Bem, espero que ao menos tenha entendido o que ele disse.

 

- Claro. - menti, temendo que as coisas pudessem piorar. Eu conhecia minha mãe, e sabia muito bem que ela seria capaz de me deserdar por uma coisa banal como essa.

 

- Lembre-se de estar no aeroporto às 10 da manhã quinta. - hesitei, percebendo o que é que o patricarca de minha familia tinha dito. Decidi dizer um sim meio hesitante, e logo a ligação terminou daquela forma mesmo.

 

- Ele... Quer que eu volte pra China quinta! - exclamei a voz alta, voltando a descer as escadas de forma precipitada com o telefone em mãos.

 

- Shaoye? O que houve? - Wei perguntou ao ver que eu cheguei à cozinha em poucos segundos, a respiração levemente ofegante. Nem sequer tinha tirado minha jaqueta ao entrar dentro de casa.

 

- Wei. - eu apoiei o telefone em um lugar qualquer, ainda tentando entender o motivo daquele transferimento repentino.

 

- Sim, Shaoye? - ele respondeu cordialmente, deixando o copo que estava secando de lado e vindo falar comigo.

 

- Meu avô quer que eu volte pra China, e parece que minha viagem está marcada pra quinta.

 

- Você tem certeza?

- Sim. - não, eu não tinha, mas era a única solução à qual eu poderia chegar.

 

- Estranho. - ele comentou a voz baixa, mas logo pareceu mudar de opinião. - Mas acho que entendi. - sorriu, e eu fiquei meio desnorteado. Aquele sorriso não prometia nada de bom. - Então temos que começar a preparar tudo.

 

- Tão cedo assim?

- É terça-feira amanhã, Shaoye Li. Se não nos apressarmos não vai ter tempo pra nada. Sabe o horário?

 

- 10 da manhã.

 

- Irei até sua escola amanhã bem cedo para a papelada de transferimento.

 

- E a passagem? Não me disseram nada sobre isso.

 

- Fique despreocupado, eu vou ligar pra sua mãe o quanto antes.

 

- E essa casa? Ela é alugada, certo? Não tem que esperar 6 meses antes de sair ao avisar que vamos deixar o lugar?

 

- Shoaye Li. - ele suspirou. Eu conhecia aquele suspiro. Queria dizer não se meta no assunto de adultos. Mas eu não era mais criança, e ele sabia muito bem disso. Então, a única explicação plausivel era: "ele está escondendo algo." - Eu disse para não se preocupar. Em todo caso, eu irei ficar aqui de qualquer maneira.

 

A conversa se encerrou daquele modo. Seca e sem explicação alguma para as minhas incontáveis perguntas. Eu não sabia qual era o problema do Wei, mas algo não estava certo, e eu iria descobrir.

 

*****

 

Na manhã seguinte, Wei me acompanhou até a escola de carro. Eu não tinha certeza se deveria ou não buscar Sakura, mas algo me dizia que a segunda opção seria aquela correta. Eu simplesmente não podia chegar até a sua casa e fingir que nada tinha acontecido.

 

Os alunos que já estavam no edificio me olharam com olhos maravilhados quando eu adentrei o saguão principal ao lado de meu mordomo. Ele me seguia com as costas eretas e uma expressão gentil. Mas eu acho que a perplexidade era o resultado da visão da Alpha Romeo importada no estacionamento da escola.

 

- Shaoye. - ele sussurrou, colocando uma mão sobre meu ombro. - Eu irei até a diretoria. Pode ir até sua classe.

 

Eu assenti, colocando as mãos nos bolsos da calça e prosseguindo sem prestar atenção no que via pela frente.

 

Ao chegar dentro da classe, algo de estranho aconteceu.

 

- Eu soube que vai voltar pra China, Li-kun! - uma garota com a qual eu mal falava chegou perto de mim com o semblante choroso. Eu arqueei uma sobrancelha. Como ela poderia saber daquilo?

 

- E de onde tirou essa noticia? - continuei andando até minha carteira, deixando minha bolsa sobre a mesma.

 

- Um professor nos avisou esta manhã. - ela permaneceu ao meu lado enquanto eu me apoiava ao banco. - A escola toda já deve estar sabendo.

 

- Wei... - sussurrei, raivoso. Por que ele tinha sempre que ser apressado daquela forma?

 

- Que eu saiba... Ninguém disse algo pra Kinomoto-san. - outra pessoa se aproximou.

 

- Bem, eu queria dizer-lhe hoje. Isso foi repentino. - comentei, colocando uma mão sobre a nuca. Me sentia em culpa por não ter-lhe dito assim que soube da partença. No entanto, de qualquer forma, eu não queria que ela soubesse disto da boca de outra pessoa.

 

Quando percebi, estava completamente cercado pelos meus companheiros de classe. Gente que até aquele momento nem sequer tinha percebido a existência, e que sinceramente não me importava muito. Eu observava a porta periodicamente. Esperava que, de uma hora para a outra, Sakura aparecesse com aquela expressão despreocupada e arrogante de sempre.

 

Mas os minutos passavam, e nada acontecia.

 

Até que, no meio daquela multidão, uma voz se elevou mais do que as outras. "Li-kun, a Kinomoto-san chegou!", dizia. Eu levantei de imediato o rosto, vendo os cabelos quase loiros dela na ponta da classe. Me desapoiei do meu banco, e uma estrada se abriu diante de meus olhos. Todos sabiam dos meus sentimentos por ela. Eu podia quase ouvir as incitações silenciosas da parte de alguns garotos para que eu fosse até em fundo.

 

Entretanto, meus olhos não foram capazes de encontrar dos dela.

 

Talvez fosse medo, ou quem sabe vergonha. Entretanto, quando eu o fiz, tive a mesma vontade de beijá-la da noite anterior. Me contive, puxando-a para que eu pudesse dizer o que queria sem que ninguém me atrapalhasse. Quando finalmente me dei conta do quanto tinha corrido, estávamos no terraço da escola, o mesmo lugar onde eu tinha descoberto os sentimentos da Sakura que tanto me faziam sofrer.

 

Eu quis me declarar. Eu juro que quis colocar pra fora tudo o que estava dentro, dizer que a amava, dizer que Yukito não era quem ela pensava que fosse, afirmar que poderiamos começar do zero novamente se ela quisesse.

 

Entretanto, a realidade voltou a me acordar. Ela soltou minha mão com um movimento quase agressivo, rejeitando-me antes que eu dissesse qualquer coisa. O que eu esperava? Seria sempre assim, afinal.

 

- Sakura... Eu... Estou indo pra China. - foi a única coisa que eu soube dizer, afinal. A verdade. O fato que talvez jamais voltariamos a nos ver.

 

- O que foi que você disse? - ela indagou, parecia estar perplexa. Mas, Deus, quem não estaria?

 

Disse o dia e a hora em que partiria. Esperei uma resposta, mas ela preferiu evitar de encontrar meu olhos. Eu o entendi como uma espécie de despedida, então, me retirei do local.

 

Não queria que aquilo terminasse assim, mas, com toda sinceridade, nunca sequer tinha começado.

 

*****

 

Suspirei, puxando minha mala. Wei estava ao meu lado, estranhamente com um sorriso tomando conta dos lábios. Eu não tinha falado com Sakura desde terça. Me sentia em culpa por não ter nem sequer me despedido dela. Suspirei, adentrando o aeroporto. A porta se abriu automaticamente e eu a atravessei com a estranha sensação de estar sendo perseguido.

 

- Syaoran, seu desgraçado! - ouvi alguém chamando pelo meu nome. Parei de andar, olhando em volta; nada.

 

- O que houve, Shaoye? - indagou Wei, e eu me limitei a ignorar sua pergunta. Escutei aquela voz de novo, e me voltei de imediato. Foquei melhor o olhar em meio à multidão, vendo exatamente que eu esperava: cabelos curtos cobertos por um boné vermelho, calças jeans por baixo de um capote azul escuro que chegava até os joelhos ténues. Um tenis vermelho e branco completava o quadro de moleque. Sorri. Era Sakura.

 

- Seu filho da mãe, dê mais um passo pra dentro desse aeroporto antes de eu chegar até você e vai entrar no avião decapitado! - como é que ela consegue gritar tanto enquanto corre, ao ponto de sua voz atravessar os vidros espessos que constituem a frente do aeroporto?!

 

- Sakura? O que faz aqui? - eu comecei a andar em seu encontro, sentia um sorriso bobo no rosto, mas não fiz questão alguma de desmanchá-lo. Ela finalmente me alcançou, o rosto vermelho e os pés sujos da neve que tinha se misturado à terra.

 

- O que... - ela ofegava pelo cansaço que finalmente parecia ter alcançado sua mente furiosa. - ...eu... - se apoiou a um pilastre de concreto ao nosso lado, engolindo a saliva com dificuldade. - ...faço aqui? Seu... Seu... Imbecil! - pra quem estava cansada ela sabia insultar muito bem.

 

- Pra que correu até aqui? Você está coberta de neve!

 

- Pare de me fazer perguntas idiotas! - exclamou Sakura, parecendo recuperar o fôlego. - Eu realmente não sou nada pra ti, certo? Que coisa é essa de falar a data, a hora e simplesmente não ir mais pra escola tanto menos atender o telefone?!

 

Eu sorri, fitando-a ouvindo somente metade de suas palavras. Eu achava que depois daquele beijo tudo seria diferente, e tinha medo. Estava aterrorizado pela simples idéia de que ela poderia nunca mais querer falar comigo. Entretanto, contra todas as minhas expectativas, Sakura Kinomoto estava lá, na minha frente, usando aquelas roupas que apesar de tão masculinas a faziam ter um brilho especial. Nenhum vestido ficaria tão bem nela quanto uma blusa larga e jeans rasgados. Ela parou de falar, me fitando. Era incrivel. Talvez fosse esta a arazão de eu a amar tanto; independente de por quanto tempo convivermos, ela sempre vai acabar me surpreendendo.

 

- Shaoye. - me virei para olhar Wei, que não parecia surpreso com a aparição de Sakura. - Vai acabar se atrasando.

 

- Ah, claro. - disse, saindo de meus pensamentos. Desviei minha atenção para Sakura. Ela ainda parecia estar lançando adagas pelos olhos. Lhe estendi a mão, rezando para que a aceitasse. - Eu quero me despedir bem desta vez.

 

- Demorou até demais. - ela agarrou minha mão com força, se desencostando da parede. Começamos a caminhar, e levou um pouco de tempo antes que eu percebsse que nossas mãos ainda estavam uma sobre a outra. Sakura pareceu também ter notado este pequeno detalhe, então desfazendo o toque com um semblante envergonhado. Sim, algo tinha mudado. Seria inevitavel. Eu não posso esperar de beijar uma garota em um dia e no outro ela fingir que nada aconteceu.

 

- Wei. - eu parei de andar, olhando pras placas acima de nossas cabeças. Tinham o formato de flechas, uma direcionada para a direita e a outra para a esquerda, com escrito 'Partenças' e 'Chegadas', respectivamente. - Você não acha que está indo pro lugar errado? Eu tenho que ir pra direita, não pra esquerda.

 

Ele deu um daqueles sorrisos enigmáticos que eu nunca, jamais, seria capaz de entender. Então seguiu em frente, pelo corredor que levava àos Arrives. Dai, as peças começavam a se juntar. Pensando bem, meu avô não disse para a China, mas da China. Aquela ligação do Wei pra minha mãe me retornou em mente. Olhei pro painel de vôos. Realmente, o último a chegar era de proveniencia chinesa. Parei de andar, estarrecido. Olhei pra Sakura, que tinha me imitado.

 

- Não me diga que... - as palavras morreram ali mesmo, e eu finalmente entendi o que tudo aquilo significava.

 

- Shaoye! - olhei de volta para o fundo do estabalecimento ao ouvir a voz de Wei. Cerrei os olhos. Ele estava acompanhado por alguém. Meu queixo simplesmente se recusava a voltar até a parte superior da boca.

 

Aquela, ao lado do meu mordomo, se tratava de Meiling.

 

...Minha prima e noiva.

 

Anotação mental: "Estudar chines arcaico."


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Notas finais do capítulo

Bem, demorei mas postei!
Obrigada novamente pelos reviews numerosos e que me ajudam a ter forças.
Em junho eu volto contudo, então nem sie quando vou postar o 14... Ainda o estou escrevendo.
Pressa. Pressa.
Arigatou de novo. Até :*