Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 50
- Capítulo 50




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Abgail nos atendeu com um pouco de receio. Imaginei que ela odiaria nossa visitinha. E foi como o esperado, ela quase fechou a porta na minha cara, seus olhos se arregalaram quando me viu, Jess estava atrás de mim. Ela olhou para ele e depois voltou a me encarar. Reparei que ela havia pintado o cabelo de preto, um preto azulado.

– Podemos entrar? – Perguntei, quase implorando.

– Não. – Ela empurrou a porta, mas eu coloquei o pé na frente.

– Por favor, Abgail.

– O que vocês querem? – Ela juntou as sobrancelhas.

– Deixe-nos entrar e explicaremos. – Falei, empurrando a porta devagar, ela não a soltou de imediato, mas depois acabou cedendo.

Kane ajudou Hanna a se deitar no pequeno sofá da sala. A casa de Abgail era pequena, confortável e escura. As luzes não eram fortes, tinha uma lareira na parede de frente para o sofá, que ela não usara há muito tempo.

– O que houve com ela? – Abgail observou o ferimento de Hanna, chocada.

– Ela levou um tiro. – Kane disse. – Mas não foi uma bala qualquer.

– Ela vai ficar bem. - Eu intervi. Kane falava demais. – Só precisa descansar.

Abgail não fez mais perguntas, pareceu se contentar com a minha resposta. Na verdade, ela não queria saber de nada mais além de querer nos expulsar logo de uma vez, mas ela também não o fez.

– Precisamos ficar aqui por um tempo. – Eu disse a Abgail.

– Por quanto tempo? – Ela perguntou, já irritada. – Minha casa é pequena demais para tanta gente assim.

– Eu entendo. – Falei. – Mas precisamos da sua ajuda.

– Vocês não podem ficar aqui. – Ela disse indo para a cozinha.

Abgail pegou um copo de água gelada e bebeu tudo em segundos. Eu estava a sua frente encostada em um balcãozinho que dividia a cozinha em duas partes apertadas. Todos os armários eram de madeira escura.

– Você sabe que eu te ajudei aquela vez. – Eu ergui as sobrancelhas. Abgail me fuzilou com os olhos.

– Se está querendo jogar isso na minha cara, saiba que eu não pedi sua ajuda. – Ela colocou o copo com força na pia. Ela estava irritada, imaginei que ela estaria pensando em como era uma droga dever um favor a mim.

– Não seja mal-agradecida. – Eu aceitaria tudo só para convencer Abgail a nos abrigar. – Jess e eu ajudamos você, espero que pense melhor, porque eu não faço nada de graça. – Fui dura, aquela não era eu, mas como disse, faria de tudo para manter-nos seguros.

– Saco. – Ela resmungou baixo, olhando para a sala. – Está bem. – Ela bufou.

– Ok. – Soltei um som de alívio. – Eu agradeço.

Ela revirou os olhos e foi para a sala. Eu fiquei perdida em pensamentos, eram tantos que nem eu sabia em que estava pensando, mas sabia que eram os piores que eu poderia ter.

Jess apareceu na cozinha, ele parou do meu lado, encostando-se no balcão. Seus olhos fitavam a sala.

– No que está pensando? – Ele perguntou baixo.

– Muita coisa. – Eu segui o mesmo volume da voz dele.

Ele encostou seu braço em mim, aquela parte se arrepiou, um arrepio bom.

– Eu preciso achar um jeito de acabar com isso. – Ele me olhou, mas eu não o encarei.

– Como? – Perguntei.

– Vou sair, vou procurar meios de acabar com Hants. – Dessa vez eu o encarei. – Ele não é invencível, talvez mais forte, mas eu dou conta.

– Ele não anda sozinho. – Eu o alertei, achando aquela ideia idiota demais. Ele não podia simplesmente sair por aí achando que mataria Hants em minutos.

– Por isso devo pesquisar mais. – Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto. – Quando souber aonde ele se esconde, eu terei um plano para pegá-lo sozinho. – Seus olhos eram negros e tinha raiva neles.

– Não vai fazer isso. – Eu quase gritei de desespero, mas minha voz saiu baixa e falhada. – Não pode.

– Eu preciso, Magda. – Seus olhos caíram para minha boca, depois pros meus olhos. – Fique aqui e me ligue se algo acontecer. – Ele olhou para um telefone vermelho que estava grudado na parede da cozinha.

– Eu vou com você. – Falei puxando seus braços.

– Nem pensar. – Ele não tentou puxar seus braços das minhas mãos.

– Eu sei me cuidar, eu posso ajudar. – Insisti.

– Não. – Ele se inclinou para me beijar, mas eu me afastei. Seus olhos ficaram frios e senti seus braços enrijecerem.

– Eu não sou tão fraca assim. – Falei com raiva na voz. Queria ajudar, nem que eu me machucasse, não me importaria de levar arranhões. Eu queria estar perto dele, não era só ele que se preocupava.

– Eu nunca disse que você é fraca. – Ele não deixou de olhar nos olhos. – Não quero arriscar.

– Você acha que eu não sou boa o bastante para enfrentar isso. – Falei. – Mas eu posso tirar coragem da onde não tem tanta.

– Mag...

– Me deixe ir junto. – Insisti. – Não sou tão forte quanto você, mas sei que consigo ao menos correr rápido e sou muito boa em mira. – Era mentira, eu era péssima em mirar em coisas, mas na corrida eu era boa.

– Eu só vou espionar. – Ele olhou para minha boca novamente. – Se eu achar qualquer coisa, qualquer esconderijo, qualquer pista, eu vou voltar. – Ele sorriu, mas o sorriso era tenso. – Não vou tentar nada até não ter algum plano em mente, avisarei você primeiro.

– E você acha que eu não sei espionar?

Ele não respondeu. Passou a língua no pequeno corte que tinha na boca, talvez estivesse pensando.

– Em? – Eu quis saber.

– Precisamos de um carro. – Ele finalmente falou, não era a resposta da minha pergunta, mas isso significava que eu iria junto. – Não podemos andar com a caminhonete. – Jess havia deixado a caminhonete estacionada nos fundos de um quintal de uma casa vazia que ficava perto.

– Abgail deve ter um carro. – Eu disse, indo até ela na sala.

Abgail estava sentada em uma poltrona, pela expressão do seu rosto, ela estava lamentando por tudo. Estava se perguntando porque tinha que ser justo ela a estar passando por isso.

– Ei. – Eu sussurrei para Abgail. Mamãe estava cochilando sentada no outro sofá, Kane observando Hanna ao seu lado e Louis não estava à vista, a porta do banheiro estava fechada, e uma luz saia pelas frestas. Ele estava lá. – Você tem carro?

– Não. – Ela demorou um pouco para responder, ela estava mentindo.

– Isso é sério. – Eu falei dura. – Precisa nos emprestar. – Jess estava do meu lado.

– Já não basta estarem usufruindo da minha casa? – Sua voz era impaciente.

– Só mais esse favor. – Ela revirou os olhos e se levantou, remexendo em seu bolso ela puxou uma chave. O chaveiro marcava Fiat.

– Se acontecer algo a ele, eu... – Ela olhou para o Jess e depois para mim. – Eu expulsarei todos daqui.

– Não se preocupe. – Jess falou, pegando as chaves da mão dela. – Não deixarei acontecer nada com ele.

Abgail tinha uma garagem coberta. Era pequena, pequena até demais. Mas o carro não era grande, ele cabera perfeitamente. Não dei explicação a ninguém, nem ao Kane. Mamãe surtaria quando soubesse que eu havia saído sem sua autorização, ainda mais com demônios querendo matar todos nós.

– Para onde vamos primeiro? – Perguntei ao Jess, que já estava nos levando para fora da garagem. Depois de manobrar o carro perfeitamente ele seguiu em linha reta. Estava escuro, algumas pessoas passavam pelas ruas, a nossa sorte é que os vidros do carro de Abgail eram escuros e difíceis de alguém enxergar-nos do lado de fora.

– A casa do tal “detetive”. – Ele falou. – Eu sei onde fica. – Falou com certeza. – Ele não deve estar, aquilo é só um disfarce, mas deve haver algo interessante lá.

– Esse é o último lugar em que ele pensa em estar.

– Sim, mas temos que ficar atentos. – Ele levou sua mão até a minha, e continuou com a outra no volante. – É ele quem está na caça.

Aquilo me fez estremecer, saber que ele estava nos caçando era muito desanimador, era assustador.


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